Brokeback Mountain é sobre o sonho que existe em todos nós da vida simples em contacto com a natureza, junto da pessoa que amamos. Mas como a maior parte dos sonhos de amor raramente as condicionantes da pressão social nos deixam seguir incondicionalmente as nossas paixões.
Para estes dois homens arrumados numa América rural prestes a deixar de o ser pela chegada de uma ruralidade corporativa descaracterizada, uma América que se extingue aos poucos em que o papel social predominante pertence a um núcleo familiar onde a existência de filhos é fundamental à manutenção do sistema e à sucessão do único bem passível de ser herdado - a terra, este era um amor impossível à partida.
Mas o amor é muitas vezes surpreendentemente mais forte do que aqueles que o vivem alguma vez pensaram e Ennis e Jack limitaram-se a seguir um instinto que de certa forma não entendiam mas que sabiam fazia sentido enquanto isso apenas os envolve-se aos dois, num segredo impossível de manter mas de uma simplicidade quase infantil.
Seguiram caminhos diferentes, os anos passaram e como quase sempre ficou a mágoa do que o passado poderia ter sido se tivessem escolhido outros caminhos para seguir. Caminhos diferentes, casamentos diferentes, futuros diferentes que um simples postal volta a juntar num reencontro que marcará definitivamente o rumo de cada um, assim como um simples postal traçará o fim deste amor.
Dois homens que tiveram a coragem de assumir responsabilidades diferentes nesta espécie de amizade colorida que durou mais de vinte anos sem que nenhum tenha dados os passos necessários à construção da cabana. Um que não resistiu a acabar o casamento com que sempre sonhou mas não teve a coragem de assumir um relacionamento com um homem, e outro que não resistiu a uma vida aqui e ali pontuada de promiscuidade mas que nunca teve a coragem de destruir o seu casamento de fachada.
Estes homens que faziam da montanha Brokeback a sua cabana não queriam nada mais que ter tido a coragem de ficarem juntos e isolados de um mundo que nunca os iria compreender. Tendo em conta a lógica irrefutável do amor que nos diz que duas pessoas que se amam devem ficar juntas, é triste perceber que mesmo que a descriminação não lhes tivesse matado o amor estes dois homens muito provavelmente nunca iriam ficar juntos.
3 comentários:
Hoje não há tempo para mais. Mas devido a alguns protestos que me fizeram chegar alguns leitores mais tímidos, o que aqui se pretendia dizer com fim do amor é no sentido em que o amor termina quando deixa de haver objecto de amor... podemos passar aqui os próximos 3 séculos a falar se o amor resiste à morte, mas acho que não vale a pena :)
Isso é que era uma discussão como deve de ser... se bem que não há tempo para tamanha façanha...
Só para dizer que gostei muito da forma como descreveste aquilo que o filme mostra. E atrevo-me a dizer que quem já tenha passado por uma relação onde no final da mesma tenha ficado a pensa no "E se as coisas fossem diferentes?" deve mesmo ir ver o filme, esquecer tudo o que seja preconceito, e aperceber-se que sim, é a sua antiga relação que está ali a ser filmada. Pelo menos foi isso que eu senti...
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