terça-feira, janeiro 16, 2007

Já se estava a prever

Ora ai está aquilo que se esperava. O seminarista cuja governanta criava galinhas em São Bento, faz parte da lista dos 10 mais do programa da RTP, Grandes Portugueses.
É verdade, não passa de um programa de televisão e nem sequer sabemos quantas pessoas votaram. Mas a crer na Maria Elisa que referiu que receberam o dobro dos votos do mesmo programa em Inglaterra (terra bastante mais populosa que esta) então aquilo deverá servir pelo menos como sondagem. Um indicativo da forma como os portugueses se vêm uns aos outros e especialmente como vêm os seus supostos heróis.
Portugal em comparação com os restantes países onde existe este modelo televisivo, caminha directamente para a nomeação de um ditador como seu grande herói. E talvez o país o mereça. Não que isso signifique que o pais está cheio de nacionalistas totós e parolos (apesar de haver muitos), ou tão pouco que o país esteja cheio de perigosos agitadores de direita. O pais está é cheio de gente inapta e incapaz de pensar pelas suas próprias cabeças.
A herança do seminarista é ainda demasiado forte, e numa altura de dificuldades os portugueses viram-se inevitavelmente para uma figura que lhes garantiu um parco sustento, mas liberdade dessas coisas complicadas da decisão pessoal e das taxas de juro e todas essas coisas modernas e terríveis que o livre-arbitrio sempre acarreta. O seminarista, como muitos enchem a boca para dizer, salvou-nos da guerra e o preço ainda hoje estamos a pagá-lo.
Afinal são todos aqueles para quem o 25 de Abril foi um dia como outro qualquer, em que uma série de gente agitadora derrubou o Marcelo Caetano, que afinal até era tão bom homem. Esses continuam a ser uma parte substancial dos portugueses vivos e juntam-se a todos os mais jovens, filhos e netos dos primeiros que cresceram a ouvir dizer que no tempo do seminarista é que era bom.
Vivemos tempos de revisionismo histórico. Como se por acaso quem não entende ainda ser tempo de dar ao sujeito o mesmo respeito histórico que têm outras figuras da historia portuguesa fossem esses sim os saudosistas por uma ideia de uma esquerda perdida que já não faz sentido e que ainda assim se conseguiu reflectir na votação militante de Cunhal.
Foi assim quando foi lançado o programa, quando parecia terem abanado os pilares do céu quando a RTP não sugeriu à partida a criatura, como se à partida ele não fosse igual aos outros candidatos e fosse logo mais importante. Ainda esta semana numa visita do Cavaco à Índia foi notícia a não passagem do homem por parte de uma galeria em Goa que expõe diversos vice-reis e lideres portugueses entre os quais o seminarista, como se um presidente da democracia tivesse de prestar algum tipo de vassalagem ao seminarista.
O principal problema reside na forma como os portugueses pretendem esquecer determinados assuntos e não os discutir, porque isso facilita a sua vida e acaba por propiciar a criação de mitos históricos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este assunto vai parar sempre ao mesmo..o que é pena!
Convinha ("militâncias" à parte)analisar mesmo qual o naipe de portugueses com os quais nos identificamos melhor e que tenham contribuido, efectivamanete, para sermos aquilo que somos hoje!
A resposta pode ser fácil, do tipo TODOS..porque todos nós fazemos algo por todos em algum momento.
Mas, a minha análise é: tirando Salazar e Cunhal que, obviamente, não deveriam lá estar, faltam, no mínimo duas figuras nos 10 mais em sua substituição: SOARES, exactamente porque evitou que Cunhal transformasse isto em mais uma "democracia popular"; os responsáveis 25 de Novembro, só que aqui não há nenhuma figura, nenhum nome; e, por fim, o meu eleito: D.DINIS, o rei que consagrou, entre outros: a língua portuguesa como língua oficial do reino, fundou a Universidade (Estudos Gerais) e consolidou as fronteiras e a organização administrativa, lançando os alicerces da Expansão, logo sendo essencial..apesar de longínquo!!!