Isso mesmo todos assim arrumadinhos porque não há tempo, paciência e motivação para andar a comentar debate a debate... Afinal até nem foram assim tão interessantes.
Realmente isto de fazer 700 debates não ajuda a esclarecer as dúvidas sobre as presidenciais, pelo contrário apenas condiciona a vida dos poucos (como eu), interessados em vê-los todos. Mas como estamos a meio dos debates previstos, nada melhor que um balanço.
Lamentavelmente a minha desilusão é profunda com o que tenho ouvido, especialmente porque preconizo um determinado tipo de valores que pretendo ver reflectidos na Presidência da Républica e infelizmente nenhum dos candidatos o tem conseguido, antes preferiram adaptar o discurso, com mais ou menos sucesso, ao eleitorado do adversário.
Nestes debates já é possivel tirar algumas conclusões interessantes:
Jerónimo e Alegre afundam-se na impossibilidade de se demarcarem do discurso dos restantes candidatos e por uma surpreende falta de à vontade perante os seus interlocutores. Não chega a Jerónimo a sua habitual simpatia se não se conseguir demarcar das restantes propostas à esquerda e fundamentalmente se não conseguir distanciar-se do namoro feito por Soares ao seu eleitorado. Por outro lado, Alegre tem vindo a demonstrar fraquezas no seu discurso, revelando alguma falta de preparação para assuntos que vão além da habitual defesa intransigente dos Direitos, Liberdade e Garantias presentes na Constituição e também incoerências ao nivel das suas posições no passado e no próprio lançamento da sua candidatura.
Soares apenas esteve num debate em que não abdicou de uma certa concertação com Jerónimo e as suas posições menos extremistas, fazendo de certa forma campanha pelo voto comunista para uma segunda volta. Ainda assim soube a muito pouco.
Claramente em alta está Francisco Louçã. Depois de uma esfrega que lhe permite chegar a votos mais ao centro, o candidato conseguiu dar largas à boa estruturação de discurso que nos habituou, com clareza, com grande objectividade, sem ambiguidades, tornando-se o ùnico candidato que não tem qualquer problema em definir uma estratégia para a Presidência, enunciando medidas concretas no âmbito dos poderes presidenciais. Alguns dirão que está a ser demagogo porque sabe que nunca será Presidente, mas dá gosto ouvi-lo.
Cavaco, igual a si mesmo vai ganhando à vontade ao longo desta maratona de debates e até já consegue virar a cabeça na direcção dos seus adversários. É inegável que começam a surgir ideias (seria inevitável perante as perguntas dos jornalistas) mas ainda carregadas de ambiguidades que variam de acordo com o espaço à esquerda que ocupa o adversário. A questão dos imigrantes é uma delas.
O melhor e o pior debate: O melhor debate foi sem dúvida o de Cavaco com Louçã em que houve mesmo discussão de pontos de vista sobre caminhos necessáriamente divergentes para o País e o pior foi esta noite entre Cavaco e Jerónimo em que o candidato comunista não foi capaz de fazer valer os seus pontos de vista com clareza, recorrendo a argumentos mal preparados e sem se conseguir compreender um fio condutor. Cavaco esteve bem (eu sou insuspeito de dizer isto...), passou a sua mensagem (naturalmente adaptada ao eleitorado comunista) e ainda nos brindou com umas graças. Cavaco esteve em "casa"...
O melhor e pior dos jornalistas: Apesar do habitual medo que tenho da TVI, Constança Cunha e Sá e Miguel Sousa Tavares acabaram por conseguir dar conta do recado não deixando os candidatos excederem-se em matérias onde naturalmente estariam à vontade, especialmente naquele confronto sobre o passado da governação Cavaquista em que o Professor só pretende salientar aspectos positivos.
Nota muito negativa para a SIC que hoje claramente tomou partido ao colocar a Jerónimo de Sousa uma pergunta sobre a prestação de Cavaco Silva. Infelizmente algo se passa em Carnaxide pois nas perguntas dos jornalistas à saída do estúdio, o jornalista da SIC atribui a expressão "olhe que não, olhe que não" a Mário Soares. Um pouco mais de cultura geral não teria sido mau.
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