...ou breves impressões sobre um mundo esquecido
A Mêda é um pequeno concelho no alto interior beirão. Uma terra marcada pelo envelhecimento e pela desertificação, no contexto do interior rural português. Quando passamos por terras como esta é inevitável que nos interroguemos uma outra vez sobre o rumo do desenvolvimento no nosso país.
A agricultura ainda possível ali é já uma outra, para que estas populações podem não estar preparadas. E o turismo, essa nova panaceia do crescimento (com os seus prós e contras...), tarda em despontar por aqueles lados. Mas então algum espanto se nos levanta.
Com o Douro a banhar-lhe a fronteira a norte (tendo mesmo algumas suas freguesias o “benefício” da produção de vinhos “Douro”), a dois passos de Foz Côa e integrando a “aldeia histórica” de Marialva (classificação do INATEL), quer-se crer que o concelho da Mêda podia conhecer uma outra dinâmica. Mas é talvez aí que se revela o malogro das medidas de gestão do território (se não pior, a sua ausência...).
Sabemos que a nível nacional o interior é um mundo esquecido, ainda que não possamos pactuar com essa atitude histórica, acomodados nos nossos luxos e infortúnios suburbanos. E é urgente que os poderes regional e local não se demitam das suas responsabilidades, desculpando-se da inépcia dos seus arcaísmos com as tradicionais faltas de recursos.
Aos trinta anos da democracia e do poder local, já vai sendo tempo do desenvolvimento passar da retórica propagandística e deixar de ser um conceito de aplicação parcial e mesquinha, para que de forma sustentada se possa fazer um país. Para que lugares como a Mêda se possam tornar em sítios onde valha realmente a pena viver e passar.
Numa noite fria mas límpida, de verão de S. Martinho, podemos talvez cruzarmo-nos, não sem alguma surpresa, com uma banda rock nacional, em concerto numa festa local. E sorriremos ao ouvir o António Manuel Ribeiro cantar que “os putos vieram divertir-se”. Mas quanta distância vai entre o divertimento alegre e contagiante de uma infância vivida na liberdade dos espaços abertos e a angústia juvenil de um horizonte limitado e sem futuro?
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