terça-feira, dezembro 06, 2005

Do primeiro debate ou do último que iremos recordar

E lá se fez o primeiro debate.

Já chego tarde à tarefa de o comentar até porque hoje durante o dia já muitos se deram a esse trabalho e é provável que muito pouco possa acrescentar sobre o que vi.

Confesso que vi o debate e consegui tirar quase uma página A4 de notas, mas ainda assim, isso não é sinónimo de qualidade da discussão ou de substância dos assuntos... talvez só com 5 ou 6 páginas A4 poderemos dizer que houve mesmo discussão.

Cavaco esteve como sempre tem estado nos ultimos dez anos, teso que nem um carapau que chega uma pessoa a afligir-se se o homem estará a sentir-se bem com aquela coisa das luzes dos estúdios, até porque não está habituado a estas coisas da politiquice mais brejeira que são os debates.

Não detectei nenhuma alteração substancial no discurso do professor, embora nos ultimos tempos ele tenha aproveitado a vantagem significativa das sondagens, não para construir e esclarecer ideias, mas sim para mandar umas bocas muito pouco concretizadas sobre os perigos de algumas medidas do governo....

Tenho de ir aqui às minhas notas para dizer que tudo se resume a cooperação estratégica, a pactos de regime e à influência positiva do Presidente como factor desenvolvimento... tudo embrulhado numa lógica economicista em que parecem brilhar os olhos dos portugueses sempre que se lhes fala de emprego, de formação, de qualidade, de Espanha etc, mesmo que não percebam bem o que isso quer dizer.

Por outro lado Alegre surpreendeu pela negativa, até para mim que considero a sua candidatura um disparate, confesso que estava à espera de mais.

Além da questão do suposto modelo de desenvolvimento errado do professor, a questão do Iraque e ao de leve a OTA e o PGR, Alegre confirmou as piores expectativas da sua candidatura.

Não foi acutilante como é seu costume quando anda por aí a gritar que "ninguém nos cala" e preferiu manter o eleitorado que já obteve num aparente interesse de tirar dividendos politicos para depois das eleições e tenta, neste debate, fazer um discurso que lhe permita aceder a votos de Soares e de Cavaco... Ou seja apesar de tudo o que saí daquela cabecinha, Alegre não está preparado para estas eleições e afinal disputa o centro.

O pior de Alegre neste debate é que para legimitar sua fraca prestação, carimba com relativo sucesso a ideia de que Cavaco se fartou de discutir projectos para o país durante aquela hora.

Isto é aquilo a que se poderá chamar um debate sem-ponta-por-onde-se-lhe-pegue.

Independentemente do que Cavaco ou até Alegre pensem, ter um debate animado não é o mesmo que andarem a chamar palhaços um ao outro.

E desculpem-me qualquer coisinha, mas o que eu quero é debates animados.

3 comentários:

Anónimo disse...

"Raposito/já te tenho dito..." que nalgumas destas questões o teu argumento me parece mais Marcelo do que Vitorino, se é que me faço entender neste tipo de caracterização do comentário político: é que no teu argumento parece sempre haver mais "gato escondido com o rabo de fora" (Fidel, aparece!), à Marcelo, do que clareza e transparência no comentário, como o do Vitorino. Bates forte e feio no Cavaco (esqueceste-te do formidável "força de desbloqueio"!) e depois "leve, levemente" no Alegre, como quem não quer a coisa, pois até estavas "à espera de mais". Bate à vontade, a torto e a direito, sabemos a tua posição, respeitamo-la e o que esperamos de ti é que a assumas. Mas insistir no "ninguém nos cala", que o Alegre costuma andar "por aí a gritar" (como outros insistem com a depreciativo qualificativo de "poeta"), repito-o, acho contraproducente. É que alerta-nos de imediato para o "tudo calado", que parece sempre tão pronto a sair da boca do Sócrates e de algum PS (versão moca - "quem se mete com o PS", mesmo de dentro...), enfim, desses que no fundo também nunca se enganam e raramente têm dúvidas, afinal não tão diferentes de outros, e por isso a precisarem sempre que haja alguém que resista, alguém que diga não...

Ricardo disse...

Viva,

O modelo do debate é exageradamente defensivo per si mas suspeito que sei quem exigiu isso.

Mesmo assim discordo que Alegre - que não contará com o meu voto, pelo menos na primeira volta - esteve assim tão mal. Fez o seu papel de não demonizar excessivamente Cavaco e obrigou-o a reconhecer alguns erros.

Mas concordo que foi um debate sem chama.

Abraço,

José Raposo disse...

Anónimo,
Não consigo encontrar nenhum gato e ainda por cima de rabo escondido, além daquele que me está a ver escrever estas linhas. Dentro do contexto do que sempre disse sobre estes dois senhores as minhas opiniões não podem revelar qualquer tipo de surpresa... O debate foi mau e os apointes de Alegre não podem ter ficado contentes com a prestação do candidato ou então as sondagens já os fizeram esquecer dos primeiros motivos da candidatura de Alegre que tinham como alvo o Cavaco. Dir-me-às que é esse o objectivo de todos... se calhar até é, mas para isso haverá outros debates e outras possibilidades de análise. O "ninguém nos cala" do Alegre é algo que como sabes até concordo se a origem desse "ninguém nos cala" fosse para mim clara e ainda por cima coerente... e não me parece que seja...


Ricardo,
Em primeiro lugar gostaria de te pedir uma ajuda porque associei o meu mail ao bloglet do teu blog e nada aconteceu... será normal?

Em segundo lugar, tb me parece que este modelo não favorece o debate, mas de qualquer forma, na minha opinião Alegre tem vindo ao longo dos meses a fzer tantas e tantas mudnçs de estratégia que eu não posso considerar isso positivo. Aparentemente esta é a nova estratégia, a de não hostilizar Cavaco, não com insultos mas com ideias concretas sobre o futuro do país vs a ausência de ideias do professor.