domingo, dezembro 31, 2006

Bom Ano

Uma semana complicada que finalmente terminou. Uma ausência quase total aqui pelo blog, que não augura nada de bom para o próximo ano. Não consegui acabar a sequência de posts sobre 2006, mas não faz mal porque entre hoje e amanhã os canais de televisão vão tratar disso. Esperança que o próximo ano traga mais tempo livre. Apenas um post em movimento, da cidade dos estudantes, para desejar um excelente ano de 2007 a todos os que por aqui passam.

Solitariedades - Aborto - take 1


Último dia de 2006. Pensei em escrever algo sobre o ano que agora termina. No entanto, acabei por optar por agarrar já em 2007 e no primeiro factor de interesse do ano - o Referendo de Fevereiro.

Desde já, devo dizer que não reconheço como “vida humana” um feto de semanas. Se reconhecesse, a minha opção de voto seria Não. Ou seja, a opção de voto seria ainda mais evidente do que é. Mas se reconhecesse, então deveria estar há muito a combater a Lei em vigor há mais de 20 anos. É que se a Vida começa no momento em que o espermatozóide fecunda o óvulo, então as excepções que a Lei actual prevê são inaceitáveis. Uma gravidez originada numa violação não é igual a qualquer outra, em termos da avaliação do feto ? E o feto com deformações ? Não é “vida humana” ?

É como vos digo. Reconhecesse eu “vida humana” e andaria a recolher assinaturas para eliminar toda e qualquer excepção ao direito de interromper a gravidez. Caso contrário, seria uma hipocrisia.

Mas não reconheço. Como tal, é-me suficiente saber que há mulheres perseguidas e julgadas como criminosas por interromperem um processo biológico que decorre nos seus corpos, sem os quais os fetos não sobreviveriam.

Se não fosse suficiente, sê-lo-ia o facto das excepções previstas na Lei actual serem de aplicabilidade complexa que, em muitos casos, elimina mesmo a possibilidade admitida na Lei. A excepção em casos de violação é disto exemplo.

E as condições em que muitas mulheres acabam por abortar ???

Se, mesmo assim, ainda não estivesse convencido, lembrar-me-ia que legislar sobre o direito da Mulher em decidir o que fazer com o seu corpo é apenas mais uma etapa da histórica opressão patriarcal em que o Ocidente (e não só) continua a navegar.

Votar Não impede um direito. Votar Sim não transforma um direito numa obrigação!

E já que se lembraram de, pela segunda vez, colocar os eleitores a decidir algo que é da maior intimidade da Mulher, o mínimo que se pode fazer é mesmo votar Sim. Nem que seja porque SIM!!!

Que 2007 seja melhor que 2006...

quinta-feira, dezembro 28, 2006

olhares do campo - um presente mais, este para o Ano Novo

"Pandora trouxe o vaso com os males e abriu-o. Era a dádiva dos deuses aos homens, por fora um lindo e tentador presente, denominado «vaso da felicidade». Então, voaram cá para fora todos os males, seres vivos alados: a partir daí, andam a vaguear e causam danos aos homens, de dia e de noite. Um único mal não se tinha ainda esgueirado para fora do vaso: então, segundo a vontade de Zeus, Pandora fechou a tampa e, portanto, ele ficou lá dentro. Agora, o homem tem para sempre o vaso da felicidade em casa e pensa que maravilhoso tesouro aí tem; está ao seu serviço, ele deita-lhe a mão quando lhe apetece; pois não sabe que esse vaso, que Pandora trouxe, era o vaso dos males, e toma pela maior benesse o mal que ficou para trás - é a esperança. É que Zeus queria que o homem, mesmo por muito atormentado que fosse pelos outros males, todavia não rejeitasse a vida, mas continuasse sempre a deixar-se atormentar de novo. Para isso, ele dá ao homem a esperança: ela é, na verdade, o pior dos males, pois prolonga o tormento dos homens."
Nietzsche - "A Esperança", § 71 em Humano, Demasiado Humano

olhares do campo - irmão Ramos Horta

A mensagem de Natal de Ramos Horta a Bin Laden pode talvez dar azo a muitos comentários. Falar-se-á das intenções do governante timorense, da ingenuidade do acto ou da sua inutilidade mais que certa.
Mas não esqueçamos que Ramos Horta é líder de um povo até há tão pouco tempo humilhado pela terrível ocupação indonésia. Recordemos que esse povo luta com dificuldades pela afirmação como país, esse país novo que vimos nascer com o início do Século e que foi o motivo das nossas esperanças e mobilizações.
Que um homem como Ramos Horta eleja as palavras que proferiu, independentemente de tudo o mais, representa talvez a reafirmação de princípios facilmente esquecidos no plano político internacional. E é também talvez um sinal de esperança, ao qual gostaríamos de poder aderir nestes dias em que é costume olhar-se o futuro e procurar-se um caminho para lá do já percorrido.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Solitariedades - Notas de Natal

Durante o fim-de-semana do Natal, foram registados mais de mil acidentes nas estradas portuguesas. Mas nem umas aspas ? De acordo com o dicionário, um “acidente” é “algo que acontece inesperadamente ou sem causa aparente”. Infelizmente, o número de “acidentes” no verdadeiro sentido do termo é reduzido. Na sua maioria, os “acidentes” têm causas bem identificadas e que se resumem numa palavra que também está no dicionário – irresponsabilidade.

Durante este período, os canais de televisão vão buscar clássicos e/ou novidades que retratam o nascimento de Cristo e episódios afins. Mesmo que não se tenha fé alguma nestes contos, há que convir que são histórias extraordinárias. Ou, dito de outra forma, Jesus Cristo é, ainda hoje, e no mínimo, protagonista de um dos mais belos romances da História.

Entretanto, morreu Gerald Ford. Parecendo que não, este senhor tinha alguns pontos em comum com outro recém falecido. Para começar, nenhum deles foi eleito. Para além disso, faziam ambos parte das amizades de uma terceira figura chamada Richard Nixon. Ford foi escolhido para vice de Nixon e Pinochet foi avalizado pela CIA no (primeiro) 11 de Setembro tristemente célebre.

Prémio (intolerância religiosa) do ano 2006

Lá para Fevereiro fazia 14 anos que um grupo de jovens tinham enveredado por um projecto associativo numa escola dos subúrbios e a redacção do 24horas tornava-se sujeito da notícia ao mostrar as suas mãos limpas. Começavam os Jogos Olímpicos de Inverno em Turim, mas aquilo que viria definitivamente a marcar Fevereiro, e muito dos meses seguintes, seriam as caricaturas de Maomé.
As caricaturas que já tinham aparecido num jornal dinamarquês no ano de 2005 e que estrategicamente alguns líderes de países muçulmanos "so called" extremistas decidiram contestar já este ano, seriam a fonte do despoletar de uma vaga de intolerância religiosa dos dois lados da barricada.
Maomé parece não poder ser retratado, até porque ninguém saberá qual a sua figurinha, mas isso não impediu que alguns movimentos mais próximos da extrema-direita dinamarquesa fizessem publicar, republicar e re-republicar as caricaturas assim como publicá-las um pouco por todo o mundo.
Num ápice o mundo muçulmano confundiu o todo com as partes e toca a atear fogo às embaixadas da Dinamarca e logo de seguida à de outros países à medida que estes publicavam ou defendiam a publicação de tais hereges caricaturas. Pelo meio, as ocidentais marcas multinacionais adoptaram o conceito "think global, act locally" (é ao contrário, eu sei) e começaram a banir produtos dinamarqueses e por arrasto europeus de algumas das suas lojas. Do outro lado do atlântico, Bush e a sua Condolleza invocavam a necessidade do politicamente correcto nas relações com os países árabes. Logo, Bush não se vê como um elefante numa loja de porcelanas... isso são os outros...
É ao fim ao cabo como as coisas se resolvem por aquelas bandas, à paulada. Não há interlocutores válidos e os que há, ou quando há, o ocidente não os reconhece como tal. É outra vez o fenómeno da pescadinha de rabo na boca.
Ainda este ano o prémio intolerância religiosa 2006 viria a ter de ser repartido exequo com o Bento, que lá foi falar que alguma vez houve um imperador que tinha uma ideia absurda sobre a violência do Islão, porque hoje em dia isso não existe…

terça-feira, dezembro 26, 2006

A guerra do Natal

O José Alberto Carvalho gosta de dizer nas entrevistas que lhe fazem, que a excessiva violência e tal vez algum aproveitamento sanguinário, que os noticiários possuem deriva da excepcionalidade dos acontecimentos que relatam. Quando a violência e a desgraça humana se tornarem comuns (pelo menos, mais comuns) então as noticias serão diferentes e irão retratar coisas bonitas e crianças felizes.
Seguindo esta lógica, porque razão continuamos a dar noticias sobre acidentes de viação???
Todos os anos, sem excepção a quadra de Natal (já para não falar no resto do ano) fica irremediavelmente marcada pela guerra que se vive diariamente nas estradas portuguesas. É de uma guerra que falamos porque os portugueses não conseguem cumprir as mais básicas regras de civilização quando aos comandos de um carro.
Temos sempre demasiada pressa, o sujeito da frente é sempre demasiado anormal, a estrada é sempre nossa porque a pagámos com os nossos impostos, as regras são sempre demasiado rígidas para quem não está habituado a elas, os outros são sempre demasiado responsáveis, as estradas estão sempre em demasiado mau estado porque o governo não faz nada, a policia está sempre demasiado perto e é sempre demasiado opressora, todos bebemos demasiado mas no final de contas foi sempre só uma cerveja. Sempre demasiadas desculpas para justificar o injustificável. Somos uns anormais a quem não deveria ter sido dada autorização para conduzir.
É na estrada que vêm ao de cima o que de pior temos em nós. Toda a mesquinhez, estupidez e ignorância do povo português manifesta-se dentro de um carro.
Temos de ter grandes carros, com grandes cilindradas, isso é que é de homem. Não acelerar e andar a pisar ovos é logo razão mais que suficiente para questionar a legitimidade da carta de alguém, além de ser óptima razão para se insultar alguém que aquele cabeludo e impiedoso nome que faz tremer os homens com eles no sítio, "MEU GRANDE PANELEIRO, anda lá com essa merda".
Na essência não se consegue compreender para que existe um código da estrada em Portugal, senão precisamente para não o cumprirmos. Há uma série de gajos que não percebe nada de condução, sim porque nós somos todos tão bons condutores quanto somos bons treinadores de bancada, que insistem em colocar sinais e traços e marcas no chão. Tudo para apenas se tornar mais evidente a necessidade de não os cumprir. É irresistível… um português não consegue ter um nível de civilização adequado que lhe permita escolher entre cumprir e não cumprir. Nem sequer chega a ser um dilema moral. Um traço contínuo é a própria definição do incumprimento. Ele existe precisamente para ser violado.
É de uma guerra que se trata, e independentemente das desculpas que possamos arranjar, no momento em que alguém é vítima da condução irresponsável de outrém, temos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para deter estes anormais.
Na realidade o verdadeiro milagre de Natal dos nossos dias é não morrer mais gente na estrada, porque boas oportunidades não faltam e a Divina providência vai acabando por safar alguns.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Mensagem de Natal

Aqui à atrasado, era habitual eu pôr-me para aqui com umas mensagens lamechas de Natal, pelo menos mais lamechas que esta...

Alguns dos que agora vão receber esta mensagem, lembrar-se-ão que eu tinha a mania que era uma espécie de Cardeal Patriarca alternativo e que por isso tinha de fazer chegar aos meus amigos momentos de reflexão natalícia, apropriados a esta altura em que tanta gente apenas se recorda da parte consumista da coisa.

Agora que perdi o encanto pela vida de pastor alternativo (cruzes, credo, canhoto) as minhas mensagens de Natal serão naturalmente mais simples e menos simbólicas ou até filosóficas.

O Natal, apesar de ser uma festa religiosa, pode e deve ser comemorado por crentes e não crentes como aquilo que realmente é, um sentimento.
Um sentimento de Paz, de recolhimento e de família, por mais que eles nos possam dar cabo do juízo, e um momento (ainda que escasso) para lembrarmos aqueles que têm menos sorte que nós.

A todos os meus amigos, aos nossos leitores (acidentais e fiéis), aos nossos colegas bloggers (até ao Pacheco Pereira) e à blogoesfera em geral, desejo o melhor que o Natal tem para dar :)

Affaire à l'Elysée

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Um Natal politicamente correcto

Português - Feliz Natal
Albanês - Gezur Krislinjden
Alemão
- Frohe Weihnachten
Arménio
- Shenoraavor Nor Dari yev Pari Gaghand
Árabe - ارابي - فيليس ناتال
Basco - Zorionak
Catalão
- Bon Nadal
Coreano
- Chuk Sung Tan
Croata
- Sretan Božić
Castelhano
- Feliz Navidad
Esperanto
- Gajan Kristnaskon
Finlandês
- Hyvää joulua
Francês
- Joyeux Noël
Grego
- Καλά Χριστούγεννα
Inglês
- Merry Christmas ou Happy Christmas
Italiano
- Buon Natale
Japonês
- Merii Kurisumasu (adaptação de Merry Christmas)
Mandarim
- Kung His Hsin Nien
Holandês -
Kerstfeest
Romeno
- Sarbatori Fericite
Russo
- S prazdnikom Rozdestva Hristova
Sueco
- God Jul
Ucraniano
- Srozhdestvom Kristovym

Disclaimer: Lista obtida com a preciosa ajuda da
Wikipedia. Pedimos desculpa pela ausência de variadissimos idiomas ou dos seus caracteres originais. Essa ausência não poderá ser invocada como representativa de ódio visceral aos povos que os utilizam.

Acontecimento (económico) do ano 2006

Este ano houve apenas uma prioridade de ordem económica... OPA, OPA, OPA. Parecia que a palavra de ordem do nosso primeiro em relação às prioridades (Espanha, Espanha, Espanha) se tinha arrastado para vários sectores eocnómicos.
Subitamente o país acordou para a realidade que outros já viveram em que as empresas se compram umas às outras e acabam por se fundir e multiplicar ou concentrar.
Subitamente ficámos todos com a sensação que estava tudo à venda. Que todas as empresas fossem de telecomunicações, bancos ou transformadoras de papel estavam a preço de saldo e por isso se justificavam as OPA’s. Ainda por cima porque pelo menos uma destas operações é protagonizada por uma formiga que quer engolir um gigante.
Mas rapidamente percebemos que não é bem assim, que isto demora muito mais tempo do que seria razoável, e que outra coisa não seria de esperar em Portugal.
Sem querer alongar-me nesse assunto até porque as OPA’s ainda vão ser matéria do próximo ano, estas dificuldades surgem porque não definimos ainda o que pretendemos do papel do estado nas grandes empresas e também na influência na economia. E enquanto não repensarmos esses aspectos, vamos continuar a ter este tipo de operações rodeado de montanhas de burocracia sem sentido com pareceres de um lado para o outro. Esperemos que em 2007 o acontecimento económico seja o crescimento económico aliado à consolidação das pequenas e médias empresas, que são quem afinal alimenta este país.

A genética da discriminação

Numa qualquer carreira urbana... e de repente um ceguinho, espécie normalmente alvo de compaixão e estandarte público de bondade, sai-se com "aquela criança sentada aqui ao lado estava cheia de tosse, não sei como é que a mãe a tinha assim. era africana não era? não vi mas cheirou-me".
não há nada como apurar os outros sentidos, todos diferentes, todos iguais. Via irmaolucia

quarta-feira, dezembro 20, 2006

olhares do campo - outra música para os nossos dias

"Na cidade dormitório
Onde o sol se põe cinzento
E o bel-canto da cigarra
Jaz mudo sob o cinzento

Quando a noite cai sombria
Com seus ténues lampadários
Luzindo na simetria
Dos novos bairros operários

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Pinto apelos em murais
Esfumo a noite em olheiras
Deslizo na hora do lobo
Sigo o rastro das padeiras

Afio as minhas armas brancas
Nas esquinas de metal
Cravo-as bem fundo nas ancas
Da cintura industrial

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Silva a hora do comboio
Treme na erva o orvalho
Corações da outra banda
Apressam-se para o trabalho

Com olhos mal acordados
Brilho vestido ao contrário
Como peixes alucinados
Às voltas no seu aquário

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio"

Carlos Tê/Rui Veloso - "Corações Periféricos", em "Avenidas"

"Nunca acontecerá, jamais em tempo algum"

Palavras muito imprudentes do Ministro da Administração Interna, que esperemos não ter de ver António Costa engolir um dia destes.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Da regulação

Não entendo como o Parlamento insiste em ouvir o ex-presidente de uma entidade de regulação do sector energético, para o questionar sobre o aumento das tarifas de electricidade, quando o sujeito se demite precisamente por o governo limitar esse aumento. Mas mais um tiro no pé do Ministro Manuel (ninguém me demite) Pinho, justifica inteiramente a audição parlamentar que anteriormente não teria uma projecção superior a dois ou três minutos na televisão.

Enquanto isso a Entidade reguladora da comunicação Social parece estar descontente com os seus já vastos poderes, que a ser aprovada a lei de televisão lhes permitirá fazer a impensável interrupção de programas em directo. Querem agora dar parecer (mais pareceres, que estão tão na moda) sempre que for nomeada uma administração da RTP. Controlar os conteúdos não é suficiente, a gestão também deve sofrer um parecer. Sobre esta Entidade o PSD não parece interessado em manifestar-se até porque aprovou o funcionamento da entidade tal como está.

Da estupidez

A estupidez é um fenómeno aglutinante. Onde quer que exista um estúpido, ele terá tendência a fazer-se rodear de gente estúpida.

Solitariedades - Dois homens, uma diferença

Dois homens. Nunca souberam que as suas biografias tinham vários pontos em comum. Aliás, nem sequer se conheceram.

Nasceram ambos no Verão de 1978 em pequenos lugarejos rurais. Os pais, adeptos da Argentina campeã do Mundo nesse Verão, baptizaram-nos em homenagem a Mário Kempes. Casaram relativamente cedo e foram Pais quase ao mesmo tempo. Ao primeiro filho seguiu-se o segundo. À medida que a família aumentava, o mesmo acontecia às dificuldades económicas que enfrentavam nos seus países.

A opção pela emigração começou a ser ponderada nas duas famílias. As vantagens materiais eram indiscutíveis. Ainda assim, ambos hesitaram imenso. Nunca haviam saído dos seus países e raras foram as viagens até às respectivas capitais. Mas o pior era a antecipação das saudades que sentiriam dos amigos e familiares, das mulheres e filhos em particular.

Pesados prós e contras, tomaram a decisão de arriscar. Destino escolhido - Paris.

Os pontos em comum terminam aqui. Mário Silva pegou num montante suficiente para pagar o Sudexpress e foi até ao Porto. Chegou a Paris e, após alguns dias de procura de trabalho e de análise das opções disponíveis, começou a trabalhar numa loja de fast-food da capital gaulesa. Nasceu em Trás-os-Montes. É português.

O outro Mário nem sequer chegou a Paris. Chamava-se Mário Yameogo e nascera a duas horas de carro de Bobo-Dioulasso, no Burkina Faso. O objectivo Paris passava por pedir dinheiro emprestado a vizinhos, familiares e amigos. Só assim pôde pagar aos vários intermediários que lucram com a emigração ilegal para a Europa. Mas a viagem deste Mário terminaria no Sul da Península Ibérica. O seu corpo foi encontrado junto a Gibraltar há uns dias. Já sem vida...

Esta história é fictícia. As verdadeiras acontecem todos os dias. Até quando ?

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Solitariedades - Eu, tu, nós, eles

Bolas! Isto é que foi. Começar uma semana sabendo que fomos nomeados "Person of the Year" não é todos os dias.
Pois é! Qual Ahmadinejad, qual Bento XVI, qual Bush, eu é que sou a Pessoa do Ano. E tu também!!! Viva nós todos!!!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Acontecimento (político) do ano 2006


Janeiro foi um mês estranho. Nevou em todo o país, Mozart fez 250 anos, o Hamas chegava ao poder na Palestina e Bacelet no Chile. Ouvimos falar pela primeira vez no MIT e do envelope 9. Aqui em casa nascia o Terminal do Suburbano (que insiste até hoje em não estar devidamente actualizado), e O Eleito fechava as portas. Cavaco ganhou as presidenciais e a blogoesfera tornou-se uma seca...
Claro está que o acontecimento político do ano foi a eleição de Cavaco para a presidência. Já o povo simples dizia nessa noite fria de Janeiro à porta do CCB “Eu e o meu marido somos reformados e temos artrite reumatóide e espero que ele faça algo de bom por nós.” E o Presidente não tem desiludido os que sofrem de reumático...
Atento às dificuldades do país real, Cavaco lançou a sua versão de presidência aberta, os Roteiros, que aos poucos têm vindo a chamar a atenção para assuntos sociais como a exclusão.
Com discursos fortes nos momentos certos e com um maior sentido da protocolaridade do lugar, tem vindo a marcar o seu estilo na presidência.
Ainda que se espere que, tal como todos os outros, não haja nada de relevante a dizer do primeiro mandato, Cavaco já defraudou as expectativas de uma parte substancial do seu eleitorado, daqueles outros partidos que o apoiaram. Todos aqueles que não esperavam ver uma tão grande proximidade ou até sintonia com o governo.
Mas afinal é natural até porque apoiar Cavaco era um tiro no escuro. O homem não disse nada, por isso chegado lá pode fazer o que entender e agradar a quem quiser para chegar ao segundo mandato...

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Post PQP das 23:17

Deviam abrir mais faixas no IC19 porque três filas entupidas a esta hora, ainda não conseguem recriar o ambiente familiar e aconchegante do Natal. Ainda somos poucos e está muito frio. Com mais uma ou duas faixas talvez fosse melhor, porque o efeito visual é mais impressionante...

Mais notícias (ou más notícias. Depende de quem lê)

Hoje tem sido um dia interessante nas notícias. Não só o nosso Presidente está novamente em acção (ver post abaixo), como também Maria José Morgado vai ficar com todos os processos relativos ao "Apito Dourado"
Agora é que isto vai "apitar fininho"

olhares do campo - Se eles são tão amigos...

O senhor Professor que não se estique, ou ainda passa por "força de bloqueio"...

olhares do campo - Nós, os finlandeses

Dois pequenos inconvenientes da curta mas interessante reportagem de ontem na RTP 1:

1- O Engenheiro Sócrates ter de esconder a cara de vergonha, pela revelação da forma manipuladora como refere o "modelo Finlândia". De universos tão díspares, escolhe-se aqui e além o que interessa ao marketig político reles, para iludir muito e fazer talvez tão pouco. Como pretende seguir o "modelo", na sua lógica de contabilista de mercearia?

2- O perigo de se alinhar pela tendência geral para a "psicologia colectiva". Desgraçados de nós, que nunca chegaremos ao nível daquele povo afortunado? Ou felizes dos lusitanos, no seu espírito tão próprio, que não cai na frieza do "rigorismo"? São assim, os portugueses...

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Acontecimento (medíocre) do ano 2006

Este ano continuou a estar marcado pelos tradicionais conflitos um pouco por todo o mundo. Mas o médio oriente continua a dar cartas. O Iraque e a intervenção israelita no Líbano marcaram o ano pela negativa.
O médio Oriente e o conflito palestiniano, parecem ser o inicio e o fim de todos os problemas.
A confusão generalizada entre estado e religião, entre ditadura, suposta democracia e extremistas e a forma como se movimentam forças extremistas para conquistar espaços que os mais moderados não conseguem manter, a juntar à absurda prepotência e cegueira americana sobre a região, ajudaram a perpetuar conflitos e crises politicas e a alimentar a máquina de guerra com milhares de corpos de inocentes. Pode ser que em 2007 alguém decida assumir um plano sério para o conflito israelo-palestiniano. Imagino ser esperança vã…

Será...

... que a promessa de baixar os impostos em 2010, apenas se o crescimento económico do país atingir os 3% do PIB, também faz parte da escalada de propaganda eleitoralista sem escrúpulos, que o governo tem vindo a alimentar, com o intuito de enganar os portugueses?

Pensamento do Dia


"Senhor, dá-me SABEDORIA para entender as pessoas que comigo trabalham, porque se me dás FORÇA parto-lhes a cara."

Solitariedades - 3 crias de dejecto

terça-feira, dezembro 12, 2006

Sai um ditador, bem tostado por favor...

Mas convenhamos, uma boa cremação tb dá imenso jeito para evitar romarias e saudosismos parolos, que parte das populações dos paises que viveram em ditadura sempre acabam por ter durante as duas ou três gerações seguintes.

Frase (mas será que ninguém me demite) do ano 2006

Tem aqui início a recordação de alguns episódios do ano de 2006. Até ao final do ano vou deixando aqui alguns destaques que nos chocaram, nos foram indiferentes ou simplesmente nos fizeram rir.

Começamos por Manuel Pinho. O feliz autor desta frase cheia de consciência social, digna de um grande estadista, proferida no meio das negociações entre trabalhadores e a administração da Auto-Europa e perante a possibilidade de estar em risco a viabilidade da empresa:

"Os trabalhadores em plenário, trocaram a certeza de mais horas extraordinárias, pela certeza de mais desemprego..."

olhares do campo - Nos 30 anos do poder local democrático...

... os nobres princípios da proximidade e da autonomia estarão indelevelmente manchados pela sua perversão no clientelismo e na impunidade alarve?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Autarquias

Ando há anos a discutir com amigos esta questão que o João Miranda acabou de referir no Prós e Contras.
O executivo das câmaras municipais tem de ser de uma única cor e as forças partidárias que não conseguirem ganhar as eleições devem fazer-se representar nas assembleias municipais investidas de novos poderes.
É o que faz sentido e evita este tipo de situações que com maior ou menor visibilidade que é dada à capital do país, acontece na maioria das câmaras do país.
O PC e as forças políticas mais pequenas não gostam, mas é normal. Já acontece o mesmo com a reforma da lei eleitoral. Não é uma questão de poderes mas uma questão de governabilidade.

Armar ao pingarelho

Já começa a irritar esta mania do Sócrates em meter umas expressões em inglês no meio de frases que até lhe estavam a sair bem. “achievement”, “new direction” ou “Larger than live” são algumas destas expressões.
Começo a desconfiar que aos poucos o homem quer testar aquela medida do inglês desde a primária, apostando em que as crianças de 5 ou 6 anos não terão outra forma de o entender já que o português deve continuar a ser fortemente maltratado.
É uma forma de piscar o olho a novos potenciais eleitores para quando ele quiser ocupar Belém a seguir a Cavaco, Guterres e Durão. Se todos estiverem lá pelos previsíveis 10 anos é bom que Sócrates arranje outra forma de se fazer recordar pelas gerações que estão agora na primária e deixar de se armar ao pingarelho.

Tarde demais

Há uma espécie de contentamento agridoce na morte de alguém como Pinochet. Em primeiro lugar há o contentamento indiscutível em que morram o maior número de ditadores possível e de preferência o mais depressa possível. Que não tenhamos que esperar 91 anos para que eles se vão apagando. É muito pouco cristão ter pensamentos destes, mas a morte deste tipo de sujeitos deve ser é festejada com banda e foguetes que não fazem cá falta nenhuma. Não respeitaram ninguém nas suas vidas e não merecem agora o respeito que se deve aos defuntos.
O sentimento agridoce deriva da relativa impunidade e tranquilidade em que morrem. Não se faz justiça e os poderes políticos pós ditadura, no Chile como em outras paragens têm receio de chafurdar na porcaria, que a qualquer momento pode voltar-se contra eles. A consolidação democrática permite demasiadas vezes a cedência a situações de compromisso mais ou menos absurdas como a que permitiu que até 1998 Pinochet fosse o chefe supremo das forças armadas, e permite que o julgamento público seja amenizado a bem da paz social. Ainda assim é lamentável que este sujeito não tenha podido ser julgado e tenha passado pela humilhação de estar preso num cárcere vulgar como tantos outros que ele prendeu, nem que fosse apenas por um dia.
Mesmo assim os julgamentos podem e devem continuar, porque Pinochet não actuou sozinho nem morreram todos ontem à noite.
Talvez agora o Chile, apesar das manifestações mais ou menos violentas de ontem, motivadas por uma minoria de saudosistas (há destes em todo o lado...) possa encontrar um caminho de paz e prosperidade.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

O Howard Dean era aquele rapaz que entrava nos comícios de autocarro, não era?

The Bridge

Escrever sobre o suicídio não é fácil. Felizmente é um assunto que não conheço bem, mas tenho a certeza que é algo que passa demasiadas vezes pela cabeça das pessoas quando se sentem encurraladas. Depois há aqueles que se suicidam sem que tal fosse previsível, de quem pensámos não terem problemas pessoais que os levassem ao suicídio, mas se calhar até por causa disso. A solidão, as dividas, a pressão competitiva, a exclusão ou a discriminação, são todas razões pelas quais as pessoas se matam. Mas na realidade nunca saberemos o que pensa uma pessoa no momento em que decide matar-se. No momento em que decide que atingiu um ponto de não retorno.
A sociedade moderna além de não estar, na maioria das vezes, atenta aos sinais, também proporciona inúmeras possibilidades de concretização do suicídio.
Enquanto a maioria de nós celebra o êxito do génio humano, outros vêm oportunidades de por termo às suas vidas. Provavelmente será sempre assim, e sempre existirão perguntas sem resposta.


Otário

Actualize o seu dicionário…
Otário – individuo que defende, com ardor mas sem argumentos, a construção do Aeroporto da Ota.

Quem é que já me terá chamado isto? :)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Solitariedades - Babyklappe

Este conceito existe na Alemanha desde 2000. São berçários disponíveis em alguns hospitais e instituições de beneficência. Através de uma porta de vidro, é possível deixar um bebé. Quando isto acontece, soa um alarme e os serviços públicos de saúde são chamados a intervir. Esta medida fez diminuir a mortalidade de recém-nascidos abandonados. Ainda assim, há vozes discordantes. Questiona-se o papel do Estado neste processo. Diz-se que fomenta o abandono das crianças. Faz lembrar alguns dos argumentos do debate sobre o Aborto. Perante um problema concreto, há quem pareça preferir que tudo fique na mesma. “Cuidado com as loucas das mulheres que vão desatar a colocar os filhos nos berçários” ou “Despenalizar o Aborto ? Nem pensar. Essas malucas vão começar a abortar a torto e a direito”.

A irracionalidade vai a pontos de nem sequer perceberem que o direito à vida de que supostamente são arautos é defendido por medidas destas. As “babyklappe” salvam as vidas dos recém-nascidos ali deixados, tal como a despenalização do aborto poderá salvar as vidas de mulheres deixadas ao sabor de curiosos da matéria que, sem o mínimo de condições, fazem abortos por esse país fora...

Serviços mínimos



Se alguém perguntar por mim, tenho passado e vou continuar a passar, os próximos dias deitado no sofá com o comando na mão. Férias em Dezembro é assim. Isso, o fungar do nariz e as compras que tardam em ser feitas :)

Não sou um orgão de soberania

Não, não sou um órgão de soberania. Isso é um facto inultrapassável.
Ainda assim não posso deixar de pressionar, como os restantes órgãos de soberania, a Autoridade da Concorrência, para que resolva esta palhaçada de uma vez por todas.
Ainda que possa discordar das decisões deste organismo, considero intolerável que andem diversos órgãos de soberania a pô-los em causa e a pressioná-los para decidirem depressa, não vá o tio Belmiro perder o comboio e uns quantos milhões pelo caminho.
Além disso já ninguém normal consegue aturar esta treta.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Solitariedades - I told you so...

Pois é... O homem já tinha avisado várias vezes. Não lhe ligaram nenhuma e pimba. Toca a derrubar o governo das Fiji.
O equivalente ao "nosso" CEMGFA lá do sítio (Bainimarama) não precisava de ter derrubado o governo e tomado o Poder para entrar para a História.
Esse lugar foi garantido quando, na semana transacta, fez um ultimato público ao governo. Exigia que fossem retiradas umas quantas propostas de lei e que alguns julgamentos de militares fossem suspensos. Nada de mais, não ? E lá está. Ele avisou. Golpes de Estado com pré-aviso ?? Só pode ser um militar responsável e com noções de ética bem elavadas.
Mais ainda. Nem sequer levou à letra o prazo que o próprio havia imposto. Ainda esperou mais uns dias. O que é que queriam mais ?
O que vale (ou nem por isso...) é que os fijianos têm tido uma média de um golpe de estado por semestre nos últimos 2 anos. Já nem devem ligar muito a estas coisas...

domingo, dezembro 03, 2006

Factor geracional

É sempre bom perceber após tantos anos, que enquanto eu me esforçava por viver e por me safar nesta selva, havia alguém que controlava os meus movimentos de forma a poder passados 15 anos, juntar tudo num estudo que servirá de indicação para o futuro.
Não sabia que este estudo sobre os jovens era afinal sobre mim, e sobre a minha geração, sobre as dificuldades e incertezas que sempre tivemos e sobre a forma como sobrevivemos a um sistema de educação perdido entre reformas. Como conseguimos sobreviver à droga, aos subúrbios descaracterizados, à violência que os mais velhos que iam ficando para trás nos anos que reprovavam nos iam infligindo e sobre a qual os nossos pais nos avisavam com frequência. Sobrevivemos aos micróbios e à chuva copiosa sempre que insistíamos em não usar chapéu-de-chuva. Iludimo-nos e encantámo-nos com as coisas mais simples. E como acabámos por dar a volta por cima, acabando tudo por correr mais ou menos. Sim, mais ou menos.
Ninguém, com ou sem estudo, nos pode negar a evidência que ninguém fez nada de especial para nos ajudar e tivemos de ser nós a lidar com a frustração de sermos filhos de uma geração que não queria menos para os seus filhos do que serem todos doutores, e nem todos lá conseguimos chegar. Os que chegaram continuam a bater-se pela sua oportunidade.
Não casámos, não vamos casar, juntámos os trapinhos, vivemos em casa dos pais ou acabámos por estar cheios de dívidas porque decidimos não o fazer. Mas o importante é perceber que embora este estudo venha a servir para fazer politicas de juventude para o futuro, a juventude actual não tem necessariamente os mesmos dramas que nós tivemos e talvez fosse uma boa ideia fazer politicas de juventude adequadas às suas dificuldades e não apenas publicarem um estudo quando eles já tiverem trinta.
Mas enfim, isso já não me interessa muito, importa-me mais a louça que tenho ali para lavar. Afinal foi a opção que resolvi seguir sem ajuda das políticas de juventude que vão chegar agora.

SIM


Numa altura em que se começa a “contar espingardas” e começam a aparecer cada vez mais movimentos a favor ou contra a despenalização da IVG, este blog considera não poder ficar de fora.
Tencionamos deixar aqui as razões que alimentam as nossas posições, numa altura mais oportuna, talvez no início do ano. No entanto, isso não invalida que neste momento possamos afirmar que este blog e os seus elementos são pela escolha e pelo SIM no referendo, de forma a terminar esta hipocrisia que continua a humilhar mulheres nos tribunais portugueses.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Pontos de vista

Depois de ouvir que a Rádio Renascença tomou uma posição sobre o referendo para a despenalização da IVG, mas que ainda assim a sua informação vai manter a mesma independência de sempre, só me consigo lembrar (e um amigo que aqui pára tb) da objectiva liberdade com que a Rádio Renascença evitou passar uma música do Rui Veloso chamada "O Prometido é devido"...

Dia Mundial da Sida - 25 Anos


25 anos depois muitos milhões morreram e outros 70 milhões estão infectados. Em todo o mundo a pobreza, a ignorância e o preconceito continuam a infectar milhares todos os dias.

quinta-feira, novembro 30, 2006

quarta-feira, novembro 29, 2006

E dura, e dura, e dura

Just keeping things in Perspective, recordo aqui um post de vários escritos em Novembro do ano passado, mais precisamente a 24-11-2005.
É a isto que nós chamamos "Muita parra e pouca uva..."

Portuguesas e portugueses...


Pronto, já está.
Primeira comunicação ao país e até correu bem apesar do habitual estilo carapau seco ao sol.
Sai um referendo para a mesa dos portugueses, pedido pela assembleia, muito bem enquadradinho e claramente legal.
Agora vamos ao referendo para despachar de vez este assunto, mas tudo com muita serenidade.

Solitariedades - Crise Madrasta

Pelos vistos, a crise é como a sorte - madrasta para alguns...
"A Madrasta", quadro de Paula Rêgo, foi vendido por 220 mil euros. Se não me falha a matemática qualquer coisa como 44 mil contos dos antigos...
Mas descansem as almas preocupadas com a emigração da arte nacional!!! "A Madrasta" fica em Portugal!!! É verdade, parece que não é só a Ferrari a aumentar o volume de vendas por estas bandas ou os Duplex a vender que nem caramelos...
À falta de melhor, e de 220 mil euros, tomem lá "A Madrasta":


terça-feira, novembro 28, 2006

É a fé (2)

Embora me continue a escapar a razão pela qual um Papa católico vai a um país com 99% de habitantes ligados a outra religião rival, espero que ninguém tenha particulares expectativas sobre esta viagem.
Apesar de toda a confusão sobre as declarações do senhor (não do Senhor, que esse tarda em fazer-se ouvir...) esta será uma viagem particularmente diplomática, sem nenhuns excessos, num tom profundamente conciliador, até porque a principal razão da deslocação refere-se à tarefa ecuménica de trazer para o verdadeiro caminho as ovelhas tresmalhadas do oriente, e não de tentar a conversão da Turquia.
Daqui a uns dias e depois de milhares de horas de televisão e de milhares de artigos dedicados ao tema, não haverá nada de substancial para falarmos.
O Papa não vai ajudar a resolver o problema da eventual entrada da Turquia na União Europeia, não vai acalmar os ânimos dos islamitas radicais contra o Ocidente e provavelmente não terá qualquer papel na pacificação cada vez mais necessária do médio-oriente.

É a fé

É o novo dogma da fé. O Cardeal não achava, mas o Papa já acha. Não há nada mais a dizer. É, como a própria época indicia, como os reis magos, a vaca e o burro. Ninguém questiona que eles lá estavam, porque senão como é que apareciam no presépio?

Being Jacques Chirac

Solitariedades - Ratzinger na Turquia

Um Papa com o historial de Ratzinger está na Turquia, um país em que 99% da população é muçulmana. Não pretendo alongar-me sobre esta questão. Pretendo apenas referir o que me parece essencial.
Oxalá (ou "in shaa Allaah") nada de grave ocorra durante a visita. Caso contrário, receio que as consequências pudessem ser imensamente destrutivas...

segunda-feira, novembro 27, 2006

Pergunta existencial

Às vezes fico baralhado e aparecem-me algumas perguntas existenciais. Em todos os aspectos só valemos alguma coisa na comparação com o estrangeiro? Será possível imaginar um mundo estranho em que sejamos tão bons que consideremos sermos maus por não termos ninguém com quem nos compararmos? Harvard, Yale, Oxford e Cambridge também se fazem avaliar por comparação externa?

Desafio interno (extensível aos demais)

Temos todos uma certa tendência pavloviana de nos comportarmos de determinada forma e de esquecermos a razão pela qual o fazemos. Adequamos os ritmos e as formas de vida a novas realidades, de tal forma que passado pouco tempo já nos sentimos novamente apertados na nova realidade e temos tendência a esquecer a realidade anterior, por vezes mais difícil e complexa.
É uma forma simples de os seres humanos reagirem e também de evoluírem, querendo sempre mais.
Neste post o nosso pouremuz frisava o facilitismo com que por vezes encaramos o papel do estado, e a nossa relação com ele, e o perigo de se achar permanentemente que se o estado social falhou deve então fechar as portas e escancarar-se de par em par ao liberalismo económico.
Mas há novas realidades às quais os portugueses também se habituaram como por exemplo a fixação das contas para tudo e para nada, e como tudo tem de ser muito explicadinho.
Um dia destes dizia o Pacheco Pereira no programa da SIC Noticias se afinal o estado não estaria ao serviço das classes média-alta pedinchonas e exigentes, e longe daqueles que supostamente pretende proteger.
Fica aqui o desafio ao pouremuz e ao no_campo, claro está, para se esticarem neste assunto.

IC19

Não demorará muito para o IC19 passar a ser a estrada mais vezes inaugurada da Europa, a juntar ao título habitual da mais congestionada da Europa.

olhares do campo - canto de intervenção, Século XXI

"Unamo-nos
Nós somos os famosos anónimos
Mesmo assim já comprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
P'ra provar quem vai à frente
Ou fica atrás

Se é por
Ir estabelecer um novo record
Cumprimos o guinness ao preço que for
E fica o assunto num lugar
E sem espumantes, às vezes dá p'ro banquete
Ou apenas sandes

Sempre
Complicamos a coisa mais simples
E simplificamos a complicada
Sai em rajada o tiro pela colatra
Às vezes mata, às vezes ressureição
Foi de raspão

(Só neste país...)

Só neste país
É que se diz:
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país
Só neste país

São muitos séculos em mor-premonição
A transitar entre o granizo e a combustão
E um qualquer hino para qualquer situação
Pessimista, optmista...

(e vai abaixo e vai acima
pessimista, optimista...)
...e agora a rima

Portugal é nosso p'ro bem e p'ro mal
E o mal que está bem
E o bem que está mal
E o bem que está bem

Juro
P'lo fado
P'lo baile e p'lo Kuduro
Que este país ainda tem futuro
É verde e maduro
Como a fruta, às vezes brote
Às vezes consternação
Secou no chão

Por isso unamo-nos
Nós somos o famosos anónimos
Mesmo assim já cumprimos os mínimos
Somos todos únicos
Que mais vão querer de nós
P'ra provar quem vai à frente
Ou fica atrás...

(Só neste país)

Só neste país
É que se diz:
Só neste país
(...)

Portugal é nosso p'ro bem e p'ro mal"

Sérgio Godinho - "Só neste país", em Ligação Directa

sexta-feira, novembro 24, 2006

Solitariedades - Memórias do Século XX

Em cada 24 de Novembro, recordo 1993. Fui um dos milhares que estiveram presentes e fui um dos que sofreram na pele a brutalidade dos funcionários do Estado que se designam "Polícias".
Pensei em escrever algo sobre essa data e o que ainda representa para mim. Enquanto procurava uma imagem desse dia, encontrei este post que traduz bem o que ainda me vai na alma.

Imagens como estas podem ajudar a definir-nos como povo?

quinta-feira, novembro 23, 2006

Solitariedades - Altman, um contador de histórias

Comecei a apreciar a sua obra no início da década de 90. Hoje sei que se tratou do seu regresso à ribalta. Short Cuts passou no King e foi aportuguesado para “Os Americanos”.
Ao contrário do que é frequente, o aportuguesamento do título parecia apropriado. O filme retrata várias histórias vividas em Los Angeles. Uma dona de casa e Mãe que atende uma linha erótica enquanto dá de comer ao filho de colo. Um polícia autoritário e adúltero. Uma pescaria que resulta na descoberta de um cadáver, etc. Surpreendente é o facto do filme nunca ter sido lançado em DVD... À semelhança de outros filmes de Altman, o elenco era imenso, em qualidade e em quantidade. Alguns exemplos: Andie MacDowell, Tim Robbins, Julianne Moore, Matthew Modine, Anne Archer e Jennifer Jason Leigh.

Depois de Short Cuts, assisti a O Jogador, também com Tim Robbins e anterior a Short Cuts. Se Short Cuts retratava realidades várias da sociedade americana, O Jogador fazia o mesmo, mas no universo de Hollywood. Prêt-à-Porter surge em 1994. Quem viu não esquece aquele final extraordinariamente surpreendente e original. O “rei” ía nu e era o mundo da moda…

O último registo que recordo é Gosford Park. O dono de uma casa senhorial britânica é assassinado. Apesar de a acção girar em torno da procura do “culpado”, o filme retrata a estrutura de classes da sociedade britânica na década de 30 do século passado. Mais uma vez, o elenco é riquíssimo.

Devo dizer que a notícia da sua morte me surpreendeu. Habituei-me de tal forma a apreciar as histórias que escolhia contar em filme, que o seu desaparecimento físico nem sequer hipótese era. Mas aconteceu. Estas linhas são apenas uma humilde homenagem a um cineasta que comecei a conhecer há mais de dez anos e cuja obra a Academia ainda foi a tempo de reconhecer. Confesso que a minha curiosidade relativamente aos filmes pré-90s aumentou. Que descanse em paz e que a sua obra continue a marcar as vidas de alguns.

Passear contigo, amar e ser feliz...

Está criada mais uma trapalhada neste país.

Os militares não estão satisfeitos com alguma coisa que ainda ninguém percebeu muito bem o quê. Parece que são as reformas e qualquer coisa relativa à dignidade da família militar que até se podia resolver com mais uns submarinos e mais umas regalias no acesso à saúde, entre outros. Por isso hoje, vão passear-se pela baixa numa manifestação, que não é uma manifestação, que não foi autorizada, apesar de não ter sido pedida, ou algo assim...

Os agentes da GNR e da PSP também parecem descontentes com qualquer coisa, mas ficariam muito mais contentes com aquilo que aparentemente deixa os militares descontentes, mesmo depois de terem passado as ultimas duas décadas a dizer que não eram o exército e agora já digam que querem ser equiparados. Estarão todos a falar das mesmas coisas?

Militar em preparação para a passeata de hoje à tarde, para ver as luzes de natal no Rossio.

quarta-feira, novembro 22, 2006

Preso por ter cão...

Não sei se em algum outro país existe um ditado tão apropriado como o "preso por ter cão e por não ter". Desconfio que deve ser alguma coisa exclusivamente nossa, como a história da Saudade.
Afinal parece que estamos carregadinhos de vacinas da gripe. Investiu-se fortemente e existe vacinas para toda a gente, só não chegou foi a gripe e por isso as farmácias têm de se aguentar com as resmas de caixas nas prateleiras.
Mas não é preciso fazermos um exercício muito complexo para percebermos qual seria a notícia de abertura dos jornais televisivos, se as vacinas não chegassem, não é?

Haja paciência

Já não aguento ouvir mais nada sobre o James Bond e o novo canastrão ao serviço de sua majestade...

É a cultura, estúpido!

A cultura é aquilo que define um país, é através dela que se expressa uma realidade própria de cada povo mas também através dela se reinventa e universaliza um povo.
A lógica economicista de que toda a cultura só deve resultar se for economicamente viável limita-nos à instituição de uma cultura de massas que agrada supostamente a toda a gente mas que não desenvolve, não inova, nem cria nada de novo.
Aceitar esta lógica é permitir que a cultura seja feita por uma classe de gente iluminada para um grupo de elites pré-definidas não restando alternativa aos restantes senão comprar bilhetes para aquilo que imensos justificam ser a cultura certa.
O único caminho correcto é o estado assumir o seu papel no desenvolvimento da cultura e na educação cultural dos portugueses que durante séculos lhes foi negada.
Nesse caminho não é possível escolher entre boa e má cultura mas é possível que se criem regras para gerir um orçamento limitado em que rotativamente se permita a todos os criadores financiarem as suas obras e talvez houvesse previsibilidade nos investimentos culturais que permitisse evitar o cancelamento de um evento que já se estava a tornar uma tradição em Lisboa.

Solitariedades - Futebóis 2

Glasgow, 21 de Novembro de 2006
O árbitro deu por terminado o jogo, poucos minutos depois de Boruc ter defendido o pontapé da marca de grande penalidade que garantiu a qualificação do Celtic para os Oitavos-de-Final da Liga dos Campeões desta época. De imediato, o guarda-redes polaco do Celtic virou-se para trás da baliza que defendera nos últimos três quartos de hora e dirigiu-se aos seus adeptos. Ou melhor, procurou dirigir-se. Porque foi imediatamente convidado por um polícia a regressar ao relvado.
Esta pequena história não é notícia por aquelas bandas. Aqui parece-me motivo para tal. Por lá, o lugar dos artistas é no palco e é no palco que os festejos e agradecimentos devem ter lugar. Por cá, um adepto que pise o terreno de jogo é multado em centenas de contos dos antigos, enquanto jogadores, técnicos e dirigentes pagam multas irrisórias (quando são multados...) por ofender e/ou provocar directa ou indirectamente o público sem o qual o seu negócio simplesmente deixaria de existir. Cultura desportiva precisa-se...

terça-feira, novembro 21, 2006

Solitariedades - Bancos, sorrisos, miopia e PREC

O Prós e Contras de ontem à noite pretendia abordar as relações entre os Bancos portugueses e os seus Clientes. Devo dizer que, apesar das discordâncias várias, admirei a postura de João Salgueiro. Sóbrio q.b., apesar da presença de Garcia Pereira. O mesmo não posso dizer do seu colega de bancada, um tal de Filipe Pinhal.

Segundo o site do banco de que é Vice-Presidente, este senhor completou 60 anos no início do mês e é detentor de mais de 3 milhões de acções do Capital Social do BCP. Devo dizer que percebo muito melhor as suas posições depois de tomar conhecimento deste último dado.

Agora percebo o ênfase que colocou na defesa da eficiência dos bancos portugueses, quando confrontado com os lucros astronómicos em período de crise económica.

Permitiu-me também entender a “lata” para não responder às questões que confrontavam a imagem de entidades (supostamente) respeitáveis e respeitadoras de tudo o que é lei e ética.

Vejam lá que até passei a ser compreensivo perante o alerta que o Dr.Filipe lançou quase no fim do debate. Atenção!!! Não vamos agora ressarcir os Clientes que andaram anos a pagar aos bancos juros acima do que lhes era devido. Se o fizermos, será o descrédito geral do País e nós não queremos isso. Pois claro, Dr.Filipe!!! Nada como deixar as coisas como estão e continuar a permitir que os doutores Filipes deste país se encham à conta dos Zés cá do burgo. Pois então!

Não sei se terá sido da minha miopia, mas pareceu-me ver um sorriso no rosto do Dr.Filipe sempre que alguém, que não o Dr.Salgueiro, falava. Também não sei se será algum preconceito meu que me faz classificar esses sorrisos como jocosos, para não dizer outra coisa. E se esse preconceito aumentava quando me pareceu que o sorriso era maior quando era o Secretário de Estado a falar ? Que alguém me esclareça.
Até lá, é bem provável que eu continue a lembrar-me do PREC à conta do Dr.Filipe. Porquê ?
Porque uma das questões que este País enfrentou durante esse período passava pela necessidade de subordinação dos militares ao poder político. E ao ver e ouvir o Dr.Filipe, não pude deixar de me lembrar de que a subordinação do poder económico ao poder político é hoje inexistentee considerada demodé.

Mas uma coisa é certa, eu participei num acto eleitoral que escolheu deputados e que resultou na constituição de um governo para o País. No caso dos doutores Filipes, parece que há um acto eleitoral qualquer em que só vota um tal de “mercado”, mas eu não sei bem quem é esse gajo. Só sei que eu não fui visto nem achado.

olhares do campo - Viagens na minha terra

...ou breves impressões sobre um mundo esquecido

A Mêda é um pequeno concelho no alto interior beirão. Uma terra marcada pelo envelhecimento e pela desertificação, no contexto do interior rural português. Quando passamos por terras como esta é inevitável que nos interroguemos uma outra vez sobre o rumo do desenvolvimento no nosso país.
A agricultura ainda possível ali é já uma outra, para que estas populações podem não estar preparadas. E o turismo, essa nova panaceia do crescimento (com os seus prós e contras...), tarda em despontar por aqueles lados. Mas então algum espanto se nos levanta.
Com o Douro a banhar-lhe a fronteira a norte (tendo mesmo algumas suas freguesias o “benefício” da produção de vinhos “Douro”), a dois passos de Foz Côa e integrando a “aldeia histórica” de Marialva (classificação do INATEL), quer-se crer que o concelho da Mêda podia conhecer uma outra dinâmica. Mas é talvez aí que se revela o malogro das medidas de gestão do território (se não pior, a sua ausência...).
Sabemos que a nível nacional o interior é um mundo esquecido, ainda que não possamos pactuar com essa atitude histórica, acomodados nos nossos luxos e infortúnios suburbanos. E é urgente que os poderes regional e local não se demitam das suas responsabilidades, desculpando-se da inépcia dos seus arcaísmos com as tradicionais faltas de recursos.
Aos trinta anos da democracia e do poder local, já vai sendo tempo do desenvolvimento passar da retórica propagandística e deixar de ser um conceito de aplicação parcial e mesquinha, para que de forma sustentada se possa fazer um país. Para que lugares como a Mêda se possam tornar em sítios onde valha realmente a pena viver e passar.
Numa noite fria mas límpida, de verão de S. Martinho, podemos talvez cruzarmo-nos, não sem alguma surpresa, com uma banda rock nacional, em concerto numa festa local. E sorriremos ao ouvir o António Manuel Ribeiro cantar que “os putos vieram divertir-se”. Mas quanta distância vai entre o divertimento alegre e contagiante de uma infância vivida na liberdade dos espaços abertos e a angústia juvenil de um horizonte limitado e sem futuro?

sexta-feira, novembro 17, 2006

Raríssimo

Acabo de concluir que tenho um problema raro que afecta apenas uma parte muito pequena dos portugueses. Sou pontual... Tenho sintomas muito expressivos. Fico com suores frios e dores no estômago quando as horas a que combinei alguma coisa com alguém, se começam a aproximar e eu ainda não consegui chegar. Irrita-me, quase ao ponto da irracionalidade, que me façam esperar. Eu sei que isto faz mal aos fígados, mas o que querem... Sou doente... Tenho de ir ao médico para me ajudar a combater esta fatalidade que se abateu sobre mim... Quero ser um baldas

Solitariedades - o Estado, esse malandro!

"Eu não devo nada ao Estado. Nunca me deu nada!",
Fórum TSF,
17 de Novembro de 2006
A autora desta declaração foi uma das participantes desse espaço de democracia que a TSF continua a organizar de Segunda a Sexta-Feira. Ao ouvi-la, questionei-me. Será que esta senhora nunca andou de transportes públicos ? Será que não foi matriculada por alguém numa escola primária ? Será que nunca recorreu a um serviço público de cuidados de saúde ?
Neste País em que somos todos liberais até surgir uma intempérie que nos estrague os cultivos ou que um incêndio ou uma inundação nos destrua as casas, o liberalismo parece estar na moda.
É claro para todos que o Estado não é propriamente um bom exemplo de funcionamento eficiente e transparente. Mas será que isso justifica esta espécie de epidemia anti-estatal que parece vigorar ?
A esquerda falha onde a direita (mesmo travestida de esquerda) manipula a seu bel-prazer. Falta à esquerda explicar o que seria um Portugal com um Estado menos interventivo na economia. E que o faça o quanto antes.
Antes que seja tarde demais e que a "mão invísivel" impere de vez...

quinta-feira, novembro 16, 2006

2ª frase do dia

“O silêncio é de ouro, não é Sr. Presidente? Isso agora juntou-se a fome à vontade de comer, já o Primeiro-ministro também não gosta muito de falar... bom, avancemos…”

Maria João Avillez na entrevista a Cavaco Silva

Frase do dia

Aí olê, Aí olê, é o Natal no Intermarché.

Entrevistas

Vejo o Santana ou o Cavaco? Entre os dois o meu coração balança...

Cancioneiro Urbano

Ontem a minha mãe avisou-me para ter cuidado com as lojas dos chineses. Parece que lá para Braga enfiaram uma pobre rapariga num buraco qualquer para lhe roubarem os órgãos. Foi salva in extremis e encontrada num buraco já com marcas no corpo que indicavam onde se iam fazer as remoções de órgãos. Aproveitei a oportunidade para a avisar para ver sempre as cadeiras do cinema porque existem drogados que deixam propositadamente seringas carregadinhas de HIV e para ter em atenção quando bebe uma lata de Coca-Cola por causa da urina dos ratos. Relembrei-a que um mergulhador apareceu morto numa floresta com todo o seu equipamento, e que os mortos aparecem às pessoas no mesmo local onde morreram na serra de Sintra e que graças à Internet estamos todos muito bem informados e logo protegidos.
São os mitos urbanos, as resmas de mails de criancinhas que sofrem de uma qualquer doença terminal, acompanhados quase sempre da respectiva nota: “ESTE CASO É MESMO A SERIO” e que remetem para endereços que não recebem mails ou nem existem e contactos telefónicos desactivados. Circulam anos e anos pela rede, muitos anos do que as doenças terminais permitiram e ocorrem em vagas. São frequentemente substituídos por novos mitos mas os mais antigos acabam sempre por voltar a ser reutilizados mais tarde.
Anda por ai muita gente desempregada ou com imaginação fértil que o Lítio e o Prosac poderiam ajudar. Inventam historias, passam-nas pela net e de boca em boca e uma malta sem nada na cabeça corrobora essas história acrescentando que a aconteceu (mesmo) à irmã da prima da tia do vizinho do 5ºC. Aos poucos perde-se o rasto da origem e quando já não é possível identificar a fonte o mito glorifica, passa a verdade absoluta de cidade para cidade, de pais para país de continente para continente.
O mais recente disparate que aqui vos trago corresponde a um suposto cartão de memória que ficou preservado numa máquina digital danificada na queda do avião da Gol na amazónia, e que aparentemente teriam sido tiradas fotografias no momento da queda do avião ou do impacto com o pequeno jacto da Embraer.
Aparece informação de quem a máquina pertencia, porque terão lá chegado pelo número de série… Indicam o nome da pessoa e que deixou duas filhas (cujos nomes tb são mencionados). Tudo em prol de uma exploração sem limites.
Aliás é tão mais interessante que de repente se associou a este mito um outro acessório. O mito de que os mails que as pessoas estão a enviar com o subject: FOTOS DO AVIÃO DA GOL trazem um vírus mortífero para qualquer computador.
Tudo isto porque algum anormal resolveu publicar na net dois fotogramas de uma das cenas mais famosas da série do momento “Lost”.
O pior cego é o que não quer ver.

quarta-feira, novembro 15, 2006

O que acontece a quem compra na Zara...




"Carmona Rodrigues retira pelouros à vereadora Maria José Nogueira Pinto.
O presidente da Câmara de Lisboa, Carmona Rodrigues (PSD), retirou, hoje, os pelouros à vereadora do CDS/PP Maria José Nogueira Pinto, com quem mantinha uma coligação pós-eleitoral, alegando "violação de lealdade e confiança".

Escandalosa manipulação da RTP

Hoje quem viu o Telejornal ficou a saber que aquela televisão islâmica, que a partir de hoje emitirá em inglês, surgiu num país chamado Qatai...

A triste confirmação

terça-feira, novembro 14, 2006

Sacudir as teias de aranha

Surpreendentemente e depois de apenas um simples ano de discussão, a África do Sul aprova casamentos civis entre pessoas do mesmo sexo.
Como é que é possível que uma sociedade que até meados dos anos noventa vivia num sistema sectário de separação racista entre uma minoria branca e uma maioria negra, e que ainda assim continua a manter tantas e tão graves desigualdades sociais, consegue atingir conquistas civilizacionais como estas? É realmente preciso muita coragem politica e cabeças bem abertas onde não abundem teias de aranha.
Por cá, que temos uma democracia moderna e europeia há mais de 30 anos, está obviamente a escapar-nos qualquer coisa em termos de desenvolvimento social.

Reduzir a cinzas

Aqui há uns meses, para ai em Abril escrevi isto, que acabei por não publicar: “Pela primeira vez na televisão, duas brasileiras que não entram em novelas, não cantam, são perfeitamente normais, têm uma profissão normal e não é alterne. Isto sim é que é serviço público” Hoje já nem sequer faz sentido falar neste assunto, que apenas veio alimentar a tradicional desconfiança sobre o papel dos imigrantes em Portugal.
O tempo tratará de fazer perceber porque razão o projecto de repovoamento de Vila de Rei acabou por não resultar, e acabará também por deixar perceber a quem pertencem as responsabilidades.
Seja de que maneira for, vale a iniciativa que em princípio parecia correcta, de integração de imigrantes numa comunidade a necessitar deles.
Talvez haja ainda alguma coisa positiva a tirar de todo este processo.

Portugal visto de fora (1)

Dúvidas sobre todos os que podiam ter sido alguma coisa mas não foram

Para quando um livro do Ferro Rodrigues, a explicar como o tramaram com o processo Casa Pia?

Factos ou ficção?

Santana diz que no seu livro está: A verdade da história? Ou a verdade da estória?

segunda-feira, novembro 13, 2006

Respeitar ou não

Não é novidade que defendo a existência de um referendo à IVG. Não por considerar que essa é a única forma de resolver o assunto, porque reconheço que a Assembleia da republica está totalmente legitimada para legislar sobre esta matéria, mas porque considero que aquilo que foi aprovado com recurso ao instrumento referendo, deve ser reformulado por instrumento de igual valor.
Poderíamos até considerar, (mas será que os portugueses consideram…) que a Assembleia da República seria um instrumento de valor superior. No entanto, o que está aqui em causa são opções quanto ao exercício da democracia representativa por oposição à democracia directa e participativa.
Não se pode andar por aí a dizer que se quer criar mecanismos de demonstração da vontade popular entre eleições, e depois achar que aqueles que a lei prevê já não servem, ou devem ser ignorados, quando ameaçam os nossos interesses em determinada matéria. Não é razoável achar-se que alguma vez os portugueses se poderão sentir mais próximos dos políticos, se estes insistirem em seguir caminhos diferentes daqueles que eles defendem e que demonstraram nos momentos correctos.
Ninguém conseguiria entender que na eventualidade do referendo à IVG resultasse uma vitória do "Não", com menos de 50% do eleitorado a manifestar-se, que se pudesse legislar num sentido diverso do sentido do referendo.
Seria um total desrespeito pelos portugueses que militantemente, ou não, tivessem participado no referendo (independentemente das opiniões destes) e um sinal para todos os ignoram a politica e os políticos que tornaria definitivamente inútil o referendo, que sazonalmente à esquerda e à direita os políticos consideram válido para as mais variadas perguntas.
O PS e Sócrates sabem isso, e daí que a conclusão no congresso, não pudesse ser outra.

Causas para todos os gostos

Sou muitas vezes abordado pelas mais diversas campanhas. Em especial se me encontrar algures no eixo Oeiras – Cascais, onde a solidariedade parece ser mato. Deve ser uma espécie de obrigação das tiazocas. Festas e solidariedade.
Ora são as infelizes crianças com verrugas no nariz, a difícil adaptação das crianças com pé chato (das quais eu sou um digno representante) ou, como neste fim-de-semana, o verdadeiro drama das crianças hiperactivas...
Tenho receio de me estar a tornar um trintão amargo só porque não reconheci imediatamente a devida importância do drama dos meninos e meninas hiperactivas. Afinal eles também são filhos de deus e que por alguma razão nasceram com essa terrível dificuldade de não se conseguirem concentrar na escola e terem uma actividade acima do normal para as restantes crianças.
Naturalmente tive de me travar de razões com a moça que diligentemente defendia esta causa, até porque (tal como eu) não reconheceu de imediato a urgência de ajudar outras crianças mais necessitadas do que estas.
Nem sequer tentei perceber para que serve o dinheiro para uma associação como esta, porque não entendo de que forma se pode ajudar alguém a ter uma vida normal, como a que eu e os meus amigos tivemos, mas com mais playstations.
Aquilo que parece separar-nos é uma constrangedora desresponsabilização dos pais na educação dos filhos. A vontade de não contrariar as crianças porque depois de adultas elas ficam cheias de traumas. A ideia que crianças que gritam todos os dias, resolvem partir tudo, e exigem todos os gadgets cujos pais não resistem em comprar para os calar, resulta quase sempre num diagnóstico de hiperactividade.
A Hiperactividade é um fenómeno dos nossos dias. Aquilo que separa estas crianças, das crianças da minha geração é a “Ritalina”. Entupidos de medicamentos serão muito mais saudáveis e poderão dizer no futuro que nunca levaram uma palmada na vida. Mas serão mais felizes?
Continuo a achar que existem crianças a precisar seriamente de mais ajuda dos que as crianças hiperactivas, mas como não tenho filhos podem ser paternalistas à vontade…

sábado, novembro 11, 2006

Glória Glória Aleluia

"Quero dizer uma coisa ao nosso presidente: ele veio pa cá e puxou o Benfica pá frente. Deus nosso senhor o tenha por cá muito tempo proque a gente precisa muito cá dele..."- Adepta do Benfica à porta do estádio da luz.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Admirável Mundo Novo

Ontem comemorou-se a queda do muro de Berlim naquele já longínquo ano de 1989. Hoje em dia constroem-se novos muros, para separar os homens em vez de se encontrarem soluções que lhes permita viver em paz. Sabemos também que para cada muro existem povos. Uns a favor outros contra. Uns mais militantes outros nem por isso. Nos Estados Unidos, terra fértil a todas as teorias de conspiração, assim como vítima de todas as teorias de conspiração, a democracia convive com gente perigosa e extremista que se reúne em grupos mais ou menos organizados. Grupos de lobby, relativamente inócuos quando não envolvem armamento militar, grupos religiosos em que se espera defender valores de sociedades que já não existem e em abono da verdade nunca existiram, e grupos paramilitares e milicianos que acreditam defender o seu pedaço de terra, a sua casa e a sua família, da mesma forma que defendem o seu país.
Geralmente encabeçados por obscuras figuras de extrema-direita que têm o particular cuidado de não expor às televisões os seus reais objectivos, e que organizam e mobilizam grupos de vigilantes e justiceiros. São aqueles para quem o clã Bush é na realidade dessa esquerda da pior espécie, em quem não se pode confiar e que por isso mesmo têm de tomar os assuntos nas suas próprias mãos. É o caso do Minuteman Project e o Texas Border Watch. O nome da organização não é totalmente inocente, trata-se praticamente do mesmo nome de uma milícia formada ainda na América colonial (também chamados Minutemen), e que pretendia ser o tipo de homens que rapidamente poderiam estar prontos para combater em qualquer lado. A sua função actual é bem mais prática/tecnológica.
Organizam-se para manterem a fronteira com o México sob controlo. Utilizam material variado como Web-cams de vigilância e binóculos de visão nocturna. Passam horas a olhar para um pedaço de terra donde virão esses demoníacos e sujos mexicanos e segundo os próprios, chamam as autoridades assim que detectam um. Ainda assim, são às centenas os desaparecimentos de pessoas que tentaram atravessar a fronteira, sendo que apenas alguns destes desaparecimentos são efectivamente imputados aos passadores. É um admirável mundo novo, este em que vivemos, e porque o poder dos mais ricos deve estar ao serviço dos mais ricos, a tecnologia dá uma ajudinha. O Texas Border Watch proporciona que todos possam dar uma mãozinha a esta luta. Basta registarmo-nos e no conforto das nossas casas caçarmos uns mexicanos mais afoitos como se fosse um jogo a 3D.

quinta-feira, novembro 09, 2006

olhares do campo – Umas rapidinhas…

(…só para evitar uma “requisição civil”!)


1- Liberdade, igualdade, fraternidade

Monsieur Sarkozy, que já tentara apagar os fogos suburbanos com gasolina, lembrou-se agora que não seria aconselhável deixar cidadãos muçulmanos trabalharem nos aeroportos franceses. Sábia medida, a de prevenir que esses bárbaros possam estar próximos dos seus alvos preferidos…
Os “teóricos” do “choque de civilizações” devem rejubilar. Mas já não lhes deveria ser tão fácil definirem de que lado é que está o fundamentalismo e a irracionalidade…


2- Democracia, pluralismo e participação

Na véspera do congresso socialista Helena Roseta esboçou em poucas palavras uma crítica ao rumo unilateral e monocórdico do partido e apresentou brevemente duas ou três ideias alternativas.
Entretanto, José Sócrates já havia sido (re)eleito líder, com um resultado inconcebível (superior, até, aos 95,6% de Luís Filipe Vieira no Benfica…).
Bem fez a militante em ser parca nas palavras. Os holofotes já se acendem sobre o palco e as atenções cairão todas no (mais que previsível) discurso do líder. O marketing e a propaganda substituirão a política, o vazio das ideias feitas há-de fazer-se programa. E, acima de tudo, o partido está no poder…Assim não vale mesmo a pena.

olhares do campo - ...

EM GREVE
(não há "serviços mínimos" no Suburbano, pois não?)

Solitariedades - A Chave do Amanhã

Alfonso Cuarón realizou. Clive Owen e Chiwetel Ejiofor protagonizam. Julianne Moore e Michael Caine emprestam mestria. “Os Filhos do Homem” é o filme mais subversivo dos últimos anos. A acção decorre num futuro relativamente próximo. O planeta não assiste ao nascimento de um novo ser humano há mais de 18 anos. Simultaneamente, a imigração é alvo de perseguições dignas do 1984 orwelliano. Não por acaso. Afinal de contas, à semelhança de 1984, “Os Filhos do Homem” é baseado num livro que antecipa um futuro mais ou menos previsível. Jaulas e campos de concentração albergam imigrantes de origens diversas, onde se encontram franceses e italianos... A cena de abertura apresenta-nos um planeta a chorar a morte do seu habitante humano mais jovem...

Para não desvendar mais desta ficção realista tão actual, acrescento que este filme me fez chorar. Talvez pelo seu carácter ficcional mas tão próximo, pelos momentos de humanidade no meio do caos e da barbárie. Pela beleza dos raros registos musicais. Por apresentar pranto pela perda de uma vida e desrespeito pela vida de milhares. Pelos que morrem a caminho das Canárias. Por se confundir a luta pela liberdade de circulação de seres humanos com terrorismo. Por mostrar exageros fanáticos entre aqueles que supostamente defendem essas liberdades.

Porque nos mostra aquilo que já somos, para onde parecemos caminhar e onde chegaremos. Por nos lembrar. Sim, porque nada do que é mostrado é propriamente novo. Por nos fazer entrar pelos olhos dentro que temos por missão encontrar as chaves que nos conduzam ao amanhã. Por tudo isto chorei. Por tudo isto vos digo... vão ver “Os Filhos do Homem”!

Solitariedades - Mini-Diálogo

- Olá, que é feito ?
- Eh pá, estou bem. E tu ? Que tens feito ?
- Terminei agora um curso que apreciei bastante. Tive 18 de nota final.
- Curso de quê ?
- Arquitectura de Interiores. Para ser sincero, aquilo era relativamente acessível e eu até já tinha umas luzes da coisa.
- Ahh! Pois eu terminei um há uns meses que foi extremamente complicado e tive 16.
- Muito bem. Parabéns, pá! E fica bem, sim ?

Olho por Olho


Imagem de gritante actualidade "fanada" no Abrigo da Pastora

quarta-feira, novembro 08, 2006

Burrito

Um dia é bom quando acordamos com uma boa notícia. Um dia é fantástico quando recebemos duas boas notícias. Os democratas encontraram definitivamente um rumo que os devolva ao poder nos Estados Unidos. Souberam jogar as mesmas cartas que os republicanos, disputaram-lhes os seus melhores trunfos, capitalizaram com a guerra do Iraque mas não tiveram medo de admitir que aquilo era um erro e que a guerra ao terrorismo estava a claudicar perante as concessões à limitação da liberdade e conseguiram ganhar essa aposta até onde não era previsível.
O sistema eleitoral americano não é fácil de compreender. Não o é no caso das presidenciais e muito menos nestas. O que estava em jogo era a totalidade da “House” Casa dos Representantes e um terço do Senado que sazonalmente é renovado.
“As we speak” os democratas já controlam a “House” e estão a um senador de controlarem a segunda câmara. Tudo se joga na Virgínia onde o candidato democrata lidera a votação por uma unha negra.
Uma coisa parece ser certa. Não vai haver mais hegemonia Bush até ao final deste mandato, pois sem o apoio do congresso os presidentes têm uma acção na política externa muito limitada. Além disso abre-se caminho para uma vitória democrata mas próximas presidenciais. Bush já percebeu (deve ter sido um assessor que lhe disse) que foi a guerra que o lixou. Já despediu o antigo amigo de Saddam (agora carrasco), Donald Rumsfeld (segunda boa notícia do dia) mas outros irão pelo mesmo caminho.
O problema é que esta administração fechou as portas. Os próximos dois anos vão ser para gerir a porcaria que se tem vindo a fazer, enquanto nos bastidores se agitam os do costume à espera de um presidente que limpe a casa que este sujou.

terça-feira, novembro 07, 2006

O trigo do joio

Já foi apresentado o Orçamento para o próximo ano e não reserva nenhuma surpresa em particular, além de uma aparente exigência para com aqueles que até agora viam a carroça da crise passar ao lado, os Bancos. Mas ainda assim, nada de importante a destacar e se calhar por isso mesmo continua a não se entender de que forma pode ser considerado como "acalorada" a parte do debate que hoje foi dedicada à Madeira.
Alguma coisa tem de ser. Ou o fenómeno furacão palhaço-vou-me-a-ti-até-te-racho-ao-meio-oh-cubano, rende oportunidades de destaque à esquerda e à direita, para desviar as atenções do essencial, ou então não se consegue perceber a razão de tal disparate.
Na Madeira vivem 250.000 pessoas. Neste momento já vivem num subúrbio como o Cacém cerca 81 145 pessoas de acordo com os censos de 2001.
A Madeira tem uma área total de 797 Km2 e o Cacém tem uma área total de 16km2.
A Madeira lutou desde sempre com a insularidade e por isso mesmo o Estado tem vindo a investir fortemente na ilha, beneficiando os madeirenses e o seu governo regional com vantagens que vão além do investimento que proporciona, tais como custos controlados nas viagens e taxas fiscais mais favoráveis.
Ir do Cacém para Lisboa de carro pelo IC19, demora aproximadamente 01h de manhã e 01h à tarde. De Lisboa ao Funchal de avião, a viagem demora aproximadamente 01h35m e vice-versa.
A Madeira, os madeirenses e aqueles que por razões profissionais decidem fixar-se no arquipélago, beneficiam de um conjunto de vantagens que nenhum morador no Cacém beneficiou ao longo da sua vida.
O Cacém tem ao longo do tempo crescido exponencialmente e ainda assim não se verificou um crescimento equiparado das infra-estruturas rodoviárias, ferroviárias e outras, que são habitualmente consideradas como desenvolvimento e qualidade de vida. A Madeira pelo contrário, tem beneficiado de fortes investimentos nestas áreas, quando na realidade o relevo da ilha apenas permite que a maioria da população se situe na sua costa sul.
A Madeira tem há muitos anos o folclore de má educação do Alberto João, e o Cacém tem vindo a ter juntas de freguesia PCP, PCP-PEV, PS e agora PSD-CDS-PP, que por mais que faça um esforço para me recordar dos últimos 23 anos por estas bandas, não me recordo de os ver gritar impropérios contra os cubanos, os indianos, os chineses, os governos de direita, os governos de esquerda e os governos do meio.
Afinal que é que estamos a enganar? Se não a nós próprios…. O preço a pagar pela insularidade é grande, mas alguém tem dúvidas que se vive muito melhor na Madeira do que no Cacém? Alguém tem dúvidas que o preço da insularidade é fortemente compensado pelo bolso de todos nós?
Por isso para o Cacém, o único caminho está na auto-determinação e independência.
LIBERDADE PARA O CACÉM JÁ!!!

Um hábito dos últimos dias... mails da CP

segunda-feira, novembro 06, 2006

Última Hora

A partir de hoje o programa da Fatinha na RTP vai mudar de nome... Vai passar a chamar-se:

"Mata e Esfola"

Venha chuva...

Invariavelmente depois dos incêndios vem sempre a chuva. Até é interessante perceber esta sucessão que acaba sempre por ditar o fim da fase imediatamente anterior. Aliás, este ano o verão, à excepção das já famosas vagas de calor, até nem foi dos piores. Houve mesmo alguns dias que choveu, o que contribui muito significativamente para a curta época de incêndios.
Mas tal como revelamos, ano após ano, uma total incapacidade em nos protegermos dos incêndios, revelamos também uma inaceitável incúria em relação às primeiras chuvas e aos seus resultados.
Chove copiosamente e é inevitável que acabemos por ter inundações e cheias um pouco por todo o lado. Mas será que é mesmo inevitável?
Reguengo do Alviela é um pequeno povoado junto ao Alviela e logo ao Tejo. Numa zona de cheias por excelência, que aliás são a razão da riqueza agrícola da zona, os seus habitantes acabam irremediavelmente por ficar isolados sempre que caem umas pingas de água.
É assim porque é assim. É assim até porque as pessoas já conhecem essa realidade há muitos anos e o padeiro e o merceeiro da zona até já possuem um pequeno bote que lhes permite fazer as suas vendas no Reguengo do Alviela para além de distribuírem a correspondência. A Holanda ganhou mais de um terço do seu território ao mar e nós não conseguimos que um lugarejo com meia dúzia de pessoas possa ter uma determinada segurança das águas do Tejo, que sem excepção todos os anos lhes entram pela porta adentro. Não há um dique, um canal de escoamento, uma estrada elevada que valha à população deste local. Resta-lhes apenas empacotar o maior número de alimentos possível, prender com pedras os móveis para que não flutuem, colocar as coisas mais leves nos andares de cima, tentar levar os animais para zonas mais altas e esperar pela chuva que inevitavelmente acabará por chegar.
Tomar é um povoado maior. Não é tão interior, é uma cidade pequena mas com o seu comércio e a sua vida própria. As gentes de lá já não vivem exclusivamente da agricultura, têm supermercados e até um politécnico e como tantas e tantas terras neste país tem um rio. O Nabão.
O Nabão, tal como todos os rios que fazem parte do complexo emaranhado de água do rio Tejo, está directamente relacionado com este e principalmente com as suas barragens. Barragens como a do Fratel.
Neste sábado a barragem teve necessidade de abrir as suas comportas para arrumar a água vindas das barragens espanholas durante um período de 3 horas. Essa abertura de comportas provocou um aumento de 6m, sim, 6m do caudal do rio Nabão. Ninguém em Tomar foi devidamente avisado deste aumento (mais que previsível) do caudal, pelo que os prejuízos são avultados tendo em conta que toda a zona ribeirinha ficou completamente inundada, não tendo sido possível aos proprietários fazerem nada para salvar alguns dos seus bens.
A natureza nem sequer é demasiada madrasta para nós. O último grande acontecimento natural digno desse nome foi há 250 anos e ainda temos coisas por recuperar…. A água merece-nos tanta atenção quanto a floresta, ou seja quase nenhuma. Tudo parece mal estruturado e sem coordenação possível. Ninguém se entende embora todos os anos o SNBPC seja reestruturado (agora vai ser Autoridade nacional de protecção civil).
Não investimos em nenhum sistema de alerta capaz de nos proteger de catástrofes naturais e acabamos sempre por ter de lidar (mal) com as consequências. Construímos onde queremos, enchemos tudo de lixo e depois reclamamos que perdemos tudo. É o nosso fado de sempre, que afinal apenas serve para encher telejornais com desgraças humanas, de gente que perdeu os seus poucos haveres, em zonas onde nem sequer deveriam viver.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Surdez

Não se fala porque isso implica ouvir e não queremos que isso seja possível. A audição dos desejos e vontades das pessoas, é o que de mais ímpio pode existir numa organização autocrática e burocrática, que se auto contempla como o expoente máximo do próprio sucesso que alcançou. É como se à volta não existisse ninguém capaz de entender tal sucesso senão nós próprios, ao ponto do auto-bajulamento nos tornar surdos.
Não se ouvem pessoas porque as pessoas não existem. A única coisa que existe é a equipa, como unidade essencial à dinâmica empresarial dos nossos dias. A única célula que comporta todo o dogma da verdade e sobre a qual não há possibilidade de questão ou de dúvida.
A liberdade da equipa espelha-se nas pessoas que não são ouvidas, porque a equipa o é, na pessoa do seu líder que foi incumbido de reflectir os desejos da sua equipa interpretando-os solenemente no barulho dos silêncios da sua equipa muda.
É a nova e sagrada aliança.

olhares do campo - Nos 150 anos do comboio



O entusiasmo da viagem, da partida e da descoberta, ou o enfado da ida e volta rotineira? As emoções dos encontros e despedidas nas estações ou o desespero dos atrasos e das pressas suburbanas? O encanto de paisagens únicas entrevistas da janela ou o cansaço de sempre a mesma linha de prédios, num arrabalde já contínuo?
Eis algumas questões que te podem ocorrer, na comemoração dos 150 anos do comboio em Portugal.
Quantas coisas aconteceram e mudaram desde a revolução dos transportes, do fontismo aos nossos dias. Os carris desbravaram caminhos, aproximaram lugares remotos, mas hoje cresce erva em muitos deles. As linhas suburbanas são das que mais passageiros transportam, mas agonizam com prejuízos e défices. Sinais dos tempos ou resultados de opções políticas e de gestão no mínimo discutíveis?
É assim que nos 150 anos do comboio um dilema se te coloca. Há mais motivos de celebração ou lamento, nesta data?
Na dúvida sobre uma resposta, talvez que só um sinal ambíguo, mas curioso, possa ser deixado como nota final. Na sua viagem inaugural o comboio fez o percurso entre Lisboa e o Carregado em 40 minutos. 150 anos depois algo mudou, com efeito... (cf. quadro acima)