quinta-feira, novembro 16, 2006

Cancioneiro Urbano

Ontem a minha mãe avisou-me para ter cuidado com as lojas dos chineses. Parece que lá para Braga enfiaram uma pobre rapariga num buraco qualquer para lhe roubarem os órgãos. Foi salva in extremis e encontrada num buraco já com marcas no corpo que indicavam onde se iam fazer as remoções de órgãos. Aproveitei a oportunidade para a avisar para ver sempre as cadeiras do cinema porque existem drogados que deixam propositadamente seringas carregadinhas de HIV e para ter em atenção quando bebe uma lata de Coca-Cola por causa da urina dos ratos. Relembrei-a que um mergulhador apareceu morto numa floresta com todo o seu equipamento, e que os mortos aparecem às pessoas no mesmo local onde morreram na serra de Sintra e que graças à Internet estamos todos muito bem informados e logo protegidos.
São os mitos urbanos, as resmas de mails de criancinhas que sofrem de uma qualquer doença terminal, acompanhados quase sempre da respectiva nota: “ESTE CASO É MESMO A SERIO” e que remetem para endereços que não recebem mails ou nem existem e contactos telefónicos desactivados. Circulam anos e anos pela rede, muitos anos do que as doenças terminais permitiram e ocorrem em vagas. São frequentemente substituídos por novos mitos mas os mais antigos acabam sempre por voltar a ser reutilizados mais tarde.
Anda por ai muita gente desempregada ou com imaginação fértil que o Lítio e o Prosac poderiam ajudar. Inventam historias, passam-nas pela net e de boca em boca e uma malta sem nada na cabeça corrobora essas história acrescentando que a aconteceu (mesmo) à irmã da prima da tia do vizinho do 5ºC. Aos poucos perde-se o rasto da origem e quando já não é possível identificar a fonte o mito glorifica, passa a verdade absoluta de cidade para cidade, de pais para país de continente para continente.
O mais recente disparate que aqui vos trago corresponde a um suposto cartão de memória que ficou preservado numa máquina digital danificada na queda do avião da Gol na amazónia, e que aparentemente teriam sido tiradas fotografias no momento da queda do avião ou do impacto com o pequeno jacto da Embraer.
Aparece informação de quem a máquina pertencia, porque terão lá chegado pelo número de série… Indicam o nome da pessoa e que deixou duas filhas (cujos nomes tb são mencionados). Tudo em prol de uma exploração sem limites.
Aliás é tão mais interessante que de repente se associou a este mito um outro acessório. O mito de que os mails que as pessoas estão a enviar com o subject: FOTOS DO AVIÃO DA GOL trazem um vírus mortífero para qualquer computador.
Tudo isto porque algum anormal resolveu publicar na net dois fotogramas de uma das cenas mais famosas da série do momento “Lost”.
O pior cego é o que não quer ver.

6 comentários:

Nelson Peralta disse...

mitos urbanos. Excepto a cena das latas dos refrigerantes.

Atendendo às condições e duração do seu armazenamento podem entrar em contacto com urina de rato [pela frase parece que as latas são as activas, mas não, ficam quietinhas].

Assim, quando bebemos pela lata podemos contrair leptospirose.

A questão está nas probabilidades:
1) 1 rato infectado ter urinado na lata
2) a lata não ter sido limpa
3) contrair de facto a doença
4) 90% dos casos de leptospirose tem evolução benigna

Depois da conjugação de todos estes factores, e se fizermos parte dos 10% casos malignos de leptospirose... ai sim, podemos dizer que quase ganhamos o euromilhões!

Nuno Guronsan disse...

Eu ainda estou à espera que a Nokia me pague cerca de 1.500 dólares...

:)

José Raposo disse...

Portanto Nelson, a probabilidade estatistica da leptospirose é que é um mito urbano? :)

Nelson Peralta disse...

Casos de leptospirose existem. Não sei os números mas que os há em Portugal há! Até podem mesmo ser causados por latas de refrigerantes.

Mas se deixássemos de fazer coisas que eventualmente nos podem fazer mal, nem sairíamos de casa!

Por ex. é mais provável ser atropelado do que contrair leptospirose!

Nelson Peralta disse...

Resumindo: há muitas epidemias e até pandemias semeadas ao vento!

José Raposo disse...

Então não devemos preocupar certo? :)