segunda-feira, fevereiro 06, 2006

Politicamente correcto

Aqui há algum tempo escrevi um post sobre uma diferente realidade mas em que a equação "pescada de rabo na boca" se aplica de igual forma. Miguel Sousa Tavares dizia no sábado passado que "Eis aonde se chega na estrada do politicamente correcto: a intolerância religiosa não é de quem quer proibir os "cartoons", mas de quem os publica.” e essa frase encerra em si mesma o absurdo a que esta situação de um suposto choque de ciilizações chegou.

Estamos a falar de uma sociedade que deliberamente se estrutura numa subalternidade da liberdade em relação à religião. Da ditadura em relação à democracia e que tantas e tantas vezes alimenta uma total falta de respeito pelas minorias, sejam elas as mulheres, as crianças ou os homossexuais. Que pratica os mais impensáveis actos contra os seus próprios povos apenas para perpetuar tradições idiotas. Mas seja de que forma for, nós no ocidente nada temos a ver com isso porque não ignoramos a violência presente no nosso passado e nas nossas sociedades actuais. Mas a diferença está em que apesar de podermos querer influenciar outras sociedades, a generalidade do Ocidente não pretende a morte de qualquer outra civilização.

O que não podemos deixar passar em claro, porque tb escolhemos a forma como vivemos nas nossas próprias sociedades, é a recorrente e constante agressividade do mundo árabe em relação a todos os povos com quem têm tido de conviver ao longo do tempo, como aconteceu no passado e ainda hoje entre a Índia e o Paquistão, ou nas ilhas do sul das Filipinas ou nas ilhas que acolhem comunidades cristãs mais numerosas na Indónésia.

Independentemente da opinião que possamos ter sobre a exploração que os paises ocidentais (curiosamente a Dinamarca não é um deles) do médio oriente e das populações é tb possivel fazer um interessante exercicio sobre a forma como o ocidente depende destes paises para a sua própria sobrevivência. Tudo é possivel dizer nestas alturas sobre a forma como os governos americanos e alguns europeus têm permitido a existência de ditaduras mais ou menos sangrentas e têm alimentado regimes que fundamentam a sua legitimidade na ponta de uma espingarda. Mas o povo árabe tem e sempre teve como todos os outros povos do mundo a possibilidade de se revoltar contra aqueles que os governam, e sempre que o fez nunca daí resultou melhorias da qualidade de vida da generalidade dos povos, ou maior número de liberdades individuais, basta ver o caso do Irão...

Assim sendo, como é possivel que sobre as vitimas da intimidação e das ameaças permanentes, e (não pode haver receio de o dizer) do terrorismo, pode recair a responsabilidade de fazer a destrinça entre os que são fundamentalistas e os que são moderados?? O mundo árabe distingue claramente os autores dos cartoons, que até poderão não ser os melhores ou mais correctos, dos restantes cidadãos Dinamarqueses ou Europeus?? O mundo árabe vai colocar o jornal em tribunal porque se sente ofendido ou irá preferir vandalizar e incendiar o edificio do jornal e apedrejar até à morte os seus funcionários???

E como seria se no ocidente a população comum falasse a mesma linguagem que no mundo árabe??

6 comentários:

José Raposo disse...

E este será o ultimo post sobre este assunto esperando que não haja uma escalada da situação...

Nuno Guronsan disse...

Também eu, amigo, espero que esta coisa não assuma ainda mais contornos de Guerra Santa...

Anónimo disse...

Muito Bem!!!

Clap, Clap, Clap!

E assim fechas com "chave de ouro"!
100% de acordo!

(espero é que nenhum árabe "erudito" leia o suburbano...ainda te lançam um "vírus ao blog" ..eheheh!!)

José Raposo disse...

Paulo Damásio, independentemente da concordância do meu amigo, não existem razões simples para esta violência. E principalmente não existem soluções simples porque em muitos aspectos o Ocidente não tem a superioridade moral que invoca. Existem ali muitos problemas criados por nós e a coisa não se resolve com intervenções militares. Ainda assim considero que existem muitas questões culturais que nos dividem em que nós temos de os respeitar e eles a nós e sobre as quais não devemos rebaixar-nos.

Nuno Guronsan disse...

Concordando em grande parte com a tua opinião sobre toda esta trapalhada, mas não resisto a dar luz a mais um aspecto do problema:

http://estradasperdidas.blogspot.com/2006/02/crise-dinamarquesa.html

José Raposo disse...

Questão interessante, mas antes mais a crise dinamarquesa é a crise da Europa. Ainda assim, julgo que não se justifica a violência porque por esta perspectiva a violência apenas ajuda a extrema direita.