quarta-feira, maio 30, 2007

Eu não fiz greve

Hoje foi dia de greve Geral, mas nem por isso houve grandes mudanças no dia a dia que se assemelhassem a algo diferente de uma normal greve dos transportes públicos ou da função pública.
Sou sindicalizado no SNTCT, filiado na CGTP e muito embora reconheça a importância dos sindicatos na regulação de um trabalho justo em sede de concertação social ou até na rua, ainda que compreenda o sentido de algumas preocupações e reconheça a bondade de alguns dos protestos, não fiz greve.
Não fiz, porque a greve geral não faz qualquer sentido nesta altura, e os resultados aí estão para provar que não há objectivamente qualquer razão para a convocar.
Desde logo, a organização de uma greve geral que apenas conta com a organização de uma das duas centrais sindicais, é indicativo que aquilo pelo qual se pretende protestar não é linear, nem tão pouco é exemplo de uma generalizada agressão ao conjunto dos trabalhadores e dos portugueses.
Infelizmente esta greve perde-se na magnitude que pretende atingir. Aplica-se a toda a gente e por isso mesmo quase ninguém se consegue rever nela.
Hoje, os maus patrões, os maus empresários, os exploradores de mão-de-obra barata, não terão tido qualquer dificuldade em continuar a laborar normalmente, porque a CGTP esteve o dia todo a brincar aos partidos políticos. A CGTP marcou esta greve geral não contra qualquer objectivo obscuro do patronato em explorar ainda mais os trabalhadores, mas contra o governo, e está a provar-se que além dos sectores habituais, onde geralmente já aconteceram dezenas, senão centenas de greves no passado, mais ninguém aderiu à greve.
Esta greve geral não faz sentido porque os seus argumentos não colhem junto da maioria da população portuguesa, porque a generalidade dos portugueses continua a não compreender a linguagem hermética dos sindicalistas e acaba por concordar com grande parte das medidas implementadas pelo governo a quem deu maioria absoluta há apenas dois anos.
Aliás, essa é a questão fundamental. São apenas dois anos. Depois de um período de inaceitável instabilidade politica que não favorece nem beneficia ninguém, os sindicatos pretendem fazer crer que este governo ameaça o estado social e as suas características e que deliberadamente persegue os trabalhadores portugueses.
O que a generalidade dos portugueses vê é que apesar do panorama obscuro que se pretende pintar e apesar do momento difícil em que vivemos, que ninguém escamoteia, nem sequer o governo, não há nenhuma prestação social do estado que esteja em risco. Ainda que sobre essas prestações se introduzam critérios essenciais de racionalização dos recursos, assim como uma maior pressão sobre os aproveitadores, que julgo todos os que delas beneficiam compreenderão perfeitamente.
Que se pretende racionalizar e dar ordem ao desperdício. Que se pretende regular ou mitigar as diferenças que o Estado inexplicavelmente concedeu ao longo de anos aos regimes especiais dos seus funcionários e acabar com reminiscências corporativas que tantas profissões continuam a beneficiar. Além de tantas e tantas outras coisas.
Claro que o caminho é longo e difícil, mas os sindicatos não parecem querer ceder em absolutamente nada, apesar de constantemente afirmarem a necessidade de outros cederem. Os sindicatos não sabem quais os verdadeiros interesses dos trabalhadores que defendem, apenas interpretam esses interesses. Não comunicam com os trabalhadores, apenas lhes apresentam as decisões que já tomaram e se esforçam por lhes provar que se alguém sabe o que é melhor para eles é o sindicato.
Preferem alarmar-se com os manuais anti-corrupção na administração pública, porque é melhor ter cúmplices do que chibos, preferem que possam existir empresas em que os funcionários têm 36 dias úteis de férias, como no metro de Lisboa, quando os trabalhadores do sector privado apenas podem ter 25 dias condicionados à assiduidade, há cerca de 3 anos.
Assim estas greves nunca terão qualquer fundamento, nunca os portugueses compreenderão quem é que os sindicatos pretendem proteger e nunca lhes perdoarão defenderem os privilégios de uns em detrimento de outros em vez da equidade, igualdade e justiça para todos, apesar do discurso habitual.

quinta-feira, maio 24, 2007

O humor político

Há poucas formas de resolver a situação do tal de Charrua que fez uma piada sobre o currículo académico do primeiro-ministro, ou o achou de filho de alguma senhora mal afamada o que normalmente achamos sobre tanta gente com quem nos cruzamos na vida.
Ou se despede o Charrua, ou se demite a zelosa directora regional, ou se demite o ministro Mário Lino. Tem é de rolar a cabeça de alguém. E o primeiro-ministro, pessoalmente ou por interposta pessoa, tem de resolver este assunto, pois novamente o silêncio provocará um dano maior do que inicialmente previsto.
O professor Fernando Charrua parece que já foi deputado pelo PSD, mas isso não é impedimento legal ou moral de aderir ao humorismo nacional. Apenas é falta de gosto político. Já sabemos como todos somos e estas coisas que acontecem à falta de outras melhores acabam por se tornar piadas. É a forma que encontrámos desde sempre para exorcizar os nossos fantasmas e exorcizar a forma por vezes hermética da linguagem dos políticos. Coisas que não entendemos e que por isso mesmo nos rimos delas. Coisas que não nos dizem nada e que sobre elas acabamos por fazer piadas. Recordemo-nos que nem o salazarengo se escapou a essa rebelde ironia do utensílio de cozinha para rapar o fundo dos tachos.
Fernando Charrua fez a piada que muito bem entendeu, num ambiente que não o vincula a qualquer posição oficial dele como professor, ou da DREN enquanto instituição. Convenhamos que o homem não foi fazer uma palestra aonde fazia piadas ou insultava quem quer que seja. O mesmo já não aconteceu com Mário Lino que num crescendo incómodo com a questão da OTA vs Algures no Sul do Mundo, começa a rair o insulto e onde também já houve lugar a uma piada ao currículo académico do Primeiro-Ministro em público, ao contrário do Charrua.
Para mais que falar, comentar ou rir sobre uma noticia veiculada por inúmeros meios de comunicação social, aplicados em fazer render o peixe até à exaustão, não pode nunca ser considerado um insulto em parte alguma do mundo civilizado.
Aparentemente a zelosa senhora directora regional estava mortinha por fazer a folha ao Charrua e aproveitando que deve ser uma daquelas senhoras de boas famílias onde se respeitam as instituições, não perdeu a fantástica oportunidade de pôr o Charrua a mexer.
Assim das duas uma. Ou o ministério da educação intervém neste assunto colocando a senhora na ordem e devolvendo ao Charrua o lugar do qual se encontra suspenso, ainda que sob a enorme capa do respeitinho que se deve às instituições, ou, o Charrua é mesmo penalizado pelo processo disciplinar que lhe foi movido pela DREN e nessa altura o Ministro Mário Lino deve solidarizar-se com o Charrua, demitindo-se do governo ou retratando-se publicamente pelas suas piadas.

segunda-feira, maio 21, 2007

Ainda Fátima

Desculpem lá, mas isto tem andado meio parado.
Mas ocorreu-me uma daquelas ideias interessantes neste 13 de Maio. Fátima cuja suposta confirmação das aparições radica naquilo a que se resolveu chamar Milagre do Sol, tem características totalmente diferentes de todos os restantes milagres proporcionados pela Igreja Católica e protagonizados pela Virgem Maria de qualquer, coisa, já que a senhora aparece em tantos lados.
Até Fátima (e confesso que poderá aparecer aqui alguém a desmentir-me totalmente sem que eu me importe muito) a santinha tinha aparecido em pelo menos cada capital de concelho português e nos seus equivalentes estrangeiros nas mais variadas formas, o que permite que se acrescente sempre a Nossa Senhora qualquer coisa que a identifica com aquele local, sendo uma das mais raras e interessantes aparições a da Nossa Senhor do Ó, uma virgem grávida.
Ou seja todas as Virgens Marias desse mundo a que chamamos Nossas Senhoras de qualquer coisa são na realidade a mesma e dividem a sua divindade em aparições e milagres.
O carácter relativamente escasso, pelo menos nos últimos dois séculos das aparições, até porque no passado a Senhora aparecia muito, dá a Fátima uma particular espectacularidade que as restantes aparições não têm, na medida em que transmite uma mensagem para o futuro. Coisa que creio não acontecia muito nas restantes aparições.
Fátima em termos estéticos é aparição como as restantes. A Senhora aparece em cima de uma oliveira rodeada de um halo de luz ou em cima de uma nuvem. Outros modelos já tinham sido tentados sendo o mais famoso o arbusto que arde sem na realidade se queimar, mas isso são contas doutro rosário. A existência de pequenos ou grandes videntes também não é uma verdadeira surpresa. Já tinham existido pequenos pastores como videntes. O que em si mesmo não é qualquer evidência em tempos que tantos eram pastores.
A verdadeira diferença de Fátima em relação ás restantes aparições é o Milagre do Sol. Não por ser um milagre, pois anteriores aparições tinham já resultado em milagres, mas sim porque este é um milagre especial.
É o primeiro milagre que na realidade não o é. Um milagre normalmente, pelo menos como nós os hereges o imaginamos, é algo que visa produzir um determinado efeito positivo sobre um comum mortal que sofre ou que está em perigo. E não sou eu que o digo. De uma forma geral os milagres da cristandade têm sido sobre pessoas em concreto, que passaram a ver quando eram cegas, que passaram a andar quando eram paraplégicas ou que devido à intervenção divina acabaram por não cair numa qualquer ravina.
No milagre do Sol não há qualquer relato de um cego ter começado a ver, de um tuberculoso ter ficado curado ou de um coxo ter passado a andar normalmente. Mas o milagre do Sol é ainda mais estranho. Como referia aqui atrás, a generalidade dos milagres tem vindo a aplicar-se a pessoas em concreto que beneficiam da divina providência. Aliás ainda hoje a beatificação e a canonização se faz pela cura do mortal que sofre, que primeiro se chegar à frente a dizer que foi curado daquela terrível maleita que o atacava. Nesse contexto o Milagre do Sol é um milagre estranho na medida em que a ser um milagre, o que aqui já contestei, seria o primeiro milagre colectivo desde a multiplicação dos pães, pois consta que naquele dia estariam na Cova de Iria milhares de pessoas.
Não Senhor, ou melhor, Não Senhora. O Milagre do Sol não é nenhum milagre, porque não cura ninguém e precisamente porque é uma realidade colectiva.
Mas completemos. O que realmente aconteceu naquele dia? O Sol "bailou" e passou rasteiro sobre a cabeça de milhares de pessoas ao ponto de as roupas molhadas que vestiam ficarem secas. O Sol terá entrado em espiral e quase caído sobre a terra. Ora ao contrário da generalidade das aparições e milagres, o milagre do Sol visa assustar os tementes a Deus de uma realidade que desconheciam e que basicamente ainda desconhecemos.
Dessa forma o milagre do Sol não é verdadeiramente um milagre mas antes uma praga, como as que caíram sobre o antigo Egipto dos faraós. Só ai é que se encontram fenómenos que assustam e afectam directamente muitas pessoas e são eventos presenciados por milhares de pessoas.
Fátima é na realidade comprovada por uma praga e não por um milagre. É uma espécie de aviso e isso não cair na categoria de Milagre.
E que praga tem sido aturar isto todos os anos.

Ainda se lembram?

Certamente que a ainda se lembram que o Paquistão já foi um dia uma democracia. Que Benazir Butho é uma mulher e foi eleita (assim como outros) num país muçulmano onde as mulheres não têm o papel que normalmente podem ter no ocidente. Que a democracia embora possa ter muitos defeitos, ainda é o sistema onde todos têm lugar e isso já aconteceu um dia naquelas bandas.
Paquistão que desde 2001 passámos a entender como o maior covil dos mais temíveis terroristas, como sede de todas as organizações extremistas que escorraçadas do Iraque e do Afeganistão o utilizam para ataques nesses mesmos países, tudo com a complacência do ditador Pervez Musharraf e da incompreensível amizade de Bush em relação a este.
Mas algo pode estar a mudar. Campo de tumultos permanentes, de atentados indiscriminados ou directamente a Musharrraf e ainda Caxemira e a questão nuclear, são razões mais que suficientes para a confusão que se vive no país.
Musharraf começa a ficar sem opções. Apesar de defender um país laico, dentro do possível por ali, parece que tem de lidar com uns serviços secretos radicais que não controla totalmente e que parecem querer alimentar as Al qaeda’s e afins. Tem contra si o facto de se ter proposto resolver o problema da corrupção e o estado a que preside se ter tornado muito mais corrupto e não conseguiu resolver qualquer questão com a Índia em relação a Caxemira. Ainda assim, apresenta-se como outros no passado se apresentavam como obstáculo ao avanço do comunismo, como obstáculo ao avanço do islamismo mais radical, que na realidade actua à vontade no seu país
Agora resolveu, no pleno “direito” dos poderes que se auto atribuiu, demitir o Procurador-geral lá do sítio. Musharraf resolveu atacar a ultima réstia de um estado normal de tipo ocidental onde a separação de poderes é pedra angular.
Os paquistaneses não ficaram parados. Vieram para a rua em diversas cidades e morreram em diversas cidades às mãos da repressão que a policia lhes moveu, mas abriram um brecha enorme na política de Musharraf. Estas pessoas que defende os advogados que saíram à rua e que defende um sistema judicial independente sem intervenção discricionária de um poder prepotente, são o embrião da democracia que o Paquistão já teve, e que um dia poderá voltar a ter.
Ou seja, Musharraf em vez de lutar contra o islamismo radical quando o ocidente lhe pede que intervenha acabando com as madrassas, onde clérigos radicais incentivam ao sacrifício contra os infiéis, o que já lhe valeu ameaças de bombistas suicidas, vai lutar precisamente contra aqueles que aparentemente defendiam um estado mais laico e daí mais semelhante às ideias do próprio Musharraf. Mas esta luta entre o secularismo e o islamismo radical, a que a situação na Turquia e no Líbano, ou até na Palestina, não são alheias, é muito importante para compreendermos que ao contrário do que muitas vezes é apontado na comunicação social, existe um Islão moderado que não se revê no radicalismo de alguns, mas que ainda assim nem smepre sai à rua com medo de confrontos com extremistas. Este Islão existe, mas não se manifesta porque infelizmente também se sente humilhado pela forma como é tratado pelo ocidente.

quinta-feira, maio 17, 2007

quarta-feira, maio 16, 2007

Banho-maria

Banho-maria é um método utilizado tanto na cozinha como em laboratórios químicos e na indústria (farmacêutica, cosmética, conservas, etc.) para aquecer lenta e uniformemente qualquer substância líquida ou sólida num recipiente, submergindo-o noutro, onde existe água a ferver ou quase. O processo recebe o seu nome em honra da famosa alquimista, Maria, a Judia. Neste processo, as substâncias nunca são submetidas a uma temperatura superior a 100º C, já que a partir dessa temperatura, todo o calor transferido para a água é convertido em energia cinética nas moléculas da água, formando-se vapor de água.

Banho-maria é também o estado em que por estes dias se encontra a minha a actividade blogosférica, com a falta de tempo que se me acometeu de repente. Tal como noutras alturas, é apenas uma fase e assim que possível voltarei ao registo habitual.

Até lá umas mousses de chocolate são capazes de compensar a ausência :)

segunda-feira, maio 14, 2007

Poor Albion

O estado de direito está em risco no país que é o mais antigo aliado de Portugal e por isso impõe-se que intervenhamos para os ajudar. Pelo menos é o que me parece das afirmações e pressão protagonizada por esta comunicação social sequiosa de sangue, mascarada sob uma pretensa preocupação humanista.

Ainda há meia hora a Sky News, que nos últimos 11 dias dedicou 95% dos seus noticiários ao desaparecimento de Madeleine McCann, com aquilo que já poderão ser milhares de horas em directo desde a Praia da Luz, questionava afinal que tipo de buscas é que a policia portuguesa andou a fazer, se a solução podia estar a 100 metros do “resort” onde a criança tinha sido raptada. Citando em português literal: “A GNR disse que tinha revistado 500 apartamentos. Só foram lá bater à porta ou viraram os apartamentos ao contrário”.

A Sky e os seus jornalistas desconhecem totalmente o instrumento mandado de busca num estado de direito democrático? Ou apenas acham que ele não se aplica em parte nenhuma do mundo, desde que britânicos estejam envolvidos? É preocupante para a solidez das instituições britânicas, que são um dos mais extraordinários e antigos exemplos do estado de direito, se por acaso por lá as coisas se passarem da forma como estes jornalistas pretendem.

Afinal um mandado de busca é algo que se pede a um juiz (um juiz, acho que em inglês é “Judge” e deve fazer mais ou menos a mesma coisa), perante fortes suspeitas da prática de um crime. O que naturalmente não poderia ocorrer em 500 apartamentos diferentes.

Estes jornalistas teriam preferido que se virassem os apartamentos ao contrário, porque a orgia de destruição é sempre um bom momento de televisão. Mas isso não serve a ninguém. Nem aos espectadores, nem à investigação e muito menos à segurança de quem se encontra desaparecido.

O mundo é inevitavelmente injusto. E onde estão os meios e o dinheiro está a o poder. Ninguém sabe o nome nem conhece a cara de dezenas de crianças que sofrem em zonas de conflito ou em fábricas onde desde tenra idade trabalham para sustentar alguns dos nossos luxos. Mas Madeleine McCann teve a venturosa sorte de nascer bem, Esperamos todos que acabe por ser encontrada sã e salva do meio de toda esta confusão.

sexta-feira, maio 11, 2007

Saltar fora

A solução é simples. Se Helena Roseta, apenas dois anos e pouco depois de o Partido Socialista ter chegado ao governo, não vê qualquer possibilidade de participar na actividade politica do partido. Não se revê em nenhuma das políticas, nem tão pouco acha que o seu contributo seja válido, ainda que contrário à opinião da direcção do partido e da maioria dos militantes, então não podia continuar no PS.
Respeito muito a Helena Roseta que considero uma pessoa competente e capaz. Mas independentemente da ideia que se tenha das pessoas e independentemente da validade das ideias que cada um tem sobre si próprio, todos sabemos que nem sempre concordamos e nem sempre podemos esperar que todos concordem connosco.
Lamento que a opção de Helena Roseta tenha sido sair do PS, tal como no passado aconteceu com o PSD. Aprecio Helena Roseta precisamente por causa deste seu inconformismo com o sistema, mas não posso concordar com ela.
Infelizmente Helena Roseta não se fez ouvir da mesma forma que se faz ouvir agora, quando o PS esteve na oposição, para criticar o governo ou apresentar qualquer proposta alternativa. Nem ela nem o Manuel Alegre, com quem ainda com o PS na oposição já passavam os dias a alimentar a ideia, que o PSD agora aproveita num contexto nacional, que o PS estava a tornar-se claustrofóbico do ponto de vista democrático.
Mas isso não é um problema porque o PS tem muito boa gente para andar a fazer trabalho político. O verdadeiro problema está em que Helena Roseta e Manuel Alegre consideram ter-se arrasado em pouco mais de dois anos a matriz social do partido e todo o legado de Abril. Como quem diz, isto até podia acontecer, mas tinha de ser o PSD a tratar do assunto e não o PS. Mas isso não é verdade, até porque não é fundamentado em qualquer argumento apresentado por Helena Roseta. Não basta passar os dias a dizer que ninguém nos cala e a lançar a ideia que existem interesses obscuros de concentração de poderes em torno de uma pessoa para que isso passe a ser verdade. É preciso argumentar e é isso que não se tem feito. Ser de um partido não é algo que se faz das 9 às 6 e depois em casa já se pode ser independente.
O David no Dolo, à conta das eleições para a câmara de Lisboa, onde preconiza boas soluções, utiliza uma frase muito interessante que aqui destaco – ” (…) o PS continua a ser o mais completo e inclusivo dos partidos porque é o único que engloba uma oposição activa e militante (nada que se compare com o PSD que tem apenas um ridículo Menezes) de tal modo que para encontrarmos os opositores mais obstinados a Sócrates e à sua política nem precisamos de sair do PS.”
E não é que é mesmo verdade? Que no PS é que existe mesmo oposição ao PS e que isso só pode revelar a saudável discussão de ideias, ainda que a ideia romântica dos plenários com decisões por unanimidade e aclamação tenha sido à muito ultrapassada?
Confunde-me como Helena Roseta prefira saltar fora deste jogo colocando-se no papel de independente que nunca será, em vez de continuar a fazer valer as suas ideias, como tão bem faz. O panorama político do PS e do país fica mais pobre, mas a responsabilidade é da própria.

terça-feira, maio 08, 2007

Polis das cavernas


Não, não é um borrão, nem uma foto mal feita do céu à noite. É a minha rua à noite no estado em que se encontra desde há três semanas.
Agora sim já começo a ficar ligeiramente arreliado, assim algo tipo em cólera (como a outra), algo maçado com estas obras.
Não bastava não ter rua vai para mais de um mês. Não ter mesmo, do género galocha como calçado essencial, como agora as retroescavadoras escavacaram com qualquer candeeiro existente.
Não pretendo lançar um alerta à gatunagem e vilanagem que para aí anda, mas é mau se um gajo chega mais tarde a casa já sem as luzes amarelas das máquinas e acabar por cair num buraco acabado de cavar à minha porta, que nestas condições eu não conseguirei ver…
Se isso acontecer só me descobrem na manhã seguinte já em hipotermia.

segunda-feira, maio 07, 2007

Ainda Sarko

Se a esquerda europeia está perdida num limbo entre o passado e a actualidade, a direita europeia teve a oportunidade, durante o dia de hoje, de ter orgasmos múltiplos de felicitações a Sarkozy.
Foi ridículo ver como subitamente a Europa já tem salvação. Foi ridículo ver José Manuel Barroso repetir diversas vezes que era muito amigo e conhecia bem Sarkozy e dizer nas entrelinhas como esperava que em 2009 não o metessem a correr para fora da comissão.
Fiquei logo com a sensação que talvez depois de amanhã esteja para sair o mini-tratado-reciclado de salvação da Europa, uma vez que o Sr. Sarkozy deslocou-se imediatamente em embaixada a Bruxelas com o seu homem de mão para a Europa, que já sabe tudo e vai resolver tudo do que nos aflige.
A Turquia bem pode esquecer a entrada na União mas resolve-se num instante, talvez na próxima segunda, com um mini-tratado de cooperação com as nações do Mediterrâneo. Já está.
Hoje um Sarkozy, amanhã um mundo de Sarkozys para ver se ainda há hipótese de salvar a humanidade.
Também seria assim se tivesse ganho a outra candidata?

Sais de fruto


Em França e um pouco por toda a Europa é preciso tomar sais de fruto para superar a indigestão que terá provocado a vitória de Sarkozy. É uma evidência para o futuro concluir que a esquerda que tem na França a sua grande referência está em crise e não é a votação (ainda que expressiva) de Ségolène que a fará sobreviver.
A violência da noite de ontem em Paris e nalgumas cidades francesas vêm acabar por confirmar a razão pela qual Sarkozy ganhou. Independentemente da opinião que se tenha sobre o sujeito, ele parece que vem limpar definitivamente a casa suja em que a sociedade francesa se tornou. É ao mesmo tempo o grande disciplinador como o grande reformador. Parece que vem devolver uma espécie de auto-estima que recoloque a França como grande referência internacional, que entretanto tinha perdido.
Podemos dizer muita coisa, mas uma sociedade não pode tolerar que por razões maiores ou menores haja um grupo de pessoas que vem para a rua partir tudo e puxar fogo a carros, sob pena disso obrigar à existência de duas Franças. A da maioria que se revê nas políticas preconizadas por Sarkozy, que está farta de insegurança, por oposição a uma França minoritária que utiliza a violência como linguagem e arma politica.
Tive oportunidade de dizer por aqui que Sarkozy como praticamente todos os políticos europeus defende a herança do estado social que a Europa inventou para si própria. Mas Sarkozy defende também um estado mais forte na repressão e não podemos em consciência dizer que o homem não tem alguma razão. Aquilo que saltou à vista dos últimos tempos foi uma intenção de ser mais duro com a violência e a imigração, mas Sarkozy (a Tatcher francesa com 20 anos de atraso, segundo a BBC) tem pretensões de mudar a nível fiscal, a nível social, a nível laboral, correndo o risco de pisar os calos daqueles que votaram nele por razões securitárias.



O que se torna importante é perceber que apesar da blogosfera e os jornais franceses, mas também em Portugal e noutras partes, referiram sem hesitação que Ségolène era uma incógnita e Sarkozy uma certeza. Mas ninguém pode afirmar com propriedade que o candidato Sarkozy, será igual ao Presidente Sarkozy.
Se o homem for realmente inteligente terá de perceber a diferença que existe entre repressão e desenvolvimento social. Terá de compreender mais cedo ou mais tarde que as causas da violência é que têm de ser combatidas ainda que passe a haver um comportamento mais musculado por parte das polícias na rua. Esse tipo de intervenção tem objectivos e meios relativamente finitos, que se esgotam em pouco tempo, para mais que acabam por se tornar numa espiral imparável de violência que as autoridades podem não conseguir controlar.
Sarkozy é uma incógnita como Ségolène porque ainda faltam responder uma série de questões sobre a Europa e sobre o relacionamento com os EUA, assim como virá a ser concretamente o comportamento da França em relação aos novos imigrantes assim como com os cerca de 6 milhões que já estão em França. Já sabemos que há um elevado potencial de paralisação da França, uma vez que estudantes, trabalhadores das mais variadas classes e imigrantes organizados em torno de sindicatos fortes, podem bloquear ou tentar bloquear Sarkozy e as suas medidas. Mas o que esta Europa não está à espera e não está preparada, é para o eventual sucesso do novo Presidente Francês. Se por acaso Sarkozy conseguir estancar a imigração, fazer valer as suas ideias sobre o alargamento da Europa, se conseguir fazer passar um mini-tratado que acabe por afastar a Europa de uma índole mais federalista e ainda assim devolver a paz social e criar riqueza, então ele tornar-se-á a nova referência europeia de desenvolvimento e nada será como dantes neste lado do Atlântico.

Imagens: Le Figaro

sexta-feira, maio 04, 2007

Repto

Demonstrem-me que é impossível um país da nossa dimensão geográfica e demográfica, organizar-se em torno de regras básicas de planeamento e organização do território, que implique desenvolvimento sustentado e equilíbrio económico e social entre regiões, e eu também passarei a defender o referendo e a regionalização.

"Quem diz a verdade..."

"Não é de ânimo leve que um partido põe o seu poder nas mãos dos eleitores."
(Marques Mendes, na "Grande Entrevista" da RTP)

E nós a pensarmos que essa era a essência da democracia...

Adenda breve: ainda que pronunciada no triste contexto que conhecemos, pela triste figura do actual líder do PSD, não descuramos que esta frase deve constar como mote nos programas de todos os partidos, nomeadamente esses da esquerda "moderna" e "reformista", travestidos na sua "preocupação social" e ofuscados na sua arrogância...

quinta-feira, maio 03, 2007

Outros predadores

"Esta semana (a semana passada) foi manchete de jornal (no Semanário): "Tréguas a José Sócrates só vão abrandar durante a presidência da União Europeia". Isto é, as agendas mediáticas estão milimetricamente concebidas e preparadas para ataques sucessivos ao primeiro-ministro até às próximas eleições. É natural, visto que a calendarização jornalística obedece sempre, mas mesmo sempre, aos mais altos desígnios nacionais e aos verdadeiros problemas dos portugueses. Convém igualmente desgastar Sócrates ao máximo antes da presidência portuguesa da UE, não vá ele sair prestigiado. Durante a dita, já é diferente: torna-se indispensável salvar as aparências em frente de estrangeiros, não escarrar para o chão, não limpar a orelha com o dedo mindinho, não atirar beatas pela janela do carro, não dizer palavrões em público. Nem atacar o primeiro-ministro. Sendo assim, não vamos passar por vergonhas, podemos ficar descansados. É lindo, não é?"

Predadores

Hoje festeja-se o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. A RSF (Repórteres sem fronteiras) divulga uma lista de todos os que para a organização ameaçam a liberdade de imprensa um pouco por todo o mundo e que além disso perseguem jornalistas, os prendem por delito de opinião e muitas vezes participam no seu assassinato.


O diagnóstico está longe de ser positivo. O relatório pode ser consultado aqui e podem ser verificados os argumentos caso a caso de cada um dos responsáveis identificados.
Embora possa parecer estranho para alguns, e ao contrário do clima que alguns pretendem incutir à opinião pública deste país, Sócrates não faz parte da lista.



Sarkozy a caminho do Eliseu

Por mais que isso possa não me agradar, apesar de não ter nada a ver com isso, Sarkozy é bem capaz de estar já com um pé na soleira da porta do palácio.

Royal não conseguiu fazer vingar as suas ideias no debate se bem que começo a questionar se tem algumas que escapem às originais, mas inverosímeis soluções que parece encontrar para os problemas. Todo o debate parece uma espécie de declaração final onde se pretende meter tudo de uma vez. Sarkozy tem um discurso mais organizado, parece mais calmo e mais coerente e naturalmente paternalista e arrogante. Lamentável a gestão que ambos os candidatos fazem do medo da violência e da delinquência em França. De tal forma que a páginas tantas os candidatos se degladiavam pelo objectivo de dar maiores penas aos delinquentes sexuais, qualquer coisa próxima do disparate de alguns sistemas jurídicos do tipo três penas perpétuas sem possibilidade de visitas e com direito a castração e as partes fervidas em óleo quente. Muito triste.

Quanto à economia, o tradicional na actual Europa. A luta entre o que fazer ao estado social e ao preço que ele cada vez mais tem nos orçamentos de estado e o tradicional défice. A maioria das propostas são as que estão em debate em Portugal sem qualquer novidade, embora Royal não consiga explicar onde vai buscar o dinheiro. Estranhamente por aquele lado ainda parece ser objectivo o pleno emprego e Sarkozy acredita no crescimento pelo aumento do consumo privado... Deve ser das economias de escala... Flexisegurança, duração do trabalho e as reformas também são temas que nos são muito próximos.

Nenhum faz a mais pequena ideia do que fazer à juventude e à lei do primeiro emprego.

O ambiente, pobrezinho, enche a boca dos candidatos mas parece que tudo passa por taxar os estrangeiros que poluem, números e mais números e a questão nuclear.

Uma discussão de dedo em riste sobre um tema que aparentemente não seria o principal do debate. O dramático exemplo de como a Turquia jamais entrará na União Europeia e de resto o que já sabíamos um pouco em todo o mundo sobre as ideias de imigração de cada um dos candidatos.

Alguns blogs franceses parecem indiciar que Royal pode ter ganho, e a sondagem do Le Monde também, especialmente por causa daquela coisa da imoralidade política, onde Royal mostrou as garras arrastou Sarkozy ao tapete e mordeu-lhe diversas vezes, no campo (que conhece melhor) da consciência social. Mas eu não estou convencido.

Royal perde estas eleições porque não fez a necessária ponte com uma França que se chega à direita, mas antes preferiu manter o dogmatismo de todas as bandeiras da esquerda, acabando por entrar inconsequentemente nos temas favoritos e nos fantasmas agitados pela direita, onde não está preparada e apenas pode perder por comparação. Sarkozy ganha porque conseguiu provar que afinal é mais do que o grande disciplinador dos imigrantes e da violência e que tem na realidade uma resposta para problemas mais vastos mantendo ainda assim o essencial do estado social.

A Europa ficará irremediavelmente condicionada pela agenda Sarkozy e a França bem se pode preparar para o aumento da contestação social.

quarta-feira, maio 02, 2007

Tarde demais

Quando alguém te liga ano sim, ano não, pelo teu aniversário, e termina todas as chamadas com uma expressão semelhante com: “temos de marcar um jantar para conversar...” é a garantia que já não estás ligado a essa pessoa o suficiente para que esse jantar alguma vez se realize.
É uma espécie de segredo em que todos colaboramos só para não levantarmos a ponta do véu de onde podem sair mágoas e questões mal resolvidas, que na realidade todos pretendemos evitar confrontar.
E daí talvez não. Talvez seja só porque essas pessoas nos lembram alguém que na realidade já não somos, e um tempo que não queremos recordar.

Finalmente

Confesso a minha perplexidade ao longo dos últimos anos em relação a algumas das posições adoptadas pela CGTP e por Carvalho da Silva.
Como ainda sou jovem, para mim até há pouco tempo só tinha havido um papa e basicamente só houve um líder da CGTP e as lutas e bandeiras também foram sempre as mesmas. Nunca houve um governo, um primeiro-ministro ou um partido no poder que alguma vez tenha agradado à CGTP e por isso mesmo as greves sucederam-se, as reuniões terminaram com o bater de porta e o murro na mesa tantas vezes, que poucos acordos (ou nenhum) assinaram.
Ontem finalmente ficou tudo mais claro para mim.
Em entrevista ao JN, Carvalho da Silva foi colocado perante a seguinte questão: “Qual foi para si o melhor Primeiro-Ministro pós 25 de Abril?
Carvalho da Silva hesita mas responde de forma esclarecedora e sem espinhas: “Vasco Gonçalves”.
Afinal sempre houve alguém em que a CGTP se reviu, e que esclarecedora é esta escolha.

Back to work

Depois das férias que a meteorologia permitiu e dos quase 40º de febre durante vários dias (o delírio), volto ao trabalho.
A seu tempo e de acordo com o ritmo que for aparecendo, esta casa voltará a estar actualizada.