quarta-feira, novembro 02, 2005

A Estética do regime


Um homem de vez em quando precisa (nem que seja por razões profissionais) de fazer uma pausa da fervorosa ideologia política, até porque existem outras coisas importantes na vida e a vista também se queixa de tantas horas à frente do PC.

Ainda assim já deu para ver que bastou eu desviar o olhar por alguns dias e este blogue de discussão sobre a re(s)pública tornou-se (inadvertidamente, por certo) num blogue de discussão de república vs monarquia.

Confesso que sempre achei interessante o ideal monárquico na medida em que isso representaria um efectivo distanciamento dos partidos porque não é suposto um Rei precisar deles… Afinal deve haver um espaço no orçamento para as despesas da representação de toda a família real.

Mas também acho que na maioria das situações os portugueses que acreditam na monarquia o fazem pelas razões erradas. No discurso que ouço a república é má porque está cheia de corruptos à procura de poleiro e a monarquia é (ou era) boa apesar de ter caído de podre.

Respeito os colegas bloggers que por aqui têm vindo a colocar as fotos da família real… e a envidar esforços para a união dos reinos da península através do casamento, mas fico com a impressão que defendem uma espécie de estética monárquica e que em termos políticos se aproximam de uma monarquia que geralmente reconhecemos a D. Afonso Henriques (o Rei…) ao mestre de Avis, ou a D. João IV e mais recentemente ao paradigma da monarquia constitucional, D. Juan Carlos, porque são grandes estadistas tal como os que a república ocasionalmente produz.

O meu problema reside em todos os outros que rapidamente nos recordaremos não terem sido propriamente “felizes” no seu reinado... sejam eles loucos ou simplesmente desinteressantes ou desinteressados pela vida pública.

Lamento mas continuo a não ver vantagens.

2 comentários:

Anónimo disse...

Para variar o tema presidenciais, uma reflexão de regime vem mesmo a calhar. E nada melhor que a boa notícia de que o meu amigo continua "a não ver vantagens" na monarquia, apesar da sua tradicional simpatia pela causa. Acontece que não serão circunstancialismos e contabilidades de quantos bons e maus reis e presidentes tivemos que poderão fundar um posicionamento, no meu humilde entender. A república é um ideal (realizável, sempre em realização), cujo princípio fundamental passa precisamente pela recusa de um chefe de estado que não seja escolhido por eleição(para mim o sufrágio universal directo é a forma mais adequada). Nesse sentido a monarquia parece negar irredutivelmente o ideal republicano (e democrático), embora saibamos que existem formas actuais de monarquia que "encaixam" bem com a democracia e com os requisitos da política moderna (Espanha por razões muito particulares, mas também os países nórdicos do nosso encantamento). Mas como bem diz o meu amigo, o ideal monárquico que por cá mais vinga não se rege propriamente pelos princípipos de que temos vindo a falar, mas, sei lá, por algum tipo de sebastianismo conjugado com marialvismo, ou assim (não sejamos injustos, mas uma grande parte...). Assim, continuo a entender que a república é a forma de organização do regime mais adequada ao nosso tempo e às nossas ideias, independentemente dos circunstancialismos (agora tantos) que a corroem, saúdo a convicção republicana do nosso amigo, e, mais do que uma questão de estética, termino dizendo que entendo a posição republicana como uma questão de ética do regime...

José Raposo disse...

Este tem sido um tema forte n'O Eleito e achei por isso importante acabar por o abordar.

Como o meu amigo sabe sempre nutri uma simpatia, a que agora poderia chamar estética ou protocolar pela monarquia. Aliás em determinada altura o regime monarquico afigurou-se-me como bastante interessante do ponto vista juridico da separação de poderes. Mas são tempos que já lá vão e como o meu amigo tão bem conhece, eu não sou homem de me agarrar a passados :)

Como dizes, neste e noutros assuntos os portugueses têm sempre um misto de saudades do futuro, misturados com o tradicional sebastianismo e nostalgia pelo passado... Condição essa que parece estar-nos agarrada à pele...