sexta-feira, janeiro 06, 2006

A Arte da Comunicação


Esta coisa dos políticos se queixarem das campanhas obscuras de alguma comunicação social contra eles é sempre uma faca de dois gumes.

Mário Soares não teve o discernimento de perceber isso e voltou a falar numa espécie de conspiração (disfarçada de linha editorial) de alguma comunicação social contra a generalidade das candidaturas, beneficiando a de Cavaco Silva.

O que faltou a Mário Soares, foi perceber que ainda que possam existir exemplos nesta campanha, assim como noutras, da influência da comunicação social na intenção de voto do eleitorado, esta é uma afirmação que não pode ser ouvida da boca dos políticos devido ao seu efeito contraproducente.

O poder do jornalismo é cada vez mais importante na óptica em que cada vez existem menos notícias e mais opinião. Comentadores dos mais variados quadrantes e dos mais variados gostos enchem as páginas dos jornais e os ecrãs das televisões e é provável que nunca como hoje todos os movimentos dos políticos sejam tão escrutinados.

É para mim evidente que muitas vezes os jornalistas assumem, erradamente, o papel de comentadores e usam e abusam da ironia e do sarcasmo e que isso pode até ser mais visível para uns candidatos em relação a outros. Mas quando alguém diz que a comunicação social está de alguma forma a ser tendenciosa, tocam os sinos a rebate nas redacções e todos arregalam os olhos e mostram o dente e logo começam a saltar comunicados das direcções de imprensa a garantir a imparcialidade dos noticiários e artigos de cada um.

Logo depois os candidatos acabam por recuar de forma atabalhoada nas acusações feitas anteriormente, não vão os jornalistas atacar em grupo determinada candidatura, e uma semana depois está tudo esquecido e já todos voltaram à habitual linha editorial, seja ela qual for.

Este é infelizmente um problema não apenas de Mário Soares mas da generalidade dos nossos políticos. Nunca souberem lidar com a comunicação social quer no governo quer na oposição, e quando no poder sempre a tentaram instrumentalizar sem grande sucesso.

Conclusão de tudo isto é a comunicação social continuar a deturpar alegremente a mensagem dos políticos e estes continuarem desportivamente a tratar os jornalistas de forma displicente e arrogante.

Cada um no seu quintal, mas todos a contribuir para o descrédito quer da política e dos políticos, assim como da comunicação social e dos jornalistas.

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