Nunca percebi muito bem a tendência desculpabilizante que este país tem em relação a Marcelo Caetano, protagonizada pela sua filha Ana Maria Caetano, a quem ciclicamente é dado tempo de antena para que possa explanar sobre o carácter afectuoso, familiar, honesto, quase santo de seu pai.
É uma coisa estranha que não acontece por exemplo em relação a Salazar e provavelmente deixará perplexa a minha geração, que nasceu em liberdade, tanto quanto me deixa a mim.
É uma coisa estranha que não acontece por exemplo em relação a Salazar e provavelmente deixará perplexa a minha geração, que nasceu em liberdade, tanto quanto me deixa a mim.
Torna-se difícil perceber onde acaba um e começa o outro e porque razão um deles merece um sentimento de uma certa nostalgia, ou uma certa tolerância.
É como se o homem não tivesse tido tempo para cumprir os audaciosos planos que tinha para levar Portugal no caminho da democracia e do desenvolvimento, mas que outros numa intentona militar irreflectida, cortaram o rumo.
Marcelo não esteve no governo de Portugal durante dois ou três meses, esteve no poder vários anos e teve a oportunidade de capitalizar da esperança popular que os portugueses lhe depositaram naquilo que veio a chamar-se “a primavera marcelista”. No entanto caminhou sempre no sentido do endurecimento das posições portuguesas sobre o ultramar, permitiu a continuação das farsas eleitorais, recusou um estatuto para uma imprensa verdadeiramente livre perdendo a oportunidade de o aceitar quando ele emana da própria assembleia nacional e endureceu a repressão contra estudantes e organizações laborais apesar da alteração de nome da polícia política.
Não é este o caminho de um democrata que sonha e almeja um país melhor para os seus cidadãos.
Houve oportunidade, e ainda que os ultras do regime estivessem sempre particularmente activos aqui e nas colónias, um homem de princípios e de coragem tinha a obrigação moral de os enfrentar, ainda que isso pudesse significar riscos para a manutenção do cargo que anos antes um povo esperançado o tinha visto assumir.
Foi pena não ter sido possível fazer as coisas de outra forma e até faria algum sentido esta tendência desculpabilizante se por acaso a revolução tivesse resultado num horrível banho de sangue, mas isso felizmente não aconteceu.
Os homens são reconhecidos pelas acções que praticam e Marcelo Caetano não esteve a altura do desafio que tinha a sua frente.
É como se o homem não tivesse tido tempo para cumprir os audaciosos planos que tinha para levar Portugal no caminho da democracia e do desenvolvimento, mas que outros numa intentona militar irreflectida, cortaram o rumo.
Marcelo não esteve no governo de Portugal durante dois ou três meses, esteve no poder vários anos e teve a oportunidade de capitalizar da esperança popular que os portugueses lhe depositaram naquilo que veio a chamar-se “a primavera marcelista”. No entanto caminhou sempre no sentido do endurecimento das posições portuguesas sobre o ultramar, permitiu a continuação das farsas eleitorais, recusou um estatuto para uma imprensa verdadeiramente livre perdendo a oportunidade de o aceitar quando ele emana da própria assembleia nacional e endureceu a repressão contra estudantes e organizações laborais apesar da alteração de nome da polícia política.
Não é este o caminho de um democrata que sonha e almeja um país melhor para os seus cidadãos.
Houve oportunidade, e ainda que os ultras do regime estivessem sempre particularmente activos aqui e nas colónias, um homem de princípios e de coragem tinha a obrigação moral de os enfrentar, ainda que isso pudesse significar riscos para a manutenção do cargo que anos antes um povo esperançado o tinha visto assumir.
Foi pena não ter sido possível fazer as coisas de outra forma e até faria algum sentido esta tendência desculpabilizante se por acaso a revolução tivesse resultado num horrível banho de sangue, mas isso felizmente não aconteceu.
Os homens são reconhecidos pelas acções que praticam e Marcelo Caetano não esteve a altura do desafio que tinha a sua frente.
3 comentários:
Mas amigo, esse discurso "desculpabilizante" não fará parte de uma certa tendência para a afirmação (já não tão implícita quanto isso) de argumentos do género "não era preciso nada daquele «reviralho»", "as coisas caminhavam para uma transição", que vão procurando reescrever a história e menosprezar o momento fundador (ainda que conturbado) da nossa democracia?
Amigo, não podia estar mais de acordo contigo. De facto não se compreende muito bem a tentativa desavergonhada de algumas entidades de porem o homem num pedestal, enquanto o outro sempre ficou ligado à cadeira (que excelente trocadilho;). Na minha memória sempre ficou a ideia que tu aqui muito bem exprimiste de havia uma simbiose Salazar-Marcelo, onde nunca se percebeu o que os diferenciava. Enfim, começo a pensar que a História pode mesmo ser reescrita...
Eu sou daquele tempo. Estava na guerra colonial que Marcelo sustentava como ideólogo pró-fascista que era, mentor da Mocidade Portuguesa e autor do Sistema Corporativo em que assentava a organização política. Mas a questão é que muito menino hoje instalado nos poderes apoiou a «Primavera Marcelista» e dar-se-ia muito bem com ela se vingasse para além de Abril.
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