quinta-feira, abril 05, 2007

Vale o que vale

Sócrates vai falar sobre a sua biografia. Vai ser um interessante momento televisivo quando na próxima semana o primeiro-ministro, o primeiro primeiro-ministro da democracia a ter de explicar qual o seu percurso académico, falar ao país, mas é urgente que o faça.
Sócrates terá concluído a primária, o unificado e o secundário. Terá concluído um bacharelato, terá concluído uma especialização e tirado um MBA no aclamado ISCTE, mas restam dúvidas sobre 5 cadeiras que lhe permitiam concluir a licenciatura.
Não podemos dissociar este interesse quase mórbido sobre a licenciatura do homem, do caos que está instalado na Universidade Independente e da habitual chicana política quando não existe nada de concreto para se discutir.
Ainda assim, Sócrates tem mesmo de falar. Não pode evitar, porque neste país nada pode deixar de ser explicado sob pena de às pessoas ficar irremediavelmente, e para o resto da vida, agarrado um estigma qualquer, que condiciona e insulta.
Faz bem em separar a questão da Independente do seu próprio curso superior para não alimentar a confusão, mas não nos enganemos sobre o que viermos a ouvir. Sócrates não tinha de ter um curso superior. Até podia ser operário e ainda assim ser primeiro-ministro. A questão não é saber se Sócrates foi um bom aluno, mas saber se Sócrates tem ou não uma licenciatura que aparentemente faz parte da sua biografia oficial e o assunto deve morrer no dia em que se confirmar que de facto ela existe.
Extrapolações políticas sobre os valores atingidos, juízos de valor sobre a qualidade das licenciaturas da Independente, a assiduidade, o carácter ou empenho do aluno, não fazem qualquer sentido após esse momento.
Sócrates não é especial e terá sido um aluno como os outros, que tiram uma licenciatura como podem, fazendo os possíveis para chegar ao 10, e isso não os torna nem melhores, nem piores pessoas e muito menos maus profissionais.
Uma licenciatura vale o que vale, e muitas vezes vale muito pouco.

3 comentários:

cuotidiano disse...

O meu comentário a este "caso" está em
http://www.cuotidiano.blogspot.com/
no texto "Sócrates por um canudo"

Um abraço

cuotidiano disse...

Comentando o "comentário suburbano" no meu beco, não terá sido Sócrates que escreveu a sua nota biográfica mas, com certeza, teve de a aprovar, não é? Convenhamos: não é possível publicar-se uma nota biográfica sem autorização do próprio, muito menos sendo ele o primeiro-ministro, e muito menos no Portal do Governo.

Um abraço

José Raposo disse...

Meu amigo, estamos a dar a este assunto uma importância que ele não tem. Acha mesmo que alguém foi pedir a aprovação do homem para colocar a nota biográfica no site? É que estamos a pensar de forma Simplex, que só apareceu depois da nota biográfica. Aquilo nem sequer tem qualquer valor legal. O que tem valor legal é a documentação que eles são obrigados a entregar nas instituições correspondentes. É como a declaração de rendimentos. Na net pode estar aquilo que muito bem se entender e que um secretário ou informático qualquer resolveu lá pôr. Aquilo que é válido é o documento que está no Tribunal de Contas. E se esse contiver imprecisões, erros ou falsidades é que é grave. A grande parte da nota biográfica nem sequer é curricular mas sim política. É uma tempestade num copo de água por causa de 5 disciplinas.