terça-feira, fevereiro 27, 2007

SOS

Não assisti à totalidade do Prós e Contras de ontem. Não, não sou eu a fingir que não vi só porque aquilo pode ter sido um comício, até porque aquilo é tantas e tantas vezes um comício de quem não gosta do governo, que não me parece que as questões levantadas pelo PSD façam grande sentido.
De qualquer forma e para que não digam que eu evito escrever quando a coisa está a dar buraco ( o que em si até é profundamente injusto) aqui vai a opinião sobre as urgências.
O país é demasiado pequeno para tanto disparate. O país sofreu durante todo o século XX uma profunda migração para as cidades assim como para o estrangeiro, e a democracia não soube estancar essa sangria do interior, contribuindo muitas vezes para a sua desertificação.
Os cuidados médicos devem acompanhar o fluxo das pessoas para onde elas se dirigem, mas não podem deixar de respeitar critérios de localização que permitam que todos tenham acesso a cuidados de saúde urgentes, que as piadas do ministro não ajudam em nada a resolver, até porque a sinistralidade automóvel é uma das principais causas de necessidade de urgências bem distribuídas pelo país.
Ainda assim, e tendo em conta a distribuição demográfica do país e o seu exíguo tamanho é incompreensível que possam surgir situações em que alguém espera várias horas para chegar a uma urgência.
Para mim a formula é simples. SAP; SUB; CATUS; CODU ou outro qualquer palavrão, o que importa é que todos os portugueses devem estar a uma distância nunca superior a uma hora de caminho de um hospital com qualidade suficiente para tratar qualquer tipo de caso urgente, e não podem estar a distância superior a 30m de um veículo de assistência urgente com características de apoio/suporte à vida.
Além disso, devido à previsível localização de determinadas especialidades nos centros urbanos, o país deve ser dotado de uma rede que helicópteros capazes de transferir qualquer paciente para a unidade indicada num prazo inferior a três horas, a partir do momento em que essa decisão é tomada.
Eu sei, além de simplista (e embora não preveja um hospital em cada porta), isto pode ser ambicioso para algumas regiões. Não tenho conhecimento das características da actual reforma, e como disse não vi a totalidade do programa, mas não podemos definir à partida, através de uma nova rede, que as pessoas de determinadas regiões tenham de andar para trás e para a frente em procura de cuidados médicos, uma vez que a generalidade das pessoas não está habilitada a definir a sua própria situação clínica.

Hoje não

Hoje é o dia de não pactuar mais com as missões internacionais. De não reconhecer direito à chantagem emocional a que nos submetem os Bravos da Nação.
Não quero mais ser o único a sentir-me deslocado por não compreender qual a necessidade de se continuar a embarcar para terras distantes em busca de uma glória fútil, que vem com o dinheiro que não se consegue obter por cá.
Hoje não quero mais pensar que o país não soube aproveitar parte dos seus jovens, e acabou por empurrá-los para uma vida de embrutecimento, em que o futuro pode estar na ponta de uma espingarda, numa viela escura de um país que não conhecem, onde se tornam inimigos e vítimas de quem nunca lhes fez mal.
Hoje não vou voltar a Figo Maduro.

Passado algum tempo...

... nomeadamente dois anos e pico, um blog começa a tornar-se uma sucessão repetitiva da mesma expressão: "Como eu disse anteriormente..."

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Hora errada


Confesso ser um fã incondicional do Herman José, muito embora não me considere pessoa de seguidismos acríticos e acéfalos. O Herman moldou grande parte das chalaças que a minha geração insiste em utilizar e ensinou este país cinzento a rir-se de si próprio.
Mas inevitável concordar com a opinião geral. O novo programa do Herman é uma trampa.
É uma trampa porque depois do Herman nos ter habituado a um determinado estilo de humor, este (o humor) se vulgarizou e se tornou mais imediato. Não queremos mais esperar pelo desenrolar de uma história para depois quase no final lhe acharmos piada. O humor hoje em dia tem de ser como o lead de uma notícia. Tem de ter o essencial para agarrar o telespectador à cabeça, sem necessidade de grandes interpretações ainda que nalguns casos felizes (como os Gato Fedorento) o humor possa ser o tal chamado de inteligente.
Este programa do Herman é como os programas a que ele nos habituou na década de 80 e nos princípios dos 90. Tem personagens que não se esgotam nos sketches em que participam. Têm continuidade como o Esteves, a Maximiliana, a Natacha Seminova ou o Cachucho. Estas personagens desenvolvem-se e umas acabam por ter mais piada que outras e acabam todas por desempenhar um papel na trama que este tipo de programa tem. O que não têm é graça. Ou então estamos de tal forma anestesiados pela piada ligeira e ordinária do "Levanta-te e ri" que já não conseguimos ver a graça.

Os indiferentes

Não existem temas fracturantes. Eles são como os pilhões. É coisa que não existe. Apenas existem temas fracturantes na mente de alguns iluminados portugueses que pertencem a classes médias altas e que por alguma razão não totalmente clara acham que devem impor a sua cartilha de princípios à sociedade para que esta não se corrompa e tresmalhe.
É assim à esquerda assim como à direita. Todos sem excepção pertencem a classes de gente bem falante e bem formada, com poder de compra e fundamentalmente com acesso aos meios de comunicação social e que se mexe bem no novo mundo da Internet.
A imprensa e principalmente a televisão seguem o seu rasto e de forma totalmente acrítica, sob a capa do mais sincero direito do contraditório, permitem verdadeiros comícios que chegam assim a milhões de portugueses que não se tinham dado ao trabalho de pensar nisso.
Não há questões fracturantes quando uma parte substancial da população é totalmente indiferente aos assuntos em causa e que supostamente nos dividem e nos assaltam o espírito quando queremos dormir.
Às perguntas sobre as questões fracturantes que frequentemente são matéria de sondagens, falta perguntar não apenas se concorda com isto ou com aquilo mas, se haver aborto, casamentos homossexuais, eutanásia, doação de órgãos em vida, reprodução medicamente assistida, identidade de género, clonagem, regionalização, células estaminais e mais um monte de coisas supostamente complicadas, interessam à maioria dos portugueses ao ponto de estes participarem activamente no seu debate?
E a dura realidade diz-nos que não. Em menos de uma década foram feitos três referendos, sobre matérias supostamente fracturantes, e nenhum deles conseguiu reunir o consenso necessário entre os portugueses que os levasse a votar em massa por uma das opções em jogo. Nem as santinhas e os terços na rua, nem o fantasma da desagregação do país em mini estados, levaram os portugueses às urnas.
Por isso, nestas como em outras matérias somos todos treinadores de bancada. Todos temos opinião sobre a vida dos outros se alguém pelo telefone nos perguntar qual é e se de preferência não tivermos de nos levantar do sofá.
Desta forma como é que é possível esperar-se que alguns sectores continuem a alimentar a ideia peregrina que os portugueses estão divididos, quando na realidade isso não passa de uma espécie de mito urbano criado com a ajuda preciosa da comunicação social?
Os governos e os parlamentos, com mais ou menos abstenção são eleitos pelos portugueses e é dessa forma que deve ser abordado o fenómeno dos temas supostamente fracturantes.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

Poeta intemporal



No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada

Vêm em bandos
Com pés de veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas

Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei

Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada

Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Zangas de comadres


"Neste momento, eu zanguei-me!"


A Zé é tramada. Tão consciente de si mesma. Ainda mal se zangara e já o constatava. E assumia. Não fôra isso e poder-se-ia questionar o momento da zanga e a Zé não gosta cá de confusões.


Ainda para mais, essas confusões poderiam questionar as suas motivações nas diferentes formas de relacionamento que tem mantido com o executivo camarário. Não estava zangada quando suportou o executivo minoritário e agora zanga-se.


O timing da Zé até nem foi dos piores. A primeira zanga (a não assumida) ainda é anterior a estas confusões todas. Só a segunda zanga (a assumida em tempo real) é que surge quando a casa já está a arder.


Enfim... Coisas de tios e tias... Só é pena é que estes tios e estas tias têm funções de grande responsabilidade, para as quais foram eleitos...

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Somos todos Frodo

Diamantes de Sangue não me deu a saber nada de novo, mas terá sido mais útil do que várias conferências de líderes...

Diamantes de Sangue apresenta-nos como este planeta funciona, em termos das relações de poder entre ricos e pobres, primeiro e terceiro mundo... A forma discricionária com que ocidentais lidam com a necessidade de diamantes para satisfazer os luxos de milionários dos seus países, a meias com a colaboração directa de mercenários, é uma metáfora do rufia que tira a mochila nova ao miúdo mais fraco da escola.

Não é por acaso que, a dada altura do filme, um velho aldeão diz a uma das personagens principais do filme, seu compatriota, algo como “Espero que nunca descubram petróleo por aqui. Aí é que teríamos problemas...”. O que o velho aldeão está a dizer é “Miúdo, é melhor não mostrares a tua mochila nova a ninguém. Pelo menos, se não souberem que a tens, não ta tiram”...

Não será por acaso que ninguém se preocupou com o Ruanda ou que ninguém se preocupa com a Somália…

Como tudo é ditado pelo tal de “mercado”, e pegando nas palavras tão sábias quanto tristes do aldeão, estamos todos como o Frodo de Senhor dos Anéis. De humilde hobbit, passa a perseguido por muitos e protegido por outros. Porquê ? Porque era portador de um instrumento de Poder desejado por todos. Ou, de forma mais simples, por ter algo que alguém queria… e muito.

Até se começar a explorar os diamantes, a Serra Leoa era como um hobbit a quem ninguém atribuía importância. Mas transformou-se em Frodo, porque o que governa o mundo em que vivemos é uma série de relações de Poder em que aos mais fracos são retirados os seus recursos. As formas utilizadas é que vão mudando. Na maior parte das vezes, até são legais, como este filme apresenta quando explica todo o processo que começa no lodo onde os diamantes são procurados na Serra Leoa até chegarem aos pulsos, dedos, pescoços, ou qualquer outra parte dos corpos daqueles que os usam…

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Muito mais do que português



Devo confessar uma imensa satisfação pelo facto de Aristides de Sousa Mendes constar da lista dos finalistas daquele programa do canal 1 da TV pública.


Num país habituado a subserviências de toda a espécie, alguém que se destacou por ter desobedecido, só por si, já merece respeito.


Como sabemos, a sua desobediência teve por objectivo salvar centenas de vidas humanas, o que só reforça mais a admiração merecida.


E, já agora, deixo uma questão. Para quando a recuperação da casa da família Sousa Mendes em Cabanas de Viriato ? Não seria uma excelente oportunidade de homenagear a figura que foi e continua a ser, por aquilo que representa ?

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

O pior em nós

Tomem lá porque vocês merecem...




Depois venham explicar-me que a esquerda é que tem frequentemente um registo panfletário.
Tudo serve desde que seja a bem da salvação da alma salazarenga. Películas românticas de Hollywood, a negação do fascismo como forma de governo, o império que até era pequeno em comparação com outros, a guerra estava por um fio a nosso favor (a colonial, porque a outra livrou-nos por graça do nosso senhor), que tínhamos excelentes relações com o mundo e até se invoca o mal amado Filipe espanhol.
Não há limites. Apenas ficam por esclarecer as questões importantes e que não têm de ser necessariamente formuladas pela negativa. O mago das finanças que durante tanto tempo esteve no poder, onde nos podia e deveria ter levado se realmente este homem fosse patriota? Já sei... afinal sempre estivemos atrasados economicamente... Tão atrasados que a miséria que em 25 de Abril de 1974 abundava pelo país e que a grande custo continuamos a tentar recuperar, permite que ainda hoje estas elites bacocas e saudosistas possam fazer este tipo de exercício deliberado de demagogia. Esta gente que se arroga o direito de criticar uma política espectáculo onde tantas vezes participa, para vangloriar as virtudes de um estado autoritário onde o espectáculo não é necessário, onde apenas existe a edificante e abnegada dedicação patriota, onde não existe a mácula do abuso de poder.
Felizmente houve uma cadeira, felizmente houve uma revolução militar e felizmente muitos milhares de democratas, que permitem que eu hoje possa, em liberdade, escrever estas linhas e que aquele senhor esteja na televisão a dizer disparates.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

Babel - dádiva, castigo ou desafio ?

Babel é um daqueles filmes que não poderiam ter tido outro título. De acordo com a Bíblia, a tentativa de construír a Torre de Babel terá enfurecido Deus. Consequentemente, o Criador teria feito com que cada um dos envolvidos passasse a falar um idioma diferente, dificultando a concretização do projecto e criando dificuldades de comunicação em termos planetários.

Babel retrata essas dificuldades de comunicação humana, mas também a globalização. As fronteiras entre os Estados e as fronteiras entre as pessoas. Retrata diversas formas de sofrimento e de Amor.

Um turista japonês oferece uma espingarda a um marroquino que o ajudara numa caçada de férias magrebino.

Essa espingarda é trocada por bens de primeira necessidade em pleno deserto marroquino. Passa a estar na posse de duas crianças responsáveis por conduzir as cabras da família ao pasto. Servirá para matar os chacais que ameaçam as cabras e, por inerência, a subsistência familiar. Enquanto testam a arma, um dos irmãos acaba por atingir uma passageira de uma camioneta que passava próximo do local de pasto. Trata-se de uma turista americana. Ao mesmo tempo, a ama mexicana dos filhos da turista, confrontada com o casamento do seu filho, opta por levar as duas crianças consigo. Até ao México...

Entretanto, a filha adolescente do turista japonês que oferecera a espingarda ao camponês marroquino, confronta-se com dificuldades de comunicação que tornam a sua integração plena extremamente complexa. É surda-muda.

A notícia do ferimento da turista americana passa nas TV’s de todo o mundo, enquanto ela agoniza numa aldeia marroquina, aguardando a chegada de uma ambulância. A ama dos seus filhos chega ao México sem qualquer dificuldade. No regresso, é confrontada com acusações de rapto... A chapa com o nome do polícia que os recebe no regresso aos EUA tem inscrita a palavra “FREEMAN”...

As dificuldades da turista americana em Marrocos são também de origem política, mas de outro nível. Perante o ocorrido num país muçulmano, o governo americano apressa-se a classificar o disparo como um “acto terrorista”. A recusa do governo marroquino em pactuar com esta tese faz com que neguem a pretensão americana de enviar auxílio militar para a zona...

Babel é daqueles filmes em que, por mais que se revele da(s) história(s), não se retira a motivação de o ver. Não há dúvida de que há coisas que vale mesmo a pena ver e viver...

Evocação

"O que separa a evocação da recordação é que a recordação não tem alma."
Vergílio Ferreira - Pensar, 328

(Fevereiro de 1992 a Junho de 1993)


Porque somos um pouco de tudo o que (nos) fomos fazendo.

Valha-me Deus

Como é que esta sujeita consegue transformar um debate (pra ai o 14º) sobre o estado da justiça, num debate sobre as custas judiciais aplicáveis a um artifício jurídico (ainda que constitucionalmente salvaguardado) assinado por 10000 caramelos, numa intenção clara de pressionar os tribunais através da comunicação social.
Assim como é que eu posso ir de férias??? Não consigo...

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Grande negócio

Os economistas do sistema dizem “Ainda bem que assim é”. Eu prefiro questionar se será apenas isso.

Os bancos portugueses registaram (2006) lucros 30% superiores aos do ano anterior, que já haviam sido notícia por serem elevados.

Numa conjuntura de recessão económica, em que o PIB subiu pouco mais de 1%, será despropositado dizer que algo não está bem ?

É verdade que, numa economia capitalista, a saúde do sistema financeiro depende muito da rentabilidade dos sistemas bancários. Mas quando essa rentabilidade surge em contra-ciclo absoluto, não será caso para dizer que algo está mal ?

E o pior é que, enquanto cidadão, pouco mais posso fazer para além de escrever isto mesmo...

Balanço(s)

No Filtragens faz-se um apanhado dos diversos balanços que surgiram na blogoesfera. Uns mais contentes com os resultados do referendo de ontem, outros nem por isso. Mas é assim mesmo.
Além disso, tiveram a amabilidade de incluir uma frase minha, no conjunto de comentários da noite.

Nada, não senti nada


Nem o mais leve tremor, nem um copo que se entorna, ou um aperto no estômago.
Sou imune a sismos. É já o segundo no espaço de dois anos, que estatisticamente, eu deveria ter sentido... e nada.

domingo, fevereiro 11, 2007

Só mais uma coisa :)

Outra vez com o JPP (há noites assim...)


PATETICE

"Venceu a cultura da morte! 11 de Setembro, 11 de Março, 11 de Fevereiro. Datas manchadas pela morte!"

Esta frase num blogue do "não"

Fim de noite

Não há nada mais para dizer. 4 freguesias por apurar e a diferença entre SIM e o NÃO atinge 18,54% com abstenção de 56,39% (dados STAPE). No meu subúrbio as 4 freguesias votaram fortemente no SIM, sendo o resultado mais baixo 76%.
Todos os líderes nacionais já falaram e todos os movimentos já deram a sua opinião.
Nalguns canais umas pessoas insistem ainda em tentar saber o que acontece às mulheres que abortarem às 10 semanas e um dia ou como é que o SNS vai pagar os abortos. Já para não falar que se insiste na ideia que todos os médicos vão invocar objecção de consciência.
O melhor é a senhora psiquiatra que diz que uma ideologia prejudicou a existência de uma educação sexual séria (a séria deve ser a tal casta...).
Enfim… Eles lá saberão se a demagogia continua a fazer sentido.
O importante agora é legislar quanto antes, de acordo com o interesse dos portugueses manifestado através do voto, e aproveitar para lançar um pacote legislativo que aborde definitivamente e com coragem, o planeamento familiar e a educação sexual, sem tabús.
Esta questão fica arrumada. Avancemos para outras provavelmente mais importantes para o país, com a certeza que os portugueses se tornaram mais liberais do ponto social.
Resta saber o que vamos fazer com o referendo, porque nenhum país normal (à excepção da Dinamarca...) tem 3 referendos em menos de uma década, e todos eles sem qualquer interesse para os eleitores... Mas isso fica para amanhã...

A idiota da noite

A noite não podia acabar sem uma idiota. Esta Galriça está prestes a pôr a mão na anca e a atirar-se aos cabelos do ministro da saúde. Para a senhora os abstencionistas podem perfeitamente ser apoiantes do NÃO, até porque Francisco Louça disse que os que se abstivessem estariam a votar NÃO. Já para não falar no perigo das abortistas espanholas que vêm ai para dar cabo das mulheres portuguesas. É uma espécie de ocupação espanhola porque não deixarão que nasçam mais crianças portuguesas.
É uma senhora a acompanhar pelo SIS, pode facilmente tornar-se uma daquelas psicóticas que ataca clínicas de aborto.

Dados às 21:15

Alguns dados paralelos:

Em Lisboa o SIM vence com 73% dos votos apurados
Em Beja o SIM vence com 83% dos votos apurados.

O NÃO vence em 7 dos 8 distritos do Norte. Apenas se safa o Porto. O NÃO nunca chega a ultrapassar os 62% em Vila Real.

No total nacional o NÃO consegue o seu maior resultado nos Açores com 69%

Igual a si próprio

Sócrates está invariavelmente contente apesar do aparente discurso de estado. Caso tivesse perdido seria a terceira eleição seguida em que se tinha empenhado pessoalmente que não teria o resultado previsto.
De qualquer forma sem ambiguidades de acordo com o que já, e bem, tinha enunciado durante a campanha.
Como de costume direcções claras sobre o que vai acontecer daqui para a frente. Não há margem para dúvidas que a lei que vai passar vai ser a que for apresentada pela bancada socialista. Ainda vamos ver o Bloco e o PCP a absterem-se.
Neste assunto também há best practices… já enjoa...

Amostra revista

Resultados revistos com dados oficiais do apuramento das freguesias, pela Eurosondagem na SIC
SIM - 60, 1% - 61,9%
NÃO - 38,1% - 39,9%
Abstenção 55,9%

Estou com o JPP

Anda por aí muito "mau ganhar" e muito "mau perder"

Salvar a face

Marcelo tenta sem sucesso salvar a face. Andou a tentar fazê-lo nos últimos dias de campanha e agora tenta colocar-se no papel distante de comentador apostando numa maior diferença entre o SIM e o NÃO.
Como de costume há sempre alguém a tentar explicar o inexplicável. Os pobrezinhos do NÃO não tinham uma máquina partidária por trás e por isso não puderam esclarecer os portugueses. E que pobrezinhos que eles eram…

PCP

Digamos o que quisermos, mas esta vitória pertence mais ao PCP do que a quem quer que seja. Têm sido os comunistas ao longo de décadas quem, sem ambiguidades sempre defendeu o fim da criminalização das mulheres.

Palha

Também gostava de ver se o NÃO tivesse ganho se os que o defenderam iam pedir que os milhares de portugueses que votaram SIM fossem respeitados. Por estas e por outras é que ninguém se interessa por isto.

Palha, nada mais do que palha na Lapa. Afinal ninguém perdeu por aquelas bandas.

No berloque

Louçã no seu estilo habitual a cair um pouco mais para o conciliador. Esta dos católicos era desnecessária, mas Louçã já é conhecido por meter a foice em seara alheia.
Ainda assim a mais abrangente declaração da noite até aqui. Salienta a necessidade de se unirem as forças que defenderam o SIM para passar a lei com uma grande maioria parlamentar e preconiza um sistema próximo do alemão em que a mulher tem um prazo de vários dias para pensar se realmente pretende abortar após a primeira consulta.

TPC

O referendo já não permitia a entrada em vigor a partir de amanhã de qualquer lei. Não vinculativo muito pior. Por isso começa amanhã outro debate. Sobre o alcance da nova lei e de que forma ela se poderá articular com o SNS e contribuir para o fim do estigma social. Espero que os deputados tenham feito o trabalho de casa.

Vitimas da noite

Que reacção pode ter o PSD? Afinal tinha uma posição? É que o PSD parece ter de esclarecer aos portugueses porque razão o seu líder mentiu dizendo que o seu partido não tinha posição, mas depois os seus tempos de antena foram claramente utilizados para fazer campanha pelo Não.
São mentiras que têm de ser esclarecidas até porque Marques Mendes perdeu, porque se empenhou pessoalmente apesar de hoje quando falar pretender passar a ideia que não esteve envolvido.
Disparates vêm como naturalmente do CDS-PP. Nem os movimentos do não falaram da violência sobre as mães e sobre as crianças. A demagogia continua com o discurso dos impostos… e da pequena política mesquinha e sem interesse.
Mais um que deve achar que este país está cheio de comunistas e que por isso pode, tal como o outro, ir embora de volta para Bruxelas.

É bonito

Gosto particularmente desta parte da política em que sempre que se perde toda a gente aplaude imenso, tal como nos que ganham. É bonito e é certamente algo que nos permite garantir a absoluta normalidade da nossa democracia, como dizia o Sampaio há cerca de um ano, sem tragédias como dizia Soares mais recentemente.

SIM sem surpresa

Não há surpresas ao contrário de 1998. O SIM ganha e o referendo não fica morto mas bastante ensanguentado. Conhecendo bem a classe politica portuguesa esta tendência plebiscitária não voltará a ocorrer.
Ainda assim, menos abstenção e uma expressiva diferença de votos entre os dois lados o que pode evitar pressões para alteração da lei no futuro.

Picar o ponto

Mais uma vez fui picar o ponto à democracia... Desta vez mais tarde do que é costume mas ainda assim muito a tempo. O tempo é que não está famoso mas pelo menos aqui não está a cair nenhuma chuva diluviana como se previa. Embora já haja informações que abstenção vai ser elevada, aqui no Cacém o ambiente é semelhante ao das restantes eleições e não me parece que muita gente tenha ficado em casa. Logo saberemos.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Ponto final

E pronto, acaba hoje a campanha para a despenalização da IVG. O que for dito até à meia noite e os bitates que se disserem amanhã já não vão trazer nada de novo aos argumentos do dois lados.
Entra o período de reflexão e os portugueses podem tomar a decisão pessoal do seu voto no domingo.
Aqui pelo Suburbano acabámos por nos envolver mais do que estávamos à espera mas os argumentos por vezes demagogos levam uma pessoa a perder a cabeça…
Ainda assim fizemos um bom trabalho. 36 posts sobre este assunto em pouco mais de um mês, deram o seu modesto contributo para o esclarecimento nesta campanha. Da nossa parte julgo que valeu a pena.
Como dizia o pouremuz aqui mais em baixo, venham mais cinco que nós estamos preparados para mais.
Agora só no Domingo para conclusões finais e balanço do referendo.
Ainda assim fica o já natural apelo ao voto que é das poucas coisas que nos pertence numa democracia, e por isso é melhor utilizar sempre que possível.

Sim

Ao referendo, como à liberdade, à democracia, à tolerância e ao Estado de direito, temas que sem surpresa acabaram por também aparecer no debate desta campanha...

... respondo convictamente SIM!

O rei vai nu!!!

(ainda a semana passada a discutirmos isto.... só para marcar posição...)

Breviário terminológico da mais fina política, praticada nas belas cortes de corredores de veludo:

Aeroportos de Santa Maria e das Lajes, nos Açores = aeroportos portugueses

Profunda preocupação do Parlamento Europeu sobre as 91 escalas realizadas por aviões da CIA em Portugal = preocupação do Parlamento Europeu sobre as 91 escalas realizadas por aviões da CIA em Portugal

As autoridades portuguesas não terem podido ou não terem querido responder a todas as perguntas feitas pela comissão parlamentar = as autoridades portuguesas não terem podido responder a todas as perguntas feitas pela comissão parlamentar

(do jornal Público)

Por estas e por outras é que eu sou favorável a que, do meio da multidão e do ruído dos cortejos de fantasia, haja sempre um qualquer plebeu que lance o célebre grito...

Venham mais cinco

Termina daqui por umas horas. Ainda bem. Apesar de tudo, terá sido suficiente para que se percebesse que o SIM combate o aborto clandestino e a infâmia dos julgamentos, enquanto que o NÃO perdeu coerência por não assumir a discordância relativamente às excepções previstas na Lei vigente.

Se as sondagens de hoje baterem certo, o SIM vencerá. Ainda bem. Mas devo confessar que já estou farto deste debate. Tanto quanto me sinto com vontade para os próximos.
Venham eles!

O meu SIM

Não é segredo nenhum. Eu votarei SIM no próximo domingo.
Não me agrada, nem pode agradar a ninguém de boa fé que o aborto tenha de continuar a existir, e por isso mesmo não posso imaginar que todas as mulheres que o praticam o fazem de má fé.
Em consciência preferiria uma sociedade em que o aborto não fosse necessário. Em que ter filhos não condicionasse as condições de vida de uma família ou de uma mulher e principalmente que não hipotecasse o futuro dos filhos que pudessem vir a nascer.
Acredito que haverá mulheres que preferem não ter filhos, ainda que estas condicionantes anteriores não se verifiquem. Mas legal ou ilegalmente, essas mulheres encontrariam sempre forma de interromper as suas gravidezes e não podemos querer que uma sociedade se envolva num processo estritamente pessoal, porque se perderia no processo e acabaria por ser derrotada na ineficácia.
No fundo lamento a inevitável existência do aborto, mas sou um fervoroso adepto do fim da hipocrisia que leva uma sociedade inteira a reconhecer a existência de um problema que afecta pessoas que todos nós conhecemos, mas que por existirem pessoas dotadas de razões totalmente obscuras, preferem continuar a condicionar as consciências privadas e a alimentar o que este pais tem de mais miserável e nada fazer. Estas ladainhas insuportáveis nas bocas de toda a gente. O corte e costura, o boato, as que são putas e as que são sérias. As que vão para a cama com todos e todas as que não se lembrava que podiam engravidar quando os fizeram e que por isso são motivo de galhofa nas paragens de autocarro e cabeleireiros onde tanta e tanta gente arrasta os seus cús grandes, evitando divulgar os seus telhados de vidro.
O Estado não pode pactuar com a humilhação pública das mulheres que resolvem abortar, até porque sabe que não irá jamais conseguir aplicar a lei existente ou qualquer outra que aborde esta temática.
Não posso conscientemente dar um valor opcional à vida de uma mãe ou de um embrião. Ainda que todos possamos reconhecer que o embrião é de facto o inicio da vida humana e que é realmente um momento maravilhoso para a maioria das pessoas, no século em que vivemos não podemos aceitar que o ser humano é igualmente constitutivo desde o momento da concepção até à sua morte, simplesmente porque carrega o ADN de dois seres humanos e que por cima desse principio quase inteiramente espiritual, se empurrem mulheres para a morte em que o resultado acaba por ser duplamente prejudicial, independentemente da posição que defendermos neste referendo.
É necessário fazer sair as mulheres da situação de clandestinidade em que se encontram, por forma a terminar com o estigma social, dar-lhes força para se protegerem dos seus companheiros abusivos e aproveitar a embalagem para ajudar a planear a família e a desejar os filhos e não insistir na roleta russa da doutrina católica da reprodução.

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

16% (!!!!!)

A ideia que o SIM possui neste momento um avanço significativo em relação ás intenções de voto no NÃO, prejudica mais do que ajuda. Há 8 anos calculo que a distancia não seria particularmente diferente e ainda assim a dormência que com frequência lidamos com as eleições acabou por fazer ganhar o não.
Quanto maior for a diferença, maior a propensão das pessoas a não se preocuparem tanto com a votação.
Nessa altura os fenómenos meteorológicos passam a desempenhar um papel relevante, até porque o excesso de chuva também pode ser desmotivador, mas principalmente preocupante é a possibilidade de os novos eleitores desde o referendo de 98 poderem afastar-se perante um previsível bom resultado.
Não deixa de ser irónico (não, não é uma teoria de conspiração) que a sondagem que dá maior vantagem ao SIM seja precisamente a do Instituto de Sondagens da Universidade Católica.
O fundamental é ir lá.

Perguntas (des)apaixonadas

Quando nos apaixonamos e optamos por abrandar, o que estamos a fazer ?

Se o fazemos por não estarmos certos do que estamos a viver e por recear precipitações, não estaremos a recusar a própria paixão ?

É que a paixão é, por definição, algo de limitado no tempo e que pode, ou não, resultar num sentimento distinto ou num desfecho frequentemente doloroso. Portanto, se recuamos perante a paixão, não estaremos a recusar ver o “jogo” até ao fim, com receio do resultado ? Não é preciso jogar no Euromilhões para haver hipóteses de acertar na chave premiada ?

Afinal de contas, o que é que esperamos descobrir durante a fase de abrandamento ? Será possível chegarmos à resposta que pretendemos sobre onde iremos parar, sem passar pelas várias fases da Paixão ?

Para mim, a questão é simples e, ainda mais importante, assim deve ser encarada. Há questões para as quais não podemos aspirar saber responder. E isso não deve ser incómodo ou restrição a viver o que tiver de ser vivido. Pelo contrário. Ou não é a incerteza um dos ingredientes que fazem da vivência das paixões algo de extraordinário ?

Procurar controlar, restringir, antecipar ou programar o que se sente, não é meio caminho andado para deixarmos de nos sentir vivos ?

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

"Essa é que é essa..."

Ainda mais disparatado que comparar o aborto à utilização de telemóveis, só fazer passar a ideia que "há políticos a encherem-se com o aborto clandestino... Essa é que é essa..." Foi ainda há pouco aqui no comboio, este grande veículo do interesse que os portugueses têm sobre a maioria dos actos eleitorais...

Um governo de olhos em bico

Confesso não entender bem este interesse que suscitam as viagens ao estrangeiro dos nossos governantes. Lembro-me que em tempos idos isto não tinha interesse nenhum, e recordo-me bem de não nutrir por estes eventos particular interesse.
Compreendo este misto de admiração e surpresa com que lidamos com os séquitos de gente que vai nas comitivas ao estrangeiro, porque acredito que reservamos para nós a discreta esperança que acabem por ficar lá e não voltar.
Mesmo assim e apesar das minhas mais baixas expectativas sobre as mais recentes viagens à Índia e à China, mas não posso deixar de reconhecer o gigantesco desastre que foi a viagem do Primeiro-ministro ao Império do Meio.
Não é concebível que este governo, por mais interessante que se revelem os investimentos da China e na China, continue a colocar-se em bicos de pés, como se fossemos uma verdadeira potência europeia.
Portugal resiste, infelizmente, à inevitabilidade de reconhecer a sua real dimensão e acha mesmo que alguém se importa por esse mundo fora com a herança histórica do Império Português do passado, ou como se essa herança alguma vez se fosse sobrepor ao valor do dinheiro actual.
Fazer comparações miserabilistas com o nosso nível de vida, numa vã esperança de atrair os novos e valiosos dólares vermelhos, e passar o tempo a oferecer camisolas de um miúdo de 22 anos, impossível de replicar em série, que de alguma forma anestesia e amolece a mentalidade dos portugueses, é de longe o pior comportamento que os nossos governantes poderiam demonstrar no estrangeiro.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

Hortaliças de sobrevivência (no Dolo)

Pontos de vista sobre o referendo (3)

«De qualquer maneira, e apesar do alarido geral, a pergunta do referendo é limitada e concreta: quer, ou não quer, o eleitorado acabar com o aborto clandestino até às dez semanas de gravidez? Nada mais. O "não", sem defender o regime presente, alega que esta medida irá aumentar e "normalizar" o aborto. E, para evitar esse perigo, aceita que milhares de mulheres paguem um preço de sofrimento e de humilhação (a maioria infelizmente por ignorância e miséria). O "sim" prefere acabar com o mal que vê e pensar depois no mal que vier, se de facto vier. O referendo é um acto político, que se destina a mudar a sociedade (idealmente, para melhor) e não resolver um debate. Claro que, se o "sim" ganhar, o Estado, na prática, "oficializa" o aborto. Mas triste de quem espera do Estado uma fonte de legitimidade moral. Por mim não, espero. E voto "sim". »
Vasco Pulido Valente, Público 02.02.07 - via Hoje há conquilhas, amanhã não sabemos.

O Português é uma língua muito traiçoeira

Já tinha várias dúvidas sobre a postura do PSD e do seu líder neste referendo. Assisti há dias a um tempo de antena do PSD, confesso não ter tido possibilidade de ver mais, e fiquei um pouco baralhado com o conteúdo, para um partido que supostamente não tem posição oficial.
A meu ver era um tempo de antena do NÃO. Nessa altura fiquei sem saber se era assim que o PSD pretendia participar nesta campanha, mesmo que à revelia da sua posição inicial, ou se porventura a cada dia é apresentado um tempo de antena diferente, a fazer a apologia contrária àquela que eu vi, no mais estrito exercício do contraditório.
Agora fiquei esclarecido e percebi que nem eles se entendem...

What are we talking about...

... quando estamos a falar de interrupção voluntária da gravidez na Europa. Importa perceber que a interpretação da lei também desempenha um papel importante, e daí o verde comum a Portugal e Espanha.
Além disso a informação relativa a Portugal está incorrecta, pois em por cá as mulheres também incorrem em pena de prisão, tal como em Malta, apesar de neste país a lei ser ainda mais restritiva.
De qualquer forma serve como termo de comparação.

via: BBC News

Sem comentários

"Algumas abortam por negócio. Pode haver fila para a utilização de matérias fetais."
Júlio Castro Caldas (apoiante do Não)

Em família

Uma destas noites consegui convencer o meu Pai (o que per si é uma tarefa hercúlea, fazer o homem concordar com alguma coisa que eu diga), sobre duas questões fundamentais.
Ainda assim, chegámos a um acordo tácito. Ele não exprime publicamente a sua concordância comigo, mas ainda assim consegui convencê-lo da importação do referendo, sobre o qual ele tinha demonstrado total desinteresse, e também da relevância de votar SIM.
Hoje, para o meu pai de 62 anos não faz qualquer sentido o aborto clandestino, mas essencialmente a falta de respeito pelas mulheres.

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

A legitimidade legal

A ideia que na eventualidade do referendo não ser vinculativo e ainda assim o parlamento impulsionado pela sua maioria, optar por legislar sobre a interrupção voluntária da gravidez, criaria um qualquer “truque inadmissível” não faz qualquer sentido.
Luís Delgado, hoje no DN, esquece que o instrumento do referendo, ainda que vinculativo, não coloca imediatamente em prática uma lei que exista, mas que por motivo de referendo se encontre suspensa.
O referendo é um instrumento que apenas se considera vinculativo a partir dos 50% + 1, porque dessa forma o parlamento se obriga a legislar no sentido que a maioria dos portugueses consideraram validar e não ao contrário. Este instrumento não impede qualquer bancada parlamentar de apresentar os projectos de lei que muito bem entender na próxima legislatura.
Aqueles que me conhecem e que por aqui passam de vez em quando, sabem que já defendi aqui este referendo.
Dirão alguns que o anterior não foi vinculativo e que por isso o argumento da necessidade de instrumento de igual valor para a mesma legislação, não é relevante. Mas parece-me claramente que ainda que o anterior não tenha resultado numa votação expressiva de mais de 50% dos portugueses, resultaria numa imoralidade democrática para com todos os que voluntariamente se dirigiram às mesas de votos se este referendo não fosse realizado.
Aliás, é precisamente essa a razão da existência deste referendo, pois não é razoável que uma sociedade faça sobre a mesma matéria um referendo num prazo diminuto de oito anos. Se este acabar por ser vinculativo o problema estará definitivamente resolvido e ninguém perceberia que daqui a 5, 6 ou 8 anos se voltasse a referendar esta questão.
No fundo, esta é uma segunda oportunidade de os portugueses se expressarem a sério sobre este assunto e também uma segunda oportunidade para o referendo vingar como instrumento.
Assim, se ele não for vinculativo é porque o instrumento do referendo está ferido de morte e precisa de ser reavaliado, e nenhum parlamento pode ficar suspenso dos seus legítimos direitos, devido a um instrumento que após diversas aplicações acaba por nunca ter valor legal.
Essa é que é a questão que deve preocupar Luís Delgado, na medida em que outras questões que se podem seguir ao referendo ao aborto e que são consideradas por alguma direita como contrárias à moral e bons costumes, podem ser simplesmente legisladas no parlamento sem recurso ao referendo.
Não vejo qualquer conflito de interesses entre o direito a legislar do parlamento perante a falência de um instrumento legal. Estranho seria que sobre esta matéria se criasse um dogma quando a generalidade dos portugueses não lhe deram a importância necessária.
Aliás o que considerará Luís Delgado sobre as pretensas iniciativas legislativas de alguns movimentos do Não, que na eventualidade da sua vitória pretende despenalizar as mulheres recorrendo a uma aberração jurídica?
Se Luís Delgado estivesse correcto e o Não viesse mesmo a ganhar, o mesmo principio deveria aplicar-se, não devendo legislar-se contra a vontade expressa dos portugueses, ainda que não vinculativa, pois isso poderia ser interpretado como um “truque inadmissível”. Recordo aqui que o contrário da pergunta que os grupos parlamentares aprovaram (sim, apesar de não parecer) é os portugueses não concordarem com a despenalização das mulheres, e nessa altura, pode o Não garantir que a interpretação de voto foi no sentido da descriminalização das mulheres, mas no sentido da não liberalização até às dez semanas? Creio que não.

Médicos pela Escolha

domingo, fevereiro 04, 2007

Uff

O NÃO, para que não restasse qualquer dúvida resolveu esclarecer. “Queremos que nasçam crianças comunistas” E ainda bem que o esclareceram. Estávamos todos a ficar particularmente incomodados com a ideia de só passarem a nascer meninos com camisolas da Timberland e uma cabeleira farta milimetricamente despenteada e meninas louras já com a pele morena do sol ou do solário, com a mais recente colecção da Burberry.
Assim podemos não ter crianças com tanto estilo, mas se calhar até vão ter mais daquela coisa do livre arbítrio.

Por indisponibilidade do link em cima aqui fica um excerto da notícia:
«Crianças ao colo, crianças nos carrinhos de bebé, crianças a distribuir folhetos. A acção de rua da Plataforma Não Obrigada e do movimento Juntos pela Vida realizada ontem no Rossio tinha como objectivo "o contacto e o esclarecimento dos eleitores". Os promotores apostaram no acompanhamento dos mais novos nas ruas da baixa lisboeta, que no fim-de-semana estão cheias de transeuntes. Talvez por causa disso campanha mostrou-se animada.(...) Mas a insistência dos activistas também resultava em reacções mais críticas. Especialmente por envolverem crianças na campanha. Um homem mais idoso, que fora interpelado por uma jovem com aspecto de ser menor cortou a conversa de forma ríspida: "Respeito a tua opinião, mas não tens idade para me vires falar sobre esse assunto."
O empenho de quem distribuía folhetos levava-os a falar com todos. Até mesmo com os vendedores ambulantes. Quem recusava um folheto era questionado porque o fazia. Numa dessas ocasiões, o debate resultou demorado e civilizado. "A minha mãe é técnica superior de educação e todos os dia retira crianças de famílias", afirmava um vendedor. "Isso não é razão para defender que devia ter havido um aborto", responderam-lhe. "Mas olha que eu não acho nada positivo que andem com as crianças a distribuir folhetos", retorquiu o vendedor. O debate terminou com uma das participantes da arruada a colocar o folheto ao lado do vendedor, dizendo: "Eu quero que nasçam crianças comunistas".»
04.02.2007, Público, p. 14 - via Sim no Referendo

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Estrebucha e insiste

Impressionante. Mais um dia e mais uns quantos disparates. Se eu fosse a Maya previa que da China vai voltar a lei da rolha... Manuel Pinho conseguiu o pleno. Hoje foi criticado por toda a gente de todos os quadrantes políticos, incluindo vários elementos do PS, além do Manuel Alegre. Empresários e sindicatos além da esmagadora maioria dos comentadores também referiram o assunto. Não contente Manuel Pinho cria um novo cliché para este século. Já havia as forças de bloqueio, agora há as forças de atraso... Perfeito...

quinta-feira, fevereiro 01, 2007

Do aborto aos grandes portugueses

Com a preciosa colaboração de Carlos Tê e Rui Veloso, o Suburbano revela em primeira mão o currículo de algumas elites dinamizadoras da campanha do Não, arrogadas directoras de consciência da nação:

“Os teus directores são esses pipis
Grandes cultores de frases de arromba
Fizeram mestrados em Londres, Paris,
E a escola primária em Santa Comba”...
(“Top dos tops”, em “A espuma das canções”)

Há também indícios que pelo meio tenham passado pelo Colégio S. João de Brito, pela Católica e afins...

Enfim, grande português foi sem dúvida Salazar. Esta grandeza não se mede apenas pelo bem ou o mal praticados (até porque era difícil contabilizar algo do primeiro, nesta sinistra figura...), mas também pela influência exercida no rumo do país. E o sagaz ditador soube valer-se de uma certa menoridade cívica, de algum atavismo nacional, para perpetuar o seu férreo regime e deixar marcas duradouras em muitas mentalidades. Ou alguém duvida que é na sua sombra protectora, na sua mão amiga, que se apoiam ainda alguns destes directores de consciência, que se proclamam “pela vida”?