segunda-feira, maio 22, 2006

A (tradicional) agenda escondida dos jornalistas

Isto é uma democracia, e por isso é possível que ocasionalmente possam subir à tribuna da comunicação social, pessoas que se divertem a criticar os próprios meios onde escrevem e que outros colocaram à sua disposição, aproveitando essa possibilidade para destilar os seus pequenos ódios mesquinhos, que por razões que apenas saberão intimamente responder, nutrem pelos mais variados sectores da sociedade (sim, os homossexuais fazem parte da sociedade).
É um problema de discernimento mental. É um problema quanto à utilidade do que escrevem, como meio para a defesa de uma sociedade que imaginam. Quase sempre uma sociedade em que falta o respeito pelo ser humano (por todos os seres humanos ou apenas por alguns que têm alguma cor, género, deficiência ou estilo de vida diferente) respeito pelos outros, que ao contrário dos galões que constantemente puxam é capaz de ser o verdadeiro legado da civilização ocidental ao contrário da civilização "judaico-cristã" que tantas vezes lhes enche as medidas.
A falta de uma lógica racional no pensamento de João César das Neves é impressionante, não se conseguindo perceber outra razão que não o simples ódio a outros que não seguem os seus doutos ensinamentos, para justificar que se porventura a violência e o racismo fossem também considerados "doenças genéticas" o sentimento em relação a estas manter-se-ia, e que por isso, na opinião de JCN se justifica a manutenção do preconceito em relação à homossexualidade.
É importante que JCN perceba que o comportamento cobarde que alimenta a violência e o racismo não é partilhado pelos homossexuais. Não é do interesse dos homossexuais que o JCN seja homossexual nem tão pouco preto, ou imigrante, e muito menos mulher para que possa alguma vez compreender a naturalidade das escolhas que aparentemente nunca teve de fazer ao longo da vida. Mas é também importante que JCN perceba que não corre o risco de ser apedrejado ou espancado numa qualquer viela escura, por um qualquer grupo de cobardes, só por não partilhar o respeito pelos homossexuais.
Pelo contrário, a opção, genética ou outra, que os homossexuais estupidamente insistem em manter de irem para a cama uns com os outros, e imagine-se só, de ter as suas relações emocionais reguladas por um estado de direito, por oposição a uma sociedade livre desses demónios por ser maioritariamente heterossexual, é na realidade muito mais corajosa porque não reivindica estilos de vida para a sociedade em geral ou até para o JCN, mas respeito pelo estilo de vida que optaram seguir e para o qual não necessitaram de estudos suecos sobre as feromonas via olfacto ou da autorização do Bispo das Neves.
"(…) a atitude sexual está longe de ser um instinto acéfalo absolutamente incontrolável. Cada um de nós, pessoas racionais, continua a poder determinar a sua vida de forma autónoma." Daí resulta que houve pessoas racionais que decidiram, voluntariamente ou influenciadas pelos seus genes por não optar pelas mesmas escolhas que o JCN, ainda que este insista em apelar à discriminação de mais um grupo de portugueses que todos os dias lidam com a ignorância de pessoas como o JCN, ao comparar os supostos genes defeituosos dos homossexuais aos genes defeituosos daqueles que sofrem de Mongolismo.
É indiferente a opinião que JCN manifesta sobre a milenar compreensão da igreja católica sobre os homossexuais ou sobre a forma vil como os jornalistas querem que no país todos se tornem paneleiros, forçando ou extrapolando o aparecimento de estudos sobre o assunto.
"Há cem anos o racismo era normal, e a homossexualidade aberrante. Hoje inverteram-se as situações." A realidade é que JCN acha tão normal a discriminação que até compreende que as posições se invertam sem que ele (JCN) precise de se incomodar particularmente. Afinal a posição de superioridade moral que a milenar compreensão da igreja católica sobre estes fenómenos sempre acabou por resolver, permite-lhe ter a certeza que uma fogueira resolveria esse chato problema se por acaso nela se pudesse queimar homossexuais e jornalistas.

3 comentários:

Nuno Guronsan disse...

Enquanto católico por convicção, agradeço-te as tuas palavras, pois fazem-me sentir que ainda há quem pense não apenas no seu umbigo mas sim na tolerância para com os outros, aqueles que não podem exprimir as suas opiniões numa folha de jornal, por mais contraditórias que sejam, e ainda serem pagos por isso.

cuotidiano disse...

Algumas sugestões para debate:

1)A normalidade não é uma questão nem ética, nem religiosa e, para além disso, nem sequer é algo interessante para debater, já que se trata, apenas e só, de um conceito estatístico – se, por exemplo, toda a gente começasse a nascer só com uma perna, nós seríamos anormais (eu já sou, porque tenho três).Como digo, é apenas uma questão de números – o ‘grupo’ com mais de 50% é o ‘normal’. Mais conversa sobre normalidade para quê?
2)Ser-se 'gay' ou não, eventualmente, depende não só do ‘barro’ que somos quando nascemos como da ‘moldagem’ que a nossa vida nos faz, em todas as suas implicações e múltiplos relacionamentos. Não é, de certeza, algo que acontece tipo “olha, hoje não sei se vá a Samora Correia passear, se coma sopa de espinafres ou se passe a ser ‘gay’ – deixa-me ver...”
3)O que é verdadeiramente importante é o respeito pelas opções (e vontades e assunções) de cada um, sejam elas de ser eremita, ‘gay’, ou de passar o tempo a fazer sapateado lateral. Como dizia o meu Pai depois de cinco copos bem cheios, “cada um leva no que é seu e ninguém tem nada a ver com isso”.
4) Será o João César das Neves ‘gay’ e estará ele apaixonado pelo autor do ‘Suburbano', sendo a sua forma depravada de provocar a atenção (e a atracção) a de escrever artigos absurdos, como o citado, servindo de isco?
5)“O amor e o ódio são os cornos da mesma cabra”, citando agora um ditado ‘viking’ – pareceu-me importante (e culto...) dizer isto agora.

cuotidiano disse...
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