Não vale a pena vir agora reiterar que se tratava apenas de um concurso, um passatempo televisivo. Foi dito desde o início e repeti-lo pode fazer crer que se tenta fugir de algo. Do programa só já há a registar o lamento de que os fins tenham sido mais os do espectáculo de entretenimento fácil, em busca das audiências, do que os da informação e formação, que se supõe também deverem pautar os objectivos do serviço público.
E talvez sem grande surpresa, lá foi finalmente escolhido Salazar como “o grande português”. Para além dos condicionalismos próprios do carácter de concurso, é talvez legítimo esboçar algumas leituras do resultado final.
Ainda que só por brincadeira, esta escolha não deixaria de ser macabra. Mas um certo sentimento do tempo que vivemos talvez nos alerte que não é mera brincadeira este reavivar de velhos fantasmas.
A leitura mais imediata dos comentadores do concurso apontava o resultado como um “voto de protesto”. Contra um certo insucesso do nosso modelo democrático, os participantes do concurso teriam elegido o antigo ditador, seu oposto mais evidente. Não estaríamos assim perante um recrudescimento do fascismo e de valores antidemocráticos, tratar-se-á apenas de mais uma manifestação de desagrado perante o estado actual do país. Mas esta tentativa de explicação não nos tranquiliza.
Se é só de “protesto” esta nova afeição por Salazar, não é também salazarenta a atitude que ela pode revelar? Uma certa desaprovação generalizada dos políticos e da política, que se vai tornando demasiado comum, sem preocupações de fundamentação, reflexão e participação cívica real? Uma certa tendência para rejeitar a política (que, no fundo, é assunção de uma atitude política...), para a abstenção e desistência, não é herdeira do salazarismo, da procura do ditador em manter o povo afastado e na ignorância?
Passados os anos e tanta coisa mudada, alguns traços fundos teimam em não desaparecer. Podem abundar por aí velhos e novos fascistas, “pequenos e miseráveis”, como bem diz no texto anterior o meu bom amigo Raposo. Começarão a tornar-se mais visíveis, despudorados. E contra isso é preciso mobilizarmo-nos. Mas é na ignorância cívica, herdada ou voluntariamente mantida, que vejo o fulcro do problema. Essa atitude triste e pequena, que cala ou fala sem pensar, é conivente com todas as ditaduras, criando mesmo o ambiente mais propício à sua germinação.
E talvez sem grande surpresa, lá foi finalmente escolhido Salazar como “o grande português”. Para além dos condicionalismos próprios do carácter de concurso, é talvez legítimo esboçar algumas leituras do resultado final.
Ainda que só por brincadeira, esta escolha não deixaria de ser macabra. Mas um certo sentimento do tempo que vivemos talvez nos alerte que não é mera brincadeira este reavivar de velhos fantasmas.
A leitura mais imediata dos comentadores do concurso apontava o resultado como um “voto de protesto”. Contra um certo insucesso do nosso modelo democrático, os participantes do concurso teriam elegido o antigo ditador, seu oposto mais evidente. Não estaríamos assim perante um recrudescimento do fascismo e de valores antidemocráticos, tratar-se-á apenas de mais uma manifestação de desagrado perante o estado actual do país. Mas esta tentativa de explicação não nos tranquiliza.
Se é só de “protesto” esta nova afeição por Salazar, não é também salazarenta a atitude que ela pode revelar? Uma certa desaprovação generalizada dos políticos e da política, que se vai tornando demasiado comum, sem preocupações de fundamentação, reflexão e participação cívica real? Uma certa tendência para rejeitar a política (que, no fundo, é assunção de uma atitude política...), para a abstenção e desistência, não é herdeira do salazarismo, da procura do ditador em manter o povo afastado e na ignorância?
Passados os anos e tanta coisa mudada, alguns traços fundos teimam em não desaparecer. Podem abundar por aí velhos e novos fascistas, “pequenos e miseráveis”, como bem diz no texto anterior o meu bom amigo Raposo. Começarão a tornar-se mais visíveis, despudorados. E contra isso é preciso mobilizarmo-nos. Mas é na ignorância cívica, herdada ou voluntariamente mantida, que vejo o fulcro do problema. Essa atitude triste e pequena, que cala ou fala sem pensar, é conivente com todas as ditaduras, criando mesmo o ambiente mais propício à sua germinação.
5 comentários:
É infinita a estupidez do português!
Só há uma conclusão a tirar desta palhaçada:
O resultado obtido deve-se sobretudo ao que se fez (e ao que não se fez), desde o 25 de Abril até hoje!
Agora e para não destoar, andamos todos perder mais tempo a dissertar sobre o assunto.
Caro lfm,
Estúpida é a sua conclusão. Ao chamar estúpido ao português, chama-nos a todos e a si próprio (se o for).
O resultado do que se fez e não se fez após o 25 de Abril é:
a) O desenvolvimento, progresso e a colocação de Portugal na senda dos mais desenvolvidos;
b) A possibilidade de expressão livre e total que permite o programa, o seu comentário...enfim que tenha a comunicação social que a NOSSA vontade quer ou impõe!
o que não se cumpriu e (Clara Ferreira Alves) lembrou-o foi a EDUCAÇÃO...mas essa é da exclusiva responsabilidade das famílias...muito mais do que do Estado!....o Estado e todas as instituições onde deixamos as nossas crianças...deveriam ser um complemento à Educação do nossos filhos e NUNCA o seu eixo principal. Só Pai, Mãe ou pessoa directamente responsável por "criar" uma criança é responsável pelo caminho que ela irá traçar...permitindo-lhe o acesso a tudo: afecto, proximidade, diálogo, informação sem tabus, etc....que lhe permitam ela escolher no futuro responsavelmente...o que quer para si e para a comunidade. Uma criança assim criada nunca escolheria Salazar!
Ó pdamásio, para quem refere a Educação, não está mal apelidar de estúpida a opinião expressa por outrém.
Parece-me que a Educação passa pelo direito de ter opinião e discordar das dos outros, mantendo o respeito pelo direito de se exprimirem.
"Parece-me"... Não sei se "é:"...
Abraço
Passa concerteza!
E respeito profundamente a opinião de qualquer pessoa, faz parte da minha forma de estar!
Simplesmente entendi como "ofensiva" a expressão: "É infinita a estupidez do português!", porque também ela não é respeitadora da opinião alheia, e sendo para todo o "português", senti-me ofendido emnonme da "massa silenciosa" ;)!...e respondi utilizando a mesma palavra.
Mas não me parece nada de grave!..se o atingido se sentir ofendido também, peço antecipadamente as minhas desculpas!
Reconheço que não é uma boa opção..responder na mesma moeda....mas enfim...nada é perfeito nesta vida. Abraço!
Pdamásio não concordo quando diz que a educação é da exclusiva responsabilidade das famílias, é com certeza também destas mas no caso concreto do 25 de abril de 1974, não nos podemos esquecer que a geração que neste momento frequenta as nossas escolas é filha de uma geração que também ela na sua grande maioria já nasceu em liberdade e como tal, pouco saberá sobre o que é viver em ditadura.
De quem é culpa desta situação?
A meu ver do estado.
Sai do liceu ha mais de 15 anos e sabe quantas linhas li em manuais escolares sobre o 25 de Abril de 74, ou sobre a guerra colonial?
Nenhuma, de quem é a culpa?
Em vez de se perder tempo a vangloriar a fantástica técnica do quadrado na batalha de Aljubarrota e as façanhas da padeira, ou a perseguição do Marquês de Pombal aos jesuítas, ou a balança comercial no tempo de D.João II., não será mais importante explicar ao nossos jovens aquilo que se passou na descolonização, aquilo que se passou na guerra colonial, o atraso em que o estado novo mergulhou este pais e que ainda hoje tem consequências muito reais nas nossas vidas?
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