domingo, dezembro 31, 2006

Bom Ano

Uma semana complicada que finalmente terminou. Uma ausência quase total aqui pelo blog, que não augura nada de bom para o próximo ano. Não consegui acabar a sequência de posts sobre 2006, mas não faz mal porque entre hoje e amanhã os canais de televisão vão tratar disso. Esperança que o próximo ano traga mais tempo livre. Apenas um post em movimento, da cidade dos estudantes, para desejar um excelente ano de 2007 a todos os que por aqui passam.

Solitariedades - Aborto - take 1


Último dia de 2006. Pensei em escrever algo sobre o ano que agora termina. No entanto, acabei por optar por agarrar já em 2007 e no primeiro factor de interesse do ano - o Referendo de Fevereiro.

Desde já, devo dizer que não reconheço como “vida humana” um feto de semanas. Se reconhecesse, a minha opção de voto seria Não. Ou seja, a opção de voto seria ainda mais evidente do que é. Mas se reconhecesse, então deveria estar há muito a combater a Lei em vigor há mais de 20 anos. É que se a Vida começa no momento em que o espermatozóide fecunda o óvulo, então as excepções que a Lei actual prevê são inaceitáveis. Uma gravidez originada numa violação não é igual a qualquer outra, em termos da avaliação do feto ? E o feto com deformações ? Não é “vida humana” ?

É como vos digo. Reconhecesse eu “vida humana” e andaria a recolher assinaturas para eliminar toda e qualquer excepção ao direito de interromper a gravidez. Caso contrário, seria uma hipocrisia.

Mas não reconheço. Como tal, é-me suficiente saber que há mulheres perseguidas e julgadas como criminosas por interromperem um processo biológico que decorre nos seus corpos, sem os quais os fetos não sobreviveriam.

Se não fosse suficiente, sê-lo-ia o facto das excepções previstas na Lei actual serem de aplicabilidade complexa que, em muitos casos, elimina mesmo a possibilidade admitida na Lei. A excepção em casos de violação é disto exemplo.

E as condições em que muitas mulheres acabam por abortar ???

Se, mesmo assim, ainda não estivesse convencido, lembrar-me-ia que legislar sobre o direito da Mulher em decidir o que fazer com o seu corpo é apenas mais uma etapa da histórica opressão patriarcal em que o Ocidente (e não só) continua a navegar.

Votar Não impede um direito. Votar Sim não transforma um direito numa obrigação!

E já que se lembraram de, pela segunda vez, colocar os eleitores a decidir algo que é da maior intimidade da Mulher, o mínimo que se pode fazer é mesmo votar Sim. Nem que seja porque SIM!!!

Que 2007 seja melhor que 2006...

quinta-feira, dezembro 28, 2006

olhares do campo - um presente mais, este para o Ano Novo

"Pandora trouxe o vaso com os males e abriu-o. Era a dádiva dos deuses aos homens, por fora um lindo e tentador presente, denominado «vaso da felicidade». Então, voaram cá para fora todos os males, seres vivos alados: a partir daí, andam a vaguear e causam danos aos homens, de dia e de noite. Um único mal não se tinha ainda esgueirado para fora do vaso: então, segundo a vontade de Zeus, Pandora fechou a tampa e, portanto, ele ficou lá dentro. Agora, o homem tem para sempre o vaso da felicidade em casa e pensa que maravilhoso tesouro aí tem; está ao seu serviço, ele deita-lhe a mão quando lhe apetece; pois não sabe que esse vaso, que Pandora trouxe, era o vaso dos males, e toma pela maior benesse o mal que ficou para trás - é a esperança. É que Zeus queria que o homem, mesmo por muito atormentado que fosse pelos outros males, todavia não rejeitasse a vida, mas continuasse sempre a deixar-se atormentar de novo. Para isso, ele dá ao homem a esperança: ela é, na verdade, o pior dos males, pois prolonga o tormento dos homens."
Nietzsche - "A Esperança", § 71 em Humano, Demasiado Humano

olhares do campo - irmão Ramos Horta

A mensagem de Natal de Ramos Horta a Bin Laden pode talvez dar azo a muitos comentários. Falar-se-á das intenções do governante timorense, da ingenuidade do acto ou da sua inutilidade mais que certa.
Mas não esqueçamos que Ramos Horta é líder de um povo até há tão pouco tempo humilhado pela terrível ocupação indonésia. Recordemos que esse povo luta com dificuldades pela afirmação como país, esse país novo que vimos nascer com o início do Século e que foi o motivo das nossas esperanças e mobilizações.
Que um homem como Ramos Horta eleja as palavras que proferiu, independentemente de tudo o mais, representa talvez a reafirmação de princípios facilmente esquecidos no plano político internacional. E é também talvez um sinal de esperança, ao qual gostaríamos de poder aderir nestes dias em que é costume olhar-se o futuro e procurar-se um caminho para lá do já percorrido.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

Solitariedades - Notas de Natal

Durante o fim-de-semana do Natal, foram registados mais de mil acidentes nas estradas portuguesas. Mas nem umas aspas ? De acordo com o dicionário, um “acidente” é “algo que acontece inesperadamente ou sem causa aparente”. Infelizmente, o número de “acidentes” no verdadeiro sentido do termo é reduzido. Na sua maioria, os “acidentes” têm causas bem identificadas e que se resumem numa palavra que também está no dicionário – irresponsabilidade.

Durante este período, os canais de televisão vão buscar clássicos e/ou novidades que retratam o nascimento de Cristo e episódios afins. Mesmo que não se tenha fé alguma nestes contos, há que convir que são histórias extraordinárias. Ou, dito de outra forma, Jesus Cristo é, ainda hoje, e no mínimo, protagonista de um dos mais belos romances da História.

Entretanto, morreu Gerald Ford. Parecendo que não, este senhor tinha alguns pontos em comum com outro recém falecido. Para começar, nenhum deles foi eleito. Para além disso, faziam ambos parte das amizades de uma terceira figura chamada Richard Nixon. Ford foi escolhido para vice de Nixon e Pinochet foi avalizado pela CIA no (primeiro) 11 de Setembro tristemente célebre.

Prémio (intolerância religiosa) do ano 2006

Lá para Fevereiro fazia 14 anos que um grupo de jovens tinham enveredado por um projecto associativo numa escola dos subúrbios e a redacção do 24horas tornava-se sujeito da notícia ao mostrar as suas mãos limpas. Começavam os Jogos Olímpicos de Inverno em Turim, mas aquilo que viria definitivamente a marcar Fevereiro, e muito dos meses seguintes, seriam as caricaturas de Maomé.
As caricaturas que já tinham aparecido num jornal dinamarquês no ano de 2005 e que estrategicamente alguns líderes de países muçulmanos "so called" extremistas decidiram contestar já este ano, seriam a fonte do despoletar de uma vaga de intolerância religiosa dos dois lados da barricada.
Maomé parece não poder ser retratado, até porque ninguém saberá qual a sua figurinha, mas isso não impediu que alguns movimentos mais próximos da extrema-direita dinamarquesa fizessem publicar, republicar e re-republicar as caricaturas assim como publicá-las um pouco por todo o mundo.
Num ápice o mundo muçulmano confundiu o todo com as partes e toca a atear fogo às embaixadas da Dinamarca e logo de seguida à de outros países à medida que estes publicavam ou defendiam a publicação de tais hereges caricaturas. Pelo meio, as ocidentais marcas multinacionais adoptaram o conceito "think global, act locally" (é ao contrário, eu sei) e começaram a banir produtos dinamarqueses e por arrasto europeus de algumas das suas lojas. Do outro lado do atlântico, Bush e a sua Condolleza invocavam a necessidade do politicamente correcto nas relações com os países árabes. Logo, Bush não se vê como um elefante numa loja de porcelanas... isso são os outros...
É ao fim ao cabo como as coisas se resolvem por aquelas bandas, à paulada. Não há interlocutores válidos e os que há, ou quando há, o ocidente não os reconhece como tal. É outra vez o fenómeno da pescadinha de rabo na boca.
Ainda este ano o prémio intolerância religiosa 2006 viria a ter de ser repartido exequo com o Bento, que lá foi falar que alguma vez houve um imperador que tinha uma ideia absurda sobre a violência do Islão, porque hoje em dia isso não existe…

terça-feira, dezembro 26, 2006

A guerra do Natal

O José Alberto Carvalho gosta de dizer nas entrevistas que lhe fazem, que a excessiva violência e tal vez algum aproveitamento sanguinário, que os noticiários possuem deriva da excepcionalidade dos acontecimentos que relatam. Quando a violência e a desgraça humana se tornarem comuns (pelo menos, mais comuns) então as noticias serão diferentes e irão retratar coisas bonitas e crianças felizes.
Seguindo esta lógica, porque razão continuamos a dar noticias sobre acidentes de viação???
Todos os anos, sem excepção a quadra de Natal (já para não falar no resto do ano) fica irremediavelmente marcada pela guerra que se vive diariamente nas estradas portuguesas. É de uma guerra que falamos porque os portugueses não conseguem cumprir as mais básicas regras de civilização quando aos comandos de um carro.
Temos sempre demasiada pressa, o sujeito da frente é sempre demasiado anormal, a estrada é sempre nossa porque a pagámos com os nossos impostos, as regras são sempre demasiado rígidas para quem não está habituado a elas, os outros são sempre demasiado responsáveis, as estradas estão sempre em demasiado mau estado porque o governo não faz nada, a policia está sempre demasiado perto e é sempre demasiado opressora, todos bebemos demasiado mas no final de contas foi sempre só uma cerveja. Sempre demasiadas desculpas para justificar o injustificável. Somos uns anormais a quem não deveria ter sido dada autorização para conduzir.
É na estrada que vêm ao de cima o que de pior temos em nós. Toda a mesquinhez, estupidez e ignorância do povo português manifesta-se dentro de um carro.
Temos de ter grandes carros, com grandes cilindradas, isso é que é de homem. Não acelerar e andar a pisar ovos é logo razão mais que suficiente para questionar a legitimidade da carta de alguém, além de ser óptima razão para se insultar alguém que aquele cabeludo e impiedoso nome que faz tremer os homens com eles no sítio, "MEU GRANDE PANELEIRO, anda lá com essa merda".
Na essência não se consegue compreender para que existe um código da estrada em Portugal, senão precisamente para não o cumprirmos. Há uma série de gajos que não percebe nada de condução, sim porque nós somos todos tão bons condutores quanto somos bons treinadores de bancada, que insistem em colocar sinais e traços e marcas no chão. Tudo para apenas se tornar mais evidente a necessidade de não os cumprir. É irresistível… um português não consegue ter um nível de civilização adequado que lhe permita escolher entre cumprir e não cumprir. Nem sequer chega a ser um dilema moral. Um traço contínuo é a própria definição do incumprimento. Ele existe precisamente para ser violado.
É de uma guerra que se trata, e independentemente das desculpas que possamos arranjar, no momento em que alguém é vítima da condução irresponsável de outrém, temos fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para deter estes anormais.
Na realidade o verdadeiro milagre de Natal dos nossos dias é não morrer mais gente na estrada, porque boas oportunidades não faltam e a Divina providência vai acabando por safar alguns.

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Mensagem de Natal

Aqui à atrasado, era habitual eu pôr-me para aqui com umas mensagens lamechas de Natal, pelo menos mais lamechas que esta...

Alguns dos que agora vão receber esta mensagem, lembrar-se-ão que eu tinha a mania que era uma espécie de Cardeal Patriarca alternativo e que por isso tinha de fazer chegar aos meus amigos momentos de reflexão natalícia, apropriados a esta altura em que tanta gente apenas se recorda da parte consumista da coisa.

Agora que perdi o encanto pela vida de pastor alternativo (cruzes, credo, canhoto) as minhas mensagens de Natal serão naturalmente mais simples e menos simbólicas ou até filosóficas.

O Natal, apesar de ser uma festa religiosa, pode e deve ser comemorado por crentes e não crentes como aquilo que realmente é, um sentimento.
Um sentimento de Paz, de recolhimento e de família, por mais que eles nos possam dar cabo do juízo, e um momento (ainda que escasso) para lembrarmos aqueles que têm menos sorte que nós.

A todos os meus amigos, aos nossos leitores (acidentais e fiéis), aos nossos colegas bloggers (até ao Pacheco Pereira) e à blogoesfera em geral, desejo o melhor que o Natal tem para dar :)

Affaire à l'Elysée

quinta-feira, dezembro 21, 2006

Um Natal politicamente correcto

Português - Feliz Natal
Albanês - Gezur Krislinjden
Alemão
- Frohe Weihnachten
Arménio
- Shenoraavor Nor Dari yev Pari Gaghand
Árabe - ارابي - فيليس ناتال
Basco - Zorionak
Catalão
- Bon Nadal
Coreano
- Chuk Sung Tan
Croata
- Sretan Božić
Castelhano
- Feliz Navidad
Esperanto
- Gajan Kristnaskon
Finlandês
- Hyvää joulua
Francês
- Joyeux Noël
Grego
- Καλά Χριστούγεννα
Inglês
- Merry Christmas ou Happy Christmas
Italiano
- Buon Natale
Japonês
- Merii Kurisumasu (adaptação de Merry Christmas)
Mandarim
- Kung His Hsin Nien
Holandês -
Kerstfeest
Romeno
- Sarbatori Fericite
Russo
- S prazdnikom Rozdestva Hristova
Sueco
- God Jul
Ucraniano
- Srozhdestvom Kristovym

Disclaimer: Lista obtida com a preciosa ajuda da
Wikipedia. Pedimos desculpa pela ausência de variadissimos idiomas ou dos seus caracteres originais. Essa ausência não poderá ser invocada como representativa de ódio visceral aos povos que os utilizam.

Acontecimento (económico) do ano 2006

Este ano houve apenas uma prioridade de ordem económica... OPA, OPA, OPA. Parecia que a palavra de ordem do nosso primeiro em relação às prioridades (Espanha, Espanha, Espanha) se tinha arrastado para vários sectores eocnómicos.
Subitamente o país acordou para a realidade que outros já viveram em que as empresas se compram umas às outras e acabam por se fundir e multiplicar ou concentrar.
Subitamente ficámos todos com a sensação que estava tudo à venda. Que todas as empresas fossem de telecomunicações, bancos ou transformadoras de papel estavam a preço de saldo e por isso se justificavam as OPA’s. Ainda por cima porque pelo menos uma destas operações é protagonizada por uma formiga que quer engolir um gigante.
Mas rapidamente percebemos que não é bem assim, que isto demora muito mais tempo do que seria razoável, e que outra coisa não seria de esperar em Portugal.
Sem querer alongar-me nesse assunto até porque as OPA’s ainda vão ser matéria do próximo ano, estas dificuldades surgem porque não definimos ainda o que pretendemos do papel do estado nas grandes empresas e também na influência na economia. E enquanto não repensarmos esses aspectos, vamos continuar a ter este tipo de operações rodeado de montanhas de burocracia sem sentido com pareceres de um lado para o outro. Esperemos que em 2007 o acontecimento económico seja o crescimento económico aliado à consolidação das pequenas e médias empresas, que são quem afinal alimenta este país.

A genética da discriminação

Numa qualquer carreira urbana... e de repente um ceguinho, espécie normalmente alvo de compaixão e estandarte público de bondade, sai-se com "aquela criança sentada aqui ao lado estava cheia de tosse, não sei como é que a mãe a tinha assim. era africana não era? não vi mas cheirou-me".
não há nada como apurar os outros sentidos, todos diferentes, todos iguais. Via irmaolucia

quarta-feira, dezembro 20, 2006

olhares do campo - outra música para os nossos dias

"Na cidade dormitório
Onde o sol se põe cinzento
E o bel-canto da cigarra
Jaz mudo sob o cinzento

Quando a noite cai sombria
Com seus ténues lampadários
Luzindo na simetria
Dos novos bairros operários

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Pinto apelos em murais
Esfumo a noite em olheiras
Deslizo na hora do lobo
Sigo o rastro das padeiras

Afio as minhas armas brancas
Nas esquinas de metal
Cravo-as bem fundo nas ancas
Da cintura industrial

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio

Silva a hora do comboio
Treme na erva o orvalho
Corações da outra banda
Apressam-se para o trabalho

Com olhos mal acordados
Brilho vestido ao contrário
Como peixes alucinados
Às voltas no seu aquário

O meu coração vadia como um lobo solitário
Na tristeza de um subúrbio"

Carlos Tê/Rui Veloso - "Corações Periféricos", em "Avenidas"

"Nunca acontecerá, jamais em tempo algum"

Palavras muito imprudentes do Ministro da Administração Interna, que esperemos não ter de ver António Costa engolir um dia destes.

terça-feira, dezembro 19, 2006

Da regulação

Não entendo como o Parlamento insiste em ouvir o ex-presidente de uma entidade de regulação do sector energético, para o questionar sobre o aumento das tarifas de electricidade, quando o sujeito se demite precisamente por o governo limitar esse aumento. Mas mais um tiro no pé do Ministro Manuel (ninguém me demite) Pinho, justifica inteiramente a audição parlamentar que anteriormente não teria uma projecção superior a dois ou três minutos na televisão.

Enquanto isso a Entidade reguladora da comunicação Social parece estar descontente com os seus já vastos poderes, que a ser aprovada a lei de televisão lhes permitirá fazer a impensável interrupção de programas em directo. Querem agora dar parecer (mais pareceres, que estão tão na moda) sempre que for nomeada uma administração da RTP. Controlar os conteúdos não é suficiente, a gestão também deve sofrer um parecer. Sobre esta Entidade o PSD não parece interessado em manifestar-se até porque aprovou o funcionamento da entidade tal como está.

Da estupidez

A estupidez é um fenómeno aglutinante. Onde quer que exista um estúpido, ele terá tendência a fazer-se rodear de gente estúpida.

Solitariedades - Dois homens, uma diferença

Dois homens. Nunca souberam que as suas biografias tinham vários pontos em comum. Aliás, nem sequer se conheceram.

Nasceram ambos no Verão de 1978 em pequenos lugarejos rurais. Os pais, adeptos da Argentina campeã do Mundo nesse Verão, baptizaram-nos em homenagem a Mário Kempes. Casaram relativamente cedo e foram Pais quase ao mesmo tempo. Ao primeiro filho seguiu-se o segundo. À medida que a família aumentava, o mesmo acontecia às dificuldades económicas que enfrentavam nos seus países.

A opção pela emigração começou a ser ponderada nas duas famílias. As vantagens materiais eram indiscutíveis. Ainda assim, ambos hesitaram imenso. Nunca haviam saído dos seus países e raras foram as viagens até às respectivas capitais. Mas o pior era a antecipação das saudades que sentiriam dos amigos e familiares, das mulheres e filhos em particular.

Pesados prós e contras, tomaram a decisão de arriscar. Destino escolhido - Paris.

Os pontos em comum terminam aqui. Mário Silva pegou num montante suficiente para pagar o Sudexpress e foi até ao Porto. Chegou a Paris e, após alguns dias de procura de trabalho e de análise das opções disponíveis, começou a trabalhar numa loja de fast-food da capital gaulesa. Nasceu em Trás-os-Montes. É português.

O outro Mário nem sequer chegou a Paris. Chamava-se Mário Yameogo e nascera a duas horas de carro de Bobo-Dioulasso, no Burkina Faso. O objectivo Paris passava por pedir dinheiro emprestado a vizinhos, familiares e amigos. Só assim pôde pagar aos vários intermediários que lucram com a emigração ilegal para a Europa. Mas a viagem deste Mário terminaria no Sul da Península Ibérica. O seu corpo foi encontrado junto a Gibraltar há uns dias. Já sem vida...

Esta história é fictícia. As verdadeiras acontecem todos os dias. Até quando ?

segunda-feira, dezembro 18, 2006

Solitariedades - Eu, tu, nós, eles

Bolas! Isto é que foi. Começar uma semana sabendo que fomos nomeados "Person of the Year" não é todos os dias.
Pois é! Qual Ahmadinejad, qual Bento XVI, qual Bush, eu é que sou a Pessoa do Ano. E tu também!!! Viva nós todos!!!

sexta-feira, dezembro 15, 2006

Acontecimento (político) do ano 2006


Janeiro foi um mês estranho. Nevou em todo o país, Mozart fez 250 anos, o Hamas chegava ao poder na Palestina e Bacelet no Chile. Ouvimos falar pela primeira vez no MIT e do envelope 9. Aqui em casa nascia o Terminal do Suburbano (que insiste até hoje em não estar devidamente actualizado), e O Eleito fechava as portas. Cavaco ganhou as presidenciais e a blogoesfera tornou-se uma seca...
Claro está que o acontecimento político do ano foi a eleição de Cavaco para a presidência. Já o povo simples dizia nessa noite fria de Janeiro à porta do CCB “Eu e o meu marido somos reformados e temos artrite reumatóide e espero que ele faça algo de bom por nós.” E o Presidente não tem desiludido os que sofrem de reumático...
Atento às dificuldades do país real, Cavaco lançou a sua versão de presidência aberta, os Roteiros, que aos poucos têm vindo a chamar a atenção para assuntos sociais como a exclusão.
Com discursos fortes nos momentos certos e com um maior sentido da protocolaridade do lugar, tem vindo a marcar o seu estilo na presidência.
Ainda que se espere que, tal como todos os outros, não haja nada de relevante a dizer do primeiro mandato, Cavaco já defraudou as expectativas de uma parte substancial do seu eleitorado, daqueles outros partidos que o apoiaram. Todos aqueles que não esperavam ver uma tão grande proximidade ou até sintonia com o governo.
Mas afinal é natural até porque apoiar Cavaco era um tiro no escuro. O homem não disse nada, por isso chegado lá pode fazer o que entender e agradar a quem quiser para chegar ao segundo mandato...

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Post PQP das 23:17

Deviam abrir mais faixas no IC19 porque três filas entupidas a esta hora, ainda não conseguem recriar o ambiente familiar e aconchegante do Natal. Ainda somos poucos e está muito frio. Com mais uma ou duas faixas talvez fosse melhor, porque o efeito visual é mais impressionante...

Mais notícias (ou más notícias. Depende de quem lê)

Hoje tem sido um dia interessante nas notícias. Não só o nosso Presidente está novamente em acção (ver post abaixo), como também Maria José Morgado vai ficar com todos os processos relativos ao "Apito Dourado"
Agora é que isto vai "apitar fininho"

olhares do campo - Se eles são tão amigos...

O senhor Professor que não se estique, ou ainda passa por "força de bloqueio"...

olhares do campo - Nós, os finlandeses

Dois pequenos inconvenientes da curta mas interessante reportagem de ontem na RTP 1:

1- O Engenheiro Sócrates ter de esconder a cara de vergonha, pela revelação da forma manipuladora como refere o "modelo Finlândia". De universos tão díspares, escolhe-se aqui e além o que interessa ao marketig político reles, para iludir muito e fazer talvez tão pouco. Como pretende seguir o "modelo", na sua lógica de contabilista de mercearia?

2- O perigo de se alinhar pela tendência geral para a "psicologia colectiva". Desgraçados de nós, que nunca chegaremos ao nível daquele povo afortunado? Ou felizes dos lusitanos, no seu espírito tão próprio, que não cai na frieza do "rigorismo"? São assim, os portugueses...

quarta-feira, dezembro 13, 2006

Acontecimento (medíocre) do ano 2006

Este ano continuou a estar marcado pelos tradicionais conflitos um pouco por todo o mundo. Mas o médio oriente continua a dar cartas. O Iraque e a intervenção israelita no Líbano marcaram o ano pela negativa.
O médio Oriente e o conflito palestiniano, parecem ser o inicio e o fim de todos os problemas.
A confusão generalizada entre estado e religião, entre ditadura, suposta democracia e extremistas e a forma como se movimentam forças extremistas para conquistar espaços que os mais moderados não conseguem manter, a juntar à absurda prepotência e cegueira americana sobre a região, ajudaram a perpetuar conflitos e crises politicas e a alimentar a máquina de guerra com milhares de corpos de inocentes. Pode ser que em 2007 alguém decida assumir um plano sério para o conflito israelo-palestiniano. Imagino ser esperança vã…

Será...

... que a promessa de baixar os impostos em 2010, apenas se o crescimento económico do país atingir os 3% do PIB, também faz parte da escalada de propaganda eleitoralista sem escrúpulos, que o governo tem vindo a alimentar, com o intuito de enganar os portugueses?

Pensamento do Dia


"Senhor, dá-me SABEDORIA para entender as pessoas que comigo trabalham, porque se me dás FORÇA parto-lhes a cara."

Solitariedades - 3 crias de dejecto

terça-feira, dezembro 12, 2006

Sai um ditador, bem tostado por favor...

Mas convenhamos, uma boa cremação tb dá imenso jeito para evitar romarias e saudosismos parolos, que parte das populações dos paises que viveram em ditadura sempre acabam por ter durante as duas ou três gerações seguintes.

Frase (mas será que ninguém me demite) do ano 2006

Tem aqui início a recordação de alguns episódios do ano de 2006. Até ao final do ano vou deixando aqui alguns destaques que nos chocaram, nos foram indiferentes ou simplesmente nos fizeram rir.

Começamos por Manuel Pinho. O feliz autor desta frase cheia de consciência social, digna de um grande estadista, proferida no meio das negociações entre trabalhadores e a administração da Auto-Europa e perante a possibilidade de estar em risco a viabilidade da empresa:

"Os trabalhadores em plenário, trocaram a certeza de mais horas extraordinárias, pela certeza de mais desemprego..."

olhares do campo - Nos 30 anos do poder local democrático...

... os nobres princípios da proximidade e da autonomia estarão indelevelmente manchados pela sua perversão no clientelismo e na impunidade alarve?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Autarquias

Ando há anos a discutir com amigos esta questão que o João Miranda acabou de referir no Prós e Contras.
O executivo das câmaras municipais tem de ser de uma única cor e as forças partidárias que não conseguirem ganhar as eleições devem fazer-se representar nas assembleias municipais investidas de novos poderes.
É o que faz sentido e evita este tipo de situações que com maior ou menor visibilidade que é dada à capital do país, acontece na maioria das câmaras do país.
O PC e as forças políticas mais pequenas não gostam, mas é normal. Já acontece o mesmo com a reforma da lei eleitoral. Não é uma questão de poderes mas uma questão de governabilidade.

Armar ao pingarelho

Já começa a irritar esta mania do Sócrates em meter umas expressões em inglês no meio de frases que até lhe estavam a sair bem. “achievement”, “new direction” ou “Larger than live” são algumas destas expressões.
Começo a desconfiar que aos poucos o homem quer testar aquela medida do inglês desde a primária, apostando em que as crianças de 5 ou 6 anos não terão outra forma de o entender já que o português deve continuar a ser fortemente maltratado.
É uma forma de piscar o olho a novos potenciais eleitores para quando ele quiser ocupar Belém a seguir a Cavaco, Guterres e Durão. Se todos estiverem lá pelos previsíveis 10 anos é bom que Sócrates arranje outra forma de se fazer recordar pelas gerações que estão agora na primária e deixar de se armar ao pingarelho.

Tarde demais

Há uma espécie de contentamento agridoce na morte de alguém como Pinochet. Em primeiro lugar há o contentamento indiscutível em que morram o maior número de ditadores possível e de preferência o mais depressa possível. Que não tenhamos que esperar 91 anos para que eles se vão apagando. É muito pouco cristão ter pensamentos destes, mas a morte deste tipo de sujeitos deve ser é festejada com banda e foguetes que não fazem cá falta nenhuma. Não respeitaram ninguém nas suas vidas e não merecem agora o respeito que se deve aos defuntos.
O sentimento agridoce deriva da relativa impunidade e tranquilidade em que morrem. Não se faz justiça e os poderes políticos pós ditadura, no Chile como em outras paragens têm receio de chafurdar na porcaria, que a qualquer momento pode voltar-se contra eles. A consolidação democrática permite demasiadas vezes a cedência a situações de compromisso mais ou menos absurdas como a que permitiu que até 1998 Pinochet fosse o chefe supremo das forças armadas, e permite que o julgamento público seja amenizado a bem da paz social. Ainda assim é lamentável que este sujeito não tenha podido ser julgado e tenha passado pela humilhação de estar preso num cárcere vulgar como tantos outros que ele prendeu, nem que fosse apenas por um dia.
Mesmo assim os julgamentos podem e devem continuar, porque Pinochet não actuou sozinho nem morreram todos ontem à noite.
Talvez agora o Chile, apesar das manifestações mais ou menos violentas de ontem, motivadas por uma minoria de saudosistas (há destes em todo o lado...) possa encontrar um caminho de paz e prosperidade.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

O Howard Dean era aquele rapaz que entrava nos comícios de autocarro, não era?

The Bridge

Escrever sobre o suicídio não é fácil. Felizmente é um assunto que não conheço bem, mas tenho a certeza que é algo que passa demasiadas vezes pela cabeça das pessoas quando se sentem encurraladas. Depois há aqueles que se suicidam sem que tal fosse previsível, de quem pensámos não terem problemas pessoais que os levassem ao suicídio, mas se calhar até por causa disso. A solidão, as dividas, a pressão competitiva, a exclusão ou a discriminação, são todas razões pelas quais as pessoas se matam. Mas na realidade nunca saberemos o que pensa uma pessoa no momento em que decide matar-se. No momento em que decide que atingiu um ponto de não retorno.
A sociedade moderna além de não estar, na maioria das vezes, atenta aos sinais, também proporciona inúmeras possibilidades de concretização do suicídio.
Enquanto a maioria de nós celebra o êxito do génio humano, outros vêm oportunidades de por termo às suas vidas. Provavelmente será sempre assim, e sempre existirão perguntas sem resposta.


Otário

Actualize o seu dicionário…
Otário – individuo que defende, com ardor mas sem argumentos, a construção do Aeroporto da Ota.

Quem é que já me terá chamado isto? :)

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Solitariedades - Babyklappe

Este conceito existe na Alemanha desde 2000. São berçários disponíveis em alguns hospitais e instituições de beneficência. Através de uma porta de vidro, é possível deixar um bebé. Quando isto acontece, soa um alarme e os serviços públicos de saúde são chamados a intervir. Esta medida fez diminuir a mortalidade de recém-nascidos abandonados. Ainda assim, há vozes discordantes. Questiona-se o papel do Estado neste processo. Diz-se que fomenta o abandono das crianças. Faz lembrar alguns dos argumentos do debate sobre o Aborto. Perante um problema concreto, há quem pareça preferir que tudo fique na mesma. “Cuidado com as loucas das mulheres que vão desatar a colocar os filhos nos berçários” ou “Despenalizar o Aborto ? Nem pensar. Essas malucas vão começar a abortar a torto e a direito”.

A irracionalidade vai a pontos de nem sequer perceberem que o direito à vida de que supostamente são arautos é defendido por medidas destas. As “babyklappe” salvam as vidas dos recém-nascidos ali deixados, tal como a despenalização do aborto poderá salvar as vidas de mulheres deixadas ao sabor de curiosos da matéria que, sem o mínimo de condições, fazem abortos por esse país fora...

Serviços mínimos



Se alguém perguntar por mim, tenho passado e vou continuar a passar, os próximos dias deitado no sofá com o comando na mão. Férias em Dezembro é assim. Isso, o fungar do nariz e as compras que tardam em ser feitas :)

Não sou um orgão de soberania

Não, não sou um órgão de soberania. Isso é um facto inultrapassável.
Ainda assim não posso deixar de pressionar, como os restantes órgãos de soberania, a Autoridade da Concorrência, para que resolva esta palhaçada de uma vez por todas.
Ainda que possa discordar das decisões deste organismo, considero intolerável que andem diversos órgãos de soberania a pô-los em causa e a pressioná-los para decidirem depressa, não vá o tio Belmiro perder o comboio e uns quantos milhões pelo caminho.
Além disso já ninguém normal consegue aturar esta treta.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Solitariedades - I told you so...

Pois é... O homem já tinha avisado várias vezes. Não lhe ligaram nenhuma e pimba. Toca a derrubar o governo das Fiji.
O equivalente ao "nosso" CEMGFA lá do sítio (Bainimarama) não precisava de ter derrubado o governo e tomado o Poder para entrar para a História.
Esse lugar foi garantido quando, na semana transacta, fez um ultimato público ao governo. Exigia que fossem retiradas umas quantas propostas de lei e que alguns julgamentos de militares fossem suspensos. Nada de mais, não ? E lá está. Ele avisou. Golpes de Estado com pré-aviso ?? Só pode ser um militar responsável e com noções de ética bem elavadas.
Mais ainda. Nem sequer levou à letra o prazo que o próprio havia imposto. Ainda esperou mais uns dias. O que é que queriam mais ?
O que vale (ou nem por isso...) é que os fijianos têm tido uma média de um golpe de estado por semestre nos últimos 2 anos. Já nem devem ligar muito a estas coisas...

domingo, dezembro 03, 2006

Factor geracional

É sempre bom perceber após tantos anos, que enquanto eu me esforçava por viver e por me safar nesta selva, havia alguém que controlava os meus movimentos de forma a poder passados 15 anos, juntar tudo num estudo que servirá de indicação para o futuro.
Não sabia que este estudo sobre os jovens era afinal sobre mim, e sobre a minha geração, sobre as dificuldades e incertezas que sempre tivemos e sobre a forma como sobrevivemos a um sistema de educação perdido entre reformas. Como conseguimos sobreviver à droga, aos subúrbios descaracterizados, à violência que os mais velhos que iam ficando para trás nos anos que reprovavam nos iam infligindo e sobre a qual os nossos pais nos avisavam com frequência. Sobrevivemos aos micróbios e à chuva copiosa sempre que insistíamos em não usar chapéu-de-chuva. Iludimo-nos e encantámo-nos com as coisas mais simples. E como acabámos por dar a volta por cima, acabando tudo por correr mais ou menos. Sim, mais ou menos.
Ninguém, com ou sem estudo, nos pode negar a evidência que ninguém fez nada de especial para nos ajudar e tivemos de ser nós a lidar com a frustração de sermos filhos de uma geração que não queria menos para os seus filhos do que serem todos doutores, e nem todos lá conseguimos chegar. Os que chegaram continuam a bater-se pela sua oportunidade.
Não casámos, não vamos casar, juntámos os trapinhos, vivemos em casa dos pais ou acabámos por estar cheios de dívidas porque decidimos não o fazer. Mas o importante é perceber que embora este estudo venha a servir para fazer politicas de juventude para o futuro, a juventude actual não tem necessariamente os mesmos dramas que nós tivemos e talvez fosse uma boa ideia fazer politicas de juventude adequadas às suas dificuldades e não apenas publicarem um estudo quando eles já tiverem trinta.
Mas enfim, isso já não me interessa muito, importa-me mais a louça que tenho ali para lavar. Afinal foi a opção que resolvi seguir sem ajuda das políticas de juventude que vão chegar agora.

SIM


Numa altura em que se começa a “contar espingardas” e começam a aparecer cada vez mais movimentos a favor ou contra a despenalização da IVG, este blog considera não poder ficar de fora.
Tencionamos deixar aqui as razões que alimentam as nossas posições, numa altura mais oportuna, talvez no início do ano. No entanto, isso não invalida que neste momento possamos afirmar que este blog e os seus elementos são pela escolha e pelo SIM no referendo, de forma a terminar esta hipocrisia que continua a humilhar mulheres nos tribunais portugueses.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Pontos de vista

Depois de ouvir que a Rádio Renascença tomou uma posição sobre o referendo para a despenalização da IVG, mas que ainda assim a sua informação vai manter a mesma independência de sempre, só me consigo lembrar (e um amigo que aqui pára tb) da objectiva liberdade com que a Rádio Renascença evitou passar uma música do Rui Veloso chamada "O Prometido é devido"...

Dia Mundial da Sida - 25 Anos


25 anos depois muitos milhões morreram e outros 70 milhões estão infectados. Em todo o mundo a pobreza, a ignorância e o preconceito continuam a infectar milhares todos os dias.