terça-feira, outubro 31, 2006

Solitariedades - Greves que prejudicam

Para quem não sabe, hoje houve greve no Metropolitano de Lisboa. O Canal de Notícias da SIC informou os seus "Clientes" salientando, várias vezes, que a Greve "está a prejudicar milhares de pessoas".

Será que alguém pode explicar aos jovens jornalistas da SIC Notícias que não há Greves-que-não-prejudicam-ninguém ?

Que até os Governos costumam pôr a tocar aquela música do "A Greve é um direito consagrado na Lei" e que, acrescento eu, é dos poucos instrumentos legais que restam aos trabalhadores (leia-se Sindicatos...) para pressionar o patronato.

Será que os jornalistas não percebem que se um seu colega fizer greve ao noticiário das 4 da manhã, o impacto é completamente distinto do que uma greve ao das 9 da noite ???

Solitariedades - Ó Zita

Ó Zita... Poderias ter brilhado a grande nível. Afinal de contas, a Edite julgou estar num programa de semântica. Mal saíu da distinção entre "despenalizar" e "legalizar". Mas não.

Preferiste salientar os cuidados que se deverão ter com essas malucas que, se o "Sim" vencer, passarão a fazer da IVG a sua prática desportiva predilecta, porque livre e a seu pedido.

Confesso que tenho alguma dificuldade em entender o teu percurso político e desculpa-me pelo tratamento na segunda pessoa do singular. É que eu ainda não mudei assim tanto. Continuo a prezar o "camarada" em vez do "companheiro", estás a ver ?

E não. Não sou eleitor do partido a que pertenceste durante anos. Bom... No teu caso, deixa-me acrescentar o "nem nunca fui"...

Calma Zita! Não tenho nada a ver com a tua evolução. Pelo contrário, como ainda me faltam uns aninhos para chegar à idade que tinhas quando mudaste de lado político, faço-te justiça ao reconhecer que é melhor ficar caladinho... Lá para 2012, quem me diz que não serei adjunto de um qualquer gajo da direita mais bacoca cá do burgo.

Mas ó Zita, não te parece que continua a não haver uma Educação Sexual decente ? Que continua a não haver um método contraceptivo 100% eficaz ? Que em vez de criticares os tipos da clínica espanhola, faria mais sentido perceber a realidade actual das "abortadeiras amadoras" ?

Em relação a esta última referência, só pode ter sido um regresso ao passado. Quando ouviste o interesse dos espanhóis se instalarem em Lisboa, recordaste o anti-capitalismo-nacionalista do PC, não foi ?

Pois é... Mas enquanto tu mudaste, o direito das Mulheres ficou na mesma. E, já agora, vai voltar a ser colocado ao dispôr de cada um dos eleitores, como se essa decisão lhes dissesse respeito.

Mas deixa lá Zita, fica bem.

segunda-feira, outubro 30, 2006

Guernica

Guernica, ainda no atelier de Paris (clicar para ver maior)

A cultura, mais concretamente a arte, é sempre algo não totalmente unívoco. Sempre houve, e sempre haverá discussão sobre estilos, formas, materiais e fundamentalmente sobre o papel da arte, num passado mais conservador do que vivemos actualmente, no presente e no futuro que se espera melhor. Não sou grande apreciador de arte. Sou antes um apaixonado pelas formas e pela disposição dos objectos no espaço, e pelos significados encerrados em cada peça, se ainda por cima forem significados políticos. Sou o público ideal da arte enquanto murro no estômago. Muito embora seja como a generalidade das pessoas. Simplesmente gosto ou não gosto. É uma coisa de pele. E talvez por estes pontos aqui por cima fiquei muitíssimo impressionado com "a" ou "o" Guernica de Picasso. É impressionante pela dimensão, que não poderia ser outra, e encerra uma carga simbólica de tal forma que é quase impossível ser indiferente a quem quer que seja. O monte de gente nas imediações do quadro denuncia a sua presença, e é natural. A forma violenta como parece ter sido feito, quase que salta cá para fora, e é impensável o sofrimento com que terá sido feito, tendo presente o genocídio que se propõe retratar. Simplesmente aterrador.
O quadro está no Museo Reina Sofia, e é acompanhado de uma excelente exposição fotográfica da Guerra Civil espanhola. Uma visita essencial a quem passa por Madrid.

Coitado do Picasso jamais deve ter pensado que ia parar a um museu com nome de rainha e que os seus quadros se tinham de expor a este tipo de disparate.

Mortinho

Estou mortinho para ver se a Zita vai de branco e se vai mesmo defender mesmo a "Vida"

sexta-feira, outubro 27, 2006

Inventar Agustina...

... porque há coisas que nem sempre são o que parecem...

Concorda com o direito de voto para as mulheres?
Falar do direito de voto para as mulheres é distorcer o seu sentido. Ao longo da vida conheci mulheres brilhantes a nível intelectual que não eram capazes de encarar o voto. Uma coisa são as senhoras, outra são as rameiras.

Qual a diferença?
As rameiras querem todas essas prerrogativas, como o voto. As senhoras não.

Em causa estão direitos...
...Todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de voto.

quinta-feira, outubro 26, 2006

olhares do campo - uma música para os nossos dias

(com agradecimentos especiais a outros dois amigos especiais: ao Guronsan, pela ideia original de musicar os nossos dias, e ao Zé Carlos, pela oferta do disco)

"Lá não tem brisa
Não tem verde-azuis
Não tem frescura nem atrevimento
Lá não figura no mapa
No avesso da montanha, é labirinto
É contra-senha, é cara a tapa
Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Olaria
Fala, Acari, Vigário Geral
Fala, Piedade
Casas sem cor
Ruas de pó, cidade
Que não se pinta
Que é sem vaidade

Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode, reggae
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Desbanca a outra
A tal que abusa
De ser tão maravilhosa

Lá não tem moças douradas
Expostas, andam nus
Pelas quebradas teus exus
Não tem turistas
Não sai foto nas revistas
Lá tem Jesus
E está de costas
Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Pavuna
Fala, Inhaúma
Cordovil, Pilares
Espalha a tua voz
Nos arredores
Carrega a tua cruz
E os teus tambores

Vai, faz ouvir os acordes do choro-canção
Traz as cabrochas e a roda de samba
Dança teu funk, o rock, forró, pagode
Teu hip-hop
Fala na língua do rap
Fala no pé
Dá uma idéia
Naquela que te sombreia

Lá não tem claro-escuro
A luz é dura
A chapa é quente
Que futuro tem
Aquela gente toda
Perdido em ti
Eu ando em roda
É pau, é pedra
É fim de linha
É lenha, é fogo, é foda

Fala, Penha
Fala, Irajá
Fala, Encantado, Bangu
Fala, Realengo...

Fala, Maré
Fala, Madureira
Fala, Meriti, Nova Iguaçu
Fala, Paciência..."
Chico Buarque - "Subúrbio", in "Carioca"

quarta-feira, outubro 25, 2006

A decisão mais inteligente do ano

Finalmente, alguém nesta novela mexico-venezuela, sem personagens chamadas Abigail, que é o futebol português, resolve fazer a única coisa certa. Estar calado.

A comissão de arbitragem da liga resolveu não comentar as nomeações, não avaliar publicamente os árbitros à priori e à posteriori e por isso não dizer nada sobre as opiniões que os diversos camafeus que dirigem clubes de futebol tenham a dizer sobre as arbitragens aos jogos em que as suas equipas participam.

Razão tem o secretário de estado do desporto – "nunca uma afirmação, seja ela qual for, marcou golos."

terça-feira, outubro 24, 2006

Solitariedades - Eles andam aí...

A leitura do JN de ontem presenteou-me com uma página (a oitava) dedicada ao líder de um partido chamado PNR - Partido Nacional Renovador. Para aqueles que o desconhecem, farei o favor de vos informar. Como mesmo eles merecem algum sentido de isenção da minha parte, usarei apenas e só, expressões do líder do PNR. Aqui ficam:

"Já houve casos de violência no passado e os skinheads são os primeiros a reconhecer isso, mas essa violência se calhar é um copo de água ao pé do imenso mar de violência suburbana, nomeadamente africana"

"Não podemos ter como referência o Estado Novo, ou Salazar ou Mussolini ou Hitler, porque os jovens de hoje (...) não têm muitas referências históricas. A muitos nada lhes (diz) o 25 de Abril ou o Portugal Ultramarino"

Pois é...

(Já que disse que não diria nada, nada direi... Mas que custa, lá isso custa. Bolas...)

segunda-feira, outubro 23, 2006

O maior de todos

Chega uma pessoa a este país para perceber que realmente não aconteceu nada de importante por aqui. Pelo menos em Espanha acabam sempre por discutir questões que agora se chamam de “fracturante” que de uma forma ou outra acabarão por deixar uma marca qualquer numa sociedade vibrante e enérgica como a espanhola.

O Euromilhões continua sem sair, os outros foram arrancados do Rivoli (tal como se esperava), a electricidade afinal não vai subir tanto como pretendia o Castro Guerra, a queda da ponte de entre-os-rios foi um grande azar e o Salazar até foi um grande herói. Ah pois foi. Aliás até foi o melhor de todos os portugueses.

A minha geração de egoístas (como eu próprio) só têm a agradecer a Salazar. Afinal, porque ele existiu é que nós fazemos aquilo que entendemos das nossas vidas sem dar cavaco a ninguém, não tivemos de ir à Guerra, não precisamos de saber quais as estações da linha do Tua (porque ela até já deve ter fechado) e os ferroviários de Benguela são um clube de futebol estranho e toda a gente da minha geração sabe perfeitamente que Angola fica ali para os lados da Amadora.

Tudo facilidades. E a quem é que temos de agradecer???? A quem? Senão a Salazar? Esse grande visionário, esse grande estadista que sempre nos protegeu. Até pode ter sido um problema para a geração dos meus pais, mas naturalmente isso agora não interessa para nada. O homem percebeu claramente que o maior feito do Portugal do Século XX, seria o aprofundar da nossa ignorância, da nossa miséria e provincianismo, um conservadorismo cinzento, um nacionalismo bacoco assente num milagre improvável, um império impossível de manter, o isolamento, a corrupção, a perseguição, o autoritarismo e a morte, para que um dia explodisse numa espiral de energia reconstrutora e renovadora, que levasse longe o nome de Portugal. O sujeito foi mesmo o único português durante todo o século XX que entendeu a verdadeira dinâmica do povo português. O único que percebeu que só arrastando-nos na lama conseguiríamos ter o alento de fazermos algo por nós próprios. E que só com uma grande festa (que foi o 25 de Abril, talvez a maior festa da Europa…) é que conseguimos alimentar o nosso ego para continuar por mais algum tempo, e tudo foi previsto por esse grande português.

O meu sincero agradecimento a Salazar por nos ter deixado na merda durante 48 anos, pois isso é que possibilitou que hoje sejamos a inequívoca potência europeia que somos.

Um grande bem-haja para Santa Comba Dão.

Mi corazón está en bocadillos... bocadillos de jamón

quinta-feira, outubro 19, 2006

olhares do campo - Para onde vais peregrino?




“Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.”
Antonio Machado – Proverbios y cantares, XXIX

Por morar num sítio que fica no caminho de Fátima, ele habituara-se a ver algumas extravagâncias, de tempos a tempos.
Ao sair de casa para o trabalho, ainda alta madrugada, não lhe parecia estranho, em certos dias, encontrar algumas figuras em exercícios de treino e aquecimento. Não se tratava de atletas madrugadores, mas de fiéis devotos, no início de mais uma etapa do seu caminhar peregrino.
Em vez de equipamentos desportivos, as mochilas cheias nas costas, com colchões de campismo por cima, cantis pendurados no peito, muitas vezes uns (nada recomendáveis) chinelos nos pés e os inevitáveis cajados. Nos últimos tempos o célebre colete das estradas também se tornara comum.
Mas naquele dia aguardava-o um outro encontro, que haveria de guardar na memória.
Ao fundo da longa rua a direito que percorria todas as manhãs avistou uma luz ténue. Percebeu ser mais um peregrino, que caminhava na sua direcção. Na mão uma pequena vela, que supôs acesa em permanência.
Conforme se aproximavam podia entrever a figura daquele singular peregrino. Um velho curvado, com longas barbas e cabelos brancos, sem nenhum dos habituais “acessórios” de peregrino, apenas com a pequena vela acesa. Talvez um ermita saído do seu refúgio somente para aquela peregrinação. Passos pequenos e frágeis não faziam abater a determinação que se pressentia no seu caminhar.
Cruzaram-se a meio da rua. Trocaram olhares e o velho deu os “bons dias”. Retorquiu da mesma forma e seguiram os seus caminhos.
No resto do seu percurso não conseguiu que lhe saísse da cabeça a imagem do velho homem. Não pensou censurar a devoção beata ou o irracionalismo da fé. Ocorreu-lhe apenas que gostaria de ter desejado uma boa jornada àquele estranho velho com quem se cruzara.
Não pretendeu sequer imaginar qualquer simbolismo implícito nos sentidos diferentes do caminhar de ambos. O velho peregrino dirigia-se lentamente para o seu lugar de culto, ele corria para o bulício da cidade grande. Cada um no seu caminho. Qual deles no caminho certo?

quarta-feira, outubro 18, 2006

Solitariedades - Castro Guerra

António Castro Guerra. Não sabe quem é ? Não se preocupe. Também só soube esta manhã. Porquê ? Porque a electricidade irá aumentar mais de 15% em 2007 e o Secretário de Estado Adjunto da Indústria e Inovação (Exacto. O Castro Guerra...) diz que a culpa é dos consumidores. Porquê ? O Castro Guerra diz que foram os consumidores a gerar o défice, pelo que faz todo o sentido serem eles a pagar. Excelente, Castro Guerra. E coerente... É comum atribuír os lucros das empresas aos seus consumidores. Porque não também o défice ? O aumento para as empresas será menor ?? Calma. Castro Guerra explica e eu cito: "As empresas estão a competir no mercado e nós não podemos por razões de energia reduzir a competitividade das empresas e mesmo assim já é um aumento substancial". Brilhante. Está explicado e mais... Para além da culpa do défice ser dos consumidores (domésticos, entenda-se), trata-se de uma tarefa extremamente patriótica de salvaguarda da competitividade das nossas empresas. Bem haja, Castro Guerra!!!

terça-feira, outubro 17, 2006

Vou ali e já volto

Quando todos os extremistas religiosos, de todos os lados, alimentam todas as teorias de conspiração

Mission Accomplished

Cumpre-se hoje mais um aniversário nesta casa. É verdade, a velhinha e usada Palio Weekend cumpre por estes dias 150.000km.
É uma carrinha muito oferecida e anda sempre feita maluca por todo o lado. Passámos bons momentos juntos mas no momento em que as revisões e reparações me começaram a custar um subsidio de férias, o seu destino começou a estar traçado. Para o ano deverá entregar a sua alma ao criador.

segunda-feira, outubro 16, 2006

IVG

Dentro em breve estaremos todos de volta ao tema do aborto. Parece claro que todos concordam com a necessidade de um novo referendo, eu também.
Embora o instrumento “referendo” careça de uma concretização clara quanto à sua utilidade, e à cadência da sua utilização, entendo que aquilo que os portugueses escolheram em 1998 deve ser mantido ou alterado em 2007 recorrendo à utilização de instrumento de igual valor.
Já anteriormente defendi por aqui a necessidade de legislação urgente sobre a Interrupção voluntária da gravidez (IVG) relativamente à qual estou de acordo. No entanto, há muito mais a fazer neste campo do que a simples descriminalização da IVG, e é aí que continuo a não ver qualquer avanço.
É importante situarmos do que estamos a falar. Estamos a falar de um possibilidade de uma mulher fazer um IVG até às 10 semanas sem que para tal tenha de recorrer a médicos de vão de escadas, clínicas em Badajoz ou parteiras sem escrúpulos. Está em causa a saúde destas mulheres e está em causa a situação legal em que se colocam quando recorrem à IVG.
Mas ainda que o referendo venha a permitir (não tenho certezas…) a IVG até às 10 semanas, continua a não existir um plano efectivo de planeamento familiar e acompanhamento das mulheres grávidas que em muitos casos possa deixar claro que existem alternativas que as mulheres possam escolher. Além disso, e talvez seja um dos aspectos mais importantes, não é certo, nem existe até agora qualquer informação de como o Serviço Nacional de Saúde se vai adoptar a esta nova realidade e se consegue, ou não, corresponder aos pedidos de IVG em tempo útil (dentro das 10 semanas).
Pelo menos começam a aparecer aspectos positivos no caminho até ao referendo. Os principais partidos parecem entender-se sobre a necessidade de referendar a questão perante a total insustentabilidade do que acontece todos os dias.
Outro aspecto importante e do meu ponto de vista fundamental à aprovação da IVG é a coerência da liderança do PS em relação a este assunto. Depois da ambiguidade de Guterres (que se parece ter deslocado para o PSD e para o CDS-PP), a direcção do PS tem uma estratégia definida sobre esta matérias e sem ambiguidades defende a IVG.

sexta-feira, outubro 13, 2006

2 º Aniversário - (parte 3) Os agradecimentos

Os mais sinceros agradecimentos a todos os que passaram por aqui ontem para nos dar os Parabéns. Agora vamos ver se conseguimos aguentar mais um ano... :)

16/10/06 :Para os mais distraídos que chegaram mais atrasados e acabaram por não apagar as velas, o meu obrigado :)

quinta-feira, outubro 12, 2006

A legalidade


Aqui (e no dolo) falava-se há uns dias sobre o estado de necessidade que teria, ou não, motivado a intervenção dos agentes da GNR em dois casos no norte do país (discussão que infelizmente não tive tempo para acompanhar devidamente).
Aqui neste texto procura-se perceber por onde anda o principio da legalidade da administração que pode muito bem andar nas ruas da amargura.

2 anos suburbanos - (parte 2)

olhares do campo - carta a um amigo

“A carta. Hoje entrou em descrédito ou ao menos em decadência (...) Tudo gira em velocidade e a carta é tão lenta. (...) E o tempo e trabalho que exige escrevê-la. E que esforço para decifrar nos sinais os mais legíveis. Porque ler é mobilizar em nós todas as faculdades activas. O entendimento a memória a imaginação. Uma carta. Um impensável só pensável na lentidão genesíaca do carro de bois. E na intimidade da candeia de azeite...”
Vergílio Ferreira – Escrever (130)

Amigo:

Escrevo-te da janela de onde avisto o longe, espraiado nos campos em que jaz agora o restolho. De um lugar onde, diz-se, o tempo se suspende, os ritmos se transformam e o vagar irrompe. Um lugar diferente, o campo. Mas será mesmo assim?
Às linhas irregulares dos blocos de betão, que vislumbras da tua janela, opõe-se aqui a linha aberta e infinita do horizonte. Por momentos pergunto-me se por isso se pode abrir um abismo entre os nossos modos de olhar.
Mas quantas vezes olhámos de forma diferente as coisas e quantas as olhámos como que com os mesmos olhos? De umas e de outras vezes partilhámos os nossos olhares e apenas isso basta, amigo.
Pela escrita vou de novo ao teu encontro, procuro que cruzemos os nossos olhares uma vez mais. Recomeço um caminho nunca terminado. Do campo à cidade?
Do campo à cidade vão todas as diferenças e semelhanças que quisermos encontrar, sem sabermos se nos lugares, se em nós mesmos...
Anoitece já sobre a janela de onde avisto o campo. No horizonte escuro apenas as chamas breves das queimadas em que arde o restolho. No campo ou na cidade, amigo, talvez seja sempre assim. Os sinais do fim talvez mais não sejam que prenúncio de um novo recomeço. Depois da noite haverá de amanhecer. Amanhã é um novo dia. E nós voltaremos a encontrar-nos por aí.
Um abraço, amigo!

Solitariedades - Futebóis 1

11 de Outubro de 2006 – Pouco antes das 21 horas - Canal 1 da televisão pública portuguesa, serviço público ao vivo e a cores. Jogava o que a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) decidiu baptizar como "Clube Portugal". A equipa que representa a FPF perdia com a congénere polaca por 2-0. Os dois golos sofridos nos primeiros vinte minutos de jogo fizeram recuar os polacos que continham os portugueses e procuravam saír em contra-ataque. O 3-0 polaco estava mais próximo que o 1-2 português. Foi neste contexto que se ouviu um dos relatadores-comentadores-especialistas dizer algo como "Cristiano Ronaldo não deve estar bem fisicamente. Caso contrário, já teria feito das suas". Pois claro... O recém-entronizado príncipe do nosso futebol só poderia estar mal fisicamente. Afinal de contas, que outra explicação permitiria justificar a sua pálida exibição ?? Lá está... Somos todos Marie Roberts...

Solitariedades - Um pai excepcional

A declaração seguinte é de Marie Roberts, casada com Charles Carl Roberts IV, o homem de 32 anos que alvejou estudantes de uma escola Amish. A tradução do inglês não ignora o essencial da mensagem:

"O homem que fez isto hoje não foi o Charlie com quem casei há quase 10 anos. O meu marido era amoroso e atencioso – tudo o que se pode desejar e mais ainda. Era um Pai excepcional. Levava as crianças aos treinos e aos jogos de futebol, jogava com eles no quintal e levava a nossa filha de 7 anos às compras. Ele nunca se recusou a mudar uma fralda q uando lhe pedia."

A declaração termina com um voto de pesar pelas vidas perdidas. Esta foi a primeira reacção pública após o acontecimento trágico perpetrado pelo marido. Poder-se-á dizer que foi o estado de choque de Marie a falar mais alto. No entanto, não surpreenderia se fosse apenas mais um humaníssimo caso de recusar as evidências. É tão duro ver os aspectos sombrios de quem nos está próximo que se torna comum construir mentiras limpas. Marie falou de Charles como uma jovem apaixonada fala do seu namorado às amigas ou uma Mãe fala das traquinices dos filhos... Quando não se protege da complexa verdade, pinta-se a dita com tons bem rosados...

Solitariedades - Convite feito, desafio aceite

Quando me convidaram para escrever no Suburbano, e apesar de ter aceite sem grandes hesitações, logo comecei a questionar-me. Primeiro foi a questão do título da rubrica. A resposta que dei a esta questão pretende resumir este desafio… Mas… Escrever o quê, como, para quê ?? Que pretensão esta de escrever algo que qualquer pessoa poderá ler... Questões complicadas para uma resposta fácil – escrever o que me apetecer sem assumir qualquer pretensão, para lá das óbvias. O que vier a escrever no Suburbano procurará ser reflexo apenas e só das minhas ideias, opiniões, dúvidas, devaneios…

Algumas palavras para quem me estiver a ler neste momento. O facto de não assumir este convite com qualquer tipo de pretensão, não me torna insensível a quem me possa vir a ler. Pelo contrário, apesar da Blogoesfera ser um espaço de liberdade em que é permitida a expressão de todos e de tudo, considero o simples facto de ser lido como um privilégio imenso que procurarei fazer por merecer.

2 anos suburbanos

Dois anos depois ainda aqui ando. Hoje festejo mais uma espécie de carreira blogger com dois anos, (se é que isto se pode dizer) do que o aniversário de um blog com dois anos.
Afinal foi neste último ano que o pobrezinho sitio ganhou mais visitas, e eu me obriguei a ser um escritor mais regular. Além disso desde o ano passado vieram a surgir projectos que me fizeram sair das fronteiras físicas do Suburbano, tomar conhecimento da realidade da blogoesfera, conhecer novas pessoas e discutir novas ideias.
O Eleito foi uma grande experiência proporcionada pelos dolosos Pedro e David, que mais tarde me convidaram a integrar o projecto dos dois, O Dolo Eventual. Mais recente iniciou-se a minha participação no As Canções dos Meus Dias a convite do meu bom amigo Nuno Guronsan.
Tudo iniciativas em que tive e tenho enorme gosto em participar, muito embora o tempo seja um bem demasiado escasso e a imaginação por vezes o acompanhe.
Neste último ano passaram por aqui mais cerca de 10690 pessoas do que no primeiro ano, que leram mais 18870 páginas, tendo eu escrito mais 668 posts além dos 260 que comemorava há um ano atrás.
É pouco… especialmente porque há blogs com dois ou três meses com milhares de visitas de um dia para o outro só porque aparecem lá umas gajas nuas… não dá para perceber :)
Por isso mesmo e porque insisto em não deixar esta coisa morrer, continuarei empenhado nos projectos em que me envolvi com o Pedro, o David e agora a Cláudia, assim como com o Guronsan, (já não tenho mais vagas), mas pretendo continuar a escrever aqui no Suburbano e a inovar sempre que possível.
Por isso, aparecem dois convidados que à sua discricionária vontade aqui vão participar assinando duas rubricas. Eles já estão ali no espaço Contributors. São de sua graça pouremuz e no_campo (eles é que escolheram…)
A orientação na escolha de tão distintos convidados, foi trazer para a blogosesfera, amigos com quem partilho ideias mas também algumas discussões, baseado no pressuposto que neste momento não escreviam em lado nenhum.
Por isso espero que vão continuando fiéis a este vosso pequeno espaço suburbano, pelo menos enquanto houver tempo e disponibilidade para continuar.
Obrigado a Todos

terça-feira, outubro 10, 2006

Modo Offline

Devido a alterações de conteúdo, proporcionadas pelo aniversário deste subúrbio, estaremos em modo offline nas próximas vinte e poucas horas. Desde já fica o convite para uma visita a partir de dia 12 com novos membros e novo template.

Inclusão "at last"

Amanhã a rua dos meus pais, no Cacém, vai ser incluída…. Por isso é que se estão a limpar as ruas a fazer umas obras de última hora, e a retirar uns carros abandonados que não reflectem a verdadeira essência do bairro…

P.S: Também já há mais polícia do que nos últimos três anos… imagino amanhã...

Há coisas fantásticas

Apenas um ano e meio depois de terem aparecido, são adquiridos por 1.650 milhões de dólares. É normal que haja alguma euforia para os lados da YouTube. Afinal estamos a falar de uma empresa com apenas 65 colaboradores que é comprada por um gigante da Internet mas consegue manter a sua identidade e a sua capacidade de inovação. Parecia que os bons momentos do Nasdaq tinham passado, mas aparentemente ainda há espaço para inovação e crescimento exponencial neste mercado, sem ser na sombra dos tubarões da indústria.

segunda-feira, outubro 09, 2006

Contra os fantasmas, marchar marchar

Pegando numa questão que longe de ser polémica, mas que acabará por fazer o seu percurso pela blogoesfera, não me parece essencial a alteração do hino nacional.
Aliás é uma questão de somenos importância num país em que importa mudar tantas coisas.
Entendamos da forma que quisermos um hino nacional, mas são os hinos que fazem os países ou os países que fazem os hinos?
Pois, o nosso é bélico e vem de um tempo em que a belicosidade do povo português já era um pouco tonta e disparatada. Mas houvesse ou não bretões, um hino acaba quase sempre por resultar numa interpretação do período em que foi feito, olhando sempre para trás na procura de referências históricas. Pode mesmo dizer-se que temos um hino republicano inspirado na estética epíco-trágica da monarquia.
Não é difícil, se para tal quisermos fazer o esforço, entender a belicosidade como uma metáfora para os desafios que o país enfrenta e poderá enfrentar no futuro. Mudar a marcha contra os canhões, implicaria e só faria sentido, perante uma mudança mais vasta e complexa do hino que lhe apagasse um certo registo fadista pelo império.
É verdade que “debaixo da bandeira e ao som do hino já se fez a saudação nazi assim como já se fizeram juras de revolução operária à mesma batida” mas isso apenas pode querer dizer que, ou o hino mantêm uma estranha actualidade ou então temos dificuldade em encerrar ciclos políticos que aos poucos vão acumulando vestígios.
Mas uma coisa é certa, um hino tem de reflectir uma realidade colectiva com a qual o povo que se propõe representar se identifique. E a epopeia marítima, tenha ou não uma importância efectiva nos dias de hoje, aconteceu e terá sido das poucas coisas com jeito que acabámos por fazer. No fundo a nossa marcha actual pode não ser contra bretões e canhões, acaba por ser contra fantasmas do passado que insistimos em reviver.

domingo, outubro 08, 2006

4 casamentos depois...

... e encontrei uma nova alma gémea.
Depois de ter andado metido com o Vodka Limão, o Whiskie Cola e com a Caipirinha, descobri o Gin Fizz.
Acho que vamos ser muito felizes daqui para a frente.



Além disso é fácil de fazer...

Ingredientes:
4 cl. de Gin
1 cl. de sumo de limão natural
1 pacotinho de açucar
Água castelo
Gelo

Preparação:
No shaker com gelo juntar o Gin, o sumo e o açucar, bata durante 15 segundos.
Sirva com 6 pedras de gelo e adicione água castelo.

Um agradecimento especial ao Hugo Silva e à Cocktailteam, sem os quais este encontro não teria sido possível :)

sábado, outubro 07, 2006

Os clandestinos

O tema da imigração está desde há muito na agenda. Muito mais do que gostaríamos de admitir. Não fosse a memória curta a impedir-nos de raciocinar e talvez percebêssemos que o mundo inteiro é resultado das mais espantosas migrações. Somos todos, quase sem excepção, resultado de uma migração de alguém num qualquer passado longínquo resolveu sair do sítio onde vivia para se instalar noutro lado. Aqui em Portugal somos resultado dos desejos de um estrangeiro que por aqui se fixou, ainda temos laços de sangue com os que de nós se resolveram fixar noutras paragens longínquas desde o século XIX e somos netos e filhos de uma geração que também resolveu partir à procura de uma vida melhor. Hoje em dia somos o sítio “melhor” onde muita gente optou por se fixar, o que nos obriga a pensar sobre o fenómeno das migrações.
Temos milhentos pontos de vista sobre os imigrantes, quase sempre extremados por um desconhecimento da realidade global que afecta a nossa sociedade e a sociedade dos imigrantes. Sim, isso mesmo. A nossa e a deles. Vivemos em sociedades separadas e é nos pontos de contacto que surgem os conflitos. Não sabemos ou não queremos saber quem são, nem onde estão. Onde vivem, nem o que fazem. É muito mais confortável afastá-los da vista que tentar perceber esta nova realidade. Não frequentamos os mesmos transportes, pelo menos às mesmas horas. Não temos os mesmos empregos. Não frequentamos os meus restaurantes nem os mesmos centros comerciais. Não compramos nas mesmas lojas, à excepção das lojas dos chineses, não vestimos as mesmas roupas, não entendemos o que dizem, não gostamos do que comem, nem entendemos as religiões que professam. Estas são as razões que nos levam a desconfiar dos imigrantes num país mal habituado a comportamentos alternativos sejam eles de portugueses ou de estrangeiros.
Infelizmente a maioria das opiniões sobre este assunto resume-se a duas. Ou as portas se abrem de par em par para toda a gente entrar, ou então se mete toda esta gente num barco com pão e água e volta tudo lá para África, para o Kosovo ou para o Brasil. 500 anos de evangelização missionária não poderiam ter resultado noutros pensamentos mais católicos.
Ora importa fazer um reconhecimento fundamental sobre toda esta gente. A esmagadora maioria pretende trabalhar. Trabalhar para proporcionar às suas familias uma vida melhor aqui ou nos seus países de origem. Só sobre o reconhecimento do direito ao trabalho com direitos e deveres é possível estruturar uma política de imigração que permita tornar comuns os pontos de contacto de que falava atrás e devolver normalidade à relação dos portugueses com os estrangeiros, não alimentando a exclusão e guettização.
Não é preciso muito para perceber que o aproveitamento ilegítimo das condições precárias de trabalho dos imigrantes perturba o normal funcionamento do mercado de trabalho, fazendo em alguns sectores decrescer o preço/valor do trabalho e facilitando o enchimento de alguns... Mas dizer-se que estes roubam empregos de portugueses não passa de uma vulgar falácia sem sentido que na maior parte das vezes se refere a uma série de figuras que de facto podem não pensar em trabalhar, mas que na realidade até nem são imigrantes... O que acontece é que ao contrário de outros países europeus, não estávamos preparados para esta realidade. Não tínhamos ainda a mão de obra qualificada que criasse compartimentos estanques entre as actividades dos portugueses e as actividades a que se dedicariam os imigrantes. Não tínhamos e continuamos a não ter. O que de certa forma até é bom. Mas daí a necessidade da regularização do trabalho.
Noutro aspecto, o fenómeno da violência parece estar fortemente ligado à imigração. Pelo menos da forma como a coisa nos é apresentada pela comunicação social. Mas concretamente estamos a falar do quê? Estamos a falar de uma criminalidade de rua, por vezes bastante violenta, de pequenos furtos a pessoas excepcionalmente fragilizadas como mulheres, idosos e jovens, ou outros quando actuando em grupo. Aliás o grupo, ou o gang, é um dos maiores pesadelos que temos vindo a alimentar. A actividade destes grupos que atacam esporadicamente pessoas com grande violência, mas que geralmente se dedicam ao vandalismo impune, são um problema que veio com os imigrantes? Não, foi agravado com a presença dos imigrantes? Talvez. Ele é resultado de um problema social que sucessivas politicas, de sucessivos governos, tardaram e tardam em abordar, numa espécie de deixa andar que se tornou um caso de polícia sobre o qual agora também se demitem de resolver. É um problema de segurança pública e um Estado não se pode dar ao luxo de ter uma policia que não quer entrar em determinadas zonas, apesar de espantosamente o conseguir fazer sempre que vão as câmaras atrás. Outra vertente da violência associada à imigração está na prostituição e em actividades que lhe estão associadas como o tráfico de droga. Ora, é verdade que grande parte do Boom deste sector se deve à imigração ilegal. Até dou de barato que haja imigrantes que prefiram manter a ilegalidade neste sector, mas quero crer que a generalidade dos clientes deste mercado não são outros imigrantes. Logo se os imigrantes estão cá mal, as brasileiras boazonas estão cá bem? Parece estranho, tão mais estranho porque nos permitimos a olhar para o lado perante casos de escravidão sexual e tráfico de mulheres porque encaramos que no fundo as brasileiras, romenas ou croatas é que são umas grandes vacas. Logo, não faz mal nenhum em ir às meninas porque é quase solidariedade social. São as contradições em que gostamos de viver.
Mas isto já vai longo. Ficam por referir os problemas do acesso à habitação, a reconciliação familliar, a naturalização e outros. Talvez num outro post. No fundo o que eu pretendo com este gigantesco post é esclarecer que é redutor ver este assunto com fundamentalismos seja qual for a sua origem. Não podemos receber toda a gente, mas também não conseguiriamos fazer tudo o que se tem feito neste país, sem muitos deles. É o bom senso que geralmente nos faz falta. O que me parece essencial é que se criem regras moralizadoras, pois estamos a falar de pessoas e não de mercadorias. Pessoas que podem e devem ter o seu lugar e contribuir tal como nós para o sucesso deste país. Afinal o sucesso desta chafarica é também o sucesso da escolha que fizeram para a sua vida. O que me parece essencial, é o Estado fazer o papel que lhe compete para que todos possamos saber qual a real dimensão do que no dia a dia insistimos em discutir. É fundamental que a esmagadora maioria das pessoas que simplesmente querem organizar as suas vidas não estejam à mercê de gente sem escrúpulos, e que possam respeitar e ser respeitados por todos. É essencial que percebamos que estas pessoas têm rostos e vidas próprias que se calhar até nem são assim tão diferentes das nossas e por isso o destaque a estes mexicanos, nestas fotos de Dulce Pínzon, que os retrata como heróis da cultura norte-americana e cultura popular mexicana. Heróis num dia a dia difícil, na clandestinidade que os países em que trabalham à décadas os forçaram a manter.

A oportunidade perfeita

Então como é? A entrevista do Nobre Guedes já foi ontem à noite e o congresso extraordinário do CDS ainda não foi marcado? O Ribeiro e Castro vai perder esta excelente oportunidade de se re-re-re-confirmar?

sexta-feira, outubro 06, 2006

Post deliberadamente acrítico

Uma urgência deve pertencer a uns portugueses em detrimento de outros, ou é um princípio democrático todos os portugueses criticarem o funcionamento da sua urgência?

terça-feira, outubro 03, 2006

Por vezes os fins justificam os meios

É defensável por alguém que um carro que se pôs em fuga, após ter sido mandado parar por uma operação Stop, não possa ser retido por meio de disparos de armas de fogo?
Ou será imaginável que durante uma perseguição as forças de segurança escrevam cartolinas com cores vivas que perguntem: "É só alcool ou trazem alguma substância ou material ilicito na vossa viatura?"
Aos que os respectivos fugitivos responderiam: "É só copos, podem ir-se embora…"

Uma dica...


Não, um deles não é a Alemanha...

Descubra as diferenças

Descubra as diferenças. Estes dois muros pertencem a países diferentes mas que defendem a mesma politica. Estes muros foram criados para protecção deste tipo de terroristas que insiste em tentar passar para o outro lado.
Estes muros dentro de algum tempo irão ter a mesma altura e as mesmas características e os povos que irão viver fechados dentro deles vão sentir-se muito mais protegidos.
Estes países "irmãos" vão continuar a ter os mesmos terroristas mal intencionados, mas a sua paisagem ficará grandemente favorecida. De que países tão semelhantes estamos a falar?

segunda-feira, outubro 02, 2006

O Maior

Noutro registo, que eu considero menos interessante e até inútil, a RTP também tem uma iniciativa que tem por objectivo eleger o “maior” português de um lote de grandes portugueses.
Embora isto seja totalmente inócuo gosto de considerar que os portugueses valem pelo seu conjunto ou pela sua individualidade.
O que é que eu quero dizer com isto. Muitos dos grandes portugueses não teriam conseguido o seu reconhecimento sozinhos e outros génios da cultura portuguesa vingaram contra o seu próprio país e as suas gentes e devem a si próprio o reconhecimento que alcançaram.
Por isso considero que talvez se deva eleger o Eusébio e deixar os outros em paz.

O Portugal de...

Sou frequentemente acusado de ter a mania de racionalizar tudo. De não reservar espaço aos cinzentos que aqui e ali pontua as nossas vidas. De imaginar tudo em preto e branco.
Tenho uma notícia para todos… já foi muitíssimo pior e pura e simplesmente não imaginava que alguma coisa que para mim fosse lógica pudesse ser refutada por algum argumento igualmente válido… e depois cresci.
E ao longo do meu crescimento tenho retirado prazer da discussão e das ideias diferentes e pontos de vista diferentes. Em especial sobre o nosso país…
É isso que a RTP nos propõe a partir de amanhã à noite. Durante doze semanas vamos poder assistir às opiniões de 12 portugueses de origens e convicções diferentes sobre o País e sobre todos nós enquanto povo, entidade cultural que caracteriza a identidade portuguesa.
Uma excelente proposta que certamente dará azo a uns quantos textos por aqui….

Requalificar

Segue em frente o projecto de uma espécie de POLIS para a Cova da Moura.
E apesar dos previsíveis protestos que resultarão de demolição de casas, deverá valer a pena requalificar, reorganizar e aproveitar uma zona caracterizada pela criminalidade e pelo vandalismo.
Gosto de acreditar que também existirão boas pessoas na Cova da Moura, até porque sempre vivi no Cacém e já muito boa gente me perguntou se não era perigoso viver aqui. Tal como aqui à porta se acumula a lama, ela não fará mal na Cova da Moura.
Aliás, o investimento em zonas problemáticas, que não passe apenas por uma limpeza e uns jardins infantis que alguém acaba por destruir na primeira semana, são sementes que podem florescer num mar de oportunidades que pode ser criado, numa zona que funciona ao mesmo tempo de guetto e refúgio para muitos. São medidas de fundo que podem criar pontes para comunidades marginalizadas devolvendo-as à normalidade das relações com os restantes.
É de esperar que os planos de pormenor revelem mais dados, mas para a conclusão da obra teremos de esperar por 2012.

Óleo de amêndoas doces

Não pretendo esticar-me sobre o assunto da OPA, até porque ainda vamos falar muito deste assunto porque ele está longe de estar concluído.
Apenas para observar que para a autoridade da concorrência, que anteriormente não se tinha lembrado de forçar o incumbente (PT) a fazer alterações significativas para liberalizar o mercado, o faz agora na sequência de uma OPA ao incumbente.
Em primeiro lugar a Autoridade da concorrência assina a sua própria incompetência ao longo dos anos, reconhecendo a falha na regulamentação correcta do mercado de telecomunicações que nunca se propôs corrigir por iniciativa própria.
Segundo atribui ao sector móvel que naturalmente é o no futuro se irá expandir mais, o preço a pagar pela liberalização do sector fixo.
Não se entende como os supostos remédios podem ser caracterizados pela Sonae como óleo de fígado de bacalhau, é nada mais do que óleo de amêndoas doces.
A autoridade da concorrência aceita a fusão Optimus/TMN que cria um único player no mercado com 65% do mercado, assumindo o papel anteriormente pertencente ao incumbente. Disfarçando esta operação com a possibilidade, obviamente suicida, de entrar um terceiro operador no mercado com a licença que agora fica livre.
Além disso cria-se uma situação concorrencial totalmente artificial no fixo. A separação do cobre do cabo que poderá trazer vantagens aos consumidores, apenas se realizará numa óptica de outros operadores que pretendam criar ofertas competitivas numa das redes que a Sonae tiver de vender.
A título de exemplo, caso a Sonae opte por manter a rede de cobre e por vender o cabo, a lógica fusão PT multimédia/NOVIS/Clix vai ficar com 95% do mercado ADSL.
É desta forma que se liberaliza o mercado?