segunda-feira, outubro 23, 2006

O maior de todos

Chega uma pessoa a este país para perceber que realmente não aconteceu nada de importante por aqui. Pelo menos em Espanha acabam sempre por discutir questões que agora se chamam de “fracturante” que de uma forma ou outra acabarão por deixar uma marca qualquer numa sociedade vibrante e enérgica como a espanhola.

O Euromilhões continua sem sair, os outros foram arrancados do Rivoli (tal como se esperava), a electricidade afinal não vai subir tanto como pretendia o Castro Guerra, a queda da ponte de entre-os-rios foi um grande azar e o Salazar até foi um grande herói. Ah pois foi. Aliás até foi o melhor de todos os portugueses.

A minha geração de egoístas (como eu próprio) só têm a agradecer a Salazar. Afinal, porque ele existiu é que nós fazemos aquilo que entendemos das nossas vidas sem dar cavaco a ninguém, não tivemos de ir à Guerra, não precisamos de saber quais as estações da linha do Tua (porque ela até já deve ter fechado) e os ferroviários de Benguela são um clube de futebol estranho e toda a gente da minha geração sabe perfeitamente que Angola fica ali para os lados da Amadora.

Tudo facilidades. E a quem é que temos de agradecer???? A quem? Senão a Salazar? Esse grande visionário, esse grande estadista que sempre nos protegeu. Até pode ter sido um problema para a geração dos meus pais, mas naturalmente isso agora não interessa para nada. O homem percebeu claramente que o maior feito do Portugal do Século XX, seria o aprofundar da nossa ignorância, da nossa miséria e provincianismo, um conservadorismo cinzento, um nacionalismo bacoco assente num milagre improvável, um império impossível de manter, o isolamento, a corrupção, a perseguição, o autoritarismo e a morte, para que um dia explodisse numa espiral de energia reconstrutora e renovadora, que levasse longe o nome de Portugal. O sujeito foi mesmo o único português durante todo o século XX que entendeu a verdadeira dinâmica do povo português. O único que percebeu que só arrastando-nos na lama conseguiríamos ter o alento de fazermos algo por nós próprios. E que só com uma grande festa (que foi o 25 de Abril, talvez a maior festa da Europa…) é que conseguimos alimentar o nosso ego para continuar por mais algum tempo, e tudo foi previsto por esse grande português.

O meu sincero agradecimento a Salazar por nos ter deixado na merda durante 48 anos, pois isso é que possibilitou que hoje sejamos a inequívoca potência europeia que somos.

Um grande bem-haja para Santa Comba Dão.

5 comentários:

Mário Almeida disse...

Posso sugerir que a imagem de fundo esteja mais "fade" ?

José Raposo disse...

Pode Mário. Estou a tratar disso, mas não tenho tido muito tempo. Ou isso ou as letras mais fortes.

Anónimo disse...

E eu posso sugerir moderação no sintoma do "estrangeirado ressentido com a pátria, pós-regresso de viagem"?!

Anónimo disse...

lá teremos que fazer outra revolução para isto andar para a frente...

José Raposo disse...

Anónimo não pode ser :) A minha comum urticária de re-adaptação ao solo pátrio não é passível de resolução...