segunda-feira, março 13, 2006

Euskadi

"Abertzale" quer dizer patriota em basco (Euskera), como patriotas são as lutas de todos os povos que lutam pela sua autodeterminação e independência.

Para nós portugueses, esta ideia de um patriotismo regional, que ultrapassa as fronteiras do nosso vulgar bairrismo fortemente enraizado no folclore popular, é por vezes confusa, o que nos empurra para uma situação de indiferença apesar destes nacionalismos viverem do lado de lá da fronteira.

A última recordação de violência que as actuais gerações têm, que tenha afectado exclusivamente portugueses é a guerra colonial que para a maioria dos que não combateram por lá é uma memória longínqua quase como sempre a África o é, e numa selva que não reconhecemos como nossa.

Além destas recordações mais ou menos empoeiradas, temos a certeza que os movimentos de libertação sejam mais ou menos violentos, tenham mais ou menos razão, protegem o seu povo, atacam os seus inimigos e são fortemente perseguidos pelos estados.

Ora em Espanha é tudo ao contrário... Muitas vezes não podemos evitar ficar com a ideia que o Estado Espanhol é que é acossado pelos Etarras e não ao contrário. Fundamentalmente não se consegue perceber que as principais vítimas da política Etarra sejam os próprios bascos.

Desde sempre houve uma política de intimidação, com cartazes nas paredes à laia de denúncia dos colaboracionistas como no final II guerra mundial, mas aqui trata-se de denunciar aqueles que não pretendem colaborar com a ETA ou com o Herri Batasuna, agora Euskal Herritarok.

A ideia é denunciar todos os que não colaboram pagando o imposto revolucionário devido pelas empresas da região. A ideia é expor aqueles que não cedem à intimidação para que depois, uma bem instrumentalizada juventude possa destruir e queimar a propriedade dos visados.

Na semana que passou houve no país basco uma relativamente calma greve Abertzale motivada pela morte de dois Etarras na cadeia. Houve alguns confrontos típicos de um sítio onde se fazem em média 30 manifestações por dia, mas ainda assim bastante calma para um período em que a ETA pretende ganhar tempo e espaço de manobra perante a relativa vontade do governo Zapatero em prolongar umas tréguas que só um lado respeita, trazendo-os para a mesa das negociações e tentando encontrar uma solução pacífica.

O país basco é actualmente a região europeia onde existe uma questão nacionalista onde mais consolidados estão os direitos da população se expressar livremente e enraizados os direitos de identidade com uma cultura própria e viva, tudo isto coroado por uma bandeira (a ikurriña), um governo (o Eusko Jaurlaritza) e um aparelho político totalmente separado do Espanhol. Só faltam as forças armadas e uma politica externa para serem um país já que até os órgãos de polícia são diferentes (a Ertzaintza).

Ainda assim o Parlamento Vasco (Eusko Legebiltzarra) aprovou à cerca de dois anos o projecto do Lehendakari, o famoso projecto Ibarretxe em que o governo central de Madrid parece não se reconhecer e que preconiza mais autonomia e pela primeira vez a expressão nação. O problema é compreendermos que dificilmente a ETA está interessada nestes processos políticos na medida em que eles anulam o seu espaço de intervenção que basicamente é o da violência.

A organização terrorista perdeu a oportunidade histórica que se seguiu ao 11 de Março para parar com a violência e lançar umas tréguas. Perdeu a oportunidade de deixar passar a ideia que não fazia parte desse grupo de terroristas que mata indiscriminadamente. Perdeu a oportunidade de se juntar politicamente ao plano Ibarretxe e aproveitar a oportunidade que existe neste momento em que se revêm os estatutos da autonomia e a continuar a violência e a intimidação irá perder a oportunidade de desempenhar um papel politico de relevo no pais basco.

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