terça-feira, outubro 09, 2007

A PIDE em nós

É sempre bom gritar umas alarvidades e dizer aqui d'el rei que vem aí a PIDE. Mas as verdadeira análise dos acontecimentos fica sempre por fazer... Por alguma razão será...
Por exemplo: todos os jornais e telejornais falaram nos documentos que a polícia terá levado da sede do sindicato. Mas o sindicato teve a amabilidade de esclarecer algum jornalista sobre que documentos eram esses? E se teve porque razão a comunicação social não revelou o carácter destes documentos optando por os classificar como "os documentos"? São documentos internos do sindicato ou serão simples panfletos? O sindicato alguma vez referiu que a polícia levou documentos (os tais não identificados) contra a vontade dos sindicalistas? Então porque razão o secretismo sobre o teor dos documentos?
Mais questões interessantes... O PCP mostrou desagrado por não saber a hora da visita à Covilhã e terá sido informado da hora pelo gabinete do primeiro-ministro. O PCP fez-se representar nesta iniciativa? Se não se fez representar porquê a insistência sobre as horas da chegada do primeiro-ministro? Ainda que a hora tenha sido fornecida, a democracia está em risco quando um partido da oposição (o terceiro ou quarto mais votado) desconhece a hora exacta de uma iniciativa no âmbito da Presidência da União Europeia, anunciada há várias semanas? Podemos imaginar que o PCP respeita um princípio de reciprocidade, informando os restantes partidos e o governo das suas iniciativas?
Aparentemente estiveram pouco mais de 100 pessoas no protesto da Covilhã. Não estiveram mais porque ficaram intimidadas? A recolha de documentos não identificados intimida pessoas não identificadas? E a recolha de documentos identificados continuaria a intimidar? Talvez não, porque na realidade não estamos a falar de documentos, afinal estamos mesmo a falar de panfletos, daqueles que o sindicato distribui na rua, mas que subitamente ganham mais peso se lhes podermos chamar “documentos”.
Mais... Os sindicatos reconhecem como legítima a necessidade de organizar a segurança de uma visita do primeiro-ministro e de vários outros elementos do governo e da união europeia? Se sim, estão dispostos a colaborar com a polícia, ou antes pelo contrário qualquer colaboração com a polícia não será mais que isso mesmo - colaboracionismo?
Na sociedade preconizada pelos sindicatos há polícia? Ela é necessária? É? E para quê? Se a policia é necessária nessa sociedade os sindicatos contemplam a possibilidade de colaborar com essa polícia? Se sim, porque não o fazem já uma vez que preconizam objectivos de uma sociedade diferente e uma vez que esta polícia parece não querer a colaboração dos sindicatos?
E muitas mais perguntas se poderiam por aqui colocar.
Não é meu objectivo defender e ou justificar o que eventualmente se passou na Covilhã, mas sim chamar a atenção para o consecutivo tratamento tendencioso de que são alvo estas noticias e que como se pode ver podem ser tratadas de forma tendenciosa independentemente do lado de quem as observa. E no meio dos disparates que se disparam é difícil perceber onde está mesmo a realidade ou sequer se há um real interesse em perceber onde está a verdade.
A PIDE não voltou, antes pelo contrário foi ficando e instalando-se um pouco em todas as nossas cabeças. Todos criámos uma pidesca tendência de vigiarmos os outros e de os acharmos eternamente pouco confiáveis.
As teorias de conspiração estão ao alcance de todos, e compete-nos fazer precisamente a distinção entre o que é real e o que é simplesmente gritado aos megafones da televisão como excelente plateia para reivindicações anacrónicas.
É-me totalmente indiferente a opinião que o PCP e os sindicatos têm sobre este governo e o seu suposto totalitarismo. Porque do meu ponto de vista, sim, talvez seja exclusivamente meu (mas não creio) este governo não pode ser acusado de totalitarismo, para mais porque muitas das suas medidas levam a uma maior justiça social, que apenas pode levar a uma maior e melhor democracia. Mas lá está, esta é apenas a minha opinião.
Mas aprendamos todos a reconhecer a diferença e a aceitar as diferentes opiniões. Saibamos distingui-las sem recurso a palavras de ordem ou chavões porque estes não contribuem para o esclarecimento necessário. Antes contribuem para um ambiente de constante clivagem entre não se sabe muito bem quem.
Enquanto andamos divertidos a brincar ao partidos que totalitarizam ou não, os verdadeiros filhos dos PIDEs lançam-nos ameaças pela Internet e esses não tiveram direito a qualquer escrutínio superior a 2 ou 3 minutos, mas sem nos apercebermos vão crescendo, crescendo e quando menos se esperar acabaremos por ser mordidos.
Nessa altura poderemos todos espantar perante a nossa total ignorância.

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