sexta-feira, maio 27, 2005

O Monstro II

Afinal a tanga continua... apesar da insistência em dizer que não entramos novamente no discurso da tanga, o governo não deixou de ceder à dramatização das contas públicas por forma a melhor poder lançar medidas impopulares, mas necessárias.

Muito já se disse sobre as medidas do governo, e a minha impossibilidade de colocar novos posts dilui a análise possivel dessas medidas. No entanto, julgo que todas as medidas que se revelarem coerentes com as necessidades de justiça social são úteis ao país.

É pena que se tenha de nivelar por baixo, mas temos de uma vez por todas de nos convencer que os que neste momento já são ricos vão continuar a sê-lo e nem sequer podem ser condenados por isso. Afinal ficou já claro que bem ou mal são eles que puxam a economia para a frente e não o estado, afinal foi este que nos arrastou para a crise e não os privados.

Fora do "grande capital" estamos todos nós e convêm que para estes as condições sejam iguais e previsiveis.

Não é possivel continuar a manter por mais tempo o custo elevado de uma administração pública em que trabalham 600.000 pessoas em oposição a 4 milhões que trabalham no sector privado.

Não é possivel continuarmos a manter 6, 7 ou 8 sistemas de saúde diferentes até porque a maioria dos portugueses não tem acesso a eles e tem de recorrer às habituais filas da "caixa"

Não é possivel manter uma economia paralela em que 28% do PIB passa ao lado dos cofres do estado sem factura.

Não é possivel que haja regras diferentes para as idades de reforma entre sector público e sector privado quando no primeiro a maioria das profissões nem sequer são de desgaste rápido.

Não é possivel continuarmos a manter o corporativismo que se começa a manifestar nas nossas ruas quando a maioria das medidas anunciadas só terá impacto ao longo de um periodo de 10 a 15 anos.

Ainda assim é importante mantermo-nos atentos aos sinais menos positivos que vão aparecendo por aí.... não é normal a demissão de um ministro das finanças de um governo com maioria absoluta 4 meses depois de ter começado a governar e não é normal nomear-se antigos ministros para empresas publicas (embora sejam cargos politicos).

quarta-feira, maio 25, 2005

O Monstro I

Sou um rapazinho novo mas recordo-me bem que a actual paranóia do défice não existia aqui à alguns anos até porque era fundamental a um país em vias de desenvolvimento a possibilidade de recorrer à divida externa para se desenvolver.

Assim foi nos anos da maioria absoluta cavaquista em que a palavra de ordem era não nos arriscarmos a um aumento da inflação, mas o pobre do défice estava esquecido nessa altura.

Agora a palavra de ordem é o défice e o efeito que ele tem na economia.

Isto trocado por miudos (num registo tipo Bagão Felix) quer dizer que gastamos mais do que aquilo que recebemos.

Esta realidade é uma constatação de um facto lógico para a maioria das familias portuguesas. Não podemos esquecer que a estagnação do mercado do arrendamento nos obrigou à contingência de irmos todos a correr comprar casa seja para pagar em 30, 40 ou 50 anos. E não podemos tb esquecer que já fomos os orgulhosos detentores desse recorde de desenvolvimento, que era o maior número de videos per capita da Europa....

O nosso problema actual é que quando podiamos ter um défice muito jeitoso, que permitia a injecção de grandes volumes de capital na economia, não fizemos nada para prevenir que quando chegasse o tempo das vacas magras as coisas não fossem dificeis. E as vacas magras acabaram por chegar....

Palvras sábias as do nosso Presidente, ontem no japão, em que disse que este problema estrutural não era um problema novo e era aliás uma caracteristica histórica dos portugueses.

Recordemo-nos todos que em diversos momentos da nossa historia estivemos perto da falência e que pelo menos numa dessas ocasiões houve alguns que acharam melhor ceder a independência do país a estrangeiros porque isso abria boas oportunidades de negócio....

Depois do discurso da tanga (discurso percurssor da nossa desgraça e do inicio da recessão) estamos de novo numa situação de "choque" e "estupefacção".

Vamos ver esta tarde se as milhares de sugestões dos economistas, nos milhares de debates já realizados nos canais de tv sobre este assunto, encontraram eco na maioria absoluta do PS.

Será que é desta que se fará alguma coisa ao monstro que consome 60% do que nós produzimos???

A ver vamos....

terça-feira, maio 24, 2005

Hable con ella


Confesso-me um ferveroso adepto da legião de ferverosos adeptos dos filmes de almodovar.

Tenho consciência que isso se tornou um daqueles clichés da moda logo a seguir à nomeação para o óscar para melhor filme estrangeiro de "Mujeres al borde de un ataque de nervios", no entanto isso não me preocupa até porque acompanho os filmes do rapaz desde "Entre Tenieblas" - Negros Hábitos - entre nós.

Como a maioria das coisas na vida que valem mesmo a pena, ou se ama ou se odeia Almodovar. No meu caso concreto fascina-me a cenografia por vezes aberrante e os interessantes caminhos do amor sejam quais forem as formas que ele assume.

Isto tudo para dizer que a revista "Time" acaba de considerar o filme "Hable con Ella" como o melhor da década e o coloca na lista dos 100 melhores de sempre.

Bons filmes.

segunda-feira, maio 23, 2005

O jejum...

Estou a ser pressionado (ver comentários de posts anteriores) para dizer alguma coisa sobre a festa do Glorioso....

Sabem os meus amigos que provavelmente não terei palavras amáveis para com o Benfica, tendo em conta que estive a ouvir buzinas pelo menos até às três da manhã....

De qualquer forma parabéns ao Benfica, temos de ter bom perder e como sportinguista passei uma fase dificil da minha vida durante 18 anos e por isso compreendo a festa encarnada deste ano.

11 anos depois, o Glorioso, que alguns acham que se confunde com a própria nacionalidade... (afinal não é só o Porto que é uma naçon...) ganha o campeonato.

Esta Superliga esteve longe de ser a melhor dos ultimos anos em grande parte porque o Porto esteve longe do seu melhor dos ultimos anos... Mas como se costuma dizer a bola é redonda e quem marca golos de forma mais regular acaba por merecer a vitória.

E este ano com altos e baixos foi o Benfica que se demonstrou mais regular e por isso ganhou.

Pena é a história do costume... porrada nos aliados e alarvidade qb na luz....

sexta-feira, maio 13, 2005

Plante-se beterraba...

Isto de se ser governante e não se ter margem de manobra para aprovar os projectos dos amigos é capaz de ser profundamente prejudicial ao interesse que suscita a vida publica para a maior parte dos portugueses.

Na realidade não entra novo sangue na politica porque os jornalistas insistem que quando se é ministro se tem de esquecer os amigos.

Naturalmente que esta aberrante situação não faculta o desenvolvimento de relações pessoais e permite que o cargo de ministro seja muito mais solítário do que ao estado de direito convêm.

Agora que está o mal feito (esses malvados jornalistas...) vou pela opinião do Ricardo Costa da Sic Noticias.

"Como não se podem fazer hotéis, plante-se beterraba"

quarta-feira, maio 11, 2005

A ganza diplomática

Legalizem quanto antes as drogas leves e se não for pedir muito já agora as duras tb...

Afinal estamos num país em que se movimentam vários orgão de soberania para libertar num país muçulmano um jovem cineasta português que como tantos artistas anti-globalização da nossa praça, continua (sem perceber) a manter a arrogante caracteristica dos ocidentais de não respeitar as tradições e a cultura de ninguém.

Lindo exemplo para a diplomacia portuguesa... depois do sucesso dos antigos acordos de paz em Angola, do caso de Timor, entre outros, nada melhor do que juntar a grande pressão internacional e invocar amizades pessoais dos nossos embaixadores com ministros dos negocios estrangeiros da região para retirar da cadeia um jovem que consome estupefacientes.

Compreendo o drama de Ivo Ferreira... não deve ser fácil estar num país como o Dubai... mas ninguém o obrigou a ir para lá. Acho no entanto estranho o alheamento que alguns de nós continuam a ter do mundo que os rodeia esperando sempre que alguém resolva os problemas por nós... nomeadamente o governo.

É no minímo extraordinário que o moço chegue ao aeroporto de Lisboa com criticas ao MNE português depois de tudo terem feito para o libertar de um crime que confessou.

O que Ivo Ferreira pretende é que o Governo Português faculte informação dos países onde os portugueses se podem drogar à vontade.

Não fosse o alheamento do Ivo da realidade (tão caracteristico em artistas para quem tudo o resto que nós os comuns mortais fazemos é um bocado trivial e irrelevante...) e teria preparado devidamente a sua viagem com a consulta na internet à página do MNE - Informação aos viajantes, onde indica claramente e há bastante tempo que o "consumo de estupefacientes é fortemente punido" no Dubai.

terça-feira, maio 10, 2005

Praça Vermelha


Mais em jeito de pergunta do que em jeito de opinião....

Afinal o que significa a impressionante demonstração de força dos Russos na praça vermelha nas comemorações do 60º aniversário do fim da guerra?

Estão mesmo saudosistas do esplendor "vermelho" do antigamente ou foi tudo apenas teatro???

terça-feira, maio 03, 2005

Grande Maçã


Nova Iorque é grande. Mas mesmo GRANDE....

O primeiro impacto quando se chega a Manhattan é olhar para o céu. Quer dizer, não será bem para o céu, é mais para os arranha-céus enormes que nos rodeiam. Lembro-me que no primeiro dia havia algum nevoeiro, o que fazia com que o topo de alguns dos edifícios ficasse acima das nuvens... Para quem está habituado à relativa baixa altura dos prédios em Lisboa, há de facto um grande diferença, e embora a certa altura possa parecer que todos os prédios nova-iorquinos são todos iguais, não deixa de ser impressionante.

Falando em altura, devo dizer que um dos meus sonhos era estar no cimo do Empire State Building, algo que consegui depois de passar por filas monstruosas de turistas que deviam ter o mesmo sonho que eu. Calculo que depois do 11 de Setembro o Empire State seja o edifício mais alto de Nova Iorque, pois é impossível andar pelas avenidas sem dar de caras com o raio do prédio, sempre à espreita, quase que a pedir para lhe tirarem mais e mais e mais fotografias (assim se explica como rapidamente se tiram umas 100 ou 200 fotos...). Subimos a uma altura de 86 andares (não sei quantos metros isso dá, só sei que é muito...), e depois de nos habituarmos aos fortes ventos que parecem querer-nos lá em baixo, onde é o nosso lugar, é de tirar a respiração, sentimo-nos de facto no topo do mundo (que me perdoem as pessoas que já foram até ao Evereste e afins...).

Falando em 11 de Setembro, também estivemos no Ground Zero, e é uma sensação estranha estar num sítio onde milhares de pessoas morreram e num espaço que parece ao mesmo tempo tão vasto e tão pequeno. A cidade ainda vive afectada por este momento trágico da nossa história recente, e não são poucos os restaurantes, museus, lojas de souvenirs, e outros que tais, com algum tipo de “artefacto” que recorda essa fatídica data. Para um português é estranho mas compreende-se a genuína dor que estas pessoas sentem. Como alguém dizia no outro dia, a grande maioria das pessoas tinha família, amigos ou amigos de amigos, que ficaram no meio dos escombros do World Trade Center. E, apesar de tudo, estes sentimentos de dor representados pelos tais “artefactos”, sempre são melhores do que o sentimento ultra-nacionalista que atravessa a cidade. Basta olhar para o sinal mais óbvio, as bandeiras. Bandeiras, bandeiras e mais bandeiras. Sejam meia dúzia delas a decorar a fachada de um MacDonald’s, ou uma só enorme a tapar a fachada da Bolsa de Nova Iorque, em Wall Street, elas estão em todo o lado. Se a mim já me parece esquisito em Portugal ainda haverem bandeiras nas janelas da altura do Euro 2004, podem imaginar como me senti ao andar pelas ruas da Grande Maçã...

A cidade não esqueceu o 11 de Setembro, como é normal, e a prova disso é o enorme dispositivo de segurança que encontramos em muitos dos “landmarks”. Locais onde me recordo que tenhamos passado por detectores de metais: Museu de História Natural, Museu Guggenheim, Empire State Building, Ferry para a Estátua da Liberdade, Nações Unidas, e sei lá mais o quê. Como dizia um dos meus colegas de viagem, “se as nossas mochilas fossem sensíveis aos raios X, já estavam cheias de tumores”. A ver se consigo que percebam a minha opinião sobre esta “paranóia”: compreendo em absoluto o porquê de tudo isto e não me chateia minimamente ter sido quase revistado em todos estes sítios (lembro-me de uma outra ocasião em que tive de tirar o cinto e também me recordo de ver algumas pessoas a tirar os sapatos, tal como o tivemos que fazer no aeroporto de Newark). O que realmente me deixou chateado é a forma como as autoridades americanas põem na prática estes sistemas de segurança. Vou apenas pegar no exemplo que é o corolário do que acabei de escrever, que foi a viagem de ferry até à ilha onde se encontra a Estátua da Liberdade. Logo no local onde estamos a comprar os bilhetes, vemos enormes placas a informar os turistas que não podem levar mochilas para o ferry (algo que acaba por não acontecer) e que não podemos levar a bordo canivetes, isqueiros, armas brancas, bombas, “pepper sprays”.... Espera lá, “bombas”??? Será que esta gente acredita mesmo que, se eu levasse uma bomba para a estátua, ia declará-la antes de embarcar? (a propósito, isto cai dentro da categoria de perguntas que é preciso responder antes de entrar no país, do género “é um terrorista?”, ou “esteve em contacto com gado recentemente?”, ou mesmo “caso tenha nascido antes de 1900 e troca o passo, esteve envolvido em actividades nazis durante a II Guerra Mundial?”). Em seguida vamos para a fila, mas ainda não é a fila para entrar no barco, mas sim a fila enorme para entrar numa tenda onde iremos ser revistados. E que melhor impressão logo à partida do que ter 2 jovens com aparência de terem acabado de vir do Bronx a cortarem os bilhetes antes de entrarmos na tenda? É de facto a melhor forma de dar alguma credibilidade à preocupação com a segurança (estava a ser irónico, caso não tenham percebido). Depois entramos numa tenda que poderia perfeitamente ser de circo, tendo em atenção a atitude dos agentes da autoridade/seguranças que lá se encontram. A antipatia é geral, os berros dados aos turistas (estrangeiros ou americanos, é indiferente) também, e a falta de respeito é de bradar aos céus. Bem sei que Portugal nestas coisas ainda não é grande exemplo a seguir, mas estes jovens abusam. Nunca me tinha sentido tanto como um animal no caminho para o matadouro (tentei inclusive fazer alguns ruídos animalescos para ver se eles percebiam... sem efeito). Ok, pensar-se-ia que aquela gente está ali para cumprir normas de segurança e não para ser simpática, é um ponto de vista perfeitamente defensável (Então experimentem ir à visita guiada das Nações Unidas, onde também passam por detectores de metais, mas os seguranças mostram empatia com os turistas e mostram que de facto é um inconveniente ter que passar por aquelas coisas... será que é porque nas Nações Unidas estamos a pisar terreno não americano?). Mas então que dizer da quantidade de gente que iam deixando entrar no ferry? Eu que estava numa das “varandas” só via gente e mais gente a entrar e só me perguntava se estavam à espera que o barco afundasse para dizerem que já estava cheio. Isto para não falar na quantidade de crianças que se iam debruçando nas amuradas, que não tinham protecção, a ver se conseguiam cair no rio. Mais tarde, já na ilha, iríamos ver um destes barcos a chegar, e mais pareceria uma imagem de um país de terceiro mundo, onde uma multidão de refugiados tentava fugir de uma qualquer guerra... Estranho conceito de segurança tem o departamento de Homeland Security dos Estados Unidos...

Ainda no assunto da simpatia (ou falta dela), tenho uma outra opinião que gostaria de partilhar convosco. Não sei em que empresa vocês trabalham, mas na minha e em muitas de amigos meus, semestre sim semestre não, vejo-me perante mais uma acção de formação de atendimento ao cliente, ou técnicas motivacionais, ou comportamento do consumidor, e o que acontece normalmente é que estas técnicas de atendimento são provenientes dos States. De modo que começamos a imaginar que o atendimento lá seja de 5 estrelas. Bom, o que me aconteceu a mim e às pessoas com quem viajei foi que o atendimento tomou 2 caminhos possíveis: por um lado, um atendimento super-eficiente nalgumas lojas, mas quase aos berros com os clientes, e, por outro lado um atendimento antipático, indiferente, do género “odeio o meu trabalho, por isso não tenho que te tratar bem enquanto cliente”. Verdade seja dita que, ao contrário de Barcelona, não fui atendido por alguém que estava a fumar atrás do balcão, mas mesmo dentro dessa escala as coisas não foram muito boas. Excepções há sempre, mas se vos disser que os sítios onde fomos bem atendidos foram um “diner” propriedade de gregos (que até se meteram connosco por causa do Euro, mas sempre de uma forma afável) e um restaurante italiano onde o jovem que estava a atender eram um bonacheirão tipicamente latino, acho que começamos a ver um padrão, certo?

Bom, não comecem a pensar que tudo isto faz com que uma visita à Grande Maçã não valha a pena. Não, não se trata disso, apenas há que partir de Portugal com uma razoável dose de paciência. Porque de facto há coisas bem bonitas em Nova Iorque. O Museu de História Natural, por exemplo, onde uma pessoa passa horas e horas extasiado no meio de esqueletos de dinossauro, culturas de todo o mundo, ou frente a frente com uma reprodução em tamanho original de uma baleia azul. Lindo, lindo, lindo... E as horas passam a correr... Se vos disser que entrámos por volta das 10 e meia, e saímos já a passar da 2 da tarde, não andarei muito longe da verdade. Também o Museu de Arte Moderna (MoMA, para os amigos) me deixou de boca aberta. No mesmo espaço temos exposições a puxar para o pós-pós-moderno (para quem tem mais abertura de espírito), exposições de volta do design dos nossos dias, e pinturas originais de “monstros” com Andy Warhol, Pablo Picasso, Diego Rivera, Salvador Dali ou Van Gogh, só para mencionar alguns. Acho que todos nós “levámos” connosco alguma coisa que nos agradou no MoMA.

E que dizer do Central Park? Mesmo no centro de Nova Iorque têm um sítio onde podemos fazer um jogging todos os dias (e simultaneamente “atropelar” os idiotas dos turistas que estão parados no meio do caminho a tirar fotos... comigo, por acaso, foram mais os dois ciclistas que tentaram passar-me por cima na Ponte de Brooklyn) passear os nossos cães (sim, porque nova-iorquino que se preze tem no mínimos uns 3 cães, todos de tamanhos diferentes), fazer um slalom com o nosso bebé dentro de um carrinho todo aerodinâmico, ou mesmo fazer uma partidinha amigável de basebol (juro que estivemos uns bons três quartos de hora a olhar para aquilo e mesmo assim não percebemos nada daquilo... nós é mesmo o pontapé na chincha e mais nada...). Mas o Central Park é mesmo imponente, e imagino que no Outono ou no Inverno seja ainda mais belo. E afinal de contas, não é em todos os parques que podemos “comprar” um banco de jardim e dedicá-lo à memória do nosso ente mais querido, com direito a plaquinha e tudo... Esta gente é mesmo esquisita...

Como portugueses que somos, o nosso lado gastronómico não podia ficar esquecido. Quando penso numa palavra para descrever a comida em Nova Iorque, só me consigo lembrar de duas: ataque cardíaco. Pois é, se nós cá já somos aquilo que tão bem conhecemos, os americanos decidiram fazer o mesmo mas em ponto grande, pois claro! Eu achei esquisito que, quando chegámos ao aeroporto de Newark, no caminho desde a chegada até ao recolher da bagagem, tenha visto nas paredes uns 10 desfibrilhadores (sabem aquelas máquinas que dão choques no nosso coração para que o mesmo volte a bater?), tal como se fossem extintores. Mas assim que comecei a fazer refeições, comecei a compreender... Desde hambúrgueres (como não podia deixar de ser...), até ovos mexidos com bacon ao pequeno-almoço, passando por sobremesas enormes em restaurantes mexicanos, até um pequeno-almoço esquisito no MacDonald’s chamado McGriddles, que não era mais que uma fatia de bacon super-salgado com ovo no meio de duas fatias de pão doce, até chegarmos ao famoso Hot-Dog, que, a meu entender, exige anos e anos de prática no seu manuseamento, pois assim que dei a primeira dentada, metade dos molhos foi parar ao chão...Pelo meio tive direito a provar o verdadeiro “fortune-cookie” chinês, com a minha sina lá pelo meio, bebi uma verdadeira limonada vietnamita (que eu gostei mas que houve outros que acharam que não era seguro estar a beber aquilo), e ainda deu tempo para recordar um prato dos meus tempos de Coreia... O ponto alto, para mim, foi um spaghetti à carbonara que comi num restaurante italiano em Little Italy, que me soube a comida angelical. Foi também neste restaurante que provei o único café de jeito em toda a cidade. Sim, porque aqui é o reino dos Starbucks, deve haver centenas e centenas destes cafés espalhados pela cidade. Nós até estranhávamos quando ficávamos 5 minutos sem ver um, mas nessa altura de certeza que apareciam uma dezena de nova-iorquinos com copos daquela mistela à nossa frente. Houve até quem tivesse pago uns bons dois dólares e meio por uma aguinha suja, isto depois de quase interrogarmos o empregado se era mesmo um “expresso”.

Por todas estas coisas, a viagem até Nova Iorque vai ficar guardada num local muito especial e, mais não seja, terei sempre as centenas de fotos que tirei para recordar os bons momentos lá passados. Deixo-vos algumas das frases-chave desta viagem que me trazem neste momento um sorriso ao rosto...

“Are you a terrorist?”
“A minha máquina fotográfica não está boa...”
“What’s you number, SIR?”
“Do you know the dangers of lead poisoning?”
“Cuidado Lolita!”
“Olha, umas baratinhas!!”
“Isso já tem a gorjeta incluída?”
“Sounds good...”

“Start spreading the news
I’m leaving today
I wanna be a part of it
New York, New York…”
By Nuno Fonseca

segunda-feira, maio 02, 2005

Ground Zero

Independentemente das opiniões que tenhamos sobre a arrogância americana ou sobre o papel dos americanos no mundo não podemos ficar indiferentes ao imenso espaço agora vazio do ground zero. Afinal os americanos comuns ou os imigrantes que ali morreram, tal como os portugueses ou outros estavam apenas a tentar safar-se, assim como dar uma vida melhor as suas famílias.

Para mim não é possível imaginar agora uma américa sem o 11 de setembro ou uma new york sem aquela gigantesca ferida física para além de psicológica. Talvez as coisas fossem diferentes antes dos atentados, mas esta américa que vimos com os nossos olhos, é uma américa em pânico e ainda um bocado em histeria colectiva em relação a uma segurança a que não está habituada na sua própria casa.

No interesse de todo o mundo livre (onde nós tb nos incluímos, por mais estranho que isso possa parecer a alguns americanos,..) seria útil que a américa olhasse um pouco para dentro e tentasse perceber a razão dos seus erros.

Junto à zona do WTC há uma pequena capela (St Paul's chapel) que juntamente com o ground zero se tornou um local de comemoração dos heróis americanos do dia da tragédia. Temos alguma dificuldade em perceber em que foram heroís mas se calhar é melhor chamar-lhes heróis e não mártires... Nesta capela foi onde descansaram e receberam refeições polícias e bombeiros que se encontravam nas operações de busca. O jardim com cemitério desta capela ficou tão danificado que só reabriu em 2003.

Neste momento existem ainda prédios de 40 e poucos andares que se encontram de tal forma danificados que terão de ser demolidos antes de avançar o projecto para aquela zona, mais um tributo à ambição humana que pretende voltar a ser o mais alto edificio do mundo.

De volta à capela além de inúmeros objectos daqueles dias (que tb podem ser encontrados noutras zonas da cidade) realiza-se um pequeno serviço religioso de evocação e recordação de todos os que morreram. Cada um de nós tê-lo-á sentido de formas diferentes.

Eu optei por esquecer as palavras que ouvi sobre "o apoio aos nossos líderes e as forças no iraque" e senti o silêncio que se seguiu com alguma emoção, e achei que a pequena capela e a simplicidade do acto traduziam uma infíma parte da mágoa que continua a haver nesta cidade.

Torre de Babel

Recordam-se das notas de 20 escudos? Sim, aquelas com o Gago Coutinho? O dinheiro deste lado do atlântico continua a ter o mesmo cheiro das notas de 20 desse tempo em que tudo parecia mais fácil.

Aqui nem tudo é fácil, mas parece tendo em conta a quantidade de notas que temos de transportar todos os dias. Mas as dificuldades começam logo a entrada...

Depois de umas 8h de avião que deviam fazer-nos merecer um café decente, um banho e uma cama temos ainda de prestar uma espécie de estranha vassalagem à porta do império... Funcionários tb eles estrangeiros mas já abençoados pela "pax americana" tentam com razoável sucesso questionar a utilidade de uma visita ao centro do mundo. O questionário previamente preenchido é esclarecedor... "É ou alguma vez foi terrorista? É ou foi filiado na Gestapo quando tinha menos 700 anos que agora? Está ou esteve envolvido com gado antes de embarcar?" são alguns dos mimos à entrada junto com a estúpida pergunta se viaja sozinho ou acompanhado como se isso representasse alguma coisa...

Estranhamente começo a perceber a razão de tantos estranhos processos nestes tribunais. Os funcionários ou empregados são todos muito, mas muito prestáveis... A não ser que sejam europeus, todos parecem ter faltado às formações comportamentais que por aqui damos aos "colaboradores" portugueses com base em modelos bem americanos mas que por aqui não são aplicados.

Por falar em Europa não nos vamos conseguir livrar do momento de glória do Euro 2004... Mas pelas piores razões. O grego que nos atendeu no nosso primeiro pequeno almoço e seguintes, na broadway, fez questão de nos relembrar a nossa derrota entre doses astrónomicas de gordura em ovos sobre salame com acompanhamento de panquecas com doce... Não, não é exagero. Qualquer coisa que eu possa dizer sobre a comida é sempre pouco em relação à quantidade de gordura...

Não é de estranhar o elevado número de adultos gordos mas tb de crianças. Mas honestamente parece não haver alternativa a este tipo de de comida... Se calhar é por isso que existem em todos os restaurantes instruções de o que fazer em caso de uma pessoa se engasgar ou ter um ataque de coração no restaurante.... Faz todo o sentido... Com a quantidade de comida e com a gordura que ela trás o mais certo é engasgarem-se e caírem para o lado com um ataque... No entanto os cartazes tem o interessante pormenor de pedir que se pergunte à vítima se se está a engasgar... (are you choking, sir?) É capaz de se obter uma resposta interessante.

Alguma caminhada depois para desfazer algumas calorias e começa a nossa descida ao esgoto, perdão, ao metro que de tão sujo e maltratado mais parece um esgoto, mas que melhor sítio para nos começarmos a integrar na vida da cidade. Aqui encontramos americanos de vários sotaques, orientais de diversas origem, europeus que cá trabalham ou turistas como aqui os portugas, indianos ou paquistaneses e uma forte predominância de hispanícos de toda a américa latina.

Se existe um torre de babel moderna ela fica em new york.