Sou sindicalizado no SNTCT, filiado na CGTP e muito embora reconheça a importância dos sindicatos na regulação de um trabalho justo em sede de concertação social ou até na rua, ainda que compreenda o sentido de algumas preocupações e reconheça a bondade de alguns dos protestos, não fiz greve.
Não fiz, porque a greve geral não faz qualquer sentido nesta altura, e os resultados aí estão para provar que não há objectivamente qualquer razão para a convocar.
Desde logo, a organização de uma greve geral que apenas conta com a organização de uma das duas centrais sindicais, é indicativo que aquilo pelo qual se pretende protestar não é linear, nem tão pouco é exemplo de uma generalizada agressão ao conjunto dos trabalhadores e dos portugueses.
Infelizmente esta greve perde-se na magnitude que pretende atingir. Aplica-se a toda a gente e por isso mesmo quase ninguém se consegue rever nela.
Hoje, os maus patrões, os maus empresários, os exploradores de mão-de-obra barata, não terão tido qualquer dificuldade em continuar a laborar normalmente, porque a CGTP esteve o dia todo a brincar aos partidos políticos. A CGTP marcou esta greve geral não contra qualquer objectivo obscuro do patronato em explorar ainda mais os trabalhadores, mas contra o governo, e está a provar-se que além dos sectores habituais, onde geralmente já aconteceram dezenas, senão centenas de greves no passado, mais ninguém aderiu à greve.
Esta greve geral não faz sentido porque os seus argumentos não colhem junto da maioria da população portuguesa, porque a generalidade dos portugueses continua a não compreender a linguagem hermética dos sindicalistas e acaba por concordar com grande parte das medidas implementadas pelo governo a quem deu maioria absoluta há apenas dois anos.
Aliás, essa é a questão fundamental. São apenas dois anos. Depois de um período de inaceitável instabilidade politica que não favorece nem beneficia ninguém, os sindicatos pretendem fazer crer que este governo ameaça o estado social e as suas características e que deliberadamente persegue os trabalhadores portugueses.
O que a generalidade dos portugueses vê é que apesar do panorama obscuro que se pretende pintar e apesar do momento difícil em que vivemos, que ninguém escamoteia, nem sequer o governo, não há nenhuma prestação social do estado que esteja em risco. Ainda que sobre essas prestações se introduzam critérios essenciais de racionalização dos recursos, assim como uma maior pressão sobre os aproveitadores, que julgo todos os que delas beneficiam compreenderão perfeitamente.
Que se pretende racionalizar e dar ordem ao desperdício. Que se pretende regular ou mitigar as diferenças que o Estado inexplicavelmente concedeu ao longo de anos aos regimes especiais dos seus funcionários e acabar com reminiscências corporativas que tantas profissões continuam a beneficiar. Além de tantas e tantas outras coisas.
Claro que o caminho é longo e difícil, mas os sindicatos não parecem querer ceder em absolutamente nada, apesar de constantemente afirmarem a necessidade de outros cederem. Os sindicatos não sabem quais os verdadeiros interesses dos trabalhadores que defendem, apenas interpretam esses interesses. Não comunicam com os trabalhadores, apenas lhes apresentam as decisões que já tomaram e se esforçam por lhes provar que se alguém sabe o que é melhor para eles é o sindicato.