quinta-feira, março 15, 2007

A (outra) verdade inconveniente


Os livros de História dizem que os seres humanos começaram por lutar pela sobrevivência. As etapas da evolução social humana sucederam-se, permitindo que homens (quase sempre homens...) começassem a dedicar-se a outras actividades. Aquilo a que hoje chamamos “Arte”, “Filosofia”, “Desporto”, dificilmente existiria (nos moldes actuais) se o Homem continuasse a lutar (apenas) para sobreviver.

Economistas de diferentes escolas coincidem na alusão a um facto. Nunca como hoje, a Humanidade teve ao seu dispôr, meios suficientes para garantir o mínimo de subsistência a todos os habitantes do planeta. Nunca como hoje, dizem os dados sócio-económicos, a riqueza esteve tão mal distribuída.

A verdade inconveniente de que um ex-vice-presidente da maior potência mundial fala, por mais urgente que seja, parece-me acessória, dada a gravidade da pobreza extrema que se vive na maior parte dos Países do Mundo.

Que me desculpem os ecologistas mais convictos, mas a verdade inconveniente não é essa ou, pelo menos, não é apenas essa.

A verdade inconveniente é que ninguém de boa fé acredita que caminhamos numa direcção que corrija as assimetrias gritantes. Ninguém acredita que por mais ONG’s que auxiliem populações carenciadas, por mais concertos que Bono ou outros organizem, esta “verdade” se altere.

Porque mudar esta “verdade” implica mudar a forma como a economia está estruturada. Porque implicaria vontade política para o fazer, perda de privilégios económico-financeiros, perda de Poder.

Não possuo a varinha mágica para resolver este problema. Ainda assim, e tendo em conta o último relatório da ONU sobre a distribuição de riqueza no mundo, há alguns aspectos que me parecem determinantes.

Os 2% mais ricos possuem mais de metade da riqueza mundial. No extremo oposto, a metade mais pobre divide pouco mais de 1%! Quase dois terços do grupo de 1% mais rico reside nos EUA ou no Japão.

A mudança passa por “nós”. Nós que não estamos em nenhum dos extremos, nós que até temos direitos democráticos consagrados que nos permitem, por exemplo, escrever este tipo de coisas. E isso é mesmo o mínimo que podemos e, digo eu, devemos fazer.

Caso contrário, arriscamo-nos a que a verdade inconveniente de Al Gore seja levada a sério em detrimento da que refiro aqui. E, nesse caso, seria algo como restaurar um velho teatro enquanto que a esmagadora maioria dos actores da Companhia morrem à fome...

As duas verdades estão relacionadas. O teatro sem alguém para actuar no seu palco ou actores sem teatro onde representar, resulta basicamente no mesmo. Mas, mais relevante ainda, têm causas idênticas. E estas são conhecidas de todos. As diferenças residem no que se pode ou não fazer para transformar este quadro.

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