segunda-feira, dezembro 11, 2006

Tarde demais

Há uma espécie de contentamento agridoce na morte de alguém como Pinochet. Em primeiro lugar há o contentamento indiscutível em que morram o maior número de ditadores possível e de preferência o mais depressa possível. Que não tenhamos que esperar 91 anos para que eles se vão apagando. É muito pouco cristão ter pensamentos destes, mas a morte deste tipo de sujeitos deve ser é festejada com banda e foguetes que não fazem cá falta nenhuma. Não respeitaram ninguém nas suas vidas e não merecem agora o respeito que se deve aos defuntos.
O sentimento agridoce deriva da relativa impunidade e tranquilidade em que morrem. Não se faz justiça e os poderes políticos pós ditadura, no Chile como em outras paragens têm receio de chafurdar na porcaria, que a qualquer momento pode voltar-se contra eles. A consolidação democrática permite demasiadas vezes a cedência a situações de compromisso mais ou menos absurdas como a que permitiu que até 1998 Pinochet fosse o chefe supremo das forças armadas, e permite que o julgamento público seja amenizado a bem da paz social. Ainda assim é lamentável que este sujeito não tenha podido ser julgado e tenha passado pela humilhação de estar preso num cárcere vulgar como tantos outros que ele prendeu, nem que fosse apenas por um dia.
Mesmo assim os julgamentos podem e devem continuar, porque Pinochet não actuou sozinho nem morreram todos ontem à noite.
Talvez agora o Chile, apesar das manifestações mais ou menos violentas de ontem, motivadas por uma minoria de saudosistas (há destes em todo o lado...) possa encontrar um caminho de paz e prosperidade.

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