segunda-feira, junho 05, 2006

A minha bandeira é maior que a tua...

A minha tem 20m...
Não há nada de mal nos portugueses quererem celebrar e festejar o seu orgulho nacional exprimindo-o através de uma equipa de futebol. Não há mal nenhum, para além de ser particularmente piroso, em pendurar a bandeira nacional no estendal da roupa, presa com molas. Mas também não faz mal termos uma adequada gestão de expectativas que é totalmente incompatível com a histeria colectiva que rodeia os jogadores da selecção, em Portugal, mas também no estrangeiro onde milhares de emigrantes portugueses fazem centenas de km por 15 ou 20 minutos de puro êxtase patriótico. Quase como se entrassem em transe.
Não vale a pena explicarmos aos portugueses, mesmo sem ponta de juízo de valor, que somos desiquilibrados simplesmente porque alternamos períodos de euforia com a mais profunda das depressões. Jamais alguém irá entender. Isso parece fazer parte da essência das coisas neste cantinho de Europa. Até mesmo os que de nós se dedicam a pensar um pouco sobre estas coisas não deixam de sentir esses mesmos altos e baixos.
Fomos demasiado grandes apesar de nunca termos conseguido efectivamente mandar naquilo que era nosso e não são trinta e poucos anos que resolvem o vazio que deixámos para trás. É um pouco como as pessoas em que por acidente perderam algum membro mas que ocasionalmente o continuam a sentir. Só assim se justifica os relatos epíco-trágicos de epopeia maritíma na recepção dos militares da GNR em Timor, que não fosse a actual situação timorense, mais parecia a chegada das caravelas.
Somos assim e muito pouca coisa poderemos fazer para mudar, além de podermos passar a ter consciência que falhamos em quase todos os momentos que se revestem de dramatismo e acabamos quase sempre numa gigantesca depressão colectiva.
Este mundial tem todos os ingredientes para o dramatismo e resta saber se vamos estar a altura ou falhar novamente?
Os jogadores, Scolari e a Federação fizeram muitas folgas, foram para a borga até às tantas, assinaram milhares de autógrafos, fizeram karting, receberam cumprimentos, cumprimentaram jornalistas mexicanas e jogaram com equipas de vão de escada.
Mas só o fizeram porque nós o exigimos. Jamais compreenderíamos que um momento de festa nos afastasse dos nossos ídolos, que não nos permitisse tocar-lhes, gritar-lhes e incentivá-los.
Somos o resultado do nosso próprio contentamento pequenino, das vitórias morais e da desgraça ao virar da esquina, que confirma a inevitabilidade de nos termos em demasiada conta em determinados momentos que quase sempre resultam em verdadeiras catástrofes.
Esperemos que em relação ao Irão e principalmente em relação a Angola, o dramatismo não nos arraste para a depressão, e que de uma vez por todas tenhamos a humildade de reconhecer as nossas limitações.

1 comentário:

Patrícia disse...

Já ando a repetir-me demasiado, já escrevi um post e comentários sobre isto, mas... não resisto...

PORQUE RAIO É QUE SÓ HÁ ORGULHO NA PÁTRIA QUANDO HÁ BOLA PELO MEIO????????? E mais, por que razão é que os únicos "iluminados" sujeitos a eterna devoção são gajos que se limitam a dar uns chutos valentes numa bola e a receber balúrdios de dinheiro???

Ai... Isto irrita-me tanto... A minha rua está toda enfeitada com bandeiras... Apetece-me perguntar aos meus vizinhos se se naturalizaram portugueses recentemente...

:S

Desculpa, não queria ser agressiva logo no primeiro comentário...

Nice blog! :)