É claramente abusivo para não dizer maçador o número de vezes que a RTP já passou documentários sobre o 11 de Setembro e em particular o documentário que alimenta a teoria da conspiração acerca dos atentados – Loose Change.
Apesar de concordar por princípio em não aceitar tudo conforme me apresentam e apesar de ter perdido, nos últimos cinco anos, qualquer expectativa de realmente se estar a travar uma luta contra o terrorismo, o documentário em causa tem incongruências graves que uma análise superficial rapidamente reconhece.
Ainda assim, coloca questões científicas interessantes:
- Como se espera acreditar que um avião inteiro seja reduzido a pó em temperaturas inferiores aquelas que provocariam a fusão dos seus materiais, mas ainda assim conseguir identificar-se o ADN dos seus passageiros?
- Porque razão o nível de estragos não é equivalente à destruição provocada pelo mesmo tipo de objecto noutras circunstâncias?
- Como é possível que dois edifícios com cento e tal andares se desfaçam até ao nível do chão em 10 segundos, quando foram atingidos em apenas 8 dos seus andares?
- Como foi possível existirem diversas chamadas de telefones móveis dos aviões sequestrados, tendo em conta que na altura os aviões não estavam equipados com essa tecnologia, e muitos ainda não estão?
Entre outras questões validas, como a relação que todos calculamos existir entre os Estados Unidos e Bin Laden desde a invasão Soviética do Afeganistão.
O problema não está em colocar as questões, está em tirar conclusões que não são suportadas por provas. O documentário é suportado com base nas conclusões que à priori os seus realizadores já possuem. É por vezes confuso e narrado em tom jocoso, e acaba por se enrolar em algumas incoerências.
Em primeiro lugar os factos. A generalidade dos factos, são interpretados de forma a suportar uma única conclusão e não deixar qualquer possibilidade de poderem ser interpretados de forma a que alguém independente pudesse chegar a outra conclusão.
O caso mais flagrante é quando são indiciadas movimentações anteriores ao 11 de Setembro que segundo os realizadores indiciam que havia pessoas que sabiam da preparação dos atentados e que por isso não se teriam deslocado de avião, ou teriam comprado ou vendido acções. Não há qualquer entrevista ou qualquer facto que suporte estas afirmações.
Mais, todos os relatos apresentados só se referem aos que consubstanciam a teoria da conspiração e nunca revelam o que os restantes relatos informam. É como se subitamente tivessem sido ouvidas 15000 pessoas (certamente terão sido milhares) e por alguma razão completamente estranha ao espectador, apenas devemos acreditar em 6 que referem terem visto coisas e acontecimentos que mais ninguém viu.
Outra incoerência surge na exploração da ideia de que as torres caem perante a existência de mais explosões. Não consegui perceber quantas tal é a confusão em que se enrola o documentário nesta parte. Ouvem-se cassetes de vozes de bombeiros a referir não poderem progredir devido a uma segunda explosão. Ouve-se uma gravação áudio de uma reunião em que após o impacto inicial do primeiro avião fica registada, 9 segundos depois, uma segunda explosão tão ou mais forte que a primeira, e a única pessoa entrevistada em todo o documentário (um porteiro) refere que primeiro ouviu uma explosão na cave onde imaginou tratar-se de um gerador e só posteriormente ouviu uma explosão nos andares superiores, que seria então o impacto de um avião.
Ora, além de estas informações serem contraditórias, não são compatíveis com a presença de bombeiros dentro da torre, pois não conseguiriam lá chegar em 9 segundos. Então a que explosões se referem os bombeiros?
Tenta fazer-se crer que houve uma demolição controlada das torres, apesar dos dados apontados em nada se assemelharem às demolições que o próprio documentário apresenta, só porque uma pessoa, uma única pessoa, declarou ter visto clarões e um som crepitante indicativo de demolições controladas.
Onde é que estavam todas as outras pessoas que se encontravam em quarteirões próximos da baixa de Manhattan e que não viram e não ouviram nada semelhante?
Estou convencido que se o acaso não tivesse permitido que dezenas, senão centenas, de cadeias de televisão, tivessem transmitido em directo os ataques às torres, e estariamos hoje a discutir se tinham mesmo sido aviões a embater nas torres.
Pacheco Pereira, ao longo dos últimos dias e também na última Sábado, fala sobre a criminalização das vítimas perante este embuste da teoria da conspiração que compara aos tipos que escrevem a negar o Holocausto (é melhor pôr aqui uma maiúscula…).
Mas Pacheco Pereira está errado quanto às conclusões que retira na sua opinião. Segundo ele a RTP não pode, ou não deve, tornar sérios este tipo de documentários em comparação com os outros sérios que divulgou ao longo da semana. Para Pacheco Pereira a RTP não pode contribuir para o branqueamento da história sem dar a este documentário um enquadramento próprio que não deu aos restantes documentários.
Pacheco Pereira erra por várias razões. A teoria da conspiração é a torre gémea da democracia (já cá faltava...). Ela só existe porque vivemos em democracia e é o exercício dessa democracia que permite à RTP transmitir esse e outros documentários e fazê-los acompanhar de debates onde inclusivamente o Pacheco Pereira participou. A memória das vítimas só pode sair honrada pelo esclarecimento cabal destas teorias e nada melhor para o fazer que a sua exposição pública.
É o exercício dessa democracia que me permite a mim, não alimentar teorias de conspiração baseadas num qualquer obscuro vídeo na Internet e que por último me permite escrever este post desmistificando a informação que anteriormente me tinha chegado sobre estas supostas teorias. E tudo isto porque a RTP transmitiu esse documentário e eu o pude ver e analisar.
Apesar de concordar por princípio em não aceitar tudo conforme me apresentam e apesar de ter perdido, nos últimos cinco anos, qualquer expectativa de realmente se estar a travar uma luta contra o terrorismo, o documentário em causa tem incongruências graves que uma análise superficial rapidamente reconhece.
Ainda assim, coloca questões científicas interessantes:
- Como se espera acreditar que um avião inteiro seja reduzido a pó em temperaturas inferiores aquelas que provocariam a fusão dos seus materiais, mas ainda assim conseguir identificar-se o ADN dos seus passageiros?
- Porque razão o nível de estragos não é equivalente à destruição provocada pelo mesmo tipo de objecto noutras circunstâncias?
- Como é possível que dois edifícios com cento e tal andares se desfaçam até ao nível do chão em 10 segundos, quando foram atingidos em apenas 8 dos seus andares?
- Como foi possível existirem diversas chamadas de telefones móveis dos aviões sequestrados, tendo em conta que na altura os aviões não estavam equipados com essa tecnologia, e muitos ainda não estão?
Entre outras questões validas, como a relação que todos calculamos existir entre os Estados Unidos e Bin Laden desde a invasão Soviética do Afeganistão.
O problema não está em colocar as questões, está em tirar conclusões que não são suportadas por provas. O documentário é suportado com base nas conclusões que à priori os seus realizadores já possuem. É por vezes confuso e narrado em tom jocoso, e acaba por se enrolar em algumas incoerências.
Em primeiro lugar os factos. A generalidade dos factos, são interpretados de forma a suportar uma única conclusão e não deixar qualquer possibilidade de poderem ser interpretados de forma a que alguém independente pudesse chegar a outra conclusão.
O caso mais flagrante é quando são indiciadas movimentações anteriores ao 11 de Setembro que segundo os realizadores indiciam que havia pessoas que sabiam da preparação dos atentados e que por isso não se teriam deslocado de avião, ou teriam comprado ou vendido acções. Não há qualquer entrevista ou qualquer facto que suporte estas afirmações.
Mais, todos os relatos apresentados só se referem aos que consubstanciam a teoria da conspiração e nunca revelam o que os restantes relatos informam. É como se subitamente tivessem sido ouvidas 15000 pessoas (certamente terão sido milhares) e por alguma razão completamente estranha ao espectador, apenas devemos acreditar em 6 que referem terem visto coisas e acontecimentos que mais ninguém viu.
Outra incoerência surge na exploração da ideia de que as torres caem perante a existência de mais explosões. Não consegui perceber quantas tal é a confusão em que se enrola o documentário nesta parte. Ouvem-se cassetes de vozes de bombeiros a referir não poderem progredir devido a uma segunda explosão. Ouve-se uma gravação áudio de uma reunião em que após o impacto inicial do primeiro avião fica registada, 9 segundos depois, uma segunda explosão tão ou mais forte que a primeira, e a única pessoa entrevistada em todo o documentário (um porteiro) refere que primeiro ouviu uma explosão na cave onde imaginou tratar-se de um gerador e só posteriormente ouviu uma explosão nos andares superiores, que seria então o impacto de um avião.
Ora, além de estas informações serem contraditórias, não são compatíveis com a presença de bombeiros dentro da torre, pois não conseguiriam lá chegar em 9 segundos. Então a que explosões se referem os bombeiros?
Tenta fazer-se crer que houve uma demolição controlada das torres, apesar dos dados apontados em nada se assemelharem às demolições que o próprio documentário apresenta, só porque uma pessoa, uma única pessoa, declarou ter visto clarões e um som crepitante indicativo de demolições controladas.
Onde é que estavam todas as outras pessoas que se encontravam em quarteirões próximos da baixa de Manhattan e que não viram e não ouviram nada semelhante?
Estou convencido que se o acaso não tivesse permitido que dezenas, senão centenas, de cadeias de televisão, tivessem transmitido em directo os ataques às torres, e estariamos hoje a discutir se tinham mesmo sido aviões a embater nas torres.
Pacheco Pereira, ao longo dos últimos dias e também na última Sábado, fala sobre a criminalização das vítimas perante este embuste da teoria da conspiração que compara aos tipos que escrevem a negar o Holocausto (é melhor pôr aqui uma maiúscula…).
Mas Pacheco Pereira está errado quanto às conclusões que retira na sua opinião. Segundo ele a RTP não pode, ou não deve, tornar sérios este tipo de documentários em comparação com os outros sérios que divulgou ao longo da semana. Para Pacheco Pereira a RTP não pode contribuir para o branqueamento da história sem dar a este documentário um enquadramento próprio que não deu aos restantes documentários.
Pacheco Pereira erra por várias razões. A teoria da conspiração é a torre gémea da democracia (já cá faltava...). Ela só existe porque vivemos em democracia e é o exercício dessa democracia que permite à RTP transmitir esse e outros documentários e fazê-los acompanhar de debates onde inclusivamente o Pacheco Pereira participou. A memória das vítimas só pode sair honrada pelo esclarecimento cabal destas teorias e nada melhor para o fazer que a sua exposição pública.
É o exercício dessa democracia que me permite a mim, não alimentar teorias de conspiração baseadas num qualquer obscuro vídeo na Internet e que por último me permite escrever este post desmistificando a informação que anteriormente me tinha chegado sobre estas supostas teorias. E tudo isto porque a RTP transmitiu esse documentário e eu o pude ver e analisar.
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