Nova Iorque é grande. Mas mesmo GRANDE....
O primeiro impacto quando se chega a Manhattan é olhar para o céu. Quer dizer, não será bem para o céu, é mais para os arranha-céus enormes que nos rodeiam. Lembro-me que no primeiro dia havia algum nevoeiro, o que fazia com que o topo de alguns dos edifícios ficasse acima das nuvens... Para quem está habituado à relativa baixa altura dos prédios em Lisboa, há de facto um grande diferença, e embora a certa altura possa parecer que todos os prédios nova-iorquinos são todos iguais, não deixa de ser impressionante.
Falando em altura, devo dizer que um dos meus sonhos era estar no cimo do Empire State Building, algo que consegui depois de passar por filas monstruosas de turistas que deviam ter o mesmo sonho que eu. Calculo que depois do 11 de Setembro o Empire State seja o edifício mais alto de Nova Iorque, pois é impossível andar pelas avenidas sem dar de caras com o raio do prédio, sempre à espreita, quase que a pedir para lhe tirarem mais e mais e mais fotografias (assim se explica como rapidamente se tiram umas 100 ou 200 fotos...). Subimos a uma altura de 86 andares (não sei quantos metros isso dá, só sei que é muito...), e depois de nos habituarmos aos fortes ventos que parecem querer-nos lá em baixo, onde é o nosso lugar, é de tirar a respiração, sentimo-nos de facto no topo do mundo (que me perdoem as pessoas que já foram até ao Evereste e afins...).
Falando em 11 de Setembro, também estivemos no Ground Zero, e é uma sensação estranha estar num sítio onde milhares de pessoas morreram e num espaço que parece ao mesmo tempo tão vasto e tão pequeno. A cidade ainda vive afectada por este momento trágico da nossa história recente, e não são poucos os restaurantes, museus, lojas de souvenirs, e outros que tais, com algum tipo de “artefacto” que recorda essa fatídica data. Para um português é estranho mas compreende-se a genuína dor que estas pessoas sentem. Como alguém dizia no outro dia, a grande maioria das pessoas tinha família, amigos ou amigos de amigos, que ficaram no meio dos escombros do World Trade Center. E, apesar de tudo, estes sentimentos de dor representados pelos tais “artefactos”, sempre são melhores do que o sentimento ultra-nacionalista que atravessa a cidade. Basta olhar para o sinal mais óbvio, as bandeiras. Bandeiras, bandeiras e mais bandeiras. Sejam meia dúzia delas a decorar a fachada de um MacDonald’s, ou uma só enorme a tapar a fachada da Bolsa de Nova Iorque, em Wall Street, elas estão em todo o lado. Se a mim já me parece esquisito em Portugal ainda haverem bandeiras nas janelas da altura do Euro 2004, podem imaginar como me senti ao andar pelas ruas da Grande Maçã...
A cidade não esqueceu o 11 de Setembro, como é normal, e a prova disso é o enorme dispositivo de segurança que encontramos em muitos dos “landmarks”. Locais onde me recordo que tenhamos passado por detectores de metais: Museu de História Natural, Museu Guggenheim, Empire State Building, Ferry para a Estátua da Liberdade, Nações Unidas, e sei lá mais o quê. Como dizia um dos meus colegas de viagem, “se as nossas mochilas fossem sensíveis aos raios X, já estavam cheias de tumores”. A ver se consigo que percebam a minha opinião sobre esta “paranóia”: compreendo em absoluto o porquê de tudo isto e não me chateia minimamente ter sido quase revistado em todos estes sítios (lembro-me de uma outra ocasião em que tive de tirar o cinto e também me recordo de ver algumas pessoas a tirar os sapatos, tal como o tivemos que fazer no aeroporto de Newark). O que realmente me deixou chateado é a forma como as autoridades americanas põem na prática estes sistemas de segurança. Vou apenas pegar no exemplo que é o corolário do que acabei de escrever, que foi a viagem de ferry até à ilha onde se encontra a Estátua da Liberdade. Logo no local onde estamos a comprar os bilhetes, vemos enormes placas a informar os turistas que não podem levar mochilas para o ferry (algo que acaba por não acontecer) e que não podemos levar a bordo canivetes, isqueiros, armas brancas, bombas, “pepper sprays”.... Espera lá, “bombas”??? Será que esta gente acredita mesmo que, se eu levasse uma bomba para a estátua, ia declará-la antes de embarcar? (a propósito, isto cai dentro da categoria de perguntas que é preciso responder antes de entrar no país, do género “é um terrorista?”, ou “esteve em contacto com gado recentemente?”, ou mesmo “caso tenha nascido antes de 1900 e troca o passo, esteve envolvido em actividades nazis durante a II Guerra Mundial?”). Em seguida vamos para a fila, mas ainda não é a fila para entrar no barco, mas sim a fila enorme para entrar numa tenda onde iremos ser revistados. E que melhor impressão logo à partida do que ter 2 jovens com aparência de terem acabado de vir do Bronx a cortarem os bilhetes antes de entrarmos na tenda? É de facto a melhor forma de dar alguma credibilidade à preocupação com a segurança (estava a ser irónico, caso não tenham percebido). Depois entramos numa tenda que poderia perfeitamente ser de circo, tendo em atenção a atitude dos agentes da autoridade/seguranças que lá se encontram. A antipatia é geral, os berros dados aos turistas (estrangeiros ou americanos, é indiferente) também, e a falta de respeito é de bradar aos céus. Bem sei que Portugal nestas coisas ainda não é grande exemplo a seguir, mas estes jovens abusam. Nunca me tinha sentido tanto como um animal no caminho para o matadouro (tentei inclusive fazer alguns ruídos animalescos para ver se eles percebiam... sem efeito). Ok, pensar-se-ia que aquela gente está ali para cumprir normas de segurança e não para ser simpática, é um ponto de vista perfeitamente defensável (Então experimentem ir à visita guiada das Nações Unidas, onde também passam por detectores de metais, mas os seguranças mostram empatia com os turistas e mostram que de facto é um inconveniente ter que passar por aquelas coisas... será que é porque nas Nações Unidas estamos a pisar terreno não americano?). Mas então que dizer da quantidade de gente que iam deixando entrar no ferry? Eu que estava numa das “varandas” só via gente e mais gente a entrar e só me perguntava se estavam à espera que o barco afundasse para dizerem que já estava cheio. Isto para não falar na quantidade de crianças que se iam debruçando nas amuradas, que não tinham protecção, a ver se conseguiam cair no rio. Mais tarde, já na ilha, iríamos ver um destes barcos a chegar, e mais pareceria uma imagem de um país de terceiro mundo, onde uma multidão de refugiados tentava fugir de uma qualquer guerra... Estranho conceito de segurança tem o departamento de Homeland Security dos Estados Unidos...
Ainda no assunto da simpatia (ou falta dela), tenho uma outra opinião que gostaria de partilhar convosco. Não sei em que empresa vocês trabalham, mas na minha e em muitas de amigos meus, semestre sim semestre não, vejo-me perante mais uma acção de formação de atendimento ao cliente, ou técnicas motivacionais, ou comportamento do consumidor, e o que acontece normalmente é que estas técnicas de atendimento são provenientes dos States. De modo que começamos a imaginar que o atendimento lá seja de 5 estrelas. Bom, o que me aconteceu a mim e às pessoas com quem viajei foi que o atendimento tomou 2 caminhos possíveis: por um lado, um atendimento super-eficiente nalgumas lojas, mas quase aos berros com os clientes, e, por outro lado um atendimento antipático, indiferente, do género “odeio o meu trabalho, por isso não tenho que te tratar bem enquanto cliente”. Verdade seja dita que, ao contrário de Barcelona, não fui atendido por alguém que estava a fumar atrás do balcão, mas mesmo dentro dessa escala as coisas não foram muito boas. Excepções há sempre, mas se vos disser que os sítios onde fomos bem atendidos foram um “diner” propriedade de gregos (que até se meteram connosco por causa do Euro, mas sempre de uma forma afável) e um restaurante italiano onde o jovem que estava a atender eram um bonacheirão tipicamente latino, acho que começamos a ver um padrão, certo?
Bom, não comecem a pensar que tudo isto faz com que uma visita à Grande Maçã não valha a pena. Não, não se trata disso, apenas há que partir de Portugal com uma razoável dose de paciência. Porque de facto há coisas bem bonitas em Nova Iorque. O Museu de História Natural, por exemplo, onde uma pessoa passa horas e horas extasiado no meio de esqueletos de dinossauro, culturas de todo o mundo, ou frente a frente com uma reprodução em tamanho original de uma baleia azul. Lindo, lindo, lindo... E as horas passam a correr... Se vos disser que entrámos por volta das 10 e meia, e saímos já a passar da 2 da tarde, não andarei muito longe da verdade. Também o Museu de Arte Moderna (MoMA, para os amigos) me deixou de boca aberta. No mesmo espaço temos exposições a puxar para o pós-pós-moderno (para quem tem mais abertura de espírito), exposições de volta do design dos nossos dias, e pinturas originais de “monstros” com Andy Warhol, Pablo Picasso, Diego Rivera, Salvador Dali ou Van Gogh, só para mencionar alguns. Acho que todos nós “levámos” connosco alguma coisa que nos agradou no MoMA.
E que dizer do Central Park? Mesmo no centro de Nova Iorque têm um sítio onde podemos fazer um jogging todos os dias (e simultaneamente “atropelar” os idiotas dos turistas que estão parados no meio do caminho a tirar fotos... comigo, por acaso, foram mais os dois ciclistas que tentaram passar-me por cima na Ponte de Brooklyn) passear os nossos cães (sim, porque nova-iorquino que se preze tem no mínimos uns 3 cães, todos de tamanhos diferentes), fazer um slalom com o nosso bebé dentro de um carrinho todo aerodinâmico, ou mesmo fazer uma partidinha amigável de basebol (juro que estivemos uns bons três quartos de hora a olhar para aquilo e mesmo assim não percebemos nada daquilo... nós é mesmo o pontapé na chincha e mais nada...). Mas o Central Park é mesmo imponente, e imagino que no Outono ou no Inverno seja ainda mais belo. E afinal de contas, não é em todos os parques que podemos “comprar” um banco de jardim e dedicá-lo à memória do nosso ente mais querido, com direito a plaquinha e tudo... Esta gente é mesmo esquisita...
Como portugueses que somos, o nosso lado gastronómico não podia ficar esquecido. Quando penso numa palavra para descrever a comida em Nova Iorque, só me consigo lembrar de duas: ataque cardíaco. Pois é, se nós cá já somos aquilo que tão bem conhecemos, os americanos decidiram fazer o mesmo mas em ponto grande, pois claro! Eu achei esquisito que, quando chegámos ao aeroporto de Newark, no caminho desde a chegada até ao recolher da bagagem, tenha visto nas paredes uns 10 desfibrilhadores (sabem aquelas máquinas que dão choques no nosso coração para que o mesmo volte a bater?), tal como se fossem extintores. Mas assim que comecei a fazer refeições, comecei a compreender... Desde hambúrgueres (como não podia deixar de ser...), até ovos mexidos com bacon ao pequeno-almoço, passando por sobremesas enormes em restaurantes mexicanos, até um pequeno-almoço esquisito no MacDonald’s chamado McGriddles, que não era mais que uma fatia de bacon super-salgado com ovo no meio de duas fatias de pão doce, até chegarmos ao famoso Hot-Dog, que, a meu entender, exige anos e anos de prática no seu manuseamento, pois assim que dei a primeira dentada, metade dos molhos foi parar ao chão...Pelo meio tive direito a provar o verdadeiro “fortune-cookie” chinês, com a minha sina lá pelo meio, bebi uma verdadeira limonada vietnamita (que eu gostei mas que houve outros que acharam que não era seguro estar a beber aquilo), e ainda deu tempo para recordar um prato dos meus tempos de Coreia... O ponto alto, para mim, foi um spaghetti à carbonara que comi num restaurante italiano em Little Italy, que me soube a comida angelical. Foi também neste restaurante que provei o único café de jeito em toda a cidade. Sim, porque aqui é o reino dos Starbucks, deve haver centenas e centenas destes cafés espalhados pela cidade. Nós até estranhávamos quando ficávamos 5 minutos sem ver um, mas nessa altura de certeza que apareciam uma dezena de nova-iorquinos com copos daquela mistela à nossa frente. Houve até quem tivesse pago uns bons dois dólares e meio por uma aguinha suja, isto depois de quase interrogarmos o empregado se era mesmo um “expresso”.
Por todas estas coisas, a viagem até Nova Iorque vai ficar guardada num local muito especial e, mais não seja, terei sempre as centenas de fotos que tirei para recordar os bons momentos lá passados. Deixo-vos algumas das frases-chave desta viagem que me trazem neste momento um sorriso ao rosto...
“Are you a terrorist?”
“A minha máquina fotográfica não está boa...”
“What’s you number, SIR?”
“Do you know the dangers of lead poisoning?”
“Cuidado Lolita!”
“Olha, umas baratinhas!!”
“Isso já tem a gorjeta incluída?”
“Sounds good...”
“Start spreading the news
I’m leaving today
I wanna be a part of it
O primeiro impacto quando se chega a Manhattan é olhar para o céu. Quer dizer, não será bem para o céu, é mais para os arranha-céus enormes que nos rodeiam. Lembro-me que no primeiro dia havia algum nevoeiro, o que fazia com que o topo de alguns dos edifícios ficasse acima das nuvens... Para quem está habituado à relativa baixa altura dos prédios em Lisboa, há de facto um grande diferença, e embora a certa altura possa parecer que todos os prédios nova-iorquinos são todos iguais, não deixa de ser impressionante.
Falando em altura, devo dizer que um dos meus sonhos era estar no cimo do Empire State Building, algo que consegui depois de passar por filas monstruosas de turistas que deviam ter o mesmo sonho que eu. Calculo que depois do 11 de Setembro o Empire State seja o edifício mais alto de Nova Iorque, pois é impossível andar pelas avenidas sem dar de caras com o raio do prédio, sempre à espreita, quase que a pedir para lhe tirarem mais e mais e mais fotografias (assim se explica como rapidamente se tiram umas 100 ou 200 fotos...). Subimos a uma altura de 86 andares (não sei quantos metros isso dá, só sei que é muito...), e depois de nos habituarmos aos fortes ventos que parecem querer-nos lá em baixo, onde é o nosso lugar, é de tirar a respiração, sentimo-nos de facto no topo do mundo (que me perdoem as pessoas que já foram até ao Evereste e afins...).
Falando em 11 de Setembro, também estivemos no Ground Zero, e é uma sensação estranha estar num sítio onde milhares de pessoas morreram e num espaço que parece ao mesmo tempo tão vasto e tão pequeno. A cidade ainda vive afectada por este momento trágico da nossa história recente, e não são poucos os restaurantes, museus, lojas de souvenirs, e outros que tais, com algum tipo de “artefacto” que recorda essa fatídica data. Para um português é estranho mas compreende-se a genuína dor que estas pessoas sentem. Como alguém dizia no outro dia, a grande maioria das pessoas tinha família, amigos ou amigos de amigos, que ficaram no meio dos escombros do World Trade Center. E, apesar de tudo, estes sentimentos de dor representados pelos tais “artefactos”, sempre são melhores do que o sentimento ultra-nacionalista que atravessa a cidade. Basta olhar para o sinal mais óbvio, as bandeiras. Bandeiras, bandeiras e mais bandeiras. Sejam meia dúzia delas a decorar a fachada de um MacDonald’s, ou uma só enorme a tapar a fachada da Bolsa de Nova Iorque, em Wall Street, elas estão em todo o lado. Se a mim já me parece esquisito em Portugal ainda haverem bandeiras nas janelas da altura do Euro 2004, podem imaginar como me senti ao andar pelas ruas da Grande Maçã...
A cidade não esqueceu o 11 de Setembro, como é normal, e a prova disso é o enorme dispositivo de segurança que encontramos em muitos dos “landmarks”. Locais onde me recordo que tenhamos passado por detectores de metais: Museu de História Natural, Museu Guggenheim, Empire State Building, Ferry para a Estátua da Liberdade, Nações Unidas, e sei lá mais o quê. Como dizia um dos meus colegas de viagem, “se as nossas mochilas fossem sensíveis aos raios X, já estavam cheias de tumores”. A ver se consigo que percebam a minha opinião sobre esta “paranóia”: compreendo em absoluto o porquê de tudo isto e não me chateia minimamente ter sido quase revistado em todos estes sítios (lembro-me de uma outra ocasião em que tive de tirar o cinto e também me recordo de ver algumas pessoas a tirar os sapatos, tal como o tivemos que fazer no aeroporto de Newark). O que realmente me deixou chateado é a forma como as autoridades americanas põem na prática estes sistemas de segurança. Vou apenas pegar no exemplo que é o corolário do que acabei de escrever, que foi a viagem de ferry até à ilha onde se encontra a Estátua da Liberdade. Logo no local onde estamos a comprar os bilhetes, vemos enormes placas a informar os turistas que não podem levar mochilas para o ferry (algo que acaba por não acontecer) e que não podemos levar a bordo canivetes, isqueiros, armas brancas, bombas, “pepper sprays”.... Espera lá, “bombas”??? Será que esta gente acredita mesmo que, se eu levasse uma bomba para a estátua, ia declará-la antes de embarcar? (a propósito, isto cai dentro da categoria de perguntas que é preciso responder antes de entrar no país, do género “é um terrorista?”, ou “esteve em contacto com gado recentemente?”, ou mesmo “caso tenha nascido antes de 1900 e troca o passo, esteve envolvido em actividades nazis durante a II Guerra Mundial?”). Em seguida vamos para a fila, mas ainda não é a fila para entrar no barco, mas sim a fila enorme para entrar numa tenda onde iremos ser revistados. E que melhor impressão logo à partida do que ter 2 jovens com aparência de terem acabado de vir do Bronx a cortarem os bilhetes antes de entrarmos na tenda? É de facto a melhor forma de dar alguma credibilidade à preocupação com a segurança (estava a ser irónico, caso não tenham percebido). Depois entramos numa tenda que poderia perfeitamente ser de circo, tendo em atenção a atitude dos agentes da autoridade/seguranças que lá se encontram. A antipatia é geral, os berros dados aos turistas (estrangeiros ou americanos, é indiferente) também, e a falta de respeito é de bradar aos céus. Bem sei que Portugal nestas coisas ainda não é grande exemplo a seguir, mas estes jovens abusam. Nunca me tinha sentido tanto como um animal no caminho para o matadouro (tentei inclusive fazer alguns ruídos animalescos para ver se eles percebiam... sem efeito). Ok, pensar-se-ia que aquela gente está ali para cumprir normas de segurança e não para ser simpática, é um ponto de vista perfeitamente defensável (Então experimentem ir à visita guiada das Nações Unidas, onde também passam por detectores de metais, mas os seguranças mostram empatia com os turistas e mostram que de facto é um inconveniente ter que passar por aquelas coisas... será que é porque nas Nações Unidas estamos a pisar terreno não americano?). Mas então que dizer da quantidade de gente que iam deixando entrar no ferry? Eu que estava numa das “varandas” só via gente e mais gente a entrar e só me perguntava se estavam à espera que o barco afundasse para dizerem que já estava cheio. Isto para não falar na quantidade de crianças que se iam debruçando nas amuradas, que não tinham protecção, a ver se conseguiam cair no rio. Mais tarde, já na ilha, iríamos ver um destes barcos a chegar, e mais pareceria uma imagem de um país de terceiro mundo, onde uma multidão de refugiados tentava fugir de uma qualquer guerra... Estranho conceito de segurança tem o departamento de Homeland Security dos Estados Unidos...
Ainda no assunto da simpatia (ou falta dela), tenho uma outra opinião que gostaria de partilhar convosco. Não sei em que empresa vocês trabalham, mas na minha e em muitas de amigos meus, semestre sim semestre não, vejo-me perante mais uma acção de formação de atendimento ao cliente, ou técnicas motivacionais, ou comportamento do consumidor, e o que acontece normalmente é que estas técnicas de atendimento são provenientes dos States. De modo que começamos a imaginar que o atendimento lá seja de 5 estrelas. Bom, o que me aconteceu a mim e às pessoas com quem viajei foi que o atendimento tomou 2 caminhos possíveis: por um lado, um atendimento super-eficiente nalgumas lojas, mas quase aos berros com os clientes, e, por outro lado um atendimento antipático, indiferente, do género “odeio o meu trabalho, por isso não tenho que te tratar bem enquanto cliente”. Verdade seja dita que, ao contrário de Barcelona, não fui atendido por alguém que estava a fumar atrás do balcão, mas mesmo dentro dessa escala as coisas não foram muito boas. Excepções há sempre, mas se vos disser que os sítios onde fomos bem atendidos foram um “diner” propriedade de gregos (que até se meteram connosco por causa do Euro, mas sempre de uma forma afável) e um restaurante italiano onde o jovem que estava a atender eram um bonacheirão tipicamente latino, acho que começamos a ver um padrão, certo?
Bom, não comecem a pensar que tudo isto faz com que uma visita à Grande Maçã não valha a pena. Não, não se trata disso, apenas há que partir de Portugal com uma razoável dose de paciência. Porque de facto há coisas bem bonitas em Nova Iorque. O Museu de História Natural, por exemplo, onde uma pessoa passa horas e horas extasiado no meio de esqueletos de dinossauro, culturas de todo o mundo, ou frente a frente com uma reprodução em tamanho original de uma baleia azul. Lindo, lindo, lindo... E as horas passam a correr... Se vos disser que entrámos por volta das 10 e meia, e saímos já a passar da 2 da tarde, não andarei muito longe da verdade. Também o Museu de Arte Moderna (MoMA, para os amigos) me deixou de boca aberta. No mesmo espaço temos exposições a puxar para o pós-pós-moderno (para quem tem mais abertura de espírito), exposições de volta do design dos nossos dias, e pinturas originais de “monstros” com Andy Warhol, Pablo Picasso, Diego Rivera, Salvador Dali ou Van Gogh, só para mencionar alguns. Acho que todos nós “levámos” connosco alguma coisa que nos agradou no MoMA.
E que dizer do Central Park? Mesmo no centro de Nova Iorque têm um sítio onde podemos fazer um jogging todos os dias (e simultaneamente “atropelar” os idiotas dos turistas que estão parados no meio do caminho a tirar fotos... comigo, por acaso, foram mais os dois ciclistas que tentaram passar-me por cima na Ponte de Brooklyn) passear os nossos cães (sim, porque nova-iorquino que se preze tem no mínimos uns 3 cães, todos de tamanhos diferentes), fazer um slalom com o nosso bebé dentro de um carrinho todo aerodinâmico, ou mesmo fazer uma partidinha amigável de basebol (juro que estivemos uns bons três quartos de hora a olhar para aquilo e mesmo assim não percebemos nada daquilo... nós é mesmo o pontapé na chincha e mais nada...). Mas o Central Park é mesmo imponente, e imagino que no Outono ou no Inverno seja ainda mais belo. E afinal de contas, não é em todos os parques que podemos “comprar” um banco de jardim e dedicá-lo à memória do nosso ente mais querido, com direito a plaquinha e tudo... Esta gente é mesmo esquisita...
Como portugueses que somos, o nosso lado gastronómico não podia ficar esquecido. Quando penso numa palavra para descrever a comida em Nova Iorque, só me consigo lembrar de duas: ataque cardíaco. Pois é, se nós cá já somos aquilo que tão bem conhecemos, os americanos decidiram fazer o mesmo mas em ponto grande, pois claro! Eu achei esquisito que, quando chegámos ao aeroporto de Newark, no caminho desde a chegada até ao recolher da bagagem, tenha visto nas paredes uns 10 desfibrilhadores (sabem aquelas máquinas que dão choques no nosso coração para que o mesmo volte a bater?), tal como se fossem extintores. Mas assim que comecei a fazer refeições, comecei a compreender... Desde hambúrgueres (como não podia deixar de ser...), até ovos mexidos com bacon ao pequeno-almoço, passando por sobremesas enormes em restaurantes mexicanos, até um pequeno-almoço esquisito no MacDonald’s chamado McGriddles, que não era mais que uma fatia de bacon super-salgado com ovo no meio de duas fatias de pão doce, até chegarmos ao famoso Hot-Dog, que, a meu entender, exige anos e anos de prática no seu manuseamento, pois assim que dei a primeira dentada, metade dos molhos foi parar ao chão...Pelo meio tive direito a provar o verdadeiro “fortune-cookie” chinês, com a minha sina lá pelo meio, bebi uma verdadeira limonada vietnamita (que eu gostei mas que houve outros que acharam que não era seguro estar a beber aquilo), e ainda deu tempo para recordar um prato dos meus tempos de Coreia... O ponto alto, para mim, foi um spaghetti à carbonara que comi num restaurante italiano em Little Italy, que me soube a comida angelical. Foi também neste restaurante que provei o único café de jeito em toda a cidade. Sim, porque aqui é o reino dos Starbucks, deve haver centenas e centenas destes cafés espalhados pela cidade. Nós até estranhávamos quando ficávamos 5 minutos sem ver um, mas nessa altura de certeza que apareciam uma dezena de nova-iorquinos com copos daquela mistela à nossa frente. Houve até quem tivesse pago uns bons dois dólares e meio por uma aguinha suja, isto depois de quase interrogarmos o empregado se era mesmo um “expresso”.
Por todas estas coisas, a viagem até Nova Iorque vai ficar guardada num local muito especial e, mais não seja, terei sempre as centenas de fotos que tirei para recordar os bons momentos lá passados. Deixo-vos algumas das frases-chave desta viagem que me trazem neste momento um sorriso ao rosto...
“Are you a terrorist?”
“A minha máquina fotográfica não está boa...”
“What’s you number, SIR?”
“Do you know the dangers of lead poisoning?”
“Cuidado Lolita!”
“Olha, umas baratinhas!!”
“Isso já tem a gorjeta incluída?”
“Sounds good...”
“Start spreading the news
I’m leaving today
I wanna be a part of it
New York, New York…”
By Nuno Fonseca
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