quarta-feira, janeiro 26, 2005

All about small things... (London chronicles III)


Depois de uma frustrante nega vinda de um homem de saia com um chapéu em forma de penico só porque já passava das 17h, lá conseguimos entrar na torre de londres no dia seguinte. Aquilo que parecia ser uma saudosista visita ao passado (os primeiros a montar aqui a barraca chegaram bem antes do romanos...) rapidamente se tornaria num momento bastante simpático da história da viagem. O responsável era agora um novo guarda (os yeoman's) com o tal chapéu em forma de penico que nos deu alguma divertidas explicações. "Now they call it Fosters" foi a forma que o guia encontrou para nos explicar que ainda podíamos encontrar à venda um tipo de cerveja de má qualidade (small beer) que era dada aos pobres ou viajantes que procuravam abrigo na torre. Mas a história do mais antigo monumento de londres é uma história de sangue e tortura... Aqui foram assassinados traidores mas tb príncipes e rainhas que insistiam em perder a cabeça quando não davam filhos ao henrique VIII.... Foram tb cometidos alguns erros como a decapitação por engano de um filho ilegítimo do rei... Quando perceberam o erro correram a tirar a cabeça do pau onde se encontrava espetada/exposta à entrada de Londres e tiveram a coser de volta ao corpo para que se pudesse pintar um retrato do defunto para a posteridade... afinal havia ali sangue real... O retrato lá se fez mas o pintor nunca viria a receber o pagamento porque o quadro foi considerado pouco vivo.... Ironias britânicas...

Daqui para a colossal catedral de São Paulo. Um dos mais emblemáticos símbolos de londres que teve direito a cobertura mundial no casamento do Carlos com a Diana... (mas isso não interessa para nada...) a cúpula desta catedral eleva-se a algumas centenas de metros e são precisos uns esgotantes 538 degraus para chegar lá acima...
Mas o que mais impressiona não tem a ver com a dimensão inacreditável do local mas com a inacreditável homenagem que tal como em Westminster é feita aqueles que morreram pelo Reino Unido. Provavelmente a minha surpresa deriva de sermos um país com muito poucos heróis e termos muito poucas histórias de verdadeiro altruismo, mas aqui , seja nas artes da guerra ou nas artes das letras o país sabe reconhecer aqueles que o fizeram chegar longe. Só alguns nomes... estão aqui o almirante Nelson, o nosso amigo (?) Wellington e são tb homenageados os homens e mulheres que durante os bombardeamentos alemães da II guerra mundial montaram a defesa da catedral para que esta não fosse destruída pelo blitz.

Como as antiguidades estavam no nosso percurso lá fomos para mais um caminho de metro com uma ou duas mudanças para conseguirmos encontrar o British Museum e as múmias roubadas do Cairo...

Mais tarde, depois de alguma comida para alimentar a caminhada e de mais algum tempo de metro estamos de volta a Piccadilly e vamos no encalço do turbilhão da chinatown... Passeamos pelos restaurantes com aspecto duvidoso, de nome impronunciável e com pato já lacado pendurado nas vitrines... e quase jurariamos que aqueles chineses todos de gravata e charuto que sairam de uma carrinha preta eram membros de alguma tríade ou mafia da zona.... optámos por nos afastar para irmos ao não menos estranho Zoo bar... "party hard or go home" era o lema do bar, música comercial acessivel na onda da mega FM, caras bonitas e vestidos curtos apesar do frio que se fazia sentir na rua. Fim do dia num Planet Hollywood às moscas onde nem já o modelo do agora governador da california com a tromba toda desfeita no seu papel de Terminator parece convencer alguém a lá ir.

Para fim de festa arrumámos as malas de manhã e partimos para a catedral do consumo... o Harrods... não sem antes alimentarmos uns esquilos demasiado atrevidos nos kesington gardens, que vêm comer à nossa mão quando lhes mostramos um chocolate. O Harrods é clássico e situa-se num edificio antigo e vitoriano mas o seu conteúdo não é diferente dos antigos armazens do chiado ou do actual corte ingles... os preços não são assim tão loucos....
Faltava para completar em beleza a nossa viagem uma ida ao natural history museum para vermos os primeiros a terem andado por terras de sua majestade muito antes de os ingleses se considerarem como tal.... sim, a galeria dos dinossauros com os seus esqueletos completos em salas monstruosas.

Londres é tudo isto que vos tenho dito nos ultimos dias e muito mais, Londres é uma metropole a perder de vista onde se mistura uma inglaterra clássica, real e monumental com a heterogeneidade das pessoas de todo o mundo que lá vivem. London is all about small things... pequenas coisas como o Mind the Gap no metro, a necessidade de identificação nos bares, as passadeiras na estrada com indicação do look right ou look left ou a inexistência de cães vadios ou de lixo. Londres é o cuidado com a memoria colectiva do maior imperio de sempre e a força que aparentemente ele continua a ter.

Depois da paranoíca segurança do aeroporto de Stansted (continuo sem perceber como se pergunta a alguém se outra pessoa pode ter introduzido algum objecto na nossa bagagem(????) não seria melhor perguntar logo de forma educada: Are you a terrorist?) e depois da pouca pontualidade britanica dos aviões irlandeses chegámos e já estamos cheios de nostalgia... que sentimento tão português....

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