quarta-feira, janeiro 31, 2007

Eu avisei...

E não foram poucas as vezes que avisei aqui que Manuel Pinho tinha de sair deste governo, devido à sua gritante incompetência para gerir projectos, pela sua incapacidade de lidar com os problemas sozinho e principalmente devido à sua gigantesca bocarra.
Agora não há alternativa, Manuel Pinho tem de sair.
Não é possível continuar a manter no governo um sujeito que consecutivamente ameaça a existência de qualquer projecto económico, se ele existe, para dinamizar a economia e o país. Não é possível manter no governo um homem que se tornou motivo de chacota nacional.
O Primeiro-ministro não pode corroborar estas afirmações escandalosas sobre os salários e fundamentalmente sobre as expectativas futuras desses salários e sobre o carácter supostamente mole dos trabalhadores portugueses, sob pena de isso legitimar totalmente as dúvidas que se manifestam na rua, de muito sectores profissionais e dos portugueses em geral sobre o trabalho do governo.
Sócrates não só tem de por o ministro na rua, como tem de fazer o correspondente acto de contrição público, que esclareça devidamente o que se passa naquele ministério.

Pontos de vista sobre o referendo (2)

Rui Rio é melhor para o SIM, que muitos movimentos de esquerda mal organizados. Rui Rio, para uma franja social normalmente ligada à direita mais tradicional e ao seu correspondente popular, composto daqueles que servem os primeiros e cuja a vida não permitiu ver para além da sabedoria das missas, é o ideal de uma forma de fazer politica e a representação de determinados valores de seriedade e honestidade.
Ainda que nem todos possamos concordar em ver essas características no Rui Rio, ele consegue chegar ao públicos que considera serem essenciais à prossecução dos seus objectivos e acabará invariavelmente por conquistar votos para o SIM onde menos se previa.

terça-feira, janeiro 30, 2007

Pontos de vista sobre o referendo (1)

Marcelo Rebelo de Sousa vota NÃO e sempre votaria NÃO. O que ele fez foi criar um imbróglio jurídico, que lhe permite garantir que vota NÃO, porque foi encurralado pelo SIM, mas sem o ónus de pertencer a uma direita conservadora e retrógrada, passando a imagem de um liberal reformista.

É uma questão de estilo

Está definitivamente na moda falar com os portugueses através da Internet sempre que se vai de viagem. Foi o Presidente na viagem à Índia e agora é a vez do nosso Primeiro falar directamente connosco pela Internet em vídeo num site dedicado à viagem à China. Aliás, as semelhanças do grafismo dos dois sites são de tal forma evidentes que não posso deixar de imaginar que devem ter sido encomendados à mesma empresa.
Mais um sinal da evidente cooperação estratégica entre Belém e São Bento. Assim pode falar-se directamente com os eleitores, sem o escrutínio desses incómodos e malvados jornalistas.
Provavelmente, e apesar de mais uma comitiva cheia de empresários, esta será mais uma viagem para voltar de mãos vazias.

Aborto - take 3

"Aborto Livre até às 10 semanas"
Esta expressão que o "Não" usa como acusação ao "Sim" não deveria ser recebida com insegurança. Pelo contrário.
Aborto livre até às 10 semanas, num estabelecimento de saúde e a pedido da Mulher ?? Exactamente. E então ??
Parece-me cada vez mais claro porque é que o "Não" invoca esta questão. O que lhes faz comichão é precisamente a parte da Mulher não ter de se justificar para tomar uma decisão do seu foro íntimo que só a Ela compete.
O objectivo do "Não" é impor a sua moralidade à totalidade das mulheres. Não ficam satisfeitos com as campanhas que fazem e que, apesar de disfarçadas de apoio à Mulher, pretendem fundamentalmente dissuadi-las de abortar. E tudo isto porque o "Aborto é Mau". Todos o dizem.
Mas alguém me explica quem sou eu para dizer a uma Mulher o que é mau, bom ou menos mau ?? Ainda para mais numa questão deste foro ??
Não será isto suficiente para questionar o sentido de um referendo sobre o tema e, já que ele irá realizar-se, votar Sim ??

No final acaba por ser clandestino

Num fundo tudo isto se resume a uma questão de lógica.
É razoável que os defensores do Não, tenham a fundada expectativa de poder falar e convencer todas as mulheres que engravidam? Todas as mulheres que engravidam e imediatamente tomam a decisão de abortar, vão invariavelmente consultar-se com um obstetra, ou indo, lhe confessam o interesse em abortar? Julgo que não e julgo ser impossível pensar-se que alguém pode falar e convencer todas as mulheres, sem excepção. Quem pensar nisso não fala sério e principalmente ignora uma questão fundamental.
Se os defensores do Não, não conseguirem, e é previsível, que não consigam objectivamente falar com todas as mulheres, e partindo do principio que algumas das que tentarem convencer vão continuar a querer abortar, qual a alternativa que lhes vão dar?
Nenhuma outra, que não o aborto clandestino e a prisão.

É lindo

Confesso que é delicioso ver o Vasco Rato sentado entre Fernanda Câncio e Daniel Oliveira, em amena cavaqueira e troca de pontos de vista concordantes.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

Onde é que eles andavam?

Uma coisa é indiscutível. Não é possível os movimentos do Não arrogarem-se ao direito de definir a sua posição como a única que permite a possibilidade de se apoiarem as mulheres, e se criarem condições de planeamento familiar que evite o aborto e mais genericamente o aborto clandestino. Aliás, esse era precisamente o argumento que os movimentos do Não tinham aqui há 8 anos e desde lá para cá o que mudou? Pois, não mudou nada porque quem aparentemente ganhou achou desnecessário utilizar os grupos de pressão que criaram para enganar os portugueses, para pressionar o poder politico a tomar decisões. Este NÃO, já sabemos como funciona.
Desde 1998 todos os jovens portugueses continuaram a corar e a rir às escondidas dos preservativos e da pílula e as mãezinhas continuaram a pagar os abortos em Badajoz às meninas que se descuidavam, mas com quem nunca antes tinham falado sobre sexualidade, pois alguém deve ter essa obrigação.
Ora se não é na família que seja na escola, mas onde é que param estes senhores e senhoras com ar lavadinho quando não há referendo ao aborto? Estão a apoiar as mulheres a terem filhos que inicialmente não tinham possibilidades de criar ou não desejavam? Pois, ninguém sabe. Eu também não e por isso mesmo voto SIM.
O SIM não desresponsabiliza a necessidade do país de pensar o seu planeamento familiar, antes pelo contrário, obriga-nos a todos a exigir que ele exista e que a Educação Sexual acabe por se cumprir em condições, mas permite a escolha individual de cada um.

Campanha pelo SIM

A campanha pela despenalização da interrupção voluntária da gravidez vai começar hoje à meia-noite. Até 11 de Fevereiro vamos ter a oportunidade de ouvir todos os argumentos e infelizmente vamos também ter a possibilidade de ouvir todas as demagogias. E para isso nada melhor que muita informação. Daí o Suburbano pretende contribuir ao máximo para o esclarecimento da posição que defendemos pelo SIM no referendo. Para isso ficam aqui alguns dos muitos sites e organizações que defendem a despenalização. Toda a ajuda não será demais para terminar com a humilhação das mulheres e com o aborto clandestino.

Há um ano...




Há um ano atrás nevou um pouco por todo o país e feitos parvinhos andámos estrada acima e estrada abaixo na expectativa que viesse a nevar uns bons 50cm. Não tivemos essa sorte, mas ainda ontem voltou a nevar para cumprir a "profecia" que aqui tinha deixado em Setembro...
Agora parece que vai nevar todos os anos e apesar de estarmos a falar de uns flocos mínimos, não podemos ignorar que depois de 40 anos sem nevar em Lisboa, é muita coincidência nevar dois anos consecutivos.
É como a historia das ondas de calor. Consecutivamente são cada vez mais fortes e a cada ano que passa a temperatura sobe mais.
Isto assim já não tem muita piada. Afinal sempre soubemos que para ver neve a sério podíamos ir à Noruega, mas aparentemente a Noruega insiste em vir ter connosco no Inverno, assim como o deserto do Sahara insiste em enfrentar-nos no Verão.

Frase do dia

O regresso à labuta do dia-a-dia afigura-se-me tão reconfortante como riscar a ardósia com as unhas das mãos. via Welcome to Elsinore

sábado, janeiro 27, 2007

T3

A inevitável mudança para a nova versão do Blogger acaba de ocorrer.
Para já pequenas alterações apesar de todos os blogs aqui da lista ao lado terem ficado desconfigurados devido aos acentos, que irei corrigindo aos poucos e quando houver tempo.
A melhor alteração são as Labels ou Tags que aqui se chamam (vá alguém perceber porquê) Marcadores. Vão estar debaixo de cada post e permitem seleccionar todos os restantes posts relacionados com esse, caso existam.
Esta alteração também determina a morte do Terminal do Suburbano porque estes marcadores fazem perfeitamente essa função de histórico muito melhor e sem grande trabalho.
Assim sendo, e mesmo não se prevendo para já alterações de template, o nosso T3 acaba por ficar melhor organizado.

sexta-feira, janeiro 26, 2007

Solitariedades - Aborto - take 2

Marques Mendes diz que um problema se combate, não se legaliza. Julgo que tem toda a razão. Mas o problema não é o aborto, mas sim o aborto clandestino e as suas consequências ao nível da saúde pública, entre outras. E é também por isso que votar SIM a 11 de Fevereiro é a única opção que faz sentido. Aliás, começa a ser cada vez mais claro a quem é que não faz sentido votar SIM.
Não faz sentido a quem se arroga o direito de decidir por toda e cada uma das mulheres deste País. A quem acha que o que há a fazer é apoiar as mulheres com dificuldades económicas, como se fosse esse o único motivo que conduz uma mulher ao aborto.
Não faz sentido para quem quer sobrepôr o direito de um feto de semanas a existir passados uns meses, ao direito da Mulher de decidir sobre o que fazer com o seu próprio corpo.
Não faz sentido para aqueles que só são de Direita Liberal em termos económicos e não a nível social. Só assim compreendo o facto de parecerem ignorar legislações de diversos países europeus que não são propriamente sociedades da barbárie, como se pretende fazer crer.
E não faz sentido absolutamente nenhum para quem ameaça de excomunhão aqueles que votarem SIM, como se o voto SIM obrigasse alguém a fazer o que quer que seja.

Solitariedades - A Queda

Caíste a noite passada. Nunca tinha acontecido desde que o teu corpo deixou de ser usado. Agora que penso nisso, até teria sido natural que tivesses caído antes. Afinal de contas, ali estiveste mais de ano e meio, só e sem uso. Mas só caíste agora.

Logo agora... Logo agora que começava a ficar claro que dificilmente voltarias a ser usada por quem te usou tantas vezes. Coincidência, dizem uns. Sinal, dirão outros. Nada de mais, proclamam os restantes. Mas caíste...

E caíste no momento certo...

quinta-feira, janeiro 25, 2007

Já passou...

Por momentos pensei que a ausência de um patriarca a favor do SIM viesse a permitir que a RTP não convidasse alguém que defenda claramente o SIM para uma grande entrevista. Mas esta nota final da Judite já me esclareceu.... já me passou o choque nervoso...
Em relação à entrevista nada a dizer, porque nada de novo.

olhares do campo - Desmistificar II

Ainda de acordo com a notícia atrás referida, a flexibilização dos despedimentos para redução de pessoal na administração pública poderá passar pela "possibilidade de cessação por mútuo acordo, com direito a indemnização". Reformista e inovador, este governo. Mas onde têm andado os nossos políticos desde 1989? E o que têm pensado sobre e para a administração pública? E afinal, o que pretendem eles, realmente?
(clique na imagem para ampliar. Transcrição do artigo 28º do Decreto-Lei nº 427/89, de 07 de Dezembro - estabelece a relação jurídica de emprego na administração pública)

olhares do campo - Desmistificar I

De acordo com o noticiado, o governo confirma a suspeita generalizada de que os malandros dos funcionários públicos têm um vínculo vitalício, não podendo nunca ser demitidos. Nesta regra estará decerto a causa de todos os males da administração pública, pois que a ausência de consequências pelos actos praticados gera irresponsabilidade. Bem haja o nosso governo reformista, determinado a alterar tal situação...


(clique na imagem para ampliar. Transcrição do artigo 26º do Decreto-Lei nº 24/84, de 16 de Janeiro - Estatuto Disciplinar dos funcionários e agentes da administração pública)

quarta-feira, janeiro 24, 2007

The usual

Já estamos habituados. A invariável violação do segredo de justiça, que já deveria ser contemplada na lei como obrigatória (tal é a regularidade), por oposição à excepcionalidade que uma violação da lei deveria ter, volta a ser notícia.
E sempre pelas piores razões. Ou melhor, pelas mesmas de sempre.
Quem acaba por ser constituído arguido é sempre o jornalista e o jornal, ou site que publicou os dados, tentando-se sempre passar a ideia que são os jornalistas, esses demónios, os grandes responsáveis pela violação do segredo de justiça.
No entanto fica sempre por esclarecer a forma como vão parar aos jornais os documentos, afastada que está a improvável teoria de os jornalistas se esconderem na procuradoria durante a noite.

Solitariedades - Populismo de Direita à Portuguesa

Nem populismo de direita de jeito conseguimos ter. Lamentável. Já não bastava ouvir o Ribeiro e Castro a bradar sobre a assistência de emergência em Odemira (casa arrombada, trancas na porta...), até o mais esperto dos populistas da direita portuguesa se espalha ao comprido.
Então não é que o homem (Paulo Portas de seu nome) considera perigosa a mercantilização que parece estar a chegar com as clínicas que farão (eventualmente...) interrupções voluntárias da gravidez ??
Assumindo que se trata de um deriva esquerdista e anti-capitalista de Portas, resta-nos aguardar por uma proposta de nacionalização das funerárias. Ainda para mais, estas têm um negócio mais ou menos garantido e que deriva da inevitabilidade da morte.

Um Suburbano em cada casa

E se de repente bater uma saudade… Uma vontade irreprimível de ler o Suburbano, de insultar os seus participantes, chamar-lhes palhaços ou dizer em surdina que esta gente não deve trabalhar.

Ou então, para todos aqueles que não resistem a identificar-se com as nossas opiniões, mas que por razões não totalmente esclarecidas estejam na casa de banho, no comboio, num avião (em breve), numa qualquer situação íntima, em que inexplicavelmente o uso de um computador para ler o Suburbano não seja comum, não necessitam de esperar mais pois chegou a solução.

O Suburbano tem uma versão para telémovel. Agora basta aceder ao Web Browser no seu telefone (normalmente é aquela coisa com um planeta) aceder a opções, seleccionar “Ir para URL” ou algo parecido com isto, e introduzir o seguinte endereço:
http://www.google.pt/gwt/n?u=http://joseraposo.blogspot.com , depois é so memorizar para não se ter de repetir este endereço.

Logo de seguida fazer ok, e eis que surge o Suburbano. Tal e qual como na net com imagens e tudo, embora com uma configuração adaptada a telefones móveis.


Disclaimer: Este endereço apenas funcionará em equipamentos que já suportem actualmente serviços como o Vodafone Live!; I9 ou Optimus Zone e que funcionem em GPRS.

terça-feira, janeiro 23, 2007

Quem esteve comigo esta tarde vai perceber...

Não há Häagen-Dazs... Como se costuma dizer, quem não tem cão, caça com gato...
Não, o Fidel não foi caçar gelados, eu resolvi afogar as mágoas em litros de leite com achocolatado instantâneo do Continente...
Assim mesmo... sem cerimónias e à bruta...

Quem diria...


Quem diria...
Originally uploaded by Fox's cameraphone moblog.

É bem capaz de ser a surpresa dos Óscares deste ano. Penélope Cruz está nomeada para o Óscar de Melhor Actriz e pode arrumar de uma vez por todas o complexo que vêm sempre atrás das actrizes... digamos... voluptuosas... mesmo que não ganhe a estatueta careca.

Solitariedades - Apocalypto ou o fim em si mesmo ?


Caro Mel, fui ver o teu último filme. Tal como aquando da “Paixão de Cristo”, hesitei. Mas fui. E saí de lá um bocado perturbado. Isto, só por si, é sinal de que produziste Arte. Pelo menos é o que dizem alguns. Arte é tudo aquilo que perturba. Mas adiante. Como tu és um fervoroso religioso conservador, confesso que entrei na sala já algo desconfiado. Mas conseguiste que essa desconfiança fosse em escalada até à cena final.

Parabéns pela fotografia e pelo elenco. Apesar de desconhecido, tem interpretações de grande nível. Também é verdade que te lembraste de contar uma história menos conhecida. É um facto. Mas por seres quem és e quem fazes questão de assumir ser, perguntei-me porquê e para quê.

Quando começas o filme com aquela citação, estás a insinuar que o colonialismo só teve as características e consequências que teve porque as sociedades colonizadas se desfaziam por dentro ? É que se estás, deixa-me dizer-te que acho que essa análise é um bocado limitada. Não sei de alguém que defenda a “perfeição” das sociedades colonizadas, pelo que não te entendo.

Quando o protagonista realça o facto de ser um caçador, como o seu Pai foi e os seus filhos serão, estás a defender uma espécie de back to basics civilizacional ? Se é isso, podemos falar melhor porque talvez até tenhamos algumas perspectivas em comum.

Quando só apresentas os aspectos bárbaros da civilização Maia, estás a querer o quê ? A esta prefiro nem imaginar respostas. Mas o mínimo que posso dizer é que é estranho só teres mostrado aspectos negativos de uma civilização com tanto de interessante para relatar...

E que dizer da violência que chegou a roçar o sadismo que tu pareces insistir em apresentar nos teus filmes ? Confesso que não percebo, mas é apenas mais uma coisa que não percebo. Deixa lá.

Os media classificam Apocalypto como um “Drama”. Na minha modesta opinião, o teu filme é fraquito de argumento. Bem vistas as coisas, é uma história bem comum em cinema. Lá está, aquilo que a distingue é precisamente aquela relação entre os bons e os maus selvagens... Não é ?

Mel, já agora, se me permites, já pensaste que aquela cena final dificilmente terá tido uma continuação agradável para aquelas três personagens ? É que os tipos que se preparam para desembarcar naquela praia, carregando uma cruz de madeira, não devem ter permitido que os bons selvagens continuassem a sua vida pacata em plena selva, não te parece ? Bom... E isto porque não acredito que estejas a pretender passar a ideia que os recém chegados vieram colocar ordem naquele caos que tu apresentas. A sério que não.

Mel, como vês, até nem te tenho em muito má conta. Assim sendo, e logo que possas, esclarece-me estas dúvidas, está bem ? Se não o fizeres, também não te levo a mal. Afinal de contas, o simples facto deste filme me ter colocado várias questões, já o distingue de muitos outros.

segunda-feira, janeiro 22, 2007

Nada menos que um SIM esclarecido

É o que pretende o blog SIM Esclarecido, onde se reunem argumentos de vários blogs e origens, a favor do SIM. Consulta obrigatória.

A falta de bom senso habitual

Como habitual está a fazer-se uma enorme confusão sobre um caso judicial que a ideia cada vez mais histérica de família ajuda a densificar e a tornar irreal.
A família e de preferência bem tradicional, bonitinha e lavadinha tornou-se um objecto de devoção da mesma forma como os carros de grande cilindrada ou as viagens ao estrangeiro.
O direito parece que subitamente tem de se ajoelhar perante o mais básico e eventual interesse das crianças, no mais mesquinho dos exercícios, que permite garantir que a mais leve tosse pode levar uma criança a tornar-se o mais desequilibrado, abjecto e traumatizado dos adultos.
Será que toda a gente se esqueceu que a filha adoptiva do militar não é bem sua filha adoptiva, até porque não foi concluído qualquer processo de adopção?
É que o que está em causa neste julgamento não era a paternidade da criança nem tão pouco o exercício do poder paternal. Está em causa o desaparecimento de uma pessoa, o que até ver continua a constituir um crime de sequestro.
Nada a dizer sobre a opção de adoptar aquela criança por parte do militar, nem sequer pela defesa que o tribunal deve fazer dos interesses da criança, mas é idiota a simples ideia que algumas pessoas pretendem veicular, que em Portugal quem nutre verdadeiro amor e quer adoptar crianças é considerado criminoso pelos tribunais.
Os pobres também têm direito a ter filhos e a criá-los com dignidade ainda que sintam dificuldade. E certamente que a este pai (biológico) apesar do atribulado processo de reconhecimento da paternidade, assistem alguns direitos que os tribunais terão de acabar por reconhecer.

Resultados visíveis da viagem do Presidente à Índia

Milhares de cartões de visita de restaurantes indianos. A arma de arremesso indiana para a conquista da economia mundial. Mas restaurantes daqueles com picante mild, como o Presidente gosta...

quinta-feira, janeiro 18, 2007

Falta de decência mascarada de respeito pela vida

Com as pessoas com pensamento linear como o João César Torquemada das Neves, costumam resultar exemplos de lógica simples e de preferência económica.

Angola está a crescer anualmente na casa dos 13% ao ano. E isso é bom mas representa uma possibilidade estrutural da economia angolana em crescer muito depressa, porque antes não conseguia crescer nada. Mas isso quererá dizer que o crescimento económico angolano os coloca imediatamente a par de países ricos que até crescem menos? Não.

Logo, se não temos abortos legais é perfeitamente natural que a sua liberalização faça aumentar consideravelmente o número absoluto de abortos, porque antes eles não existiam (legalmente). No entanto isso significará que vai haver mais mulheres a engravidar só para terem essa extraordinária possibilidade de abortar, tal como se estivessem a utilizar o telemóvel? Não creio.

Aliás parece-me até que o argumento é de tal forma repugnante que qualquer campanha do NÂO, deveria hesitar em ter este anormal nas suas fileiras. Comparar o fenómeno associado a tendências, e modas, na aquisição de telemóveis de acordo com o seu preço ou características, é o mesmo que dizer que as mulheres da tal cultura abortista, que ele refere, passariam a fazer abortos porque as amigas já tinham feito e tinham gostado. O que naturalmente não passa de um absurdo cretino de uma mente perturbada e irresponsável.

Solitariedades - Citando 1

"Under capitalism, we can't have democracy by definition. Capitalism is a system in which the central institutions of society are in principle under autocratic control. Thus, a corporation or an industry is, if we were to think of it in political terms, fascist."

Noam Chomsky

Eu sou muito burro...

... mas estando em Paris não vai ser complicado para o Manuel Maria chegar a horas ao Parlamento? Afinal é essa a sua prioridade, não é?

Acabaram as desculpas...

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Blogger Chat

- Tenho uma questão que me anda a chatear.
- É fracturante?
- Talvez...
- Então publica.

Para os mais distraídos...

... e preferencialmente com crianças, a Rua Sésamo está de volta. De manhã na 2: por volta das 08:00.
Se não tiverem crianças e mesmo assim quiserem voltar a ver o Conde de Contarrr, o Poupas ou o Gualter, já sabem :)

Cardealismos

Ontem em mais uma comunicação ao país (via jornais) do Cardeal que não se queria envolver, foi dito pela enésima vez, que o aborto representa um desrespeito pela vida humana.
A bem dizer, isto dos argumentos a favor do Sim e do Não, são continuamente uma reciclagem deles mesmos para irem sempre ocupando espaço na comunicação social, à excepção do novos e sofisticados argumentos como aquele dos impostos e mais recentemente o do suposto stress pós aborto. No fundo repetimos todos os mesmos argumentos, reformulando e baralhando os argumentos, mas dizendo quase sempre a mesma coisa. É isso que provavelmente acontece comigo e que acontece certamente com o Cardeal nas suas comunicações semanais, por isso definir o aborto como um desrespeito pela vida humana não é em si mesmo uma novidade.
Mas continuando… tenho alguma tendência a compreender o ponto de vista do Cardeal. Na ideia dele existe sempre vida humana desde o momento da concepção e temos de respeitar que haja quem no seu intimo, ou no seu público, considere que tudo é um desrespeito à vida humana, nem que estejamos a falar da pílula do dia seguinte, onde julgo todos concordamos não existe vida humana, pois não? Dentro desta lógica ele até tem razão.
No entanto esta ideia carece de uma coerência clara. De que forma podemos considerar que uma organização defenda a vida, classificando o aborto como desrespeito pela vida humana, se na realidade não aceita, não promove e de certa forma pune (nem que seja com as chamas do inferno) instrumentos e comportamentos que previnem a existência de aborto. Os espermatozóides e o os óvulos per si, sem estarem a fazer companhia um do outro também possuem alma e logo são indissociáveis da condição da vida humana, ainda que não possam produzir qualquer vida sozinhos?
Não é um desrespeito pela vida humana, não permitir a existência de um planeamento familiar equilibrado, que permite famílias funcionais, onde uma criança possa ter um crescimento saudável?
Não é desrespeito pela vida humana, empurrar mulheres que procuraram soluções inúteis nas igrejas, para a situação em que a única solução pode passar pelo aborto?
Para mim essas são também formas de desrespeito pela vida humana que poderiam ser evitadas antes de existir vida humana que parece ser tão cara ao Cardeal.

terça-feira, janeiro 16, 2007

A mais prática solução

Apesar de me sangrar a alma cada vez que me lembro do que o Parque das nações poderia ter sido, tenho uma solução para a Marina, na zona sul do parque.
Se não é possível que os gigantescos projectos imobiliários que aproveitaram a marina para vender casas a preços irreais, se interessem pela recuperação do espaço e ele acabe por ter de ser recuperado por dinheiros públicos, então eu tenho a solução.
Devolvam o espaço ao Rio Tejo. Deitem aquilo abaixo, enterrem os milhões que já gastaram naquilo para prevenir o enterramento de mais uns milhões numa coisa sem qualquer viabilidade económica, especialmente dedicada a novos-ricos com um estilo de vida público não totalmente compatível com os seus rendimentos. Quem conhece aquela zona desde 1998 sabe que aquele edifício da marina nunca esteve completamente cheio, nem no seu melhor momento e todos os restaurantes e lojas foram sucessivamente fechando. Não vale a pena insistir.

Já se estava a prever

Ora ai está aquilo que se esperava. O seminarista cuja governanta criava galinhas em São Bento, faz parte da lista dos 10 mais do programa da RTP, Grandes Portugueses.
É verdade, não passa de um programa de televisão e nem sequer sabemos quantas pessoas votaram. Mas a crer na Maria Elisa que referiu que receberam o dobro dos votos do mesmo programa em Inglaterra (terra bastante mais populosa que esta) então aquilo deverá servir pelo menos como sondagem. Um indicativo da forma como os portugueses se vêm uns aos outros e especialmente como vêm os seus supostos heróis.
Portugal em comparação com os restantes países onde existe este modelo televisivo, caminha directamente para a nomeação de um ditador como seu grande herói. E talvez o país o mereça. Não que isso signifique que o pais está cheio de nacionalistas totós e parolos (apesar de haver muitos), ou tão pouco que o país esteja cheio de perigosos agitadores de direita. O pais está é cheio de gente inapta e incapaz de pensar pelas suas próprias cabeças.
A herança do seminarista é ainda demasiado forte, e numa altura de dificuldades os portugueses viram-se inevitavelmente para uma figura que lhes garantiu um parco sustento, mas liberdade dessas coisas complicadas da decisão pessoal e das taxas de juro e todas essas coisas modernas e terríveis que o livre-arbitrio sempre acarreta. O seminarista, como muitos enchem a boca para dizer, salvou-nos da guerra e o preço ainda hoje estamos a pagá-lo.
Afinal são todos aqueles para quem o 25 de Abril foi um dia como outro qualquer, em que uma série de gente agitadora derrubou o Marcelo Caetano, que afinal até era tão bom homem. Esses continuam a ser uma parte substancial dos portugueses vivos e juntam-se a todos os mais jovens, filhos e netos dos primeiros que cresceram a ouvir dizer que no tempo do seminarista é que era bom.
Vivemos tempos de revisionismo histórico. Como se por acaso quem não entende ainda ser tempo de dar ao sujeito o mesmo respeito histórico que têm outras figuras da historia portuguesa fossem esses sim os saudosistas por uma ideia de uma esquerda perdida que já não faz sentido e que ainda assim se conseguiu reflectir na votação militante de Cunhal.
Foi assim quando foi lançado o programa, quando parecia terem abanado os pilares do céu quando a RTP não sugeriu à partida a criatura, como se à partida ele não fosse igual aos outros candidatos e fosse logo mais importante. Ainda esta semana numa visita do Cavaco à Índia foi notícia a não passagem do homem por parte de uma galeria em Goa que expõe diversos vice-reis e lideres portugueses entre os quais o seminarista, como se um presidente da democracia tivesse de prestar algum tipo de vassalagem ao seminarista.
O principal problema reside na forma como os portugueses pretendem esquecer determinados assuntos e não os discutir, porque isso facilita a sua vida e acaba por propiciar a criação de mitos históricos.

olhares do campo - Na discussão do aborto

(texto objecto de cortes, reduzido ao último parágrafo, verificada a coincidência do tema com o post anterior)

Deixando assentar toda a poeira do debate, há um outro aspecto em toda esta questão que me parece importante salientar: alicerçado nas suas convicções religiosas, o campo do Não pretende fazer prevalecer a sua perspectiva, não reconhecendo ou aceitando que existam concepções diferentes. Aí está a raiz de todos os fundamentalismos.

O melhor de dois mundos

Existem os católicos e os outros. Todos os outros que ainda que pautem as suas vidas por princípios morais, não necessariamente católicos, mas igualmente pontilhados de justiça e amor ao próximo são para todos os católicos o saco onde cabem todos os que não partilham das mesmas ideias e logo são conscientes pretendentes ao inferno.
Os inquisidores gerais deste país, grandes responsáveis pela consciência global, têm vindo a falar muito sobre o aborto. Afinal o aborto não passará de pena de morte ou de terrorismo, mas também já sabíamos que o homem está manchado de pecado pelo simples facto de ter nascido e a justiça dos homens é o que é, mesmo que sejam homens de fé, para os quais a pena de morte já se justificou amplamente no passado.
Não posso deixar de achar interessante como seres assexuados se preocupam tanto com a sexualidade dos outros, como se à partida pudessem saber do que se trata. Provavelmente sabem e ficaram enjoados (acontece aos melhores). Mas enfim, aquilo que me parece mais interessante nesta questão é perceber como a generalidade dos católicos mais conservadores ou beatos, pretende impor a sua visão moral a um Estado laico, sobre o que para eles é um absoluto moral, o direito à vida, e no entanto não pretendem seguir as vastíssimas indicações morais da igreja católica sobre a sua vida.
Afinal o sexo é bom, todos sabemos isso. É bom antes, depois ou durante o casamento. O preservativo pode ser, antes, durante e depois de qualquer engate numa de one night stand. A noiva deve ir de branco e flor de laranjeira, apesar de já desvirginada. O Aborto é que não pode ser. Especialmente para os outros, pois qualquer católico não hesitará quando o problema lhe bater à porta a ponderar, pelo menos ponderar, esta possibilidade.
É o melhor dos dois mundos. Lemos a cartilha da santa madre igreja e decidimos aquilo que queremos optar por cumprir. Para certas coisas aceitamos a evidência da revelação da palavra do Senhor e sobre outros assuntos achamos que se calhar a igreja está a ser muito conservadora e castradora das nossas vontades individuais e se calhar é melhor não levar muito a sério a palavra do senhor.
Os vícios privados são sempre mais saborosos, precisamente por sempre privados, e em público podemos continuar a alimentar a ideia das nossas fantásticas virtudes. Podemos continuar a querer impor a nossa moral aos outros, porque temos a certeza que poderemos continuar a fazer o que entendermos em privado, sem que ninguém nos incomode particularmente até porque temos poder de compra.
Pelo caminho fazemos todos de conta que este é um país 99% católico porque a hegemonia é uma coisa que fica sempre bem nas estatísticas, e vamos levando as nossas vidinhas.
O problema está em que eu, e outras pessoas como eu, não demos mandato a ninguém para que resolvesse impor uma consciência colectiva do que está certo ou errado de acordo com a sua bitola. Demos um mandato para que se decidisse pôr um fim a este assunto e queremos que este referendo o permita fazer.
As mulheres portuguesas não querem ir a correr para os hospitais fazer abortos. Nem a liberalização legal desta matéria impõe qualquer tipo de comportamento a uma portuguesa que seja. Apenas se pretende ter uma lei que o permita fazer até às 10 semanas, sem que isso seja uma violação da lei do país, da lei moral de alguns e motivo de chacota ou descriminação, até porque muitas vezes colocam em risco a sua própria vida.

Olhares

Eu já estava sentado, ela chegou e sentou-se a um metro de mim e ficámos de frente um para o outro. Olhou-me pelo canto do olho, fingiu que não me viu e enfiou a cabeça nas palavras cruzadas.
Eu achei que não deveria fazer o especial esforço para lhe falar e fixei um qualquer ponto na janela para evitar que os nossos olhares se cruzassem.
Quando chegámos olhou novamente para mim e toda a sua expressão facial transmitia uma certa raiva, como que a responsabilizar-me por não lhe ter falado. No final da viagem apenas havia um culpado. Era eu. No fundo és apenas uma mulher normal.

segunda-feira, janeiro 15, 2007

Solitariedades - Os trintinhas

Se tens uma licenciatura completa, uma casa hipotecada a uma entidade bancária, um emprego que não te preenche e onde tens chefes imbecis, prepotentes e incompetentes, um salário que mal dá para pagares todas as despesas fixas e cartões de crédito que de crédito já só têm o nome, é bem provável que tenhas trinta e poucos anos. Se assim for, talvez até já tenhas recorrido a uma daquelas opções, apresentadas a tons rosa, de crédito pessoal. Se, para além disto, tiveres filho(s), a corda vai ficando mais apertada…

Perante este cenário, é natural que sejas daqueles que continua a depender directa ou indirectamente dos Pais, ao contrário dos homólogos de muitos países da União Europeia que, em média, se autonomizam bem mais depressa do que nós.

Talvez este cenário sirva de justificação para o facto de continuarmos a não ter uma sociedade mobilizada em torno de causas, ao contrário (por exemplo) dos nossos vizinhos do Estado Espanhol. Uma cidade de média dimensão como Saragoça, tem dezenas de grupos de solidariedade e trabalho com isto ou aquilo. E “isto” e “aquilo” é, na maioria dos casos, muito distante, tanto geográfica, como socialmente.
Por cá, as “causas” desta geração são as que se circunscrevem ao umbigo e aos calcanhares. Relembro uma única excepção - a mobilização que ocorreu pela independência de Timor. Não há regra sem excepção. Para além disso, e a nível de “causas”, nada nos distingue das gerações dos nossos Pais e Avós.
Quando nos mexemos, é porque nos querem pôr a pagar propinas e não tanto pelo direito universal a educação pública gratuita. É porque nos aumentam os impostos e isso é uma maçada. Na verdade, até os maus exemplos me escapam à memória. Talvez porque muitas vezes nos limitamos apenas a ficar de braços cruzados e nem sequer nos queixamos. Talvez...

sexta-feira, janeiro 12, 2007

Trust Issues

Tolerar a intervenção etíope na Somália já é ter de se engolir um sapo relativamente incómodo para muito boa gente. Mas as circunstâncias próprias dos acontecimentos em África, a certeza que a Somália pura e simplesmente não tinha um estado tal como nós o imaginamos e o facto das forças etíopes estarem a dar cobertura a um governo criado pelas Nações Unidas acaba por amenizar essa sensação.
Agora, uma potência como os Estados Unidos aproveitarem a confusão para bombardear locais onde previsivelmente se escondem militares da Al qaeda é algo completamente diferente… (pelo menos para alguns)
Mas na substância é exactamente a mesma coisa. Os Estados Unidos reservam para si o direito de intervir onde muito bem lhes aprouver (pelo menos nesta administração) tal como os etíopes o fizeram e não me lembro que estes tenham recebido um mandato da ONU.
A única diferença está em que cada vez menos é possível acreditar na legitimidade moral dos americanos para “nos” protegerem. O governo americano colocou-se, e por arrasto colocou-nos, numa situação ímpar em que tudo pode ser questionado. E essa é uma imagem que vai demorar a recuperar.
As armas de destruição maciça afinal não existiam, os militantes da Al qaeda não tinham bases no Iraque (só chegaram depois da queda de Saddam) e os métodos praticados deixam muito a desejar. Por isso temos tantas certezas que aquilo que foi bombardeado na Somália foram perigosos extremistas, como temos de que existem extraterrestres…

Tiro no pé

Depois de umas negociações sobre as quais não vale a pena falar, até porque podem perfeitamente nunca ter acontecido, a ETA quer fazer-nos crer que existem atentados limpos e destruição de propriedade politicamente aceitável.
Como se de repente às democracias não restasse qualquer outra hipótese que simplesmente aceitar os atentados desde que eles sejam precedidos de telefonemas anónimos para um jornal amigo. Parece afinal que a responsabilidade de devidamente evacuar o local pertence às autoridades espanholas e não pode ser atribuída qualquer responsabilidade aos terroristas pela morte totalmente acidental (pelo menos para a ETA) de duas pessoas.
O cessar-fogo recebeu a sua estocada final com o atentado no parque de estacionamento do aeroporto de Barajas e a incerteza instala-se em todo o processo de paz que se pretendia encetar anteriormente. Ninguém mais consegue perceber quais as verdadeiras intenções dos Etarras que neste atentado nem sequer foram acompanhados (nem podiam) pelo seu braço politico que está sempre à beira da ilegalização. Ser terrorista é uma profissão de risco e de impaciência. Não sabemos o que Zapatero andava a fazer, mas aparentemente ao dedo no gatilho juntou-se demasiado nervoso miudinho pela pressão e não foi possível esperar mais pelo início de negociações sérias com o governo socialista.
Para todos os defensores da autodeterminação (ou até independência basca) é um duro golpe. A ETA acaba por fazer o jogo duro do PP que não admitia qualquer tipo de conversações com a organização terrorista e frustra todos os nacionalistas bascos que pretendem viver em paz, sem medo de ver as suas casas e os seus bens incendiados ou submetidos ao famigerado imposto revolucionário, ou até assassinados por defenderem outra opinião que não a dos Etarras.
O país basco, como já tive oportunidade de escrever antes, goza de uma autonomia sem precendentes na história de Espanha e os bascos assim como a generalidade dos espanhóis já por mais de uma vez frisaram o interesse de caminhar para uma solução politica que aos pouco o estado espanhol terá de acabar por reconhecer, como por exemplo o plano Ibarretxe. Assim será cada vez mais difícil.

quinta-feira, janeiro 11, 2007

olhares do campo - Viagens na minha terra

... ou "as mais belas analogias de sempre"

"E, caso curioso, enquanto que o conselho rionorês é a forma mais perfeita da antiga organização comunitária, a domus municipalis de Bragança (onde reunia o conselho da cidade) é, no género, o momento românico mais perfeito e talvez o único existente na Península."

Jorge Dias - Rio de Onor. Comunitarismo agro-pastoril

Oleoduto da discórdia

Tão amigos que nós fomos. Vladimir Putin e o pseudo-ditadorzinho da Bielo-Rússia Alexander Lukashenko já foram muito amigos. Unha com carne quase ao ponto de se ter falado numa espécie de reedição da grande união, desta vez com russos e bielorussos. Mas aquilo que os tornou tão amigos acabou por os colocar de costas voltadas. O dinheiro tem um enorme peso em todo o mundo e por aqueles lados o desequilíbrio entre a propriedade do dinheiro e o poder politico tem vindo a ser corrigido a favor do poder politico que passa também a acumular o dinheiro. E tudo passa sempre pelo mais vil (não metal) mas combustível, o petróleo. é o inicio e o fim de todos os problemas da Rússia com os seus vizinhos. Desta vez parecem que acabaram por fazer as pazes para gáudio de uma Europa de joelhos sem soluções energéticas.
Mas até quando?

quarta-feira, janeiro 10, 2007

Mais 21.500 para o matadouro

Ah, a sério?

Manuel Maria vai sair da vereação e quer mesmo que toda a gente trate o assunto como se uma grande surpresa se tratasse?
É no mínimo falta de compostura, até porque este foi um assunto que foi abordado quando as eleições estavam já perdidas e o sujeito foi pressionado a ficar.

Tutelar

E eu, que não minha ingenuidade (começo a parecer a Carolina Salgado em Compostela...) pensava que o Policarpo queria mesmo manter-se fora da campanha para o referendo, quando aqui há uns meses disse, que a igreja não se deveria envolver na politização deste assunto.

Pois claro que não. A igreja não pretende estar no meio. Pretende estar por cima desta suposta confusão. Pretende tutelar a opinião dos outros, sem ter a necessidade de a discutir ao mesmo nível que os demais porque é inquestionável o seu ponto de vista.

Mais um bom serviço para o esclarecimento dos portugueses. Nada melhor que manter o bom e disciplinado povo português a pensar tudo em termos maniqueístas e ajudar a mantê-lo longe das brasas do inferno.

terça-feira, janeiro 09, 2007

Vai um par de estalos?

Pegando numa expressão que ouvi ontem num daqueles canais da TVcabo que nunca consigo fixar o nome (talvez porque eles os mudem com excessiva frequência), algumas mães de crianças suburbanas nos transportes públicos, são um argumento vivo contra o aumento da taxa de natalidade...

Choque tecnológico para idiotas

São 1000 Senhor, são 1000…

Mais um boa ocasião para comemorar (o pessoal é muito festeiro). Com este post, aqui o Suburbano atinge, nada mais, nada menos do que 1000 posts. A bem dizer esta efeméride é muitíssimo mais importante do que os dois anos e 3 meses de duração do blog. Afinal para se atingirem 1000 posts é preciso muito mais trabalhinho do que simplesmente ver o tempo passar.
Isto tem a sua piada, apesar dos constrangimentos temporais/criativos que de vez em quando sofremos. Muitos posts, muitas letras para não menos ideias, que muitas das vezes são expressas de fúria, num português mais em discurso falado e logo difícil para algumas pessoas apanharem. Alguma insatisfação permanente sobre o que se escreve, sobre a forma como se escreve e sobre o entendimento que as pessoas fazem do que se publica, dentro de um auto-criticismo por vezes excessivo (quem diria…)
Há aqui algumas coisas engraçadas, tão mais engraçadas quando a pressão sobre o que as motivou for menor. Por isso mesmo tenho-me divertido a ler algumas coisas perdidas noutros posts largados algures em meses passados e até lhes consigo ver a graça que não tinha visto na altura. Sei que é um pouco pretensão a mais (auto bajular-me desta forma, mas sou adepto do leite Matinal), ainda assim, convido todos a ler este blog ao contrário da regra normal nos blogs, do post mais antigo para o mais recente, e descobrirão que é muito mais coerente e divertido.

Solitariedades - Deputados milionários na terra dos sem-terra


O salário mínimo no Brasil é equivalente a 124€ e será aumentado em 10€. Falamos portanto de um aumento de 8%. Este aumento foi aprovado no Congresso brasileiro. Como a inflação acumulada entre 2003-2006 foi de perto de 25%, dir-se-á que o aumento acompanha basicamente a inflação e nada mais.

Mas o facto mais relevante é que os mesmos senhores que aprovaram esse aumento para o salário mínimo, decidiram aumentar-se eles mesmos. Neste caso, o aumento foi de 90.7%!!! Exacto, não é gralha. Noventa vírgula sete por cento!

Os senhores deputados brasileiros só terão os deputados japoneses e italianos à sua frente, em termos de remuneração. E para aqueles que julguem que se tratou de uma medida acordada por uma ou duas bancadas parlamentares, devo dizer que a lista de subscritores da proposta incluíu deputados de praticamente todos os partidos representados. Um dos principais defensores foi mesmo o velho Aldo Rebelo (Partido Comunista do Brasil), actual presidente da Câmara de Deputados, enquanto que uma das excepções foi o Partido Verde que, confesso, nunca tinha sequer ouvido falar...

Já agora, os senhores deputados brasileiros passarão a receber 8.670€, mais 5.300€ de despesas de representação. É caso para dizer que, no país do futebol, há quem não precise de jogar à bola para ter salários milionários.

segunda-feira, janeiro 08, 2007

Preço a pagar


Publicado no Ottawa Citizen de Otava, Canadá. Via, o sempre atento Max.

Não, obrigado

O Presidente vai à Índia e agitam-se já os habituais penduras para estas coisas das viagens. Empresários quanto baste, ajudam sempre a encher o avião e ficam bem nas recepções, dão sempre aquele ar de País desenvolvido, cheio de yuppies, com discursos muito elaborados.
Desta vez a viagem tem pormenores interessantes ou então a contenção de despesas começa a atingir níveis de ridículo. O Presidente mandou um questionário para alguns empresários, para estes responderem quais as suas expectativas sobre a União indiana. De acordo com as respostas, avaliadas pelo Presidente (???) terão sido escolhidos os empresários que vão à Índia. Além disso, Belém optou por não pagar nada da viagem e cada um vai desembolsar a sua própria estadia, só pelo prazer da companhia do Presidente, ou porque calhava mal dizer que não... A continuarem assim, dentro em breve basta um Cessna para as viagens oficiais…
Mas não é sobre isso que pretendo falar. A Índia como todos sabem tem demonstrado uma grande capacidade de enfrentar o desafio da globalização com uma aposta forte na formação para as novas tecnologias. Possuem em Bangalore um pólo tecnológico ao melhor nível do Silicon Valley, onde também estão representadas as maiores e melhores multinacionais. Têm uma taxa de crescimento double digit e por isso são exemplo para muitos economistas.
A comunicação social, reflexo da falta de formação deste país, muitas vezes vai atrás dos press-releases que são lançados e torna-se reflexo dos interesses dos políticos e das corporações. Esta semana as várias televisões não questionaram nem uma palavra do discurso oficial sobre a visita do Presidente à índia. Falaram sobre as enormes potencialidades do mercado indiano e de como a Índia é um exemplo de desenvolvimento… Mas achamos todos (especialmente os economistas) que este é o exemplo a seguir? Que o desenvolvimento económico indiano está mesmo a servir os interesses da maioria dos seus habitantes?
Ora aí é que está a questão fundamental. A índia não é exemplo de desenvolvimento para ninguém. É um país com enormes desigualdades sociais, com uma estrutura social quem em muitas ocasiões não respeita as liberdades individuais, que não respeita as mulheres e a sua liberdade. Uma sociedade em que a maioria dos seus elementos vive abaixo do limiar da pobreza em condições sub-humanas, onde as doenças e a fome continuam a ganhar terreno. Aos indianos não estão garantidos direitos básicos como a habitação ou a água potável.
O recente "boom" económico tem servido para pouco, e o investimento em infra-estruturas é ainda escasso, não tendo em grande medida ajudado os milhões de indianos a sair da pobreza até porque as grandes corporações multinacionais vivem à conta da mão-de-obra barata.
Acho lindamente que se procurem oportunidades de negócio para os empresários portugueses na Índia. Mas permitam-me não concordar com as comparações sobre as expectativas económicas da união indiana. Este é um tipo de desenvolvimento que não me interessa e que calculo não pode interessar à nossa classe política. Este tipo de desenvolvimento... não, obrigado.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

olhares do campo – Medida de coacção

Com o novo ano entram em vigor novas regras para o subsídio de desemprego. Dir-se-á que o tempo e as circunstâncias exigem as mudanças que agora se impõem. Aceitemos que sim.
Mas por vezes há medidas que parecem perfeitas para acentuar alguns equívocos e preconceitos, em vez de assegurarem a eficácia social que supostamente deveriam perseguir.
Incentivar formas activas de procura de emprego é uma medida pertinente, não tanto para pôr a mexer esses malandros que vivem do subsídio de desemprego, mas para incluir e implicar as pessoas na (re)orientação do seu percurso profissional. O preconceito de que exista muita gente a viver à sombra do subsídio de desemprego, além de equívoco, omite uma realidade que a alguns talvez convenha esconder: o nosso mercado de trabalho não tem resposta para as legítimas expectativas de emprego das pessoas.
Mas obrigar os desempregados a apresentarem-se quinzenalmente, isso, francamente, não me parece medida nenhuma de combate ao desemprego. Parece-me mais uma acentuação do preconceito sobre os malandros dos desempregados, fixando-se-lhes uma medida como a judicial de termo de identidade e residência.

quinta-feira, janeiro 04, 2007

A coerência do costume (all over again)

Quem ouve Miguel Frasquilho na televisão não pode imaginar o que Frasquilho e mais uns quantos do partido dele disseram sobre Guilherme Oliveira Martins e sobre a sua nomeação para Presidente do Tribunal de Contas.
Hoje o Tribunal de contas já é bom, mas como se esperava nem uma palavra. Nem um acto de contrição sobre as duvidas que alimentaram em relação ao nomeado. É o costume…

Há vários anos que vos alerto para a importância dos abraços... aqui está a prova

quarta-feira, janeiro 03, 2007

Para todos

Temos ouvido com alguma frequência que existem em determinadas classes profissionais pessoas pobrezinhas que não podem pagar aquilo que o estado se propõe a cobrar-lhes. São futebolistas, advogados, médicos, jornalistas, guardas-republicanos, policias, militares etc.
Este argumento tem sido invocado frequentes vezes como fundamento para a manutenção de milhentos subsistemas de saúde que na realidade não são mais do que formas de beneficiar certas classes em detrimento de outras.
Naturalmente as diferentes classes profissionais têm gente rica e gente pobre. Têm gente com sucesso profissional assim como gente mais azarada na vida. Têm gente competente e gente incompetente como em qualquer outro lugar.
Não podemos pensar que apesar da projecção mediática que algumas profissões têm, como por exemplo os jornalistas, é suficiente para aferir que todos os jornalistas nadam em dinheiro. Não é possível pensar que por os médicos geralmente auferirem altos rendimentos e ainda por cima beneficiarem de acumulação com rendimentos do sector privado, que todos sem excepção o conseguirão fazer e que não existem médicos em dificuldades. Claro que existem.
No entanto, o corporativismo de classe que protesta contra o fim dos subsistemas de saúde visa proteger aqueles que menos têm dentro dessas classes, ou visa continuar a alimentar aqueles que não precisam do subsistema?
Este argumento é tão válido para a manutenção de subsistemas de saúde que protegem e garante o acesso dos mais fracos, como para a sua extinção.
O Estado deve concentrar-se em ajudar quem realmente precisa de um sistema de saúde a funcionar, com qualidade e rapidez, e não pode, ou não deve, permitir a estratificação entre portugueses com acesso a saúde de qualidade e os outros que têm de ir para as filas da caixa. A existência de subsistemas mais vantajosos para determinadas classes profissionais favorece a descapitalização do serviço nacional de saúde, que lida desde sempre com problemas de orçamentação e não permite justiça no acesso à saúde.É fundamental que salvaguardando as especificidades de algumas profissões de desgaste rápido, que incluem necessidade de exames frequentes e de assistência específica, os subsistemas de saúde terminem e se possa ter um acesso à saúde democrático e de qualidade para todos e não apenas para alguns.

terça-feira, janeiro 02, 2007

Exigências para todos os gostos

Não há qualquer enigma na mensagem de Ano Novo do Presidente da República. Ainda que se ande por aí a dizer que o Cavaco é afinal de esquerda, até porque a Maria disse numa entrevista que sempre se identificou com as grandes bandeiras da esquerda, o Aníbal não pode estar constantemente a fazer o contrário do que o seu eleitorado exige.
Em ultima análise até podemos dizer que quem elegeu o Sócrates foi também quem elegeu Cavaco, o que em abono da verdade até é capaz de ser verdade.
Mas o apoio politico não veio da esquerda mas sim da direita que é quem mais provavelmente o poderá voltar a apoiar no futuro em vez de esquerda. (a não ser que ocorra o mesmo que aconteceu com Soares no segundo mandato).
Dai que o Presidente tenha não só de lançar sinais que apoia a vertente reformista deste governo, mas também que é muito exigente em relação a essas reformas.
O que Cavaco pretende é marcar a agenda politica, o que tem vindo a ser feito pelo governo. Precisa que o governo cumpra com aquilo que provavelmente já está a fazer, para que o presidente diga que teve visão estratégica e só apostou na cooperação com o governo porque este seguiu o caminho delineado por Belém. Se os resultados aparecerem Cavaco fica bem na fotografia porque este lá. Se não aparecerem resultados também fica bem na fotografia porque poderá sempre dizer que avisou nos seus discursos para a necessidade de exigência e o governo falhou, abrindo o caminho a uma maioria do seu partido de origem. Cavaco ganha sempre independentemente do caminho que o País seguir no próximo ano.