terça-feira, janeiro 17, 2006

Quando a politica só confunde

E eu, ingénuo, a pensar que não ia voltar a falar da OTA e do TGV...

Mas apareceu por aí um distinto grupo de cidadãos a lançar a ideia de um referendo aos projectos da OTA e do TGV, numa tentativa de arrastar a questão para além das eleições presidenciais (como se estivesse relacionado) na esperança que o Professor confirme as sondagens e acabe por dizer alguma coisa sobre o assunto depois de investido da legitimidade dos votos. Aliás Cavaco é a pessoa ideal para o fazer pois no seu currículo não há sinal nem rasto do elefante branco, não é?

Para mim este tipo de iniciativa criaria um precedente que paralisaria o país e gostaria de ver (mas não vou ver) a mesma coerência destes ilustres cidadãos quando as populações locais quiserem passar a referendar aterros, urbanizações, incineradoras, centros de saúde, escolas ou qualquer outra obra pública.

O problema desta discussão é que apenas a decisão é politica e os demais argumentos devem ser técnico-financeiros. Agora já ninguém se lembra que alguns defendia com unhas e dentes 5 linhas de TGV e a OTA e nessa altura não havia propostas de referendos porque a direita tem sempre visão estratégica, e a esquerda quer sempre arrastar o país para uma utopia de redistribuição que não leva a lado nenhum, empenhando o nosso futuro...

Mas porque aqui a discussão politica só confunde, gostaria de deixar aqui algumas questões para a minha melhor compreensão do tema. Pode ser que algum iluminado destas matérias acabe por passar pelo Suburbano.

OTA:

  • Os técnicos consideram a Portela esgotada a curto prazo, tendo em conta que o processo de construção de um novo aeroporto pode levar até 10 anos?
  • Existem alternativas ao encerramento da Portela a curto prazo? Quais são?
  • Quais são as razões objectivas em que os técnicos ou outros se baseiam para rejeitar a OTA?
  • Essas razões objectivas/científicas estão nos estudos publicados em www.naer.pt que abrangem um período de 1969 a 2005?
  • Devem fazer-se mais estudos? Quais e porquê?
  • A localização OTA é mais cara do que a localização em qualquer outro local?
  • A localização deve ou não ter possibilidade de expansão no futuro?
  • A existência de um novo aeroporto na periferia de Lisboa ameaça objectivamente o desenvolvimento da região e o tráfego dos restantes aeroportos nacionais?

TGV:

  • O País considera essencial ter ligações viárias, aéreas e ferroviárias com o resto do mundo ou deve apenas optar estrategicamente por umas em detrimento de outras?
  • O actual projecto de duas linhas é viável em relação ao anterior de cinco linhas?
  • O desenvolvimento da actual ligação por Alfa pendular Lisboa – Porto é mais barato que uma nova ligação por TGV?
  • A construção de uma linha nova de TGV para a ligação Lisboa – OTA – Porto é financeiramente compatível com o tráfego previsto nesta ligação?
  • A actual ligação diária Lisboa – Madrid (10h de viagem) é economicamente viável?
  • A construção de uma nova linha de TGV a ligar Lisboa e Madrid é financeiramente compatível com o tráfego previsto?
  • As actuais ligações Lisboa – Porto e Lisboa – Madrid pagam-se a si próprias sem necessidade de subsidiação do estado?
  • Existem alternativas válidas de transporte ferroviário internacional?

2 comentários:

Ricardo disse...

Viva,

E que tal fazer todas essas perguntas em refendo com resposta aberta? Aí sim seria um refendo bastante esclarecedor, sem qualquer sombra de dúvida!

Como já escrevi no meu blogue (http://filhodo25deabril.blogspot.com/2006/01/706-referendo-sobre-ota-e-o-tgv.html), esta ideia é de utilidade bastante duvidosa.

Presumo que é um sinal do que certas áreas do país queiram que seja o PR.

Mas o critério da paralisia do país não é justificação para que deixe de exigir transparência neste processo. A ideia do referendo é que me parece claramente indefensável.

Abraço,

José Raposo disse...

Ricardo,

Vanha a transparência precisamente por isso são as minhas questões.

Este é um assunto que deve ser correctamente analisado pelos técnicos e não pelos politicos, mas mais tarde ou mais cedo (já andamos nisto à 30 anos) alguém tinha de tomar uma decisão.

A paralisia em si mesmo não justifica a falta de transparência. Apenas é um precedente grave do que pode acontecer neste país