sexta-feira, novembro 03, 2006

Surdez

Não se fala porque isso implica ouvir e não queremos que isso seja possível. A audição dos desejos e vontades das pessoas, é o que de mais ímpio pode existir numa organização autocrática e burocrática, que se auto contempla como o expoente máximo do próprio sucesso que alcançou. É como se à volta não existisse ninguém capaz de entender tal sucesso senão nós próprios, ao ponto do auto-bajulamento nos tornar surdos.
Não se ouvem pessoas porque as pessoas não existem. A única coisa que existe é a equipa, como unidade essencial à dinâmica empresarial dos nossos dias. A única célula que comporta todo o dogma da verdade e sobre a qual não há possibilidade de questão ou de dúvida.
A liberdade da equipa espelha-se nas pessoas que não são ouvidas, porque a equipa o é, na pessoa do seu líder que foi incumbido de reflectir os desejos da sua equipa interpretando-os solenemente no barulho dos silêncios da sua equipa muda.
É a nova e sagrada aliança.

1 comentário:

Nuno Guronsan disse...

Sinais dos tempos, amigo. E é claro que já sabes que concordo contigo a 100%.