segunda-feira, julho 31, 2006

A cartilha do bom comportamento

Há algum tempo atrás tive oportunidade de falar aqui da estranheza que me causava o comportamento de alguns ocidentais em terras que não as suas, e mais concretamente do jovem cineasta português fumador de ganzas no Dubai. Também já por uma vez no Dolo falei também sobre este assunto na vertente do português (entretanto regressado da prisão em Oman) que acusa tudo e todos de nada terem feito por ele... apenas o avisaram que seria preso se insistisse em embarcar com destino ao médio oriente...

Disse então: "O que Ivo Ferreira pretende é que o Governo Português faculte informação dos países onde os portugueses se podem drogar à vontade. Não fosse o alheamento do Ivo da realidade (tão característico em artistas para quem tudo o resto que nós os comuns mortais fazemos é um bocado trivial e irrelevante...) e teria preparado devidamente a sua viagem com a consulta na Internet à página do MNE - Informação aos viajantes, onde indica claramente e há bastante tempo que o "consumo de estupefacientes é fortemente punido" no Dubai."

Hoje o ministério dos negócios estrangeiros através da secretaria de estado das comunidades, divulgou uma iniciativa que julga vai pôr cobro a este tipo de situação hedionda em que portugueses, que toda a gente sabe são uns tipos pacholas e que só se querem divertir são maleficamente perseguidos pelos seus hábitos naqueles países, os quais quase não conseguimos pronunciar o nome.
Um pequeno caderno do que os portugueses podem e devem fazer no estrangeiro. Uma lista dos direitos e deveres dos portugueses quando viajam (preferencialmente em lazer) do qual será distribuído 1 milhão de exemplares nos aeroportos.

Mais uma boa iniciativa em que o Estado se substitui à capacidade dos seus cidadãos de se organizarem sozinhos.
Melhor seria que o dinheiro fosse investido em proteger portugueses que são escravizados por exploradores sem escrúpulos noutros países da União Europeia, em vez de esclarecer aqueles que têm poder de compra para irem para a praia numa qualquer estância balnear de um pais em vias de desenvolvimento.

Tudo sobre rodas




Nada de alarme público, afinal lá para Fevereiro ou Março de 2007 vai estar tudo pronto...

domingo, julho 23, 2006

sábado, julho 22, 2006

Dedicatória de uma afilhada de 16 anos

Por muitas voltas que dês à cabeça, nunca vais compreender a vida! Umas vezes estás zangado e até dizes: porque raio é que eu vim a este mundo?! Então nessa altura choras e achas que ninguém te compreende, mas às vezes esqueces-te que tens pessoas que gostam de ti, não por aquilo que tu faças ou deixes de fazer, mas sim, pela pessoa maravilhosa que tu és. Então ainda pensas duas vezes e dizes que a vida é bela, basta sabermos aproveitá-la da melhor maneira. Podes dizer ou pensar que já estás cansado de tanto lutar e fazer pela vida praticamente sozinho, sem teres ninguém que te ajude, mas não desistas de lutar porque Deus é grande e um dia vai chegar a tua vez de sorrires. E eu estarei lá contigo.

sexta-feira, julho 21, 2006

Extra

Já é oficial... neste momento já tenho 31 anos.

Oh Sr. Presidente, isso são sapatilhas?

Não conheço a Madeira, nem sequer ligo muito à sua vida politica por manifesto desinteresse em festivais.
Começo a perder o interesse em conhecer a ilha onde reina o Alberto João. No final de contas as pessoas que lá vivem são co-responsáveis da sobrevivência politica do dito e por isso algum defeito devem ter.
Será possível que naquele penhasco perdido no meio do atlântico, mais africano que Europeu, não pode haver politica a sério?
Esta semana foram as sapatilhas e as t-shirts dos jornalistas. Esses malfadados responsáveis de quase todos os males de que não se possa culpar directamente os políticos, são novamente visados pelo governo regional e mais concretamente pelo parlamento (ou lá o que eles quiserem).
Memória curta a de Alberto João, até porque toda a gente sabe bem como ele gosta de andar de cuecas bem carnavalescas (ou qualquer outro traje) lá pelas ruas do Funchal.
O parlamento da Republica (como eles gostam de dizer) devia criar uma lei aplicável às ilhas sobre a indumentária dos titulares de cargos políticos.
É uma lógica irrefutável, se os jornalistas não podem entrar com calças de ganga e sapatilhas, é perfeitamente aceitável que os titulares de cargos políticos não possam exibir-se em trajes menores em qualquer zona das áreas que os elegeram. Afinal é esse o seu local de trabalho.
Assim, Alberto João só poderia andar vestido de troglodita em cuecas, nos corsos carnavalescos em Portugal continental ou no estrangeiro.
Acredito que faria um sucesso tremendo no sambódromo do Rio, onde também brilham politicos brasileiros do mesmo nível e craveira do Alberto João.

quinta-feira, julho 20, 2006

Um absurdo geo-estratégico

O estado de Israel perdeu há muito a simpatia que tinha na sequência dos momentos dramáticos que lhe deram origem e hoje em dia e mais um estado tão estúpido como outro qualquer.
A história repete-se e não querendo fazer juízos de valor sobre as partes em conflito, até porque estou convencido que estão todos muito bem acompanhados na sua própria mesquinhez, o estado de Israel tem tratado os palestinianos nos territórios que se arrogou o direito de ocupar como se de judeus na segunda grande guerra se tratassem.
Apenas falta um plano para a exterminação selectiva de palestinianos em câmaras de gás, porque ela já ocorre em bombardeamentos selectivos a órgãos dirigentes de organizações mais ou menos militares, mas também no bombardeamento de edifícios de instituições democraticamente eleitas. Nem sequer falta um bom ghetto, proporcionado por um tão jeitoso muro com seis metros de altura que separa o estado de Israel desses maléficos palestinianos.
É impossível compreender as intenções dos israelitas nas recentes iniciativas militares em Gaza e no Líbano.
Só à luz de uma hipocrisia sem limites é que se pode compreender que nunca foi intenção dos dirigentes israelitas dar autonomia ao proto-estado palestiniano e ao mesmo tempo respeitar a independência dos estados vizinhos. É como dar uma no cravo e outra na ferradura. Depois de anos de ocupação da faixa de Gaza e do sul do Líbano, demo-vos a autonomia que pretendiam e como não arrumaram a casa sozinhos, nós temos de ir aí dar-vos uns acoites, qual pai tirano.
Não consigo entender como se pode querer resolver uma crise aniquilando os possíveis interlocutores no terreno, como por exemplo bombardeando os escritórios do primeiro-ministro palestiniano assim como de diversos ministérios. Obviamente o objectivo não é discutir o que quer que seja com os palestinianos. O objectivo é disparar primeiro e depois esperar que haja uma resposta na volta do correio que na sua ausência se pretende acreditar que o silêncio representa resistência.
É quase tão estúpido como a desproporcionalidade da intervenção em Gaza e no Líbano, tendo em conta o rapto de três soldados israelitas (um em Gaza e dois no sul do Líbano).
Estes podem muito bem ter sido mortos, pelos bombardeamentos da aviação israelita aos edifícios do Hezbolah o que torna a sua libertação impossível. É uma pescada de rabo na boca. Israel pretende a libertação de soldados raptados que entretanto pode ter matado e aniquila todo o hezbolah impossibilitando que alguma vez alguém lhes responda, perpetuando assim a intervenção militar.
E depois existe o G8 (nem vale a pena falar) e o Durão Barroso que defende que uma solução só pode ser encontrada através de conversações dos intervenientes no médio oriente. Ora quem é que o José Barroso está pensar?? No governo libanês? Nos corpos dos dirigentes do hezbolah?? Só pode…
Como é que é possível e defensável que se estabeleçam negociações entre partes em conflito em que existe uma total desproporção de capacidade militar entre os dois lados? Só se o José Barroso pretender que o governo libanês ceda voluntariamente o governo do país a Israel para que este livremente pesquise casa a casa e se livre dos militantes que pretendem liquidar.
No meio disto tudo há umas bocas à Síria e ao Irão e os israelitas parecem estar mesmo a pedi-las. Se porventura estes dois países se envolvem neste assunto é provável que Israel aprenda uma lição da pior forma possível.
É um absurdo geo-estratégico de proporções bíblicas voltar a acirrar os ânimos nesta zona do globo só por causa de meia dúzia de incidentes fronteiriços.

domingo, julho 16, 2006

sexta-feira, julho 14, 2006

Será?

Será que eu sou um conformista só por saber que em mês de férias vai sempre avariar-se um electrodoméstico?

quinta-feira, julho 13, 2006

Erótico

Começa esta noite o Salão erótico de Lisboa. Salão é capaz de não ser a melhor palavra para definir o evento, de qualquer forma a ideia parece que resultou no ano passado e aqui estão novamente para ajudar os mais aficionados e admiradores da "arte" erótica a fazer as melhores escolhas para momentos de prazer ou simplesmente tirarem uma foto para a posteridade com os bisnetos da Linda Lovelace ou do John Holmes...
A imaginar pelo evento que se realiza em Barcelona, e qualquer dia já não há vagas nos hotéis de Lisboa sempre que se realizar o Salão...

quarta-feira, julho 12, 2006

O dedo que adivinha II

O meu dedo que adivinha descobriu que o Governo ia fazer os possíveis para manter a Opel na Azambuja.
Aliás faz todo o sentido. A fábrica está em Portugal vai para 40 anos, empregou famílias inteiras da região, conta actualmente com 1100 trabalhadores directos, alimenta vários milhares de famílias que indirectamente beneficiam dos negócios que se desenvolvem à volta de um empreendimento destas dimensões e é responsável por 0.6% do PIB.
Mas aparentemente o Governo não fez tudo o que devia. Não pagou à Opel um subsídio especial de formação por cada carro que saísse da fábrica e incrivelmente não se propôs a comprar a totalidade da produção da unidade só para que ela não fechasse.... Escandaloso.
São perfeitamente justificadas todas as acusações que no futuro a oposição e os trabalhadores vierem a fazer ao Governo (é outra vez o dedo que adivinha).
Mas numa nova extraordinária premonição do meu dedo adivinhador, a deslocalização de multinacionais que trabalham em Portugal atingiu um ponto de viragem com esta saída da Opel.
Pela primeira vez, uma empresa admite que vai embora ainda que em termos de produtividade e qualidade se tenham registado aumentos significativos nos últimos anos. Nada voltará a ser como dantes. Antes as empresas fechavam precisamente porque não eram produtivas, os produtos não tinham uma qualidade distintiva para o mercado e porque eram caras e pesadas (na maior parte das vezes mal geridas).
Agora isso vai deixar de ser argumento porque até já as produtivas e com qualidade se querem ir embora.
Mas então onde é que está o problema? Teremos de pagar directamente para que eles possam ficar? Então se calhar no final de contas se com todos os subsídios, apoios à formação, benefícios fiscais e outros expedientes continua a não ser suficiente então é melhor pensarmos seriamente se este tipo de investimento estrangeiro se justifica.

segunda-feira, julho 10, 2006

The End

E pronto acabou-se. Como é que vamos sobreviver sem intermináveis horas de futebol e análise pós-futebolistica na televisão? Como é que vamos sobreviver sem o ardor patriota do último mês?
Enfim... vamos tentar. Vamos lavar as bandeiras e arrumá-las, porque 2008 está quase aí e as coisas até nos correram bem.
O balanço é positivo e apesar de tudo o que se tem escrito, o país não entrou em histeria colectiva em nenhum momento, ou melhor, tivemos uma histeria aceitável. Nem sequer no regresso da selecção, que ao domingo proporcionaria grandes passeios por Lisboa em apoteose, se verificou e ao fim de duas horas já estava tudo despachado. Já os canais de televisão, esses sim, estiveram perto do orgasmo.
Portugal bateu-se com os melhores, venceu com uns e perdeu com outros. Essa é a única lição que esta campanha nos pode dar. Portugal pode não ser o melhor mas bateu-se de igual para igual com os melhores e deveria fazê-lo não só no futebol.
Ah... Parabéns à Itália :)

sexta-feira, julho 07, 2006

A Barca do Guadiana


















Ainda à relativamente pouco tempo falava aqui dos passeios à barca e volto agora a abordar o tema, porque numa agradável surpresa nestes blogs de Moura que começaram a aparecer aqui na barra do lado, o jornalista Fernando Madrinha escreveu uma interessante crónica sobre como Moura era em Outubro de 1962, na revista Alentejo - Terra Mãe.

Clicar nas imagens para ler ou aceder A Patada.

Coluna Vertebral

Confesso que até gostava do Freitas mesmo quando discordava dele.
Isto sem gente como o Freitas, começa a ser cada vez mais ocupado por tecnocratas sem piada nenhuma, que nunca dizem nada de jeito sem perguntarem aos assessores como vai ficar a sua imagem nas sondagens. É uma profunda seca.
Ao Freitas pelo menos ninguém punha a pata em cima. Inconveniente, controverso e por vezes arrasador mesmo para com o próprio governo em que participava.
Muito diferente do amorfismo característico dos ministros dos últimos 20 anos em que parece que o cérebro começa imediatamente a perder capacidades, mal assinam o documento da tomada de posse.
Um bom ministro hoje em dia quer-se acrítico, apolémico e pau mandado. E depois se a coisa correr mal pode sempre apontar-se-lhe o dedo e mandá-lo pastar.
Freitas estava marcado para sair até porque não era compatível com o resto do governo. Tornou-se demasiado visível para poder continuar.
Aparentemente está mesmo doente e é mesmo impossível ser MNE com problemas de coluna, mas essa foi apenas a desculpa que Freitas precisava para se livrar de Sócrates, cujo politicamente correcto já não suportava. Este ultimo agradece os problemas na cervical e vai mudando aos poucos a coluna vertebral do governo.

quarta-feira, julho 05, 2006

C'est une merde...

Bamos lá Cambada


Na melhor das hipóteses este será um país em festa até domingo, e nessa altura jogadores e bloggers arrumarão as botas pelos menos por mais dois anos, até à data em que se desfraldarem novas bandeiras nas janelas.
O futebol é o futebol e não vale a pena tentar ser particularmente racional. Eu nem sequer gosto muito de futebol e nem sequer tenho paciência para aqueles jogos do Tirsense com o Rio Ave, nem imagino que alguém consiga ver este tipo de jogo até ao final.
Muito se falou sobre nacionalidade e sobre orgulho, ou sobre a forma como selecção e país se confundem ou, como eu imagino, não se confundem.
De qualquer forma isto tudo passará em breve, com taça ou sem taça, e todos poderemos voltar às nossas vidas normais e todos os furiosos comentadores liberais podem voltar a brilhar até porque não necessitam de partilhar o seu espaço com o Deco, o Figo ou o Cristiano Ronaldo.
E quando todos voltarmos à nossa vida normal iremos perceber que um mês de alienação, afinal não fez assim tão mal.
Nesta altura é importante celebrar os portugueses que um pouco por todo o mundo, mas principalmente na Alemanha deram cor ao campeonato, com o verde, vermelho e amarelo nacionais, de forma divertida e civilizada, fosse com garrafões, com proeminentes bigodes e barrigas ou com sardinhas e chouriço. Num derradeiro esforço de apoio popular à tarefa de hoje dos nossos jogadores contra aqueles "demoníacos" gauleses, que esperamos não possuam a famosa poção mágica do Asterix, resolvi reconfigurar a nossa bandeira como ela popularmente deveria ser. Manjericos e cravos vermelhos acompanhados dos nossos habituais símbolos...
Boa sorte para a Selecção.

Os amigos do Irão

terça-feira, julho 04, 2006

A inveja é uma merda

"Maybe is injured of his mind" é a frase que acabo de ouvir do repórter da Sky News sobre a conferência de imprensa de Scolari em que o Seleccionador aceitou que lhe fossem colocadas questões por todos os órgãos de comunicação mas apenas aceitou responder na sua língua materna e não em Inglês como pretendiam os repórteres no local.

No mínimo é indelicado forçar alguém a responder numa língua que não domina e que não é a sua. Mas é certamente arrogante forçar alguém a expressar-se numa língua que não a sua que por acaso é a sexta língua do planeta, mas num idioma que não se encontra actualmente representado em qualquer equipa ainda presente no mundial.

Para inglês ver


A imagem parece revelar uma grande harmonia entre Franceses que celebravam a vitória sobre o Brasil, e os Portugueses que tinham acabado de arrumar os Bifes.
O momento é bonito, até porque existem na capital da França multicultural cerca de um milhão de portugueses. O problema é que enquanto aqui se festejava de forma relativamente normal, em Nice dois emigrantes portugueses eram baleados por um descontente francês sensível ao ruído.
O futebol, aparentemente justifica tudo, e apesar de já ter dito por aqui que considero (de repente veio à memória a imagem do jogo com a Holanda...) este tipo de competições como o equivalente moderno e civilizado das batalhas da idade média, talvez por isso mesmo, o desporto continua a transportar uma certa violência que as condições sociais em cada momento se esforçam por agravar.
É indesmentível a comichão que provocam, nalguns sectores, as bandeiras angolanas e brasileiras em Portugal, as bandeiras portuguesas em França, no Luxemburgo, ou em Inglaterra, assim como a forma como as comunidades imigrantes utilizam as bandeiras e as respectivas equipas de futebol como se fossem armas de arremesso contra as políticas de integração dos países em que optaram por se fixar.
A juntar a tudo isto, uma violência própria das zonas suburbanas onde reina a falta de oportunidades e de qualidade de vida dos locais e dos jovens descendentes de segunda e terceira geração de imigrantes, e temos um barril de pólvora pronto a explodir sempre que o futebol permita festejos.
Tudo bem regado com milhares de litros de cerveja e tudo acaba quase sempre em agressões físicas violentas e gratuitas, destruição de propriedade privada e dezenas de detenções. Tudo bons rapazes, que muito embora possamos gostar muito de futebol não devíamos permitir que dirigentes, jornalistas, jogadores, árbitros e treinadores tornassem o desporto numa grande batalha.

segunda-feira, julho 03, 2006

Gestão de expectativas



Posso dizer que conheço bem a margem esquerda do Guadiana. Aliás a minha própria infância confunde-se com a interminável história da barragem do Alqueva. Muitos foram os feriados e dias santos em que se caminhou ao ex-libris da região ou à barca (local onde anteriormente funcionava uma barca antes de haver ponte), simplesmente para ver a paisagem ou para ver a água que entretanto galgava o paredão que por lá tinha ficado. Sempre houve muitas expectativas sobre o papel da barragem no desenvolvimento local e muito especialmente sobre o seu impacto na alteração dos hábitos agrícolas para culturas de regadio. Como sempre muito se discutiu. Se devia construir-se, que cota deveria ter, se era possível salvar a aldeia da luz, se os morcegos iam sobreviver ou se era possível manter a qualidade da água. Mas de qualquer forma ela lá está a formar o maior lago artificial da Europa porque não gostamos de fazer as coisas por menos. E geralmente é destes grandes projectos que vive o Alentejo e em particular a margem esquerda do Guadiana, que por razões de geografia parece mais pertencer a Espanha que a Portugal.
O tempo passou, aos poucos vai construindo-se o conjunto de mini barragens que irão complementar o complexo de Alqueva mas é já claro que as expectativas que existiam nunca poderão ser correspondidas.
Sempre fui um “velho do Restelo” perante as expectativas da minha família quanto ao aumento do emprego, a dinamização da economia da região ao nível dos serviços que supostamente Alqueva traria. Sempre disse lá pelos “Alentejos” que a maioria dos empregos na construção da barragem não seria para pessoas da região, que os trabalhadores imigrantes que a iriam construir iam passar metade do tempo em barracões com ar condicionado instalados pelas empresas subcontratadas e que os engenheiros não eram suficientes para encher os cafés e restaurantes de Portel, Alqueva e Moura. E que no final tudo aquilo acabaria por ser alimentado por uma equipa de profissionais altamente qualificados mas em número bastante reduzido devido à tecnologia associada ao projecto. E assim foi.
Agora surgem alternativas ao Alqueva e o maior projecto de energia fotovoltaica do mundo a situar em Serpa, mas também a fábrica de painéis que é suposto vir a instalar-se em Moura.
Destes projectos o único que poderá ter um impacto maior na vida dos alentejanos são as 16000 camas previstas para o Alqueva. O projecto da central fotovoltaica, ainda que benéfico no aproveitamento de recursos naturais que o país tem em abundância vai ser, após a sua construção, gerido de forma praticamente automática e por profissionais altamente qualificados. Os tais que tanto faltam no Alentejo. A fábrica nem sequer é falada no press release da empresa mas tem passado de boca em boca em Moura e não se pode dizer que seja uma realidade se porventura o custo de produção destes painéis for inferior noutras paragens.
Restam as 16000 camas de Alqueva. Estas só serão viáveis se for possível manter a qualidade da água a níveis aceitáveis para a prática de um turismo de qualidade, mas ainda assim estamos longe de se poder garantir essa qualidade a longo prazo.
De qualquer forma este projecto é o único que poderá resultar na fixação de pessoas às suas localidades, evitando uma cada vez maior desertificação do interior alentejano na medida em que cria emprego real e a longo prazo.
São razoáveis as questões levantadas pêlos ambientalistas quanto à dimensão do projecto. Ninguém esperava que aquela zona onde estavam previstas 450 camas passasse subitamente a comportar 16000. No entanto e como em tantas coisas neste país importa saber o que se pretende em termos de desenvolvimento do interior, se de facto se pretende alguma coisa.
Se não é possível ter expectativas sobre a agricultura, se não é possível ter expectativas sobre a fixação de indústrias a custos rentáveis, então que futuro se pretende para o interior e para os que lá vivem?
Provavelmente o turismo pode ser uma solução, até porque no Alentejo o sector terciário tem tido um aumento muito considerável na comercialização de bens de outras paragens que não o Alentejo.
O turismo pode ser uma solução porque é imperioso que o Alentejo crie riqueza por si e porque ainda é possível exigirmos que nesta zona haja um turismo de qualidade, compatível com as pessoas e com o ambiente que resulte num aumento da qualidade de vida de todos.
Tenho em crer que os alentejanos saberão agarrar as oportunidades que lhes vierem a apresentar e irão dar o melhor de si para o sucesso da região.



Nota: Após ter escrito este post tomei conhecimento que a fábrica dos painéis solares se situará em Oliveira do Bairro e em Moura existirá uma central de energia solar fotovoltáica maior que a de Serpa com a dimensão de 100 hectares. Claro que nesta como em outras questões a informação nem sempre é clara...