sábado, setembro 29, 2007

A montanha pariu um rato

A peixarada continua a resultar neste país. Agora vamos ver quem é que na realidade era elitista, sulista e liberal. Vamos perceber o que raio isso queria dizer e vamos saber se o contrário disso constitui algo de realmente novo, ou um populismo desenfreado.
Quem não deve estar a gostar nada disto é o Portas.

quarta-feira, setembro 26, 2007

É do sangue marialva...

Santana Lopes acaba de ter a sua melhor atitude de sempre. Devido à totalmente injustificada interrupção da sua entrevista para mostrar parte de um carro, onde aparentemente circula um treinador de futebol que chegou à portela de avião particular, Santana questionou a jornalista se a interrupção se justificava e afirmou que o país está doido.
Perante a justificação por critérios editoriais resolveu invocar ou seus próprios critérios para não continuar com a entrevista.
Esteve bem, realmente nada justifica que se interrompa uma entrevista porque alguns obscuros critérios editoriais obrigam-nos a ver uma simples partida de uma suposta estrela, no seu carro, rodeado de jornalistas.
O único problema é que Santana gosta demais da televisão para lhe fazer isto...

Um rio de cultura atomatada (3)


Desta vez o tempo era pouco e por isso a fatal viagem de Bus Turistic tinha de ocorrer, pois não houve oportunidade para entrar em museus e monumentos. A volta não é como a de outras cidades. É bem mais pequena e não são muitas as paragens, pelo que o tradicional hop on - hop off não resulta tão bem.
Valência é a terceira cidade de Espanha em termos de área metropolitana. Mas o seu centro histórico é muito condensado na margem direita de um cotovelo que o Túria escavou. Nesta zona, estão todos os monumentos dos quais se destaca La Lonja, uma igreja encimada por uma pomba na sua torre, onde os pais que abandonavam os filhos ao cuidado da igreja, pediam que olhassem para cima enquanto eles se escapuliam pelas ruas estreitas. O Mercat Central, um edifício com uma estrutura em ferro ornamentado por vitrais e azulejos coloridos. Ou as duas torres que em tempos foram porta de entrada da cidade, a Torre de Serranos e a Torre de Quart. As torres são respectivamente dos séculos XIV e XV, mas as primeiras estão tão bem conservadas que parecem ser bem mais recentes. Já as Torres de Quart mostram os sinais do tempo e também as marcas do avanço das tropas napoleónicas sobre a cidade, durante a Guerra da Independência espanhola. Passando por baixo desta, a Carrer de Quart e depois a Carrer de Caballeros levam-nos ao centro da cidade, à Praça da Virgem e a toda a zona comercial.
Mas por mais estranho que pareça, voltamos sempre ao rio, porque é no rio, ou pelo menos em parte do seu antigo leito que reside desde 1998 a nova jóia da coroa valenciana. A Ciutat de les Artes i de les Ciences, obra do nosso também já familiar Calatrava e que ocupa uma área relativamente extensa da zona leste da cidade, a caminho do porto e do mar. A volumetria dos edifícios e mas ao mesmo tempo a sua harmonia é impressionante. O complexo possui várias estruturas, L’ Hemisféric (uma espécie de cinema 3D/360º/Imax), L’ Umbracle (uma estrutura ajardinada), L’ Oceanográfic (um aquário como o de Lisboa mas com partes ao ar livre), Palau de les ciènces Príncipe Felipe (um Visionarium ou um pavilhão do conhecimento) e O Palau de les Arts Reina Sofia (ainda não está pronto mas será composto de museus e salas de espectáculos). Valência não deu para mais, mas ainda assim poderia escrever mais uns seis posts. Não terá sido uma cidade surpreendente e nalguns aspectos é capaz de ter deixado algo a desejar, mas tenho confiança que talvez apreciada com mais calma a cidade possa ter outro encanto. Até sempre.


terça-feira, setembro 25, 2007

Novo elemento da família suburbana


A família suburbana acaba de aumentar. Não fosse o tamanho, já de si substancial do senhor lá de trás que olha desconfiado para este aqui da frente, resolvi dar-lhe alguma companhia e previsivelmente algum sossego para mim.
Assim o novo inquilino de (ainda) reduzidas dimensões vai adaptando-se aos poucos à nova casa e à nova companhia 7 vezes mais pesada que ele próprio.
Ainda sem nome mas em processo de escolha por concurso internacional... não queremos melindrar nenhum consórcio :)

sexta-feira, setembro 21, 2007

Um rio de cultura atomatada (2)


Ok, não há rio. Cada um decide sobre a sua cidade e faz-lhe o que entende. Aliás a ideia de uma espécie de Central Park pelo meio da cidade, nem sequer é totalmente disparatada, e é provavelmente melhor do que encher tudo de prédios. Mas e então o Mar, onde fica?
Também não? Pois, assim é complicado fazer uma regata... Mas a verdade é que ela se fez em detrimento da candidatura de Cascais/Lisboa.
O Mar está lá, mas obriga-nos a uma relativamente longa viagem de eléctrico, para lá chegar. Valência é mais ou menos como Aveiro, mas sem ria...
No fim do percurso, a praia e o porto. Como todos (ou quase) os locais de grandes eventos que custam milhões de Euros, o recinto de apoio à America’s Cup está praticamente ao abandono. Tem um café e uma loja de souvenirs. Nós três éramos a maioria das pessoas no local, sem contar com os funcionários.
Mas a praia é bonita. Longas costas, bem guarnecidas de passeios largos, restaurantes cafés e hotéis e pelo que dá para ver boas infra-estrutura de apoio à praia. Toda a zona parece um pequeno bairro piscatório que deu lugar ao turismo (onde é que eu já vi isto…), onde os preços acompanham a qualidade de renovação feita para a America’s Cup.
Em Valência é preciso andar. Andar muito, quase sempre para acabar numa das três principais praças da Cidade. A do Ajuntament, a de la Reina e a da Virgem.
Sim, não me enganei, é mesmo Ajuntament. Nesta parte de Espanha, como em tantas outras existe uma segunda língua. Aqui é catalão que se fala… Que nenhum valenciano me ouça senão ainda me dá uma bordoada. É que aquilo que eles dizem falar é Valenciá e não Catalá. Só o mais empenhado dos académicos consegue perceber onde está a diferença. Mas não interessa nada porque parece na mesma que se estão todos a cuspir e em Valência quase ninguém fala mesmo valenciano.
É mais como uma espécie de coisa gira para turista ver. Ter os nomes dos edifícios oficiais e dos Carrers (ruas) em duas línguas dá sempre mais personalidade a um sitio. É a mística…


quarta-feira, setembro 19, 2007

Um rio de cultura atomatada (1)



Valência não tem tomates. Antes tivesse, ou se calhar até tem, mas apodreceram... É a única forma de se conseguir explicar o inexplicável odor que se faz sentir em toda a cidade. Ou os tomates podres ou então o “rio” Túria… Esse elixir de brisa fluvial…
Confesso que Valência foi das cidades que mais me custou orientar-me antes de lá chegar. Tenho por hábito andar a fazer umas pesquisas pela net, já saber os principais locais das cidades que visito e a melhor forma de me movimentar por lá. Com valência isso foi quase impossível, apesar da abundante informação que existe no site de turismo lá do burgo.
Até é normal. Valência é uma cidade muito antiga. Segundo parece já toda a gente por lá andou. Ele foi fenícios, romanos, muçulmanos e por fim aragoneses e espanhóis. Depois a cidade tornou-se um grande porto marítimo, uma capital comercial e ao mesmo tempo uma grande confusão labiríntica, que sem a “preciosa” ajuda de um terramoto ou de um incêndio como em Londres, conseguiu chegar aos nossos dias. Só no início do séc. XX se criaram grandes avenidas arrasando-se pelo caminho uns quantos conventos.
Mas é impossível não se ficar confuso com a cidade. Toda a sua documentação refere um rio, o rio Túria, para além de constantes referências à herança marítima da cidade, até porque recentemente foi palco da America’s Cup. Mas uma pergunta assalta-nos o espírito, logo a seguir à pressão dos 42º centígrados, onde raio é que está a refrescante água que permite estes gajos terem um slogan que anuncia “Valência – um Rio de cultura”? Será que o rio é um sentido metafórico-cultural?
Não, não há mesmo rio. Ou melhor já houve. Mar nem vê-lo (mas já lá vamos). Como percebemos mais tarde, o rio Túria continua a estar oficialmente no seu sítio, só que a água foi desviada para fora da cidade depois de umas enchentes na década de 60 do séc. XX. Agora tem o pomposo nome de Antiguo cauce del rio Túria (antigo leito do rio Túria) e por lá nasceram jardins e campos de futebol para os valencianos passarem os tempos livres. O Rio, esse foi despromovido e obliterado para uma sinistra coisa chamada colector sur, no fundo um esgoto.
Que força é esta que movimenta uma cidade a prescindir do seu rio? Que coisa estranha para acontecer na segunda metade do séc. XX, e que provavelmente é a responsável pelo calor inexplicável e o odor inaceitável que paira pela cidade. Ainda mais estranho é que o leito do rio não foi preenchido, passando a fazer parte do tecido urbano normal. Continuam a manter-se todas as pontes e todos os cais de embarque das margens. Mas o mais psicótico é continuarem a construir-se pontes sobre o “rio”, ainda que por baixo se instale uma estação de metro no leito… Não me parece nada normal este tipo de comportamento. É uma espécie de dor de membro fantasma. Cortaram o rio, mas continuam a senti-lo...



terça-feira, setembro 18, 2007

Roque e a amiga

Estes dois monos impediram-me de conhecer melhor a vida de Aquilino Ribeiro.
Mas isto tem graça, especialmente aquela parte das facadas aqui e ali. Isto tem muito mais piada que os debates para eleições legislativas. É o que de mais sujo existe na vida dos partidos que acaba sempre por vir à tona.
Gostei tanto, que gostava de ficassem os dois. Assim como os gémeos polacos, dois monos pelo preço de um.
Aqui que ninguém nos ouve, e apesar de não haver nada que realmente os separe, Filipe Menezes é capaz de vender cara a derrota...

Gente com tomates


O regresso à rotina de depois de umas merecidas férias. Claro está que a doutrina diverge. Haverá quem me ache um vulgar calão que nem férias merece, mas por enquanto vou preferindo a minha fundamentada opinião sobre o bem que as férias fazem. Aliás, quase é bom trabalhar só para se poderem ter férias.
Desta vez por lado diferentes, ou nem por isso. Novamente Espanha, ou melhor, sempre Espanha, mas por motivos diferentes. Valência e depois Buñol, porque não existem tomates noutras paragens (acho eu). Uma guerra alimentar é algo que é capaz de ferir a mais violenta sensibilidade dos moços dos transgénicos, mas a verdade é que é bem interessante.
Os tomates são apenas uma parte de uma festa, ou antes o seu auge. Últimas quartas-feiras de Agosto de todos os anos, desfilam pelas ruas ínfimas de Buñol, vários camiões carregados de toneladas de tomates maduros (alguns nem por isso) que a custo se movimentam pela multidão de ingleses, americanos, mexicanos, japoneses e uns poucos mas orgulhosos e divertidos portugueses. Sim, os espanhóis parecem ser poucos. Já diz o ditado, em casa de ferreiro…
Uma simples hora, que na realidade é uma eternidade tomatal, acompanhada que é de um pau ensebado com bónus (um jamón como não podia deixar de ser) de umas cañas de litro e de uns bocadillos, logo a seguir de um apinhado Toma-Tren para lá chegar.
Uma festa popular é certo, mas com dress code. A banca que anuncia o Kit Tomatina não o desmente. Uns óculos de mergulhador, uma toca amarela e uma máquina fotográfica descartável com protecção aquática, são acessórios obrigatórios à protecção dos convivas, assim como ao registo para a posteridade. Mas a tomatina é mais que tomates. É também água. Muita água, bem fria e de alta pressão. É também chinelos voadores, concurso mister t-shirt molhada e voadora, mas também concurso de máscaras, sejam elas bananas, vestidos de noiva, quimonos ou simplesmente a farda “Até Já” da TMN.
Uma hora de encontrões e empurrões e a rara oportunidade de levar com muitos mais tomates do que aqueles que se conseguem atirar aos demais e manter um sorriso na cara. Completamente encharcados, com uma coloração excepcionalmente avermelhada e a sentir a pele a estalar à medida que o sol começa a fazer secar o tomate, regressamos ao comboio apinhado e a Valência com a sensação de dever cumprido.
Não é totalmente errado pensar que por aqui se atiram tomates. É preciso tê-los para se participar neste evento e sobreviver incólume :)