sexta-feira, maio 12, 2006

Os Chouriços


Chamam-lhe propaganda, e é bem capaz de haver alguma coisa de um marketing incipiente na catadupa de projectos que o Governo tem vindo a apresentar. Melhores ou piores, estes projectos parecem ter valores com zeros a mais do que aqueles que já conseguimos imaginar em euros (excepção feita ao Euromilhões) e empregos a menos do que seria necessário para sairmos da crise. Apesar disso aparece sempre alguém a tentar aproveitar-se do mau momento dando chouriços em troca de porcos inteiros.
Patrick Monteiro de Barros e o Governo estão definitivamente de costas voltadas quanto à nova refinaria de Sines. E a bem dizer isso até é capaz de ser bom.
É difícil um governo resistir a este tipo de investimentos. Dá para se fazerem reuniões e apresentações várias que os canais de televisão aproveitam para abrir os telejornais, ao mesmo tempo parecem alimentar um determinado clima de confiança económica e apesar de poucos, vão criando alguns empregos de que estamos tão necessitados. Mas afinal a que custo?
Já é claro, com exemplos como a Auto-Europa e outros agora anunciados, que estes investimentos hipotecam valores elevados em benefícios fiscais e que se arrogam no direito de fazer cair a guilhotina sobre os seus funcionários sempre que os ventos da crise começam a soprar. É uma espécie de ameça permanente, ou se portam bem e trabalham como nós queremos ou mudamos tudo para a China.
Este investimento em Sines não só não representava qualquer inovação para o país e para o ambiente, como ameaçava tornar-se um custo para o Estado nos valores a pagar para assegurar o Protocolo de Quioto entre outros, enquanto os rendimentos iam para o promotor do projecto.
O Governo considera que não há investimento a qualquer custo o que à primeira vista parece bem para não se continuar a alimentar a ideia que isto é uma república das bananas, mas não me custa nada concordar com o Pacheco Pereira e reconhecer que o Governo não esteve bem neste processo.
A vontade de apresentar trabalho de casa resultou num estrondoso fracasso que esperamos não venha a estender-se a outros projectos. O governo antes de celebrar memorandos de entendimento com cerimónias públicas deve assegurar as condições adequadas aos investimentos, analisando a sua viabilidade económica, o seu impacto, os seus benefícios para o país e não só para alguns. Isso não foi feito e agora para proteger os interesses do Estado e do País tiveram de arrepiar caminho neste monstruoso espalhanço.
O governo tem de continuar a procurar os melhores investimentos e mais reprodutivos (como agora se diz) mas não pode esquecer que nós não queremos ser o porco dos chouriços de alguns.

1 comentário:

cuotidiano disse...

Lendo o "Público" (2006/05/12)

“Outros milhóes anunciados”
“Depois da lista de investimentos PIN anunciados pelo Governo e da grande semana do investimento [...], um novo pacote de investimentos foi anunciado”

“3 jackpots”
“Esta semana €25.000.000 (euro milhões), €700.000 (loto 2) e € 540.000 (joker)”

Haverá relação? Pelo menos em comum têm:
- Uma grande semana de investimento;
- A potencialização da capacidade de sonhar sem necessidade de recurso a drogas;
- A enorme improbabilidade de se ganhar alguma coisa com isso;
- Feitas as contas, no fim fica-se mais teso.

In CUOTIDIANO, sobre o mesmo assunto