terça-feira, janeiro 23, 2007

Solitariedades - Apocalypto ou o fim em si mesmo ?


Caro Mel, fui ver o teu último filme. Tal como aquando da “Paixão de Cristo”, hesitei. Mas fui. E saí de lá um bocado perturbado. Isto, só por si, é sinal de que produziste Arte. Pelo menos é o que dizem alguns. Arte é tudo aquilo que perturba. Mas adiante. Como tu és um fervoroso religioso conservador, confesso que entrei na sala já algo desconfiado. Mas conseguiste que essa desconfiança fosse em escalada até à cena final.

Parabéns pela fotografia e pelo elenco. Apesar de desconhecido, tem interpretações de grande nível. Também é verdade que te lembraste de contar uma história menos conhecida. É um facto. Mas por seres quem és e quem fazes questão de assumir ser, perguntei-me porquê e para quê.

Quando começas o filme com aquela citação, estás a insinuar que o colonialismo só teve as características e consequências que teve porque as sociedades colonizadas se desfaziam por dentro ? É que se estás, deixa-me dizer-te que acho que essa análise é um bocado limitada. Não sei de alguém que defenda a “perfeição” das sociedades colonizadas, pelo que não te entendo.

Quando o protagonista realça o facto de ser um caçador, como o seu Pai foi e os seus filhos serão, estás a defender uma espécie de back to basics civilizacional ? Se é isso, podemos falar melhor porque talvez até tenhamos algumas perspectivas em comum.

Quando só apresentas os aspectos bárbaros da civilização Maia, estás a querer o quê ? A esta prefiro nem imaginar respostas. Mas o mínimo que posso dizer é que é estranho só teres mostrado aspectos negativos de uma civilização com tanto de interessante para relatar...

E que dizer da violência que chegou a roçar o sadismo que tu pareces insistir em apresentar nos teus filmes ? Confesso que não percebo, mas é apenas mais uma coisa que não percebo. Deixa lá.

Os media classificam Apocalypto como um “Drama”. Na minha modesta opinião, o teu filme é fraquito de argumento. Bem vistas as coisas, é uma história bem comum em cinema. Lá está, aquilo que a distingue é precisamente aquela relação entre os bons e os maus selvagens... Não é ?

Mel, já agora, se me permites, já pensaste que aquela cena final dificilmente terá tido uma continuação agradável para aquelas três personagens ? É que os tipos que se preparam para desembarcar naquela praia, carregando uma cruz de madeira, não devem ter permitido que os bons selvagens continuassem a sua vida pacata em plena selva, não te parece ? Bom... E isto porque não acredito que estejas a pretender passar a ideia que os recém chegados vieram colocar ordem naquele caos que tu apresentas. A sério que não.

Mel, como vês, até nem te tenho em muito má conta. Assim sendo, e logo que possas, esclarece-me estas dúvidas, está bem ? Se não o fizeres, também não te levo a mal. Afinal de contas, o simples facto deste filme me ter colocado várias questões, já o distingue de muitos outros.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quando se parte para um filme com esta dose de preconceito, o melhor é não ver mesmo.

Anónimo disse...

Um excelente filme de acção.
Um retrato do ser humano e do que o faz mover.
Violento? Sim!
Mas a raça humana alguma vez foi conhecida pela sua pacata história? Não creio!