segunda-feira, janeiro 15, 2007

Solitariedades - Os trintinhas

Se tens uma licenciatura completa, uma casa hipotecada a uma entidade bancária, um emprego que não te preenche e onde tens chefes imbecis, prepotentes e incompetentes, um salário que mal dá para pagares todas as despesas fixas e cartões de crédito que de crédito já só têm o nome, é bem provável que tenhas trinta e poucos anos. Se assim for, talvez até já tenhas recorrido a uma daquelas opções, apresentadas a tons rosa, de crédito pessoal. Se, para além disto, tiveres filho(s), a corda vai ficando mais apertada…

Perante este cenário, é natural que sejas daqueles que continua a depender directa ou indirectamente dos Pais, ao contrário dos homólogos de muitos países da União Europeia que, em média, se autonomizam bem mais depressa do que nós.

Talvez este cenário sirva de justificação para o facto de continuarmos a não ter uma sociedade mobilizada em torno de causas, ao contrário (por exemplo) dos nossos vizinhos do Estado Espanhol. Uma cidade de média dimensão como Saragoça, tem dezenas de grupos de solidariedade e trabalho com isto ou aquilo. E “isto” e “aquilo” é, na maioria dos casos, muito distante, tanto geográfica, como socialmente.
Por cá, as “causas” desta geração são as que se circunscrevem ao umbigo e aos calcanhares. Relembro uma única excepção - a mobilização que ocorreu pela independência de Timor. Não há regra sem excepção. Para além disso, e a nível de “causas”, nada nos distingue das gerações dos nossos Pais e Avós.
Quando nos mexemos, é porque nos querem pôr a pagar propinas e não tanto pelo direito universal a educação pública gratuita. É porque nos aumentam os impostos e isso é uma maçada. Na verdade, até os maus exemplos me escapam à memória. Talvez porque muitas vezes nos limitamos apenas a ficar de braços cruzados e nem sequer nos queixamos. Talvez...

2 comentários:

Ricardo disse...

Viva,

Que somos uma geração sem causas parece óbvio. Pelo menos as grandes causas que saíam da esfera do "eu" e que mobilizavam a população desapareceram. E não sei se concordo que a causa seja a situação financeira das famílias. Digo isto porque outras gerações com ainda mais dificuldades de autonomia defenderam as suas causas de forma bem mais evidente.

Num ponto estamos perfeitamente de acordo, ou seja, que temos que sair desta apatia cívica.

Abraço,

Anónimo disse...

Não serve como desculpa para a ausência de causas, o facto de pessoas com "licenciatura completa" sejam "arrastadas" para o endividamento (e ainda têm a ajuda dos pais, fantástico!). Parece-me que estás a olhar em demasia para o teu umbigo.
O apelo ao endividamento é seguido de forma livre e independente por pessoas esclarecidas, direi eu!!!
Se bem que a tua análise está correcta: em Portugal tornamo-nos independentes demasiado tarde...nos países nórdicos por exemplo as pessoas tornam-se independentes ainda antes dos 20 anos em larga percentagem. Mas não compares o Portugal que foi para lisado por 48 anos de ditadura com com os países mais desenvolvidos do mundo....é injusto para nós!!!!