sexta-feira, outubro 12, 2007

Tempo de partir

Hoje completam-se três anos de Suburbano e de blogosfera. É o tempo certo para partir.
Ter um blog é um desafio que por vezes ameaça dominar as nossas vidas. Já me podiam escapar poucas coisas, mas a partir do momento em que se passa para o “papel” as ideias que vão aparecendo, multiplicam-se os rabiscos nos bolsos com tópicos ou multiplicam-se as notas dos organizers dos telefones, com textos incompletos que acabam por nunca ver a luz do dia.
Um blog dá trabalho, mas é um bom tratamento para a loucura dos bloggers que por aí andam. E se um já dá trabalho, quanto mais 4, que foi o número de blogues por onde passei nos últimos três anos.
O problema está em perceber quando deve terminar. Tudo acaba por terminar e a única decisão é perceber se vale a pena resistir ao medo de deixar as coisas a meio ou pelo contrário fazer chegar a bom porto um projecto. Este blog nunca foi um projecto, nunca teve muitas regras e claramente atingir três anos é um disparate. Apareceram muitas iniciativas mas que acabaram por morrer na praia, houve muitas respostas que ficaram por dar e muitos assuntos por abordar. Mais concretamente 92 textos que ficaram por escrever ou ficaram meios escrevinhados em rascunho dos mais de 1600 publicados.
Até se pode dizer que perdi o interesse. Mas isso não é bem verdade, muito embora se notem bem os momentos em que isso ocorreu. Continuo a ter muitas coisas para dizer, mas um blog sobre tudo e coisa nenhuma consome-se a si próprio até à extinção. Vive como caixa de ressonância da agenda mediática e dos humores flutuantes do seu autor e por isso é fortemente influenciado por factores externos.
Não posso negar que estou um pouco desiludido com a Internet e mais concretamente com a blogosfera. Este meio que tanto prometia tornou-se um empecilho à verdade, porque esta deixou de interessar. Como bem encabeça um blog da nossa praça “Não deixe que a verdade estrague uma boa história”. Mea culpa eu sei, porque cá tenho andado metido. Mas aqui nada mais existe que uma interpretação da realidade, muitas vezes distorcida ao sabor dos mais variados interesses pessoais ou outros, que não permitem ao mais incauto dos leitores perceber quais são os factos verdadeiros. A blogosfera não parece particularmente preocupada com isso. Na realidade este meio tornou-se o princípio e o fim de tudo. O mal e a cura. A fome mas também a fartura. Todas as dúvidas e todas as soluções podem aqui ser encontradas e alguns bloggers sentam-se sobre uma montanha de sapiência acumulada, e sozinhos contemplam os restantes de forma paternalista e condescendente, como se esses não tivessem visto ainda a verdadeira luz de que deles emana…
Mas parto com amizade (onde é que eu já ouvi isto), tive o prazer de conhecer, virtualmente e não só, algumas das pessoas com quem troquei ideias e com quem acabei por escrever.
Vou-me embora, mas como o outro, vou acabar por não estar aqui, mas andar por aí.
O Suburbano ainda vai ficar na blogosfera durante algum tempo e eu continuarei a ter gosto em ler alguns, poucos, blogues.
Vou dedicar-me a outras tarefas fora desta realidade, mas isto não é necessariamente um até nunca. A porta não está fechada a novos blogues e projectos, mas não para já.
Não farei dedicatórias especiais, mas em particular a todos os que comigo colaboraram no Suburbano, n’O Eleito, no Dolo Eventual e no Canções dos meus dias, o meu Obrigado.

A todos quantos me cruzei por aí, as melhores felicidades.

Construir um País

Precisa-se de Matéria-Prima para construir um País

Eduardo Prado Coelho - in Público

A crença geral anterior era de que Santana Lopes não servia, bem como Cavaco, Durão e Guterres. Agora dizemos que Sócrates não serve. E o que vier depois de Sócrates também não servirá para nada. Por isso começo a suspeitar que o problema não está no trapalhão que foi Santana Lopes ou na farsa que é o Sócrates. O problema está em nós. Nós como povo. Nós como matéria-prima de um país. Porque pertenço a um país onde a ESPERTEZA é a moeda sempre valorizada, tanto ou mais do que o euro. Um país onde ficar rico da noite para o dia é uma virtude mais apreciada do que formar uma família baseada em valores e respeito aos demais. Pertenço a um país onde, lamentavelmente, os jornais jamais poderão ser vendidos como em outros países, isto é, pondo umas caixas nos passeios onde se paga por um só jornal E SE TIRA UM SÓ JORNAL, DEIXANDO-SE OS DEMAIS ONDE ESTÃO.
Pertenço ao país onde as EMPRESAS PRIVADAS são fornecedoras particulares dos seus empregados pouco honestos, que levam para casa, como se fosse correcto, folhas de papel, lápis, canetas, clips e tudo o que possa ser útil para os trabalhos de escola dos filhos... e para eles mesmos. Pertenço a um país onde as pessoas se sentem espertas porque conseguiram comprar um descodificador falso da TV Cabo, onde se frauda a declaração de IRS para não pagar ou pagar menos impostos.
Pertenço a um país onde a falta de pontualidade é um hábito.
Onde os directores das empresas não valorizam o capital humano.
Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram o lixo nas ruas e depois reclamam do governo por não limpar os esgotos.
Onde pessoas se queixam que a luz e a água são serviços caros.
Onde não existe a cultura pela leitura (onde os nossos jovens dizem que é "muito chato ter que ler") e não há consciência nem memória política, histórica nem económica.
Onde nossos políticos trabalham dois dias por semana para aprovar projectos e leis que só servem para caçar os pobres, arreliar a classe média e beneficiar a alguns.
Pertenço a um país onde as cartas de condução e as declarações médicas podem ser "compradas", sem se fazer qualquer exame.
Um país onde uma pessoa de idade avançada, ou uma mulher com uma criança nos braços, ou um inválido, fica em pé no autocarro, enquanto a pessoa que está sentada finge que dorme para não lhe dar o lugar. Um país no qual a prioridade de passagem é para o carro e não para o peão.
Um país onde fazemos muitas coisas erradas, mas estamos sempre a criticar os nossos governantes.
Quanto mais analiso os defeitos de Santana Lopes e de Sócrates, melhor me sinto como pessoa, apesar de que ainda ontem corrompi um guarda de trânsito para não ser multado. Quanto mais digo o quanto o Cavaco é culpado, melhor sou eu como português, apesar de que ainda hoje pela manhã explorei um cliente que confiava em mim, o que me ajudou a pagar algumas dívidas. Não. Não. Não. Já basta.
Como "matéria-prima" de um país, temos muitas coisas boas, mas falta muito para sermos os homens e as mulheres que nosso país precisa. Esses defeitos, essa "CHICO-ESPERTERTICE PORTUGUESA" congénita, essa desonestidade em pequena escala, que depois cresce e evolui até converter-se em casos escandalosos na política, essa falta de qualidade humana, mais do que Santana, Guterres, Cavaco ou Sócrates, é que é real e honestamente ruim, porque todos eles são portugueses como nós, ELEITOS POR NÓS. Nascidos aqui, não em outra parte...
Fico triste. Porque, ainda que Sócrates fosse embora hoje mesmo, o próximo que o suceder terá que continuar trabalhando com a mesma matéria-prima defeituosa que, como povo, somos nós mesmos. E não poderá fazer nada... Não tenho nenhuma garantia de que alguém possa fazer melhor, mas enquanto alguém não sinalizar um caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá. Nem serviu Santana, nem serviu Guterres, não serviu Cavaco, e nem serve Sócrates, nem servirá o que vier.
Qual é a alternativa?
Precisamos de mais um ditador, para que nos faça cumprir a lei com a força e por meio do terror? Aqui faz falta outra coisa.
E enquanto essa "outra coisa" não comece a surgir de baixo para cima, ou de cima para baixo, ou do centro para os lados, ou como queiram, seguiremos igualmente condenados, igualmente estancados…igualmente abusados!
É muito bom ser português. Mas quando essa portugalidade autóctone começa a ser um empecilho às nossas possibilidades de desenvolvimento como Nação, então tudo muda...
Não esperemos acender uma vela a todos os santos, a ver se nos mandam um Messias.
Nós temos que mudar. Um novo governante com os mesmos portugueses nada poderá fazer. Está muito claro... Somos nós que temos que mudar. Sim, creio que isto encaixa muito bem em tudo o que anda a nos acontecer: desculpamos a mediocridade de programas de televisão nefastos e francamente tolerantes com o fracasso. É a indústria da desculpa e da estupidez.
Agora, depois desta mensagem, francamente decidi procurar o responsável, não para castigá-lo, senão para exigir-lhe (sim, exigir-lhe) que melhore seu comportamento e que não se faça de mouco, de desentendido. Sim, decidi procurar o responsável e ESTOU SEGURO QUE O ENCONTRAREI QUANDO ME OLHAR NO ESPELHO. AÍ ESTÁ. NÃO PRECISO PROCURÁ-LO EM OUTRO LADO.
E você, o que pensa?.... MEDITE!

Eduardo Prado Coelho

Mais um... o 3º





terça-feira, outubro 09, 2007

A PIDE em nós

É sempre bom gritar umas alarvidades e dizer aqui d'el rei que vem aí a PIDE. Mas as verdadeira análise dos acontecimentos fica sempre por fazer... Por alguma razão será...
Por exemplo: todos os jornais e telejornais falaram nos documentos que a polícia terá levado da sede do sindicato. Mas o sindicato teve a amabilidade de esclarecer algum jornalista sobre que documentos eram esses? E se teve porque razão a comunicação social não revelou o carácter destes documentos optando por os classificar como "os documentos"? São documentos internos do sindicato ou serão simples panfletos? O sindicato alguma vez referiu que a polícia levou documentos (os tais não identificados) contra a vontade dos sindicalistas? Então porque razão o secretismo sobre o teor dos documentos?
Mais questões interessantes... O PCP mostrou desagrado por não saber a hora da visita à Covilhã e terá sido informado da hora pelo gabinete do primeiro-ministro. O PCP fez-se representar nesta iniciativa? Se não se fez representar porquê a insistência sobre as horas da chegada do primeiro-ministro? Ainda que a hora tenha sido fornecida, a democracia está em risco quando um partido da oposição (o terceiro ou quarto mais votado) desconhece a hora exacta de uma iniciativa no âmbito da Presidência da União Europeia, anunciada há várias semanas? Podemos imaginar que o PCP respeita um princípio de reciprocidade, informando os restantes partidos e o governo das suas iniciativas?
Aparentemente estiveram pouco mais de 100 pessoas no protesto da Covilhã. Não estiveram mais porque ficaram intimidadas? A recolha de documentos não identificados intimida pessoas não identificadas? E a recolha de documentos identificados continuaria a intimidar? Talvez não, porque na realidade não estamos a falar de documentos, afinal estamos mesmo a falar de panfletos, daqueles que o sindicato distribui na rua, mas que subitamente ganham mais peso se lhes podermos chamar “documentos”.
Mais... Os sindicatos reconhecem como legítima a necessidade de organizar a segurança de uma visita do primeiro-ministro e de vários outros elementos do governo e da união europeia? Se sim, estão dispostos a colaborar com a polícia, ou antes pelo contrário qualquer colaboração com a polícia não será mais que isso mesmo - colaboracionismo?
Na sociedade preconizada pelos sindicatos há polícia? Ela é necessária? É? E para quê? Se a policia é necessária nessa sociedade os sindicatos contemplam a possibilidade de colaborar com essa polícia? Se sim, porque não o fazem já uma vez que preconizam objectivos de uma sociedade diferente e uma vez que esta polícia parece não querer a colaboração dos sindicatos?
E muitas mais perguntas se poderiam por aqui colocar.
Não é meu objectivo defender e ou justificar o que eventualmente se passou na Covilhã, mas sim chamar a atenção para o consecutivo tratamento tendencioso de que são alvo estas noticias e que como se pode ver podem ser tratadas de forma tendenciosa independentemente do lado de quem as observa. E no meio dos disparates que se disparam é difícil perceber onde está mesmo a realidade ou sequer se há um real interesse em perceber onde está a verdade.
A PIDE não voltou, antes pelo contrário foi ficando e instalando-se um pouco em todas as nossas cabeças. Todos criámos uma pidesca tendência de vigiarmos os outros e de os acharmos eternamente pouco confiáveis.
As teorias de conspiração estão ao alcance de todos, e compete-nos fazer precisamente a distinção entre o que é real e o que é simplesmente gritado aos megafones da televisão como excelente plateia para reivindicações anacrónicas.
É-me totalmente indiferente a opinião que o PCP e os sindicatos têm sobre este governo e o seu suposto totalitarismo. Porque do meu ponto de vista, sim, talvez seja exclusivamente meu (mas não creio) este governo não pode ser acusado de totalitarismo, para mais porque muitas das suas medidas levam a uma maior justiça social, que apenas pode levar a uma maior e melhor democracia. Mas lá está, esta é apenas a minha opinião.
Mas aprendamos todos a reconhecer a diferença e a aceitar as diferentes opiniões. Saibamos distingui-las sem recurso a palavras de ordem ou chavões porque estes não contribuem para o esclarecimento necessário. Antes contribuem para um ambiente de constante clivagem entre não se sabe muito bem quem.
Enquanto andamos divertidos a brincar ao partidos que totalitarizam ou não, os verdadeiros filhos dos PIDEs lançam-nos ameaças pela Internet e esses não tiveram direito a qualquer escrutínio superior a 2 ou 3 minutos, mas sem nos apercebermos vão crescendo, crescendo e quando menos se esperar acabaremos por ser mordidos.
Nessa altura poderemos todos espantar perante a nossa total ignorância.

Life sucks

Esta coisa de andar pelo comboio a acordar pessoas para que mostrem os bilhetes, só pode ser um dos piores empregos que existem. Nem sequer é um trabalho pesado, mas não é respeitado por ninguém e isso nota-se nas caras de cada um.

A importância do inglês no primeiro ciclo