O estado de direito está em risco no país que é o mais antigo aliado de Portugal e por isso impõe-se que intervenhamos para os ajudar. Pelo menos é o que me parece das afirmações e pressão protagonizada por esta comunicação social sequiosa de sangue, mascarada sob uma pretensa preocupação humanista.
Ainda há meia hora a Sky News, que nos últimos 11 dias dedicou 95% dos seus noticiários ao desaparecimento de Madeleine McCann, com aquilo que já poderão ser milhares de horas em directo desde a Praia da Luz, questionava afinal que tipo de buscas é que a policia portuguesa andou a fazer, se a solução podia estar a 100 metros do “resort” onde a criança tinha sido raptada. Citando em português literal: “A GNR disse que tinha revistado 500 apartamentos. Só foram lá bater à porta ou viraram os apartamentos ao contrário”.
A Sky e os seus jornalistas desconhecem totalmente o instrumento mandado de busca num estado de direito democrático? Ou apenas acham que ele não se aplica em parte nenhuma do mundo, desde que britânicos estejam envolvidos? É preocupante para a solidez das instituições britânicas, que são um dos mais extraordinários e antigos exemplos do estado de direito, se por acaso por lá as coisas se passarem da forma como estes jornalistas pretendem.
Afinal um mandado de busca é algo que se pede a um juiz (um juiz, acho que em inglês é “Judge” e deve fazer mais ou menos a mesma coisa), perante fortes suspeitas da prática de um crime. O que naturalmente não poderia ocorrer em 500 apartamentos diferentes.
Estes jornalistas teriam preferido que se virassem os apartamentos ao contrário, porque a orgia de destruição é sempre um bom momento de televisão. Mas isso não serve a ninguém. Nem aos espectadores, nem à investigação e muito menos à segurança de quem se encontra desaparecido.
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