sexta-feira, maio 05, 2006

Yes, i speak a little...

De regresso à estrada, ou melhor de regresso à jornada de comboio que já desde Barcelona não fazia.
Praga vai ficando para trás e o encanto perde-se nas pequenas coisas. No urbanismo cinzento e nas arestas vivas dos comboios e das estações que nos levam a Holosovice.
O comboio é bom, mas afinal é alemão. Partiu 5 horas antes de Berlim e se quiséssemos levar-nos-ia até Bucareste na Roménia, mas essa é uma viagem para outras núpcias.
A paisagem aguada pelos rios cheios com o degelo das neves é interessante mas não resiste ao cansaço que acaba por nos derrotar e aos poucos instala-se o silêncio entre os quatro e pouco tempo depois o sono.
Em Bratislava tudo será diferente. A cidade é muito mais pequena, e temos de compreender porque só desde 1993 é que a cidade se tornou novamente capital de um país após quase 50 anos de domínio comunista.
Aqui o aparente estilo estalinista de que tinha falado em Praga, está mais presente. Aliás alguns dos edifícios deste período são mesmo marcas indeléveis da paisagem, que a transformaram para sempre. Exemplo disto é este edifício da Slovenský rozhlas (Rádio Eslovaca) e a Nový Most (Nova Ponte sobre o Danúbio) que os mais afortunados poderão confirmar nas fotos que lhes vou enviar ou aqui.
Da estação para "o" Hotel de Bratislava, pelo menos assim terá sido noutras alturas em que o PCUS se reunia no Hotel Kiev para as suas jornadas parlamentares de verão... No caminho a motorista de táxi orgulhosa da sua terra não hesita em apontar-nos numa língua próxima do checo mas ainda mais complexa, o Prezidentský Pálac, o Palácio Presidencial.
Aqui não é tão fácil falar em Inglês mas ainda assim um bagageiro do Kiev cumprimenta-nos com um expressivo e correcto "Bom dia, como estao" assim que percebe sermos portugueses.
O Hotel é um choque, e permite que se adense a ideia que a cidade parou algures num tempo longínquo, numa espécie de atmosfera ao mesmo tempo glamourosa (como o Miguel fez questão de frisar) e ao mesmo tempo decadente.
O Kiev terá uma altura de uns 20 andares embora não o correspondente número de andares. É um monólito de betão de cor acastanhada que se ergue sobre uma base gigantesca como se a ponte de um porta-aviões se tratasse (como o Miguel tb fez questão de frisar). Tudo é alcatifável no Kiev, o chão, as mesas-de-cabeceira, as bancadas do posto telefónico. Fora isso a sobriedade das linhas e dos halls em pedra com pequenas informações (castanhas) em Eslovaco e Inglês dão-lhe um ar sinistro.
O centro de Bratislava divide-se em três ou quatro praças na direcção do Danúbio (Danuj), devidamente recuperadas a pensar no crescente fenómeno do turismo ocidental. Lojas modernas, um posto de turismo funcional e a fatal feira de artesanato numa pequena praça com arcadas que fecha durante a noite até porque é a Câmara Municipal.
Lamentavelmente por estas bandas tudo fecha às segundas, e por pontaria do destino chegámos num domingo à tarde... Assim não foi possível visitar o Primacialné Palác – o Palácio Primacial que tem o infeliz nome de Primate's Palace em Inglês.
Uma sucessão de pequenas estátuas decora o centro de Bratislava na Hlavné Námestí. Napoleão, Cumil, ou melhor Men at Work, Schöne Nazi (Não sei se o nome tem alguma coisa a ver com os ditos Nazis, mas não me parece...) e um soldado que de dentro da sua guarida protege a praça.
No caminho para o Danúbio as ruas abrem-se numa grande praça onde fica o Narodné Divadlo (Teatro Nacional) que continua numa alameda cheia de restaurantes e esplanadas com um jardim central, a Hviezdoslavovo Námestí (sim, é impossivel ler isto).
Primeiro vislumbre do Danúbio. Confesso que embora soubesse que era um dos principais rios da Europa, nunca tinha imaginado que fosse tão grande, ou melhor que fosse tão forte. Certamente devido às cheias a corrente que o rio tinha era bastante forte e é noite no Circus Barok (bar Circus) uma espécie de barco atracado à margem parecia estarmos em andamento tal era a corrente.
No caminho para o Castelo (Bratslavský Hrad) começa a notar-se uma forte intervenção urbana a atirar para o projecto Polis, que a adesão à União começa a propiciar. O castelo permite uma ampla vista sobre a cidade e apesar de fechado permite o acesso a uma praça central no seu interior onde um conjunto de militares fardados parece receber uma lição de história de um oficial.
Tentar falar com os Eslovacos é sempre uma aventura. Tal como disse mais acima, aqui o inglês não vingou apesar do esforço dos locais, e é frequente a resposta ao “Do you speak english?” ser “Yes, i speak a little...” e o ”little” é mesmo só este "little", porque ao responder a uma pergunta em inglês, geralmente recorrem a uma torrente de palavras disparadas em Eslovaco com umas imperceptíveis palavras em inglês pelo meio, num sotaque continuo.
A sugestão para quem vai a Bratislava é ter cuidado nas direcções que recebe, é sempre preferível confirmar três vezes (ou mais) a não ser que estejam dispostos a viajar sem destino pela cidade e arriscarem-se a ter de dialogar num qualquer idioma com a maquinista/revisora de um comboio suburbano, de uma estação para onde não pretendiam ir.
Fora estas peripécias Bratislava não é uma cidade de tanta animação, mas é uma cidade em que facilmente se faz aquilo que se chama agora citybreak de fim de semana.
Descanso, cultura, vistas panorâmicas, história e boa gastronomia se porventura não optarem pelo Goulash :), tudo embrulhado num ambiente Art Nouveau quanto baste.

1 comentário:

Nuno Guronsan disse...

"urbanismo cinzento"....

Quase que dava para fazer uma fusão dos nossos blogues...